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XVIII. WIKILEAKS - América Latina


O Papa Bergoglio e os Kirchner
XVIII. WIKILEAKS - América Latina
Telegramas da embaixada norte-americana em Buenos Aires mostram
influência do novo papa na política argentina, e sua ligação com a oposição

14.3.2013 / Fonte: A Pública


Despachos oriundos da embaixada de Buenos Aires, vazados pelo Wikileaks, revelam que o novo papa da Igreja Católica, o argentino Jorge Bergoglio, era um nome bastante citado pela oposição argentina em conversas com diplomatas americanos.

Embora não haja nenhuma conversa direta entre o líder religioso e os diplomatas dos Estados Unidos, os oito cables que citam o cardeal no período de 2006 a 2010 mostram que a oposição do país vizinho, assim como os americanos, via nele um agente político poderoso contra os Kirchner.

O atual papa Francisco I é citado em um documento do final de outubro de 2006 que trata do revés político sofrido pelo aliado de Néstor Kirchner, então presidente, na província de Misiones, no nordeste do país. Carlos Rovira, tentara um plebiscito para alterar a constituição da província e tornar possível sua própria reeleição por indefinidas vezes. Mas foi batido pela oposição liderada pelo bispo emérito de Puerto Iguazú, Monsignor Piña.

“O Cardeal Jorge Mario Bergoglio, líder da Arquidiocese Católica de Buenos Aires, ofereceu seu apoio pessoal aos esforços de Piña, mas também desencorajou qualquer envolvimento oficial da Igreja em política”, relata o documento. O engajamento de outros religiosos na política é descrito neste mesmo telegrama. “A lista de candidatos da oposição era constituída principalmente de líderes religiosos, incluindo ministros católicos e protestantes, que eram amplamente vistos como líderes morais livres de qualquer bagagem política”, apontaram os diplomatas.

E se Bergoglio descartava o envolvimento “oficial” da Igreja, outros documentos revelam que ele não se mantinha longe da política. Em um documento de maio de 2007, a relação entre a Igreja Católica e o governo Néstor Kirchner é descrita como “tensa”: “Bergoglio recentemente falou de sua preocupação com a concentração de poder de Kirchner e o enfraquecimento das instituições democráticas na Argentina”.

Além disso, reportam os documentos, Bergoglio agia fortemente nos bastidores, provocando a irritação dos partidários de Kirchner. “O prefeito de Buenos Aires, Jorge Telerman, e sua parceira de coalizão e candidata a presidência, Elisa Carrio, supostamente encontraram-se com Bergoglio em abril, e a inclusão do líder muçulmano Omar Abud na lista de candidatos ao legislativo de Telerman foi supostamente ideia de Bergoglio”, reportaram os diplomatas. O religioso também era muito próximo de Gabriela Michetti, então ex-vice prefeita de Buenos Aires e atualmente deputada federal da oposição, segundo outro telegrama, de 26 de janeiro de 2010.

A relação desgastada entre a Casa Rosada e a Arquidiocese de Buenos Aires chegou ao rompimento entre as duas instituições. Os laços institucionais entre a presidência argentina e o cardeal só seriam retomados por Cristina Kirchner em 2008, quando ela se encontrou com Bergoglio, segundo telegrama de abril daquele ano. Dias depois, os americanos especulam sobre a possibilidade do Cardeal negar-se a celebrar a missa de 25 de maio – data nacional na Argentina – em decorrência da mudança das festividades de Buenos Aires para Salta.

Um Líder Manchado pela Relação com a Ditadura

XVIII. WIKILEAKS - América LatinaOutro telegrama que cita Bergoglio, de outubro de 2007, narra a condenação de Christian Von Wernich, padre e ex-capelão da polícia de Buenos Aires durante a ditadura na Argentina. Wernich foi considerado cúmplice em sete assassinatos, 31 casos de tortura e 42 sequestros (na imagem à esquerda, Bergoglio e Rafael Videla, sanguinário ditador militar que governou a Argentina de 1976 a 1981).

Após o veredito, a arquidiocese de Buenos Aires publicou uma nota em que convocava o sacerdote a se arrepender e pedir perdão em público. “A Arquidiocese disse que a Igreja Católica Argentina estava transtornada pela dor causada pela participação de um dos seus padres nestes crimes graves”, relata o despacho.

Para os americanos, este evento acabaria impactando na imagem de Bergoglio. “Entretando, numa época em que alguns observadores consideram o primaz católico romano Cardeal Bergoglio ser um líder da oposição à administração Kirchner por conta de seus comentários sobre questões sociais”, comenta o documento, “o caso Von Wernich pode ter o efeito, alguns acreditam, de minar a autoridade moral ou capacidade da Igreja (e, por conseguinte, do Cardeal Bergoglio) de comentar questões politicais, sociais ou econômicas”.


XVIII. WIKILEAKS - América Latina
EUA Atuaram contra Aumento de Mínimo no Haiti para 5 Dólares

29.7.2011 / Fonte: A Pública


Entre 2008 e 2009, a Embaixada norte-americana do Haiti se reuniu a portas fechadas com donos de fábricas contratadas pelas marcas Levi's, Hanes e Fruit of de Loom com o intuito de bloquear o aumento de salários da indústria têxtil do Haiti – que são os mais baixos do continente – segundo documentos do Departamento de Estado americano.

Os donos das fábricas se recusavam a pagar 62 centavos por hora, o que equivale a 5 doláres por 8 horas de trabalho, conforme estabelecia uma medida aprovada por unanimidade pelo Congresso haitiano em 2009.

Nos bastidores, porém, os donos de fábricas tiveram o apoio vigoroso dos EUA, da Agência de Desenvolvimento Internacional (USAID) e da embaixada americana, segundo documentos da embaixada entregues ao Haïti Liberté, parceiro da Pública, por meio do grupo de transparência WikiLeaks.

Na época, o mínimo salarial diário era de 70 gourdes, ou 1 dólar e 75 centavos.

Os empresários afirmaram ao Congresso haitiano que estavam dispostos a dar um aumento de 9 centavos, chegando a 31 centavos por hora de trabalho – 100 gourdes diários -, para os trabalhadores que produzem camisas, sutiãs e roupas íntimas para gigantes da industria têxtil americana, como as marcas Dockers e Nautica.

Para resolver o problema entre as empresas e o Congresso, o Departamento de Estado americano insistiu que o presidente haitiano René Préval intervisse:

“Uma atuação mais engajada de Préval pode ser crítica para resolver a questão do salário mínimo e os protestos pelo seu aumento – ou então, corremos o risco do ambiente político fugir do controle”, avisou o embaixador americano Janet Sanderson em junho de 2009.

Dois meses depois, Préval negociou um acordo com o Congresso para estabelecer dois tipos de salários mínimos: um para a industria têxtil de 3,13 doláres por dia (125 gourdes) e outro para todas as outras indústrias e setores comerciais, de 5 doláres por dia (200 gourdes).

Mas mesmo assim, a embaixada americana não ficou satisfeita. O chefe da missão, David E. Lindwall, disse que um aumento para 5 doláres “não leva em conta a realidade econômica”, e teria sido apenas uma medida “populista” para apelar “às massas desempregadas e mal-pagas”.

Os defensores do mínimo haitiano insistem que era necessário manter o passo com a inflação e aliviar o aumento do custo de vida.

O Haiti é o país mais pobre do continente, e o Programa Mundial de Alimentos da ONU estima que 3,3 milhões de pessoas, um terço da população, estejam em risco de passar fome.

Naquele mesmo ano de 2008, uma onda de protestos conhecidos como “protestos do cloro” sacudiram o país – o nome era uma referência à dor no estômago causada pela fome aguda, como se a pessoa tivesse ingerido cloro.

De acordo com estudo do Consórcio dos Direitos dos Trabalhadores realizado em 2008, uma família da classe trabalhadora sustentada por um único individuo e tendo dois dependentes precisaria de 550 gourdes haitianos, cerca de 13 doláres e 75 centavos por dia, para manter um nível de vida normal.

Segundo o assessor de imprensa da embaixada norte-americana Jon Piechowski, “a política do Departamento de Estado é de não comentar documentos com informações classificadas e condenar o vazamento ilegal dessas informações”.

Ele afirmou ainda que “no Haiti, 80% da população está desempregada, e 78% vive com menos de 1 dólar por dia – o governo americano está trabalhando com o governo haitiano e outros parceiros internacionais para aumentar a criação de empregos, apoiar o crescimento econômico e atrair investimentos estrangeiros que sigam as normas da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e consigam alavancar a industria e a agricultura do país”.

O interesse dos EUA: zonas-francas para têxteis no Haiti

Porém, durante um período de 20 meses, do começo de fevereiro de 2008 a outubro de 2009, agentes da embaixada americana monitoraram atentamente e informaram Washington sobre a questão dos salários.

Os relatórios mostram que a embaixada compreendia a popularidade da proposta de aumento do minimo.

Os telegramas afirmam que o novo mínimo tinha o apoio da maior parte da comunidade de negócios do Haiti “com base em relatos de que o mínimo na República Dominicana e na Nicarágua (países que competem no setor têxtil) também vão aumentar”.

Mesmo assim, a proposta gerou uma oposição ferrenha dentre a elite manufatureira haitiana, que Washington vinha apoiando com suporte financeiro direto e acordos de livre comércio.

Em 2006, o congresso americano aprovou o plano Oportunidade Hemisférica através do Incentivo à Parceria (HOPE, na sigla em inglês que significa “esperança”). A lei permitiu incentivos fiscais para criar zonas-francas de fábricas no Haiti – elas podem exportar para os EUA sem pagar impostos.

Dois anos depois, o congresso dos EUA aprovou outra lei de isenção de impostos, chamada HOPE II, e a USAID passou a fornecer assistência técnica treinamento para ajudar as fábricas a expandir suas produções e aproveitar ao máximo a nova legislação.

Os documentos brasileiros do WikiLeaks, publicados pela Pública, demonstraram que empresas brasileiras estão fazendo lobby para integrarem essa iniciativa – usando a mão-de-obra barata do Haiti e exportando sem impostos para os EUA.

Os telegramas da embaixada haitiana afirmam que essa iniciativa dos EUA estava em perigo por causa da proposta de aumento do salário mínimo.

“Representantes da indústria têxtil, liderados pela Associação da Indústria Haitiana (ADIH), se opuseram ao aumento de HTG 130 (US$ 3,25) por dia no setor manufatureiro, afirmando que iria devastar a indústria e ter um impacto negativo no projeto HOPE II” afirma um documento confidencial de 17 de junho de 2009 assinado pelo conselheiro da embaixada Thomas C. Tighe.

Ironicamente, um relato confidencial assinado por Tighe uma semana antes , no dia 10 de junho, observou que um estudo da Associação da Indústria Haitiana havia concluído que “de modo geral, a média salarial para os empregados do setor têxtil é HTG 173 (US$ 4,33)”, ou seja, apenas 67 centavos menos do que o mínimo proposto no Congresso.

Mesmo assim, o estudo alertava que deveria haver oposição ao aumento do mínimo porque “a atual estrutura de salários promove a produtividade e serve como um elemento de competitividade na região”.

Tighe observa, no entanto, que “o salário mínimo para os trabalhadores na Zona Franca na fronteira entre Haiti e República Dominicana é de cerca de US$ 6,00”, um dólar a mis do que o projeto de lei no Congresso.

Mesmo assim, o estudo conclui que “um salário minimo de HTG 200 resultaria na perda de 10.000 postos de trabalho”, o que significa mais de um terço do total na época.

Tighe afirmou então que “estudos financiados pela Associação da Indústria Haitiana e pela USAID sobre o impacto do aumento do salário mínimo na indústria têxtil mostram que o aumento iria tornar o setor inviável economicamente e consequentemente forçar o fechamento de fábricas”.

Apoiados por este estudo pago pela USAID, os donos de fábricas fizeram lobby pesado contra o aumento, reunindo-se com o ex-presidente Préval em diversas ocasiões e com mais de 40 membros do Parlamento e partidos políticos, segundo os documentos do WikiLeaks.

Monitoramento

Os documentos diplomáticos procedentes do Haiti revelam como a emabaixada americana monitarava o aumento de salário e se preocupava com os impactos da batalha dos salários na política.

Tropas da ONU foram chamadas para reprimir protestos estudantis, aumentando o sentimento contra a presença militar da ONU no Haiti.

Em 10 de agosto de 2009, trabalhadores da indústria têxtil, estudantes e outros ativistas protestaram no Parque Industrial (SONAPI), próximo ao aeroporto de Port-au-Prince.

A polícia prendeu dois estudantes, Guerchang Bastia e Patrick Joseph, por “incitar” os trabalhadores.

Exigindo sua libertação, os protestantes marcharam até a delegacia Delma 33, onde os policiais atiraram gás lacrimogêneo e os protestantes revidaram atirando pedras.

No percurso do protesto, o pára-brisa do carro do conselheiro da embaixada americana, Tighe, foi quebrado, e ele teve que se abrigar na delegacia.

Depois, quando perguntado por jornalistas sobre o incidente e a controvérsia do salário mínimo, Thige disse apenas: “É sempre a minoria que causa desordem”.

Devido aos protestos vertiginosos de trabalhadores e estudantes, os donos das fábricas e Washington venceram apenas parcialmente a batalha dos salários, atrasando o aumento por um ano e mantendo o salário das fábricas têxteis um pouco abaixo do restante.

Em outubro de 2010 a assembléia dos trabalhadores conseguiu aumentar para 200 gourdes por dia de trabalho na indústria têxtil, enquanto em todos os outros setores o salário foi para 250 gourdes por dia (cerca de 6 doláres e 25 centavos).



Tratamento Terrível dos Estados Unidos no Haiti, Segundo WikiLeaks

7.6.2011 / Fonte: National Journal

Tradução de Edu Montesanti


Na sequência de muitos desastres deste ano, o fluxo de más notícias que vêm do Haiti tem se reduzido a um gotejamento. Na semana passada, na verdade, vieram algumas boas notícias de que a taxa de mortes do terremoto de 2010 poderia ser muito menor que a relatada. E então, WikiLeaks mergulha a 1.918 documentos de um período de sete anos, a partir dos 10 meses antes do golpe que depôs o presidente Jean-Bertrand Aristide, em 29 de fevereiro de 2004, e termina seis semanas após o terremoto de 12 de janeiro de 2010. Em parceria com WikiLeaks, The Nation e o semanário haitiano Liberté estão publicando uma série de histórias que, até agora, destacam como os EUA têm microadministrado e levado o governo haitiano a se alinhar às suas políticas, conforme os interesses norteamericanos. Não é, claro, nenhuma novidade que os Estados Unidos intimidem aliados a fazer o que eles querem, mas vale a pena discriminar o primeiro par de furos jornalísticos.

EUA Usou o Haiti como Peão na Guerra do Petróleo contra a Venezuela

René Préval tomou o poder após a derrubada de Aristide, e imediatamente viajou aos Estados Unidos para reforçar a confiança nas relações diplomáticas entre as duas nações. De acordo com um cabo de 26 de março de 2006, escrito pelo embaixador dos EUA, Janet Sanderson, Préval queria "enterrar de uma vez por todas a suspeita no Haiti de que os Estados Unidos estão preocupados com ele", cautelosos pelos laços de Préval com Cuba e Venezuela. Sanderson disse também que Préval "ressaltou à embaixada que ele vai administrar as relações com Cuba e Venezuela somente para o benefício do povo haitiano, e não baseado em qualquer afinidade ideológica com esses governos". Mas o comportamento norteamericano nos bastidores que o mostra "cauteloso", pode ter sido uma palavra muito suave.

Préval rapidamente frustrou suas esperanças de um relacionamento forte com seus aliados do norte, através da negociação de um acordo de aliança com a indústria venezuelana de petróleo Petrocaribe. Reconhecendo como o negócio faz sentido tanto ao escasso orçamento do Haiti quanto às pessoas atingidas pela pobreza - o governo haitiano "pouparia 100 milhões de dólares por ano da sua moratória" segundo estimativas da embaixada norteamericana - os Estados Unidos dificultaram o acordo para os próximos anos. Oficiais norteamericanos aparentemente ajudaram a mobilizar a Chevron e a ExxonMobil, as únicas companhias de petróleo dos EUA operando no Haiti, a fim de bloquear seus embarques e se recusar a transportar petróleo da Petrocaribe, um requisito necessário para o Haiti assinar o acordo. Apesar do embaixador norteamericano reconhecer a falta de interesse do Haiti na política antinorteamericana - "Em nenhum momento Preval deu nenhuma evidência de que esteja interessado em associar o Haiti à ampla "agenda revolucionária" de Chávez, escreveu em um cabo - Sanderson sugeriu que os EUA "transmitam nosso descontentamento com as ações de Préval no mais alto grau possível, na próxima vez que visite Washington", após Préval visitar a Venezuela para negociar um acordo de energia que levaria eletricidade à mais casas, e economizaria milhões do povo do Haiti.

A Chevron finalmente assinou o acordo da Petrocaribe no início de 2008, apesar dos protestos dos EUA, mas só depois de dois anos de negociações potencialmente enfraquecidas, beneficiam o Haiti. No entanto, como The Nation assinala: "A extraordinária história que os cabos WikiLeaks do Haiti contam sobre a campanha da Embaixada dos EUA contra a Petrocaribe - que prevê tais benefícios óbvios ao Haiti - traz às claras as verdadeiras prioridades da mais importante e confável parceria bi-lateral do Haiti, como alega Sanderson".

EUA Queria Manter Salário Mínimo do Haiti em 24 Gourdes por Hora

A campanha de Préval para aumentar o salário mínimo do país chamou a atenção da administração de Obama. O impacto de 37 gourdes (¢, moeda haitiana) parece pequeno para os padrões norteamericanos, mas considerando que elevaria os salários em 150 por cento - de 24 e algo e 61 ¢ e pouco - a nova medida foi tomada para afetar drasticamente a vida dos haitianos pobres. No entanto, afetaria drasticamente também os lucros das empresas norteamericanas, como Hanes e Levi Strauss, que contrataram o trabalho no Haiti para costurar roupas. As empresas insistiram na limitação do aumento salarial de 7 ¢ e pouco, e o embaixador dos EUA pressionou Préval em 3 dólares por dia de salário para os trabalhadores têxteis, 2 dólares menos que o original de 5 dólares por dia, conforme Préval queria. * Reportagem de The Nation sobre as negociações mostram desaprovação contínua com essa política:

Ainda a Embaixada dos EUA não estava satisfeita. O vice-chefe da missão, David E. Lindwall, disse que o mínimo de 5 dólares por dia "não levou em conta a realidade econômica", mas foi uma medida populista que visa apelar para "as massas de desempregados e os mal pagos"

Ryan Chittum na Columbia Journalism Review fez um pouco de matemática para colocar estes números em perspectiva. A proposta de 5 dólares por dia fica muito aquém daquilo que The Nation estimou, em 12,50 dólares por dia, necessários para uma família haitiana de três pessoas arcar com as despesas. Mas como será drasticamente o menor ainda, 3 dólares por dia, como iso afetará as empresas norteamericanas com participação na questão?

Aproximar-se de empresas específicas ajuda a esclarecer mais ainda. Desde o ano passado, Hanes contou com 3.200 haitianos para fazer camisetas para a empresa. Pagando a cada um deles dois dólares por dia a mais, custaria cerca de 1,6 milhão de dólares por ano. Hanesbrands Incorporated fez 211 milhões dólares sobre 4,3 bilhões em vendas no ano passado e, presumivelmente, transferiria pelo menos alguns dos seus custos laborais mais elevados aos consumidores.

Chittum observa que o chefe da Hanes, Richard Noll, poderia cobrir as perdas com apenas um sexto do seu pacote de indenização de 10 milhões de dólares. Isso faz com que o ramo de vestuário norteamericano e sua política sem exploração dos empregados pareça angelical, tarada pelo chef Dov Charney e por todos.



XVIII. WIKILEAKS - América Latina
Por baixo dos Panos, Washington Acusa México por Tráfico de Armas

O escândalo do Plano Rápido e Furioso Revela Diálogo
de Surdos entre os Dois Governos

28.3.2011 / Fonte: La Jornada

Tradução de Edu Montesanti


Observação do Blog: Altos escalões do governo federal norte-americano, inclusive Barack Obama, alegam nunca ter sabido nada sobre o contrabando de armas que vão parar nas mãos de narcotraficantes mexicanos. E, se não bastasse, ainda culpam o governo mexicano por não conseguir controlar, em suas fronteiras, a entrada dessas armas. Curioso que os EUA, tão contraditoriamente, culpam o México pelo tráfico de drogas dentro dos próprios EUA, ao invés de assumir sua responsabilidade por não conseguir coibir o crescente número de usuários e traficantes de droga dentro do país.
Enfim, nada disso que vem da potência imperialista é novidade a qualquer pessoa bem-informada, mas, definitivamente: WikiLeaks tem sido providencial, muito saudável à democracia que depende desesperadamente da verdade e da transparência radical



Ao longo dos seis anos de Felipe Calderón, a questão do contrabando de armas ilegais dos EUA ao México foi um diálogo de surdos entre ambos os governos. Os mexicanos - presidente, procurador-geral, ministros militares - solicitam, em público e em particular, que Washington detenha a transferência de armas de guerra, proibida por lei no México a qual ao norte da fronteira são vendidas livremente. Enquanto isso - agora se sabe - parte desse tráfico ilegal teve luz verde do governo em Washington, através de sua operação secreta conhecida por seu codinome Fast and the Furious (Rápido e Furioso). Graças a este, circula no país mais de 2 mil rifles de alto calibre, fora de controle.

Diante das reclamações mexicanas, os norte-americanos fogem do assunto e culpam as autoridades mexicanas pela sua incompetência, pelo mau estado dos registros de armas apreendidas e pela "desordem" que existe nos depósitos onde o ministério da Defesa mantém os arsenais confiscados pelo crime organizado.

Quando os funcionários mexicanos exigem resultados no tráfico de armas, seus homólogos invariavelmente respondem que o que é necessário é "acesso total" das agências norte-americanas especializadas aos enormes estoques de material apreendido no país, para rastrear o caminho das armas desde os fornecedores ao longo da fronteira até o receptor, no crime organizado.

As únicas medidas concretas que têm sido tomadas são a aplicação do programa E-Trace, e as operaçõea Armas Cruzadas e Chuck Wagon. Segundo explica um cabo preparado para a visita do então secretário de Segurança Interna, Michael Chertoff, 17-19 de julho de 2008 (cabo 08MEXICO2160), E-Trace é um software instalado na PGR e a SPP nos 32 estados que permitem perguntar diretamente a um banco de dados do ministério da Justiça em Washington, sobre a origem de uma arma particular. Armas cruzadas em um mecanismo de cooperação entre o Departamento de Imigração e Alfândegas (ICE, em sua sigla em Inglês) e seu homólogo mexicano. Chuck Wagon foi uma operação que então existia para que o escritório do adido militar dos EUA, que depende diretamente do Pentágono, ajudasse a Secretaria de Defesa Nacional (do México, Sedena) a identificar armamento militar, inclusive foguetes, lançadores antitanque RPG e granadas.

De acordo com o que consta nos cabos da embaixada dos EUA contidas no arquivo Wikileaks em poder de La Jornada, o governo mexicano afirmou repetidamente durante os primeiros seis anos, que isso "não era suficiente". Depois, deixou de fazê-lo.

As agências dos EUA envolvidas, ICE, por parte do Departamento de Segurança Interna, e a Agência de Controle de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF, em sua sigla em inglês), através do gabinete do procurador-geral, obtiveram todo o acesso necessário. O resultado foi o escândalo do Rápido e Furioso, não se sabe até onde vai a responsabilidade do executivo norteamericano nesta operação, secreta e falida.

Até à presente data, a ATF tem acesso a cenas de crime no México, aos bancos de dados e depósitos do PGR e do departamento de Defesa, inclusive indícios balísticos (tampas e fragmentos de explosivos) que sejam de interesse, mas não apresentou sequer um único caso de identificação de tráfico de armas, um episódio de interceptação de armas contrabandeadas nem informação sobre a origem da carga ilícita ou seu destino em território mexicano. Nos cabos, em poder deste diário e nos anais do ministério das Relações Exteriores, não contém qualquer acusação formal, no lado mexicano, por essa falta de resultados sobre um assunto tão vital.

De quem é a culpa?

Os parceiros norte-americanos nesses acordos - nos quais participam também a Alfândega e Patrulha de Fronteira (Customs and Border Patrol, CBP), e o adido militar da embaixada, culpam o governo mexicano de "obstruir os esforços" devido à "incapacidade das principais agências de segurança e justiça de trabalhar em equipe".

Pelo menos, essa é a conclusão a que chegou o ministro conselheiro John Feeley (hoje, virtual chefe interino da embaixada, após a renúncia de Carlos Pascual) sobre um cabo revelado pelo Wikileaks (09MEXICO3108) de 28 de outubro de 2009, enviado ao departamentos de Estado, Justiça, Segurança Interna e até mesmo ao Comando do Sul. "O respaldo do governo mexicano a um banco de dados abrangente, parte do pretexto que a medida permitirá uma melhor cooperação entre o ministério de Segurança Pública e a Procuradoria Geral da República, sem que haja um compromisso real para superar as diferenças que impedem resolver o problema do tráfico de drogas".

Também culpou os governos estaduais por não ter controle adequado sobre as transferências de armas que lhes confere o ministério da Defesa, no fornecimento de forças policiais e local. Assim, afirma-se em um cabo de 30 de novembro de 2009 (09MEXICO3376), oficiais de justiça dos EUA "têm razões para acreditar que algumas armas (das remessas importadas legalmente pela Secretaria de Defesa Nacional (do México, Sedena) simplesmente desaparecem." Trata-se de um caso detectado através do seu programa de verificação conhecido como Blue Lantern (Lanterna Azul): um fuzil AR-15 pertencente a um lote de 30 mil armas similares, legalmente importados e entregues as autoridades SEDENA Michoacan. A arma foi recuperada após um confronto em Panindícuaro, Michoacán, em meados de 2009, mas nunca foi possível determinar quando ela se desviou para cair nas mãos de grupos criminosos.

"Desordem" nos porões da Sedena

Às vezes, como relatado nos cabo confidencial 09MEXICO3114, datado de 29 de outubro, a embaixada consegue de livrar das restrições impostas por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, e obter a informação pretendida. "Em julho deste ano (2009) do departamento de Defesa decidiu compartilhar as informações conosco, o que permitiu que a análise dos dados por parte daICE e da ATF, com a ideia de abrir investigações contra indivíduos que vendem armas para o tráfico de drogas".

O resultado foi a frustração norteamericana perante a desordem com que são guardados os dados-chave. Isso é o que o ministro-conselheiro Gustavo Delgado escreve: "Infelizmente, a informação é incompleta e carece de informação sobre a origem das armas, refletindo os métodos irregulares e pobres utilizados tanto pela Polícia Federal (SSP), quanto por agentes do departamento de Defesa, no momento de processar as armas confiscadas".

Acirram-se críticas contra os militares: "Além da grande quantidade de armas armazenadas, a desordem com que o governo do México administra os depósitos (sob jurisdição da Sedena), levou a um sistema de manutenção das armas dicreto, sem responsabilidades claras. Muitas vezes, as dependências antepõem seus interesses e conflitos, contestando abertamente que tem prioridade na gestão da investigação fundamental. O PGR defende intransigentemente sua autoridade sobre os aspectos jurídicos, a pesquisa e a arma forense, enquanto a SSP reforça sua posição de liderança entre os edifícios dos tribunais. A SSP tem acesso apenas às informações compartilhadas, onde o caso é transferido para a competência do PGR.

Segundo dados do contexto contidas neste comunicado, até 2009 os depósitos do governo em todo o México guardaram cerca de 140 mil armas, quer seja recuperadasem cenas do crime ou nas inspeções. Os depósitos estão sob responsabilidade da Sedena, que mantém informação fragmentada sobre cerca de 64 mil armas recuperadas, desde o início do governo Calderón.

Nessa análise, a embaixada ainda questionou a versão oficial do seu próprio governo, de que detém 90 por cento das armas ilegais confiscadas aqui, vem dos Estados Unidos. "A informação é baseada em avaliações incompletas. De fato, sem um acesso mais amplo, não temos nenhuma possibilidade de verificar esses valores".

Existe uma loja localizada na avenida Industria Militar, a qual vende armas de fogo de diversos calibres, a militares e policiais. Apenas 38 milímetros arma é vendido ao público em geral, depois de percorrer as exigências da Gestão de Marketing de Armas e Munições da Sedena.

Em março, soldados apreenderam munição de AK-47 em um sítio em Veracruz, onde assassinos treinavam. As autoridades mexicanas e os EUA estão divergindo sobre o contrabando de armas ao território mexicano.

A promessa de Napolitano e sua intenção encoberta

Em 14 de abril de 2009, Calderón abordou a questão com o secretário de Segurança Interna, Janet Napolitano, e com o procurador-geral, Eric Holder, logo após a conclusão da conferência binacional sobre o tráfico de armas em Cuernavaca, no primeiro dia do mês. Calderón, de acordo com cabos confidenciais 09MEXICO1048, reiterou sua posição já conhecida sobre a reintrodução do embargo que proíbe a venda livre de armas pesadas, a partir de 2004. É um tema que já tinha sido levantado antes, desde que o governo de Barack Obama desconversa a fim de não enfrentar os ultraconservadores, defensores da Segunda Emenda que protege o direito de possuir, vender e comprar armas.

Para salvar as formas, Napolitano sugeriu que sua agência reforçará fronteiras com "supervisão complementar" de viajantes que deixam os Estados Unidos rumo ao México. Ele até ofereceu unidades caninas, enquanto Calderón alertou que, como obtiveram mais êxito interceptando contrabandistas de armas que tentam rotas marítimas, exercerá mais pressão sobre a Marinha do México".

Na verdade, Holder colocou 110 novos agentes e funcionários da ATF, e Napolitano 360 da ICE nos pontos aduaneiros sob o programa Project Gunrunner (em vigor desde 2005). Entre eles, John Dodson e René Járquez, que, como afirmavam, eram pressionados pelas autoridades superiores para participar da operação Rápido e Furioso.

O cabo de referência sobre a reunião Calderón-Holder-Napolitano, assinado pelo assessor político Leslie Basset, não diz se autoridades dos EUA mencionaram a Calderón a operação Gunrunner e a Rápido e Furioso que, de acordo com a repórter investigativa da TV CBS Sharyl Attkinson, funciona pelo menos desde 2008. Hoje, em meio ao escândalo, os dois governos lançaram acusações mútuas, e até o presidente Obama sustenta uma afirmação sujetra a inquérito judicial, que nem ele nem Holder sabiam das "armas caminhantes".

Em setembro de 2010, um alerta da polícia informou à ATF que em sete lojas de armas em Phoenix, Arizona havia-se detectado compras irregulares. Um homem identificado como Jaime Ávila - quem emprestava seu nome aos verdadeiros compradores - acabou por ser os compradores verdade, estava adquirindo fuzis de assalto de estilo militar em grandes quantidades, e pagava em dinheiro com notas que carregava em grandes sacos de papel. Segundo Dodson e Járquez relataram para a televisão CBS, recentemente a ATF ordenou que seus funcionários não agissem e deixassem passar as remessas.

Os fuzis eram contrabandeadas em pontos aduaneiros que, segundo promessa feita a Calderón, estavam "controladas". A ordem, que ainda não sabe de que escalão governamental se originou, ou se o governo do México tinha conhecimento, passou por cima de vários agentes, incluisive Darren Gil, antigo delegado da ATF na Embaixada nortemmericana no México. Parte das obrigações de Gil era manter relações estreitas com a PGR, o SPP e a Sedena. Gil, que permaneceu no cargo até o final de 2010, disse neste sábado à rede de televisão CBS, que revelou o escândalo, que tomou conhecimento deste tráfico ilegal "no início de 2010", e alertou seus superiores de que algo poderia dar errado na operação. "Os mexicanos vão ficar irritados quando ouvirem isso", diz que advertiu seus superiores. Nisto, ele estava errado. Mesmo com o escândalo exposto, a reação do governo mexicano está longe de ser "zangado" ou tachativa.

Gil, cuja atribuição era especificamente autorizar essas entredas de armas supostamente controladas, foi bloqueado. "Meus superiores me garantiram que o caso agora está nas mãos do ministério da Justiça".

A operação começou a falhar quando se verificou que duas armas encontradas no local onde se matou um agente da patrulha fronteiriça dos EUA, Terry Brian, tinha números da série do lote que a ATF permiriu "caminhar" das lojas de Phoenix. Mais tarde, foi revelado que uma outra arma com a qual foi assassinado no México o agente da ICE, Jaime Zapata, também era parte do lote de Rápido e Furioso.

Outra mancha na história da Medina Mora

Antes da saída do ex-procurador-geral, Eduardo Medina Mora, a embaixada "avaliou" seu comportamento e deu-lhe qualificação "mista", com prós e contras, cabo 09MEXICO3092. Seu principal defeito era "criticar publicamente os EUA por não fazer o suficiente para reduzir o comércio de armas" durante a conferência bilateral de 2008. Uma pena, pois Medina, sobre esta questão, era "construtivo", colocou ênfase na colaboração e "estava longe dos argumentos pobres usados dos que criticam a segunda emenda, e a revogação do embargo de armas".

Entre suas falhas, como já foi publicado, este mesmo cabo cita "incapacidade de superar sua animosidade pessoal", entre ele e o secretário de Segurança Pública, García Luna. Entre os profissionais, a Embaixada elogiou o elevado número de extradições que autorizou, e os esforços para reforçar a "parceria triangular" Colômbia-México-Estados Unidos.

É pertinente falar de Medina Mora, porque em 2007, mesmo em tempos de George Bush, o então novo procurador de Calderón se reuniu com o diretor do Escritório Nacional de Controle de Drogas da Casa Branca, John Walters. Iniciou uma operação chamada de Armas Cruzadas, que visava aumentar os níveis de geração de informações de inteligência sobre redes de contrabando de armas (cabo 07MEXICO1854). Medina Mora fez um pedido específico, exigiu informações sobre os compradores nos Estados Unidos, munições de alto calibre para armas de uso militar. Nunca se respondeu a seu apelo.

Mouriño e alegam esquecidos

Outro antecedente deste diálogo de surdos, foi o encontro que teve o falecido ministro do Interior, Juan Camilo Mouriño, com o ex-secretário de Segurança Interna, Michael Chertoff. Deu-se em 28 de fevereiro de 2008, em uma conversa à margem de uma reunião bilateral realizada em Los Cabos, informou em 11 de março de 2008, em 08MEXICO714 cabo.

Sobre o tráfico de armas, Mouriño expressou a Chertoff preocupação porque o programa E-Trace (registro digital, que segue o caminho de cada arma através do seu número de licença), enquanto era apreciado pelas autoridades mexicanas, não representavam solução concreta, que era a impossibilidade de manter o controle dos carregamentos de grande e pequeno porte de armas compradas nas exposições de armas nos Estados Unidos, e de detectar as remessas que entram aos EUA de países terceiros, para seguir seu caminho ilegalmente ao México .

Chertoff respondeu conforme o habitual: "Temos de elevar o nível da partilha de informações". Foi a conversa em que Chertoff reivindicou a Mouriño permissão aos agentes dos EUA de interrogar estrangeiros detidos em instalações da imigração mexicana, qualificando de "interesse especial".

Relevantes ou não, as observações de Mouriño caíram no esquecimento. Elas não aparecem nas agendas dos dois países quando se discute a questão do contrabando de armas.



XVIII. WIKILEAKS - América Latina
Para EUA, Mercosul É “Antinorte-Americano”

Um documento secreto do Departamento de Estado ao qual o jornal Página/12 teve acesso via Wikileaks revela o temor estadunidense diante da consolidação de um bloco regional que inclua também a Venezuela. O texto revela o conteúdo de uma reunião de embaixadores estadunidenses no Cone Sul, realizada no Rio de Janeiro. Segundo o texto final do encontro, a chave que, segundo os EUA, muda a natureza do Mercosul é a decisão de incorporar a Venezuela aos quatro membros originais: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. “O Mercosul gradualmente foi transformando-se de uma união aduaneira imperfeita em uma organização mais restritiva e anti-norte-americana”, afirma

7.3.2011 / Fonte: Carta Maior


Pela primeira vez vem a público um documento do Departamento de Estado dos Estados Unidos que qualifica o Mercosul como um organismo “antinorteamericano”. Não consta nos arquivos públicos nenhuma menção neste sentido por parte de uma autoridade do Departamento de Estado. O documento ao qual o Página/12 da Argentina teve acesso via Wikileaks, revela o conteúdo de uma reunião de embaixadores estadunidenses no Cone Sul, realizada no Rio de Janeiro. Segundo o texto final do encontro, a chave que, segundo os EUA, muda a natureza do Mercosul é a decisão de incorporar a Venezuela aos quatro membros originais: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. “A entrada da Venezuela no Mercosul altera claramente o balanço e a dinâmica da organização”, diz o texto. “O Mercosul gradualmente foi transformando-se de uma união aduaneira imperfeita em uma organização mais restritiva e anti-norteamericana”.

A reunião ocorreu nos dias 8 e 9 de maio de 2007 no Rio de Janeiro. O telegrama com um resumo foi classificado como secreto no dia 17 de maio pelo número dois da embaixada no Paraguai, Michael J. Fitzpatrick. Seu título original é “Conferência: uma perspectiva do Cone Sul sobre a influência de Chávez”. Participaram os embaixadores norteamericanos no Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile, e o relatório agradece ainda as contribuições da embaixada na Bolívia.

Quase quatro anos depois do encontro adquire ainda mais importância que tenha sido um diplomata sediado no Paraguai o encarregado de qualificar o grau de confidencialidade da reunião. O protocolo de adesão da Venezuela foi firmado em março de 2006. Mas até hoje não entrou em pleno vigor porque um país só passa a ser membro pleno do Mercosul quando os parlamentos dos países que já são membros ratificam a decisão dos poderes executivos. A única coisa que falta para a entrada da Venezuela no bloco é, hoje, a ratificação do Senado paraguaio.

Na última reunião do Mercosul (Foz do Iguaçu, em 2010), a presidenta Cristina Fernández de Kirchner disse que “a incorporação da Venezuela ao Mercosul, além de aportar sua generosidade, vai ajudar estrategicamente a consolidar-nos em uma das frentes mais importantes deste século, a energética”. Cristina disse confiar “nos irmãos do Paraguai”, destacou o Mercosul como um bloco que permitiu deixar para trás uma hipótese absurda como o enfrentamento entre a Argentina e o Brasil e acrescentou que o peso dos mercados internos dos dois países permitiu “superar a crise global mais importante desde 1930”.

O atrativo de Chávez

A conclusão final dos embaixadores é que “a campanha de Chávez para expandir sua influência no Cone Sul é multifacetada e repousa em boa medida, mas não totalmente, em uma generosa assistência energética e em acordos de investimento”. Concede que a figura de Chávez pode ser “atrativa para muitos dos despossuídos da região, que todavia esperam que a globalização lhes traga os benefícios do livre comércio e o governo verdadeiramente democrático”.

Segundo o telegrama, “ao integrar a Venezuela às instituições existentes e ao criar novos organismos regionais, Chávez quer que o Cone Sul siga essa ideia”. Que resultados teria produzido a suposta campanha do presidente venezuelano? “Poucos países provaram ser capazes de resistir ao atrativo da ajuda venezuelana e de seus pacotes de investimento”.

Para a sorte dos críticos da integração venezuelana, “ao mesmo tempo que a influência de Chávez na região se expandiu significativamente, os líderes regionais suspeitam de seus motivos e objetivos”. Muitos desses líderes “coincidem na ideia de que o Cone Sul, e sobretudo a América do Sul, deve estabelecer uma identidade separada em relação à hegemonia norte-americana, mas não se sentem cômodos se são usados”.

Uma frase dos embaixadores indica o estado do diagnóstico estadunidense: “os Estados Unidos não podem esperar que os líderes da região corram em nossa defesa”.

E depois do diagnóstico vem a recomendação: “Precisamos nos convencer da necessidade de implementar uma estratégia transparente para a região”. O texto segue assim: “Nossa ideia de uma comunidade de nações democrática e inclusiva que assegura a perspectiva de um futuro mais próspero para seus cidadãos é a resposta correta a Chávez”. Os participantes também pediram “mais ferramentas e recurso” para se contrapor ao que definem como “esforços políticos de rachar a democracia, desenhar estratégias econômicas para estrangular o comércio livre, a politização do Mercosul, a expansão das relações na área da Defesa e a campanha nos meios de comunicação de massa”.

País por país

Os diplomatas reunidos no Rio de Janeiro se manifestaram convencidos de que existe uma campanha pública de Chávez e outra clandestina, de distribuição de recursos, e analisaram a posição dos governos da América do Sul detalhadamente.

No caso argentino, um dado chave é o fato de que, segundo os participantes, “uma pesquisa realizada em dezembro de 2006 apontava que Chávez era popular para 52% dos argentinos” e que a imagem dos EUA não era popular. Ao mencionar o nome de Néstor Kirchner, então presidente da Argentina, o relatório diz que “Kirchner tentou distanciar-se publicamente da posição antinorte-americana de Chávez e tratou de manter a percepção de uma linha mais independente para resultar potável ao eleitor médio, mas sua estratégia econômica claramente busca laços mais estreitos com Chávez no comércio e nas finanças, procurando posicionar-se, além disso, entre Lulz e Chávez no espectro regional”. Na visão estadunidense, Kirchner tentava balancear a relação com Chávez. “Isso é evidente no apoio de Kirchner e sua esposa à comunidade judia da Venezuela e, simultaneamente, no fato de que tenham se abstido de qualquer comunicado em favor da liberdade de imprensa no caso da RCTV, por exemplo”.

“Ainda que Kirchner compartilhe algumas das posturas esquerdistas de Chávez, ele é muito mais um pragmático”, diz o texto. E nomeia os empréstimos de 4,2 bilhões de dólares concedidos a Argentina.

O documento assinala ainda que “o que levou o Brasil a apoiar a admissão da Venezuela no Mercosul foi a crença de que Chávez poderia ser controlado mais facilmente dentro do organismo do que se deixado a sua própria inspiração fora dele”. O texto põe em questão essa ideia com dois exemplos. Um, que Chávez estimulou Evo Morales a nacionalizar a Petrobras na Bolívia. Outro, que Chávez disputava protagonismo com Lula nas reuniões do Mercosul.

“Esse atrito oferece uma oportunidade”, analisa o texto (e parece encher-se de esperança) classificado por Fitzpatrick em 2007. Obviamente se refere a uma oportunidade para os EUA causar alguma erosão nas relações do bloco sulamericano.

No entanto, quando Morales nacionalizou o petróleo, nacionalizou também a Petrobras e não só a Petrobras. Brasil se irritou com a ocupação militar das suas unidades, mas um diálogo entre os dois países solucionou a diferença.

Tampouco houve, finalmente, uma disputa de protagonismo entre Lula e Chávez, a tal ponto que o então presidente brasileiro seguiu impulsionando a entrada da Venezuela no Mercosul. O Senado brasileiro ratificou a posição em 2009, com Lula presidente. E sua sucessora, Dilma Rousseff, disse em janeiro último em uma entrevista com meios de comunicação argentinos, entre eles Página/12, que “a Venezuela é um grande produtor de petróleo e gás”. Opinou que o país “tem muito a ganhar entrando no Mercosul, e nós com sua presença”. Também tocou na questão da liderança, mas despersonalizou-a, preferindo colocá-la em um plano binacional argentino-brasileiro por tamanho e desenvolvimento econômico. “Até para os outros países é absolutamente importante que Brasil e Argentina estejam juntos porque não é uma relação de hegemonia a que os dois países se propõem a estabelecer com o resto da América Latina”, declarou.

Na visão norte-americana daquele momento, outro tema a seguir de perto eram os contatos militares venezuelanos e, no caso da Bolívia, os supostos contatos na área da inteligência. Até o Uruguai aparece sob suspeita, porque segundo o telegrama os temas relacionados à segurança, do então presidente Tabaré Vázquez, eram implementados no dia a dia por seu irmão, Jorge, “um ex-membro da guerrilha POR-33”. Vázquez, subsecretário do Interior, teria trabalhado segundo os Estados Unidos com “agentes do serviço secreto recrutados sob o guarda-chuva da central sindical PIT-CNT, dominada pelo Partido Comunista, e treinados em Caracas e Havana”.

Na verdade, a OPR-33 foi mais libertária do que comunista e na PIT-CNT há também peso de socialistas e do Movimento de Participação Popular do ex-tupamaro Pepe Mujica. Jorge Vázquez é o mesmo que denunciou no Uruguai uma campanha por meio do qual teria sido falsamente acusado de armazenar para o Irã em combinação com a Venezuela.



EUA Monitorou Políticas Argentinas em Defesa da Soberania das Malvinas

Dezembro de 2010 / Fonte: Telesur

Tradução de Edu Montesanti


Os EUA ordenaram à sua embaixada em Buenos Aires, acompanhar as decisões do governo sobre a intenção de uma suposta resposta militar da Argentina à exploração de petróleo britânico nas ilhas Malvinas no início de 2010, conforme revelam cabos diplomática vazados pelo WikiLeaks.

"Agradecemos que nos informem, para que possamos antecipar a reação da Argentina, incluindo uma possível ação militar", disse em um telegrama o enviado de Washington, que também pede um relatório sobre as discussões não só dentro do governo, mas também "entre os militares".

A situação das Malvinas, cuja soberania é reclamada pela Argentina ao Reino Unido, atingiu o pico no início deste ano quando o governo britânico permitiu a exploração de petróleo na plataforma continental do arquipélago do Atlântico sul.

Os interesses economicos em jogo

Os cabos mostram a preocupação do governo dos Estados Unidos pelo eventual prejuízo que possam sofrer as empresas americanas envolvidas na exploração de petróleo do Reino Unido, como é o caso de Diamond Drilling..

Essas ações responderiam, segundo as comunicações diplomáticas, ao início de uma política mais rigorosa do governo argentino sobre países que interferem em sua soberania nas Malvinas.

O cabo afirma que a Argentina "tem tomado três níveis de ação: protesto formal junto ao Reino Unido; cartas de advertência a cada empresa relacionada com a operação (de petróleo), lembrando-lhes que é ilegal e podem estar sujeitos a sanções; e cartas aos governos associados a essas empresas com conteúdo semelhante", a este último os EUA se consideraram aludidos.

Outras comunicações diplomáticas alegaram que em 2009 a Argentina retomaria seus esforços para obter a soberania formal das Malvinas, mediante "uma nova reivindicação sobre a Antártida diante da Comissão das Nações Unidas sobre a plataforma continental".

A Argentina através de meios pacíficos

A presidente Cristina Fernandez disse, no início de março, que seguiria sempre a "linha de diplomacia" no pedido ao Reino Unido pela soberania sobre as Ilhas Malvinas, em meio a crescentes tensões que provocaram o início das atividades de exploração de petróleo no arquipélago, por parte de uma empresa britânica.

Outro incidente que levantou o conflito foi o exercício militar realizado pelo Reino Unido no início de outubro, ocasião em que o chanceler argentino Héctor Timerman disse que seu governo não iria cair em nenhuma provocação imperial, e reafirmou que seu país não iria se desviar "do que manda a lei, a diplomacia e a paz".

Essas ações foram rejeitadas por todos os governos progressistas na América do Sul, bem como pela União das Nações Sul-Americanas (Unasul), pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelos países do Mercado Comum do Sul (Mercosul).



XVIII. WIKILEAKS - América Latina
Honduras e Colômbia
 
11.12.2010 / Fonte: Natália Viana


Uma reportagem descreve o documento em que os americanos prevêem um ano dificil para Manoel Zelaya, então presidente de Honduras – exatamente no ano do golpe.

O embaixador americano em Tegucigalpa, Charles Ford, não sugere desestabilizar o governo de Zelaya, mas deixa claro que, na sua visão “Zelaya não tem amigos de verdade fora da sua família, jáque ele ridiculariza publicamente os seus aliados” e que “estrategicamente ele está sozinho”.

Leia a íntegra, em inglês, aqui.

Outra reportagem narra a crescente tensão entre o governo colombiano e os indígenas. Cada vez mais, as comunidades nativas estão sendo massacradas na guerra entre as Farc e o exército.

Em setembro deste ano, o Departamento de Estado americano certificou o congresso de que o exército colombiano estava respeitando os direito humanos (para justificar os populdos fundos destinado a ele). Porém, um telegrama da embaixada em Bogotá enviado em 12 de fevereiro de 2010 prova que Washington sabia que civis estavam sendo feridos por nconta de operações militares.

O telegrama (clique aqui) conta que no dia 30 de janeiro de 2001, um ataque aéreo feito pela força aérea colombiana perto do território indígena Embera – Katio atingiou e feroiu gravemente não un integrante da guerrilha, mas um casal com um bebê de 20 dias. Para ler a reportagem no original em inglês, clique aqui.



Leia o novo livro de Edu Montesanti: Mentiras e Crimes da "Guerra ao Terror" - E o Jornalismo Brasileiro Manchado de Sangue
Destaque da Bienal' 2012 / Recomendado pelo Observatório da Imprensa e pelo Correio do Brasil

saiba mais, aqui
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#Posté le mercredi 09 mars 2011 20:00

Modifié le jeudi 21 avril 2016 16:22

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