O NOVO 'PEARL HARBOR' E A PROPAGANDA DO TERROR
11/9: Recontando os Atentados que Mudaram o Curso da História
11/9: Recontando os Atentados que Mudaram o Curso da História

no Jornal Pravda (Rússia), e na versão impressa da revista Caros Amigos
Republicado por Siper (Suíça), Daniele Ganser (Historiador, Suíça)
e Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão
Em maio de 2014, o historiador suíço Daniele Ganser questionou em Journal of 9/11 Studies: "Os historiadores, hoje e nos próximos anos, enfrentam uma tarefa desafiante: devem escrever a história dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001. O que escreverem, será ensinado nas aulas de História. Mas o que escreverão? Que Osama bin laden enviou 19 muçulmanos a fim de executar um ataque de surpresa nos EUA? Ou escreverão que a administração de Bush foi responsável pelo ataque, seja arquitetando-o ou deliberadamente permitindo a fim de chocar a população dos EUA, criar um pretexto para aumentar os gastos militares, e atacar Afeganistão e Iraque?".
Longe de esclarecimentos ao mesmo tempo que acarretam consequências catastróficas à humanidade, os ataques do 11 de Setembro (11/9) nos Estados Unidos mudaram o curso da história muito mais que pelo atrativo jornalístico capaz de transmitir, ao vivo e com requintes de Hollywood o choque à Torre Sul do complexo do World Trade Center em Nova Iorque - duas emissoras simplesmente anteciparam, uma delas em uma hora, a queda do terceiro edifício, o Word Trade Center 7 jamais atingido por nenhum avião, ambos os fatos quem chama profunda atenção e geram inúmeros questionamentos, até hoje não explicados.
Procurado pela reportagem, o ativista e escritor norte-americano Kevin Ryan, um dos maiores investigadores das implicações do 11/9, autor de Another Nineteen: Investigating Legitimate 9/11 Suspects, membro-fundador da Scholars for 9/11 Truth & Justice, do 9/11 Working Group of Bloomington além de diretor do Architects and Engineers for 9/11 Truth e co-editor do Journal of 9/11 Studies desde 2006, questiona: "Ou o terrorismo foi facilitado dentro dos Estados Unidos, ou o governo inexplicavelmente fracassou ao responder quando a nação foi atacada".
Segundo a versão oficial, os maiores ataques em solo norte-americano da história foram arquitetados de uma caverna no Afeganistão pelo saudita de origem iemenita Osama bin Laden quem, treinado, financiado e armado nas fileiras de Washington durante a Guerra Fria, esteve às vésperas dos atentados sob tratamento de hemodiálise no Hospital Americano de Dubai, capital dos Emirados Árabes, amigavelmente visitado por agentes da CIA. Em poucos dias, como se tudo já estivesse de antemão preparado, as forças norte-americanas e da OTAN já encontravam-se organizadas para combater na propalada "Guerra ao Terror".
Declarada de uma catedral pelo então presidente dos Estados Unidos George W. Bush, citando salmos ao lado de um rabino, de um padre e de um pastor evangélico, nos 15 anos cumpridos em 7 de outubro (data da invasão ao Afeganistão, em 2001), esta arbitrária guerra, mais longa ocupação militar da história dos Estados Unidos que fere todas as leis internacionais e a própria Constituição norte-americana (a qual desautoriza guerras de agressão), e que desde o início recusa-se em levantar provas e realizar julgamentos, tem gerado centenas de milhares de refugiados em todo o mundo, além de ter assassinado mais de um milhão e meio de civis apenas no Afeganistão e no Iraque, Estados que jamais atacaram nem sequer apresentaram, em nenhum momento na história, ameaça à segurança dos Estados Unidos.
Crimes por forças policiais ocorridos inclusive na Europa, como no caso do estudante brasileiro Jean Charles de Menezes de 27 anos, baleado pelas costas por ter sido "confundido" com um "suspeito" de práticas terroristas pela Polícia de Londres em 2005; um dentre milhões de crimes jamais investigados nesta maniqueísta guerra que rompeu a política externa norte-americana e as relações internacionais em quase 400 anos, desde a assinatura da Paz de Vestfália que, em 1648, colocou fim á Guerra dos Trinta Anos na Europa surgindo como marco no equilíbrio de forças internacional, ao garantir a soberania das nações. Sobre o Estado policialesco que se tornou também o Reino Unido desde que teve início a "Guerra ao Terror", o ativista britânico pelos direitos humanos Peter Tatchell, com longa história de luta e vítima perseguições e detenções pela causa das minorias em seu país, conta que "o Reino Unido introduziu a detenção sem acusação ou julgamento de suspeitos de terrorismo".
Já nos epicentros da chamada luta contra o terrorismo, "do ponto de vista da proteção de civis ambas as operações têm sido um desastre", afirma o finlandês Timo Kivimäki, professor de Relações Internacionais e diretor de Pesquisa da Universidade de Bath (Reino Unido), especialista em terrorismo global, um dos poucos acadêmicos sóbrios ao pensar o assunto que também traz, nesta reportagem, análises de como superar o terrorismo global. Mas os atentados do 11/9 mudaram o destino da humanidade, sobretudo, pelo estado permanente de medo nos quatro cantos do planeta que, inevitavelmente, alimenta desde o início a "Guerra ao Terror" apoiada em tão forte quanto precário apelo moralista e religioso: intolerância contra toda e qualquer diferença, especialmente islamitas de origem árabe estigmatizados pela mídia, incluindo a indústria cinematográfica norte-americana. Através disso, direitos civis têm sido feridos sem precedentes em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos com a introdução da Doutrina Bush seguida, em grande medida, por Barack Obama hoje - em determinados casos até ampliada, como a vigilância doméstica e global que se apoia, pateticamente, no discurso de segurança nacional. Profundo estado de tensão internacional levado às últimas consequências, sentido na vida cotidiana dos sete bilhões de habitantes da Terra hoje das mais diversas maneiras e nos mais diversos locais, públicos ou não.
"O medo funciona. O povo amedrontado faz qualquer coisa. Para que sintam medo é preciso criar uma aura de ameaça eterna. Os terroristas [do governo dos Estados Unidos] nos manipulam: sobem o alerta para laranja, depois para vermelho, e voltam para laranja. Eles misturam mensagens, e você enlouquece. É como treinar um cão: se você disser 'sente e role' ao mesmo tempo, ele não saberá o que fazer. O povo norte-americano vem sendo tratado assim! Estimulam o medo do povo. É impossível que alguém consiga viver assim, sempre no limite. O alerta não cairá para verde ou azul, nunca chegará lá!”, afirmou Jim McDermott, ex-congressista e psiquiatra norte-americano, no documentário Fahrenheit 9/11, do cineasta Michael Moore.
Através da imposição do medo por governos reacionários, grandes guerras e invasões foram perpetradas ao longo da história e abriram caminho para a imposição de políticas de linha dura, blindando a corrupção desenfreada das classes dominantes. No caso específico dos Estados Unidos no início deste século, "os crimes do 11/9 foram pretexto para guerras de agressão já previstas, empreendidas para consolidar o poder através da pilhagem de recursos naturais", afirma Ryan. Durante os anos de Obama, quem chegou à Casa Branca sob discurso pacifista e defesa dos direitos humanos, houve acirramento da agressividade das forças militares no Oriente Médio, e nenhuma investigação sobre as implicações do 11/9.
Particularmente sobre a mídia corporativa internacional, desde o início optou pelo sensacionalismo e pela geração de histeria, favorecendo o discurso do governo local e sem nenhuma motivação investigativa. "Na sociedade de hoje, a mídia não é uma ferramenta para informar o público. É de entretenimento e propaganda. As pessoas não são entretidas por questões que desafiam seriamente as principais instituições de suas vidas", pontua Ryan. "Quando os meios de comunicação predominantes relatam as questões não respondidas do 11/9, geralmente são muito limitados. Nunca vemos reportagens sobre os testemunhos do bombeiro nas explosões secundárias nos edifícios do World Trade Center [relatando explosivos contidos dentro da Torre, desde o subsolo até os andares superiores], nem investigação sobre os exercícios militares que obstruíam as respostas de defesa aérea naquele dia. Não ouvimos nada sobre como setenta por cento das questões das famílias das vítimas do 11/9 permanecem sem resposta diante da versão oficial".
Os crimes do 11/9 também têm servido para que o governo dos Estados Unidos, sem aval judicial nem sequer provas, mantenha preso pelo tempo que a Casa Branca e a CIA determinarem, e torture das maneiras mais cruéis civis "suspeitos" de práticas terroristas. Sobre isto, o ex-agente da CIA John Kiriakou traz sérias revelações. "Fiquei em silêncio de 2002 até 2007. Decidi, finalmente, denunciar em dezembro de 2007 depois que o presidente George W. Bush mentiu duas vezes ao povo norte-americano. Ele disse, na primeira vez, que os Estados Unidos não torturavam ninguém", conta Kiriakou, quem se demitiu da Agência de Inteligência e ficou dois anos preso por denunciar a administração de Bush.
E a realidade do Afeganistão, cuja ideia imposta ao inconsciente das sociedades ocidentais pela mídia predominante é que se trata de nação cujas vidas são de menos valor, é trazida do próprio país sul-asiático por duas importantes vozes que denunciam, em altíssono: "Vivemos um 11 de Setembro todos os dias no Afeganistão". São elas: a líder da Associação das Mulheres Revolucionárias do Afeganistão (RAWA, na sigla em inglês), que se identifica apenas como Friba para sua segurança, e a ativista pelos direitos humanos, escritora e ex-parlamentar expulsa injustamente do cargo por denunciar membros narcotraficantes e acentuadamente misóginos colocados no poder pelos Estados Unidos, Malalaï Joya, quem, jurada de morte, vive escondida, nunca dorme duas noites na mesma casa e se movimenta pelo país apenas de táxi debaixo de uma burca, com 12 seguranças fortemente armados.
Realidade cruel que a mídia de desinformação global tem se recusado a apresentar - a não ser quando se trata de lançar mais gasolina sobre o fogo terrorista, com a velha pitada de petróleo árabe tornando-se, assim, perfeita propagandista do terror e dos interesses belicistas, econômicos e estratégicos do Império de turno.
Combate ao Terror, Crimes de Guerra e Narcotráfico
Em 3 de outubro de 2015, o hospital de Médicos sem Fronteiras na cidade afegã de Kunduz foi bombardeada "por engano" pelas forças norte-americanas, deixando como saldo 42 mortos e a destruição completa das instalações do centro de saúde. Tal "equívoco" tem sido uma constante diária no Afeganistão desde outubro de 2001. No país sul-asiático, o cenário é catastrófico: dia a dia inúmeras residências, escolas e hospitais destruídos deixando dezenas de milhares de inocentes mortos incluindo crianças, mulheres e idosos, além de um número ainda maior de inválidos.
Kivimäki é enfático ao se referir à suposta luta do bem (Ocidente) contra o mal (muçulmanos e árabes em geral): “Não há nenhuma Guerra contra o Terror. Se houvesse, não usaria o terror como tática”. Na realidade, novas invasões ao Oriente Médio já estavam previstas nos porões de Washington bem antes dos atentados do 11/9: o Projeto para o Novo Século Norte-Americano, iniciado em meados da década de 1990 pelo então presidente Bill Clinton, foi reelaborado por futuros integrantes da equipe de governo de George H. Bush (filho) em 2000, ano das eleições presidenciais que dariam vitória justamente a Bush. No documento, os arquitetos dos crimes internacionais dos Estados Unidos, eufemisticamente chamados de "política externa", alegam que apenas um novo Pearl Harbor seria capaz de motivar nova empreitada na região mais rica em petróleo do planeta, e assim impulsionar a já combalida economia do país à época. "Se olharmos para os países onde a proteção das grandes potências tem operado, podemos ver que mais da metade das mortes em conflitos do mundo é produzida ali", acrescenta o analista.
As invasões norte-americanas ao Afeganistão em 2001 e Iraque em 2003 ferem a Constituição dos Estados Unidos, a qual não autoriza guerra preventiva, isto é, sem que o país haja sido agredido antes. No plano externo, Washington e seus aliados têm passado por cima dos acordos internacionais estipulados pelas Nações Unidas (ONU), a qual prevê guerra apenas como "ação em caso de Ameaça à paz, ruptura de paz e agressão" de um Estado contra outro em sua Carta, capítulo VII, ratificada por seus 193 países-membros, incluindo os próprios Estados Unidos.
Sobre as alegações do então presidente Bush de que Saddam Hussein armazenava e produzia bombas de destruição em massa, jamais encontradas, além de ter tido ligações com os terroristas do 11/9, fato tampouco comprovado, a ONU vistoriou o Iraque por vários meses prévios à invasão norte-americana sem ter encontrado nada que motivasse intervenção militar, manifestando-se totalmente contrária à invasão em consonância com os países da região e de praticamente todas as partes do mundo.
Para o analista finlandês, a brutalidade das forças militares ocidentais que carece de legitimidade e fere a Convenção de Genebra, ataca indiscriminadamente os direitos humanos, impõe seus valores e aumenta ataques aéreos visando apenas punição de supostos inimigos, sem considerar solidariedade internacional e o fortalecimento da ONU, gera efeito reverso aumentando atos terroristas e diminuindo a segurança dentro dos Estados Unidos e dos países aliados. "Apenas através de ações interativas de paz e de diálogo, esta espiral de escalada poderia ser encerrada", adverte. E observa ainda: "Na imposição de justiça e equidade, estes países tornaram-se atores enquanto outros, especialmente os países em desenvolvimento e muçulmanos, os objetos de disciplina das coalizões militares, gerando ressentimento. As operações militares no Oriente Médio têm aumentado a violência, de maneira que a proteção voltou-se contra aqueles que se tem o objetivo de proteger. As maciças operações militares ocidentais que minaram os direitos soberanos de muitos países muçulmanos e que causaram uma série de fatalidades, deram origem à expansão do radicalismo anti-ocidental no Terceiro Mundo muçulmano. A lógica da escalada, do aprofundamento e da difusão do ódio de ambos os lados se impuseram, e novas formas de terrorismo surgiram". Neste sentido, Tatchell aponta: "A Guerra ao Terror está a ponto de se transformar em uma guerra de terror, com as novas leis draconianas que afirmam defender a liberdade, na verdade a minando".
Dentro do Reino Unido, maior aliado de Washington, Tatchell lembra que tem havido ataques e prisões muitas vezes violentos de muçulmanos totalmente inocentes, inclusive de muçulmanos universitários que pesquisavam a Al-Qaeda como parte dos estudos. "Tais excessos são contraproducentes, contribuem para uma maior radicalização da comunidade muçulmana".
No Afeganistão, Joya aponta aos gastos militares bilionários de Washington em seu país como contraditórios, questionando o destino do dinheiro e observando que o Taliban, paradoxalmente, apenas se fortalece. "Se uma pequena parte desse dinheiro fosse gasta de verdade na mudança de vida do povo afegão, a situação poderia mudar", pontua a ativista.
Mencionando que democracia não pode ser imposta por intervenção estrangeira segundo todas as evidências históricas e a do próprio Afeganistão hoje, Friba afirma que "a chave para a liberdade e para a democracia está em uma luta unida, organizada do nosso povo. Uma luta árdua que seja, mas não há outra maneira de sair deste atoleiro. Apenas as pessoas de um país podem decidir seu destino, e construir um sistema que lhes serve". A isso, Joya acrescenta: "Não há dúvidas de que o Afeganistão precisa de ajuda internacional para voltar aos trilhos e se reconstruir, mas nós não queremos ocupação, os afegãos têm uma longa história de oposição à ocupação estrangeira".
Enquanto afirma que a maioria dos afegãos considera que o governo dos Estados Unidos os traiu em nome de democracia e defesa dos direitos humanos, especialmente das mulheres historicamente oprimidas em seu país, Friba alerta: "As pessoas que amam a paz têm que enxergar a realidade do Afeganistão, e de todos os outros países que os Estados Unidos invadiram. O que eles veem como raras notícias da situação catastrófica nesses países, é a realidade cotidiana do povo. Elas precisam pressionar seus governos para que mudem a política de invasões e ocupação, e serem solidárias às vítimas dessas guerras, o que fortalecerá a luta pela liberdade e pela democracia nesses países. Elas devem saber que o imposto que pagam é usado por seus governos para tornar o Afeganistão e outros países em guerra um Inferno, que irá impactar diretamente suas vidas e tornar os países ocidentais inseguros, como o que testemunhamos hoje nas cidades europeias".
Obama assumiu a Casa Branca em 2009 prometendo encerrar a ocupação no Afeganistão. Com o passar do tempo, contudo, foi se evidenciando que a promessa não seria cumprido até que, em 16 de maio de 2013, ficou claro que o presidente norte-americano manteria fielmente a essência velada da "Guerra ao Terror, de perpetuar a ocupação em um país estratégico pela localização, próximo de rivais como China, Rússia e Irã além da proximidade em relação a países com grandes reservas petrolíferas, e pela grande riqueza afegã em recursos minerais que, segundo Friba, têm sido privatizados por "instituições imperialistas como FMI, Banco Mundial, OMS, com consequências devastadoras ao pobre povo afegão". Pois em maio de 2013, Michael Sheehan, secretário-adjunto de Defesa para operações especiais e conflitos de baixa intensidade, prenunciou que "a guerra contra a Al-Qaeda e suas redes afiliadas poderia durar mais 20 anos", durante uma audiência no Senado a fim de solicitar autorização para o uso da Força Militar.
"O governo dos Estados Unidos tem dado as mãos aos mais brutais inimigos do povo afegão, e instalado pessoas infames e corruptas em cargos-chave de seu regime-fantoche para avançar em seus interesses regionais no Afeganistão", afirma Joya. E acrescenta: "As forças dos Estados Unidos e da OTAN não são sérias em sua luta contra o Taliban, contra quem joga o jogo de Tom e Jerry. Todos sabem que derrotar um pequeno grupo como o Taliban não é difícil para uma superpotência apoiada por diversas outras nações, mas os Estados Unidos precisam do Taliban como desculpa para ficar no Afeganistão por muito tempo, e transformar o país em sua base militar na região para combater potências asiáticas tais como China, Rússia, Irã, entre outros, e também prosseguir com suas estratégias econômicas e militares na região".
Assim, o regime de Obama apenas tem aumentado os crimes de guerra no Afeganistão matando até mais civis que Bush, superando este, em muitas vezes, até na utilização dos devastadores drones, aviões não tripulados considerados ilegais por ferir a soberania das nações e matar sem prévia sentença judicial, além de colocar em maior risco a vida de civis inocentes conforme mostram claramente os fatos e o próprio relatório da comissão bipartidária norte-americana que, em 2014, incluiu diversos ex-agentes da inteligência e oficiais militares do país. "Os afegãos estão esmagados entre quatro inimigos: as forças dos Estados Unidos e da OTAN, os criminosos e senhores da guerra da Aliança do Norte no governo impostos pelos norte-americanos, o Taliban e um Estado Islamita recém-surgido", diz Friba, garantindo também que o Afeganistão está pior agora que antes da invasão liderada pelos Estados Unidos.
De acordo com Joya, um dos grandes objetivos por trás da ocupação do Afeganistão é "restaurar o patrocínio do comércio da droga e exercer controle direto sobre as rotas dos 600 bilhões de dólares anuais da indústria global dela, traçada pela CIA. Há relatos de que até o Exército dos Estados Unidos está engajado no tráfico de drogas". O Afeganistão produz 93% do ópio mundial, um aumento de 4.500% desde 2001 que coloca o país, novamente, como maior produtor mundial da planta, e maior exportador da droga. "A máfia da droga detém o poder afegão, apoiada pelo Ocidente", denuncia Friba.
Dentro dos Estados Unidos, a prática de tortura por parte da CIA em Guantánamo contra "suspeitos" de envolvimento com terrorismo, segundo Kiriakou, não se trata de exceção como se tentou fazer crer quando tal fato se tornou inegável no final do mandato de Bush - quem tentou se eximir de responsabilidades. "Eu sabia que a CIA estava torturando seus prisioneiros, que a tortura era a política oficial da CIA e que o presidente havia aprovado, pessoalmente, a tortura". Perguntado se algo mudou com Obama, o ex-agente da CIA é categórico: "Honestamente, não acho que haja nenhuma diferença real entre George W. Bush e Barack Obama. Nossos métodos de inteligência estão exatamente da mesma maneira". E acrescenta: "Sem supervisão real por parte do Congresso, a CIA vai continuar fazendo o que bem entende em todo o mundo. A CIA tem de trabalhar para proteger o povo norte-americano respeitando os direitos humanos, os direitos civis e as liberdades civis. Ela não está fazendo isso. Segurança e liberdade não são mutuamente exclusivas. Podemos ter ambas".
Kiriakou enfatiza que os tomadores de decisão de Washington deveriam responder em um tribunal pelo que o ex-agente da CIA qualifica de guerras arbitrárias no Oriente Médio. "Uma guerra de arbitrária é, por definição, uma guerra de agressão. Se George W. Bush, Richard Cheney, Donald Rumsfeld, Condoleeza Rice e outros fossem de qualquer outro país, eles poderiam estar sentados no banco dos réus em Haia". Ganser segue a mesma linha e acrescenta que esta empreitada ocidental no Oriente Médio "é uma batalha pelo poder, por petróleo e por gás natural. Está relacionada a dinheiro e geostratégia".
Para Ryan, nada disso é do interesse dos principais meios de comunicação: "Atualmente, são quase inteiramente de propriedade de apenas algumas grandes corporações para impor a verdade à sociedade. Como a General Electric pode vender armas se sua parceira, a rede de TV NBC, disser às pessoas a verdade sobre a guerra?".
'Pearl Harbor' do Século XXI
As implicações do 11/9 possuem contradições e evidências de sobra que apontam para execução interna, isto é, que norte-americanos em posições de poder foram responsáveis pela realização dos ataques, o que, diante de inúmeras evidências, é o mais plausível enquanto Bush e Obama fizeram de tudo para impedir uma investigação independente instada por pesquisadores locais e familiares de vítimas. Para o atual ocupante da Casa Branca, "é contraproducente olhar para trás", gerando profunda indignação a familiares de vítimas e pesquisadores da tragédia.
A denominada Comissão do 11/9 foi, desde o início, programada para defender o governo de Washington. Sofreu diversas interferências de altos escalões da política conforme Ryan observa: "A Comissão do 11/9 não conseguiu responder 70% das perguntas colocadas pelas famílias do 11/9, responsáveis por dirigir a criação da Comissão. Também é importante perceber que um esboço do que viria a se tornar o Relatório da Comissão do 11/9 foi produzido antes do início da investigação. O esboço foi mantido em sigilo do pessoal da Comissão, e parece ter determinado o seu resultado. Além disso, a Comissão alegou repetidas vezes, 63 vezes para ser exato, que não encontrou nenhuma evidência relacionada a muitos dos aspectos mais importantes dos crimes. Esses fatos sugerem que a Comissão nunca teve nenhuma intenção de revelar a verdade sobre o 11/9".
Diversos físicos e arquitetos norte-americanos, reunidos na organização Architects & Engineers for 9/11 Truth (AE911Truth), observam que as Torres Gêmeas e o World Trade Center 7 (WTC7) ruíram à velocidade de queda livre, o que só seria possível através de implosão controlada. Embora a prefeitura de Nova Iorque, a mando de Bush, tenha removido imediatamente os resquícios dos edifícios que deveriam servir como investigação, alguns transeuntes conseguiram levaram consigo partes dos escombros que acabaram nas mãos dos AE911Truth. Através de minuciosa investigação, foram constatados componentes de explosivos, mais especificamente dinamites em partes dos edifícios destruídos supostamente pelo choque dos aviões, em tese sequestrados por muçulmanos radicais. "Quem colocou os explosivos nos edifícios do World Trade Center?", questiona Ryan. "Quem foi convidado à reunião de eliminação de explosivos/terrorismo no World Trade Center 7 na manhã de 11 de setembro de 2001, e qual foi a ordem do dia? A segunda questão refere-se a uma reunião convocada por Larry Silverstein e pelo Serviço Secreto no edifício 7 do World Trade Center na manhã de 11/9. Unidades de eliminação de explosivos provenientes de instalações militares dos EUA haviam sido convidadas para a reunião. Foi apenas mais uma incrível coincidência? Precisamos saber mais sobre isso".
Especificamente sobre a queda do WTC7, há o fato surpreendente - para dizer o mínimo - que ele ruiu sem ter sido chocado por nenhum avião. "Foi ao chão por implosão controlada? Ou pelo fogo como o NIST [ National Institute of Standards and Technology] alega?", questiona Ganser lembrando que mesmo o NIST admite nos dias de hoje que o WTC7 levou poucos alguns segundos para cair. "Isso significa que durante esses segundos,o edifício sofreu resistência zero, resistência absolutamente nenhuma. No entanto, havia 81 colunas sustentando o edifício. Desta maneira, isso é muito estranho", observa Ganser.
Outra pergunta entre as inúmeras sem resposta envolvendo os ataques do 11/9, diz respeito ao tempo que os aviões sobrevoaram o espaço norte-americano: por até uma hora. Especialmente um deles, em direção ao Pentágono, local considerado o mais seguro do mundo, sem ter sido interceptado pelo sistema de segurança aérea que, pela primeira e única vez na história do país, falhou inexplicavelmente diante de uma operação que levaria, no máximo, um minuto para que jatos interceptadores iniciassem o processo de detenção dos aviões. Houve diversos discursos oficiais desencontrados na tentativa de explicar o que realmente aconteceu com a defesa aérea norte-americana naquele dia, um substituindo o outro, todos impossíveis de serem sustentados. No caso particular da Standard Operating Procedures (Procedimentos Operacionais Padrão, responsáveis por garantir respostas de emergência através dos jatos) estavam simplesmente suspensos em 11 de setembro de 2001 - primeira e única vez na história dos Estados Unidos.
"Muitas vezes as pessoas entendem mal, pensando que os transpônderes dos aviões sequestrados foram todos desligados, e que os aviões não poderiam ter sido rastreados. Esta afirmação não reconhece que as autoridades haviam rastreado aviões que traficavam drogas via radar por muitos anos. Mais importante, o voo 175 não desligou o transponder. Este foi o segundo avião que atingiu o World Trade Center e seu transponder esteve ligado durante todo o tempo em que os defensores de ar o assistiam na tela. Por isso, eles sabiam que estava fora da rota. Voou sequestrado por 20 minutos após o primeiro avião ter atingido o World Trade Center, cerca de 45 minutos após o primeiro sequestro, fato sabido das lideranças da Administração Federal de Aviação", precisa Ryan, quem também questiona: "Na medida em que o piloto automático avança, é interessante notar que, de acordo com o estudo oficial da trajetória de voo, o piloto automático do voo 77 [que atingiu o Pentágono] ficou ligado enquanto o avião era sequestrado, e ao longo de sua volta de 180 graus de volta para Washington. Parece que a volta a Washington foi parte do caminho do voo programado, ou o piloto automático foi comandado instantaneamente".
Outra contradição diz respeito aos supostos sequestradores dos quatro aviões, que segundo a versão oficial eram 19: seis deles, denunciados no mesmo dia pelo Federal Bureau of Investigation (FBI, polícia federal e secreta dos Estados Unidos), apareceram dias depois vivos em diferentes partes do mundo, denunciando não serem terroristas, possuindo os mesmos dados e a mesma fisionomia das alegadas pelos oficiais norte-americanos. Sobre isso, Ryan lamenta a ausência de investigação por parte do FBI, quem até hoje mantém os seis na lista de sequestradores do 11/9. "Os relatórios de que os homens acusados ainda estavam vivos não foram investigados pelo FBI, nem pela Comissão do 11/9. Mesmo o novo diretor do FBI, Robert Mueller, expressou publicamente dúvidas sobre a identidade dos sequestradores.
Questionado sobre a hipótese de execução interna, Ryan afirma: "É difícil discordar considerando que as pessoas fora dos Estados Unidos não poderiam ter feito o que precisava ser feito [a fim de atingir e derrubar as Torres Gêmeas e o Pentágono]. Por exemplo, apenas norte-americanos poderiam ter levado a rede de comando dos país a falhar, e apenas norte-americanos poderiam ter desativado as defesas aéreas. Em outro sentido, o 11/9 continua sendo uma 'execução interna' pela qual muitos norte-americanos não vão sequer atentar à evidência dos crimes. As barreiras psicológicas são muito grandes".
Para Kiriakou, "o 11 de Setembro foi, é claro, a pior falha de inteligência da história dos Estados Unidos. A CIA nunca poderá mudar isso". Ryan mostra-se pessimista que a verdade seja encontrada, e que justiça seja feita: "Nenhum dos presidenciáveis [Clinton e Trump] vai fazer nada para desafiar a versão oficial do 11/9. Se o fizessem, nunca ouviríamos nada sobre eles na mídia corporativa".
Il Risorgimento - A Unificação Italiana

Mapa da Itália hoje
EM 1870, CONSOLIDOU-SE A UNIFICAÇÃO DOS REINOS E DUCADOS DA PENÍNSULA ITÁLICA.
FORTE SENTIMENTO CULTURAL E NACIONALISTA, SOB INFLUÊNCIA DA REVOLUÇÃO FRANCESA
E DOS IDEIAS LIBERAIS DO SÉCULO XIX, ALÉM DE INTERESSES DA REGIÃO NORTE EM
EXPANDIR O COMÉRCIO, AJUDOU A FORMAR A REPUBBLICA ITALIANA
FORTE SENTIMENTO CULTURAL E NACIONALISTA, SOB INFLUÊNCIA DA REVOLUÇÃO FRANCESA
E DOS IDEIAS LIBERAIS DO SÉCULO XIX, ALÉM DE INTERESSES DA REGIÃO NORTE EM
EXPANDIR O COMÉRCIO, AJUDOU A FORMAR A REPUBBLICA ITALIANA
Em várias de suas regiões, a Europa assistiu, entre os séculos XIV e XVI, forte centralização do poder comandado pelos reis, cujo processo deu origem às monarquias absolutas e foi responsável pela formação dos Estados modernos. Contudo, até meados do século XIX a península Itálica, ao lado dos reinos e principados outrora dominados pelo antigo Império Romano-Germânico, era a única região européia, com grande identidade cultural, que não havia se composto em Estado unificado.
A península Itálica foi, ao longo dos séculos, desde o colapso do Império Romano em V d.C. até a unificação, “mera expressão geográfica”, conforme definiu o estadista austríaco Metternich. Por boa parte desse período, estrangeiros dominaram a região. Durante a Idade Média, as cidades-estados governaram-se a si mesmas gerando fortes laços regionais de fidelidade, mantidos mesmo após a unificação.
Às vésperas do risorgimento, a península encontrava-se dividida em vários pequenos reinos e ducados, a maioria sob domínio estrangeiro. Após o Congresso de Viena (1815), a Itália passou a ser dominada por austríacos e franceses, e pela Igreja Católica, dessa maneira: Lombardia-Veneza, Toscana, Parma, Modena e Romagna estavam submetidas ao domínio do império austríaco; o Reino das Duas Sicílias pertenciam a um membro do ramo espanhol da dinastia dos Bourbon, de origem francesa; os Estados da Igreja pertenciam ao papa, com absoluta autonomia; e o Reino do Piemonte-Sardenha, autônomo, era governado por um monarca liberal, a dinastia de Savóia, sob constante vigilância da Áustria.
No decorrer do século XVI, a França havia adquirido alguns territórios italianos, mas acabou expulsa pela Espanha. Até o século XVIII, os Habsburgo, reis da Espanha, haviam governado extensas regiões da Itália, e muitas outras haviam se tornado protetorados espanhóis. Veneza e os Estados da Igreja foram os únicos territórios importantes a preservar a independência. A administração espanhola estimulou a corrupção e debilitou o espírito de iniciativa de um povo já exaurido pela guerra.
No século XIX, os Estados italianos possuíam uma economia subdesenvolvida, uma burguesia fraca e um clero antinacionalista e o espírito regionalista estava arraigado nas pessoas. Daí o atraso no processo de unificação.
A Europa do Século XIX

As primeiras décadas foram estáveis na Europa, com as monarquias absolutistas restauradas apoiadas na Santa Aliança, compromisso mútuo das monarquias européias ajudarem-se mutuamente e com o direito de intervir em qualquer país sublevado com movimentos nacionalistas. Os ideais liberais da burguesia foram sufocados, e os poderes e privilégios dos reis, nobre e do clero recuperados, mas não demorou muito para que o continente acabasse se transformando em grande agitação que conduziu a drásticas mudanças na história da Europa.
Essa fase de efervescência deu-se no período de 1830 a 1848, com movimentos revolucionários marcados pelos ideais liberais, nacionalistas e socialistas. A Revolução Francesa, marco de passagem da Idade Moderna para a Contemporânea, levou às últimas consequências os ideais Iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, que visava maior participação política da população e a diminuição das desigualdades sociais.
Tal revolução desencadeou no continente o chamado liberalismo, conjunto de doutrinas e idéias, políticas e econômicas, que defendiam os conceitos de liberdade e autonomia individual. Não uma democracia, mas um Estado regido por uma Constituição livremente votada pelos representantes ou integrantes da nação, e a divisão de poderes entre Executivo, Legislativo e Judiciário.
No campo econômico, defendia total liberdade de iniciativa aos cidadãos e empresários, reduzindo o Estado ao mínimo necessário. Em termos de religião, defendia completa separação entre Estado e Igreja, com garantia às liberdades religiosas.
Forte sentimento cultural e étnico tomou conta da Europa e de países em outros continentes, mais tarde chamado de nacionalismo que defendia a cultura e o respeito à formação natural dos povos, a independência nacional, defendendo o direito de que todos os povos lutassem por independência, e a autodeterminação dos povos, isto é, o direito dos povos viverem em um território unificado.
Esse sentimento foi amplamente utilizado na Revolução Francesa, contra agressões das monarquias estrangeiras, que tentavam impor novamente na França o Antigo Regime. O nacionalismo teve peso preponderante na libertação das treze colônias da América do Norte pertencentes à Inglaterra, que se tornariam os Estados Unidos da América.
Na Europa do século XIX também se deu a teorização e prática do socialismo, através de forte luta de classes advinda da grande industrialização por que passava o continente, que culminou com o movimento operário na França, nos Estados germânicos e na Inglaterra, onde a Revolução Industrial impôs vida severa e miserável aos trabalhadores. Daí surgiu a primeira Organização Internacional dos trabalhadores. Foi nessa época que surgiram intelectuais socialistas como os germânicos Karl Marx e Friedrich Engels, e os anarquistas russos, Mikhail Bakunin e Pyotr Kropotkin.
Alguns dos fatos mais marcantes e de maior repercussão na Europa do século XIX foram as Revoluções Liberais na França. A primeira iniciou-se em 1830, com a derrubada do rei Carlos X (1824-1830) e seu governo monárquico-absolutista e conservador, após grande crise econômica no país. O substituto de Carlos X, rei Luís Felipe (1830-1848), desenvolveu o capitalismo na França e governou sob monarquia constitucional, mas aliou-se a conservadores deixando de fora do parlamento os liberais, os socialistas, os republicanos, os bonapartistas e a classe operária.
Luís Felipe governou segundo os interesses dos banqueiros, e o estopim para uma nova revolução foi uma nova severa crise econômica, aumentando a oposição ao rei quando, em 1847, seus adversários uniram-se para exigir reforma eleitoral, a qual foi negada, e em fevereiro de 1848, ano em que todo o continente já estava inquieto e a Bélgica já se havia tornado independente da Holanda, liberais uniram-se à classe operária e promoveram as barricadas populares de Paris, que forçaram a fuga de Luís Felipe para a Inglaterra. Deste modo, foi proclamada a Segunda República Francesa naquele ano efervescendo ainda mais várias partes da Europa, inclusive a península Itálica, que, àquela época, já idealizava e lutava pela unidade da região.
Il Risorgimento
Quando o império de Napoleão Bonaparte definitivamente se exauriu em 1814 e retirou-se da península italiana, reinstalaram-se na península Itálica os regimes absolutistas a golpes de baioneta, seguindo-se a isso um sistema de brutalidade e corrupção que fez a população local associar a ocupação francesa com um período de relativa liberdade.
Foi assim que se proliferaram os ideais de unidade e independência italiana, com importante apoio dos intelectuais, oficiais do Exército, burocratas e alguns nobres. Daí surgiu a sociedade secreta Carbonária – os carvoeiros, que deram nome ao grupo, passaram longo período trabalhando invisíveis em florestas inacessíveis – fomentou movimentos exigindo reformas em Nápoles e revoluções em Parma, Módena e na Romagna, reprimidas pelas armas da Áustria, que agia em nome da Santa Aliança.
Os membros da Carbonária acabaram torturados, aprisionados e executados, mas o movimento pela liberdade cresceu: escritores e compositores italianos engajaram-se na criação de uma literatura subversiva e de óperas veladamente nacionalistas, que burlavam a severa censura austríaca.
Tudo isso recebeu amplo apoio na península também por questões econômicas, sobretudo no norte: no início do século XIX, essa região da Itália transformava-se social e economicamente devido ao desenvolvimento industrial. O reino do 'Piemonte-Sardenha' era o mais avançado da região, sua burguesia industrial começava a crescer e queria expandir-se. Com o crescimento das cidades, o comércio foi impulsionado e, para dar continuidade ao processo de desenvolvimento e expansão das suas atividades no mercado exterior, a burguesia liberal não só do Piemonte mas de todos os Estados italianos, desejava a unificação da região.
Os ideais liberais só cresciam, enriquecidos com o movimento “Jovem Itália”, grupo nacionalista liderado por Giuseppe Mazzini, autor de importantes trabalhos sobre a liberdade e a unificação italianas, e Giuseppe Garibaldi: o cenário para uma grande revolução estava pronto.
Os Estados Italianos Levantam-Se

Garibaldi em Palermo
Pintado em 1860 por Giovanni Fattori
Pintado em 1860 por Giovanni Fattori
O ano de 1848 foi um grande salto rumo à unificação, pois as manifestações em defesa da independência e da unificação se espalharam a vários territórios da península. Foi nesse ano que Milão sublevou-se e o rei Carlos Alberto do Piemonte-Sardenha, único Estado do norte independente da Áustria, acorreu em defesa de Milão e declarou guerra contra os austríacos. Após quatro meses de lutas, Carlos Alberto foi vencido naquilo que foi a primeira tentativa de unificação.
Foi durante essas lutas que acabaram se sobressaindo duas tendências: a dos republicanos, cujos líderes eram exatamente Mazzini e Garibaldi, e a dos monarquistas, cujo principal articulador era Camilo Benso, o conde de Cavour, que contava com apoio do rei do Piemonte-Sardenha e publicava seus ideais de unificação no jornal Risorgimento.
Na mesma época de luta de Milão e do Piemonte-Sardenha, Veneza tentou desvencilhar-se do governo austríacos mas, após cerco de cinco meses, a fome obrigou-os a se render. Em Roma, revolucionários proclamaram uma república que fez muito pelos pobres mas, contudo, indispôs os membros da Igreja Católica e os cidadãos mais abastados. O papa Pio IX abandonou o Palácio Quintal disfarçado e fugiu para território napolitano, de onde pediu ajuda aos franceses. Aliada à Áustria, a Nápoles e à Espanha, a França esmagou o Exército de 10 mil voluntários romanos liderados por Garibaldi.
Aos Bravos Italianos, Derrota Significa Renovação à Liberdade

Mesmo com a derrota do Exército de Garibaldi, Il Risorgimento ou “A Renovação” adquiriu um ímpeto ainda maior. No lugar de Carlos Alberto, assumiu o trono o rei Vitor Emmanuel II no Piemonte-Sardenha, único reino da península a possuir uma constituição liberal. Ali, as forças da burguesia incentivaram o movimento a favor da unificação, liderado por Cavour, nomeado pelo novo rei primeiro-ministro do Piemonte.
Cavour pôde, assim, colocar em prática seu projeto de unificação: no plano internacional, arquitetou nova investida contra a Áustria firmando um tratado com Napoleão III da França, logrando importantes vitórias no norte da Itália, em Magenta e Solferino, e o Piemonte anexou a região de Lombardia e os ducados de Parma, Módena e Toscana.
Nesses três ducados, o êxito obteve grande repercussão, a população local expulsou os governantes e um plebiscito foi realizado, aprovando a unificação da região com o Piemonte. Os austríacos acabaram forçados a assinar um armistício após dois meses de luta. Em troca, os franceses receberam os territórios de Nice e de Savóia, pertencentes ao reino peninsular.
O interesse de Luís Napoleão era justamente anexar esses territórios a seu país, e assim que conseguiu isso abandonou os italianos à própria sorte firmando um acordo com a Áustria, que manteve sob seu domínio a região de Veneza.
Enquanto Cavour anexava a Toscana e a Emília por meio de plebiscitos precipitadamente organizados, Garibaldi lutava pela unificação no sul da península: recebendo a notícia do movimento no norte, reuniu e liderou 1.100 voluntários conhecidos como “camisas vermelhas”, e marchou sobre os reinos das Duas Sicílias e de Náploes, a fim de prestar socorro aos sicilianos rebelados contra Fernando II das Duas Sicílias, que estava aponto de esmagá-los com um exército napolitano de 20 mil homens.
Garibaldi aportou em Marsala, na Sicília, e maio de 1860, fez uma campanha cheia de ardis e surpresas, houve insurreição popular contra o governo local e logo o líder nacionalista tinha a ilha sob seu poder, conquistando também Nápoles, posteriormente. Em agosto, suas tropas irregulares retornaram ao continente e marcharam rumo ao norte. Duas semanas depois, Fernando II fugia de Nápoles, apenas um dia antes de Garibaldi entrar na cidade e ser aclamado libertador.
Ciao, Italia!

Bandeira do Reino da Itália
Os piemonteses enviaram um exército para a região sul, passando pelos Estados da Igreja. Vitor Emanuel II impôs seu domínio na região das Duas Sicílias, em parte dos territórios pontifícios e anexou o reino de Nápoles: na cidade de Castelfidardo, derrotando as enfraquecidas tropas papais.
E em Tarento, ao norte de Nápoles, o Exército encabeçado pelo rei piemontês reuniu-se com as tropas de Garibaldi.Vitorio Emanuel foi proclamado rei de uma Itália unificada em março de 1861, e Turim tornou-se a primeira capital do Reino da Itália.
Oposição da Igreja à Unificação

Vaticano e Roma ao fundo
Apenas Veneza e o último Estado da Igreja permaneceram fora das fronteiras do novo reino; o primeiro seria cedido pela Áustria em 1866, e o segundo anexado em 1870, quando o Exército entrou em Roma após a retirada das guarnições francesas. Um plebiscito confirmou o consentimento dos romanos à sua união com o resto do país e, finalmente, a Itália podia transferir a sede do governo para a cidade que era sua capital natural.
Mas a anexação de Roma pelos nacionalistas não foi aceita pelo Papa Pio IX, que se considerou prisioneiro do governo italiano. Esse conflito entre a Igreja e o Estado, conhecido como Questão Romana, foi solucionado em 1929, mediante o Tratado de Latrão. Por esse tratado, ficou decidida a criação do pequeno Estado do Vaticano, sob a criação da Igreja Católica, com área de 0,44 km².
Mas a oposição do papa não se resumiu à anexação de Roma: ele foi sempre hostil à Itália unificada, pois se via despojado de todo o seu poder temporal. Uma lei que reconhecia o papa como soberano independente do Vaticano – enclave abrangendo a Basílica de São Pedro e os escritórios da administração da Igreja Católica em Roma – foi aprovada. Pio IX, porém, continuou a se considerar “o prisioneiro do Vaticano”, não reconheceu o novo governo e proibiu os católicos praticantes de votar em eleições parlamentares.
Consequências Imediatas
Se por um lado a identidade italiana foi afirmada não só com a unificação, mas também com o heroísmo de personagens apaixonados, valentes e perseverantes como Mazzini e Garibaldi, que se opuseram aos invasores opressores deixando grandes exemplos nos melhores registros da história, por outro lado a unificação italiana também não foi unanimidade entra a população local: a monarquia constitucional, estabelecida com liberdade de imprensa e sem polícia secreta, mas de estrutura altamente centralizada, inspirada na da França, era inadequada para uma nação com fortes traços regionais.
Sua Constituição vetava aos analfabetos o direito de voto – problema não muito grave para os italianos do Norte, mas barreira intransponível para os do Sul, onde excluía 80 por cento da população em idade de participar de eleições. Camponeses e trabalhadores não se sentiram representados pelo governo; o Sul trocara a ineficaz administração feudal espanhola por um governo indiferente, exercido por burocratas do Norte que nada compreendiam dos seus problemas. Infelizmente, até os dias de hoje é grande a diferença sociais e culturais entre o Norte e o Sul do país - este último sofrendo também muita discriminaçãos por parte dos nortistas.
As primeiras décadas da unificação italiana não viram progressos significativos internamente e sucessivos governos tentaram promover o nacionalismo por meio de conquistas externas. Nas décadas de 1880 e 1890, a exemplo de grandes potências européias, o país tentou criar colônias no leste da África ocidental, mas suas forças foram derrotadas pelos etíopes, restando-lhe colonizar apenas a Eritreia. Tudo isso foi agravado logo em seguida pela devastadora I Guerra Mundial (1914-1918), e mais tarde pela mais catastrófica ainda II Guerra Mundial (1940-1945), que deixou a Europa arruinada.
Ainda assim, a Itália conseguiu levantar-se a ponto de figurar como uma das nações mais prósperas do mundo, graças a um povo lutador, trabalhador, com sede de democracia e liberdade. Não sem razão, depois de tudo a Itália é hoje um só país, nação das mais respeitadas em todo o mundo.
Setembro de 2009
Letra do hino da Itália, original e em português, aqui no Blog em Idiomas - Italiano
OBRAS CONSULTADAS:
Nações do Mundo - Itália, Editora Cidade Cultural. 1987
História, Divalte Garcia Figueira. Editora Ática, 2000
História - Coleção Horizontes, Marlene Ordóñes e Julio Quevedo. Editora IBEP
História e Consciência do Mundo - 2, Gilberto Cotrim. Editora Saraiva, 1996