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XVIII. WIKILEAKS: REVELAÇÕES DOS SEGREDOS DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS

XVIII. WIKILEAKS: REVELAÇÕES DOS SEGREDOS DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS
Destemida organização que virou o mundo de cabeça para baixo

Acompanhe no Blog revelações bombásticas
Do grupo de Julian Assange, com ligações para
Telegramas secretos originais que desnudam o
Jeitinho norte-americano de fazer política internacional

Traduções inéditas no Brasil

Espionagem, diplomatas-xerifes
Governos locais condescendentes: nada novo
Porém, agora não há mais como negar...


Transparência e prestação de conta são questões morais que devem ser a essência da vida pública, e do jornalismo
Julian Assange


A partir das próximas linhas, o mundo ao avesso por WikiLeaks


XVIII. WIKILEAKS: REVELAÇÕES DOS SEGREDOS DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS






Sempre que houver esta imagem à direita de cada artigo,
signigica que ele contém ligações a telegramas secretos originais
enviados pelas embaixadas dos Estados Unidos, expostos por WikiLeaks


Conteúdo desta Secção (com ligações):

O Que É e O Que Tem Feito WikiLeaks (mais abaixo): Artigos e Entrevistas

SENTENÇA DE ASSANGE
'Duro Golpe contra a Liberdade de Imprensa': Noam Chomsky


ENTREVISTA COM PETER TATCHELL
Iminente Extradição de Assange aos EUA


CASO ASSANGE
Extradição aos EUA Seria Ilegal, 'Jornalista Fazendo Seu Trabalho': John Kiriakou


FUTURO DA INTERNET
“Próxima Disputa Global Será pela Privacidade das Pessoas”

Bloqueio Econômico Impede WikiLeaks de Publicar - Outubro de 2011

“Somos a CIA do Povo”

WIKILEAKS
Carta de Alforria para Ex-Paranóicos Brasileiros


WikiLeaks Publica Telegramas Confidenciais das Embaixadas Americanas

Brasil (Página 1, abaixo) / Brasil (Página 2) / América Latina / Estados Unidos, Europa, África e Ásia / Oriente Médio e Norte da África


XVIII. WIKILEAKS: REVELAÇÕES DOS SEGREDOS DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS
"(...) Julian Assange ajudou a acabar com a apatia do mundo ao publicar documentos secretos no WikiLeaks. O cinismo e a arrogância dos poderosos, suas falcatruas, mentiras, manipulações da opinião pública, seus jogos políticos e diplomáticos revoltaram os cidadãos desacostumados aos bastidores do teatro que a mídia corporativa os obriga a assistir todos os dias. (...)" (Brasil de Fato, 18.4.2012)

"(...) WikiLeaks tem provado, através de telegramas secretos de embaixadores dos Estados Unidos em todo o mundo (muitos deles, agentes da CIA travestidos de diplomatas), que por "democracia" dentro de um país o governo de Washington considera livre-mercado, a abertura das economias nacionais às empresas norte-americanas independente de haver efetivamente democracia na acepção do termo no Estado em questão: um governo democraticamente eleito que priorize justiça social e direitos humanos. Mesmo contrariando tudo isso, e sem apoio das sociedades locais, a Casa Branca exerce sua influência para que tal governo siga no poder. Por outro lado, se se contraria os interesses de Washington, ainda que dentro dos padrões democráticos, pacífico e bem sucedido em diversos pontos, inclusive econômico, sofre invariavelmente sabotagem, das mais diversas formas, da única superpotência mundial.

É isso que explica a omissão dos EUA, por exemplo, em relação à Arábia Saudita, maior aliada de Washington no Oriente Médio dentre os países árabes e país que mais fere os direitos humanos no mundo ao lado da China, enquanto, sob escusa de democracia e liberdade, invade a Líbia, o Iraque e pratica toda a sorte de sabotagem contra o governo venezuelano que, democraticamente eleito, amplamente apoiado pela massa e elevando em muitas vezes os índices sociais, nacionalizou suas reservas petrolíferas e contrariou o Consenso de Washington (baseado justamente na abertura dos mercados nacionais sob os ditames dos EUA). Foi assim no golpe militar de 1964 no Brasil, é assim até hoje em toda a América Latina e em todo o mundo. Um Império agressivo, cruel, disposto a tudo em nome de seus interesses, valendo-se para isso dos mais sofisticados recursos.

(...) Por que somos 99% de indivíduos, das mais diferentes classes e pensamentos, lutando contra o 1% dono do poder ao longo dos séculos sem que o sistema, em sua essência, seja mudado em absolutamente nada, pelo contrário, siga fechado e servindo aos privilégios dessa ínfima minoria a que pese tanto sangue derramado e vidas perdidas? A resposta para essa inevitável pergunta está nestas páginas, claramente. (...) A cadeia dos poucos donos do poder está muito bem estruturada, e não admite oposição" (Edu Montesanti em WikiLeaks, Carta de Alforria para Ex-Paranoicos Brasileiros, mais abaixo).

XVIII. WIKILEAKS: REVELAÇÕES DOS SEGREDOS DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS
Biblioteca Pública da Diplomacia dos Estados Unidos, por WikiLeaks


Não deixe de ler:

"A Marinha do Brasil é uma merda. Eles estão olhando para o Rafale que é superfaturado [governo Lula], mesmo com cortes de preços, e ao Gripen que é simplesmente uma merda. Você compra o Gripen se é trouxa. (...) O Brasil é um país incrivelmente corrupto."

● Telegrama secreto do serviço de Inteligência Stratfor, dos EUA: Político brasileiro, cujo nome não é mencionado, revela que presidente Lula recebeu propina na compra do caça francês Rafale, em Brasil (Página 1) mais abaixo


"Dirceu admitiu que ele próprio tinha habitualmente gasto o dobro do que relatou em suas próprias campanhas, e que todos os políticos brasileiros empregam algum tipo de Caixa 2 (recursos não contabilizados ou não revelados). Embora incomodado com a hipocrisia dos seus adversários atuais sobre este assunto, Dirceu considerou esta prática natural e mesmo inevitável em um país onde os políticos não gostam de ser vistos recebendo dinheiro, e os doadores não gostam de ser vistos dando-o."

● Telegrama do embaixador Vela, sobre encontros com o ex-ministro José Dirceu (governo Lula), em Brasil (Página 1) mais abaixo


● Encontros de Jucá com 'Embaixada' dos EUA: A Hipocrisia Esquecida do PT

Série de três telegramas dos encontros do ex-ministro da Casa Civil de Lula, José Dirceu, com "diplomatas" dos EUA ,
Em Brasil (Página 1), abaixo


"(...) Sistema de espionagem em massa realizado por governos de diversos países em telefones celulares, computadores e também nos perfis de redes sociais de seus cidadãos."

● Governos Fazem Espionagem em Massa de Celulares e Computadores, em Brasil (Página 1), abaixo


"(...) O Estado de S. Paulo e O Globo, além da revista Veja podem se dedicar a informar sobre os riscos que podem advir de punir-se quem difame religiões, sobretudo entre a elite do país. Essa Embaixada tem obtido significativo sucesso em implantar entrevistas encomendadas a jornalistas, com altos funcionários do governo dos EUA e intelectuais respeitados (...)".

● Plano de Washington: Constranger governo brasileiro usando a mídia a fim de não votar na ONU a favor de punição internacional à difamação religiosa, em Brasil (Página 2)


● Ditadura e o Novo 'Companheiro' dos Militares, Luiz Inácio

Série de quatro telegramas comentando ditadura militar e Lei de Anistia no Brasil, em Brasil (Página 2)


● Influência do novo papa na política argentina, e sua ligação com a oposição, em América Latina


● Para EUA, Mercosul É “Anti-Norte-Americano”, em América Latina


● Golpe Militar no Chile: Crimes, Mentiras e Telegramas, em América Latina


"Não podemos esperar que os líderes da região se reúnam em nossa defesa, e precisamos ser mais proativos em defender e implementar nossa clara estratégia para a região."

● Guerra Midiática dos EUA na América do Sul, em América Latina


Nota de Edu Montesanti, com comentário publicado na página no Facebook da Embaixada dos EUA no Paraguai (espanhol/português)

● Efeito WikiLeaks: Embaixadora dos EUA no Paraguai Não Perde Tempo, e Reúne-Se com Blogueiros Locais, em América Latina


● CASO ASSANGE
Entrevista com Jurista Mads Andenæs - Presidente do Grupo de Trabalho da ONU sobre Detenção Arbitrária, em Estados Unidos


"Contrariamente à crença comum, as exportações norte-americanas de terrorismo ou de terroristas não é um recente fenômeno, nem tem sido associada apenas aos radicais islamitas ou pessoas do Oriente Médio, africanas ou de origem sul-asiática. (...)".

● Relatório Especial da Red Cell da CIA: E se os Estrangeiros
Virem os Estados Unidos como País "Exportador de Terrorismo"?
, em Estados Unidos


Telegrama secreto da Embaixada dos EUA na Síria: injeção de 12 milhões de dólares à oposição rebelde ao regime de Al-Assad
Financiamento da instalação de canal de TV via satélite transmitindo, para dentro do país, programas contra o regime
E exercício da influência cultural norte-americana, a fim de atingir os objetivos de Washington na Síria

● Próximos Passos para uma Estratégia de Direitos Humanos, em Oriente Médio


● Assange Está Retendo Sujeira em Israel, Porque Jornais Ocidentais Não Querem Publicá-La, em Oriente Médio


O governo dos Estados Unidos não teme seus informantes: teme os bem informados
Edward Swnoden, ex-agente da CIA que revelou espionagem mundial de Obama


O Que É e O Que Tem Feito WikiLeaks (Artigos e Entrevistas)


SENTENÇA DE ASSANGE
'O Crime de Assange É Ter Realizado o Trabalho de um Jornalista Sério': Noam Chomsky

Embora o fundador de WikiLeaks não seja extraditado a solo americano, a guerra liderada pelos EUA contra a imprensa continua.
Em entrevista exclusiva ao jornalista Edu Montesanti, Chomsky opõe-se veementemente à acusação do regime de Washington,
de que o jornalista australiano representa ameaça à segurança americana: "A perseguição a Assange tem motivação política"

30 de janeiro de 2021 / Versão original em inglês publicada em Pressenza (Intercontinental),
e em
Atlas Institute for International Affairs (Inglaterra)

Em português, em Pressenza e em Pravda Brasil,


A juíza britânica Vanessa Baraitser impediu a extradição de Julian Assange do Reino Unido aos EUA, no último dia 4 de janeiro. Ela concluiu que, como as condições das prisões nos EUA são altamente degradantes, seria injusto e opressor extraditar o fundador de WikiLeaks, citando também preocupações com a saúde mental de Assange.

A defesa do jornalista australiano afirma que as condições da prisão nos EUA, incluindo confinamento solitário, Medidas Administrativas Especiais e restrições extremas na prisão de ADX Florence, levariam Assange ao suicídio.

Assange, que permanece detido na prisão Her Majesty's Belmarsh no sudeste de Londres, enfrenta até 175 anos de prisão por publicar, em 2010, documentos do governo dos EUA que expuseram crimes de guerra e abusos dos direitos humanos.

Por meio de cerca de 251.287 telegramas diplomáticos, mais de 400.000 relatórios confidenciais do exército dos EUA envolvendo a Guerra do Iraque e 90.000 sobre a Guerra no Afeganistão - com trechos publicados em primeiramão por The New York Times, The Guardian, Der Spiegel, Le Monde e El País, WikiLeaks revelou incontáveis baixas de civis além de corrupção desenfreada nos EUA em todo o mundo espionando, boicotando governos democráticos, e políticas sujas dentro de vários países.

O advogado de defesa Ed Fitzgerald disse que as "consequências naturais" da decisão da juíza, que ordenou a dispensa de Assange, "devem ser o retorno do jornalista australiano à liberdade, pelo menos condicionalmente".

O advogado de Assange argumentou ainda que, desde outubro de 2019, o fundador de WikiLeaks encontra-se detido apenas com base no pedido de extradição dos EUA. "Agora que o juiz decidiu contra a extradição, não há mais motivos para mantê-lo na prisão", ressaltou o advogado.

Dois dias depois de ter impedido a extradição do jornalista australiano, a juíza londrinense negou o pedido de fiança de Assange, mantendo-o sob custódia no HMP Belmarsh.

De acordo com Noam Chomsky, em entrevista exclusiva concedida a este autor, a decisão do tribunal foi uma vergonha e, por causa dos precedentes, torna-se perigosa.

"A decisão torna possível considerar Assange doente mental, de maneira que o que ele divulgou ao público pode ser descartado como produção de uma mente doentia", analisa o lendário dissidente, ativista pelos direitos humanos, linguista, filósofo, sociólogo, cientista político e autor de mais de cem livros, "sem dúvida o intelectual mais importante vivo hoje" segundo The New York Times.

"Raio de Luz para Julian"

"Vitória pessoal de Julian, o que é excelente. Outro duro golpe contra a liberdade de imprensa, pela natureza do veredito", acrescenta Chomsky para esta reportagem, copresidente do Comitê de Defesa de Assange (Assange Defense).

Condenando WikiLeaks de Assange, coloca-se todos os outros jornalistas em todo o mundo, em risco também, estabelecendo um precedente muito perigoso que permite ao governo dos EUA decidir o que é publicado e quem deve ser processado em um tribunal dos americano, apenas por praticar jornalismo.

O que, aliás, já acontece em certa medida: por exemplo, diversas publicações no YouTube de jornalistas alternativos têm sido censuradas, sumariamente excluídas quando contrariam o discurso do regime de Washington.

Exatamente como sucedeu recentemente com este próprio autor atraves de videos eliminados sem nenhuma justificativa, de manifestações populares no centro de Caracas no qual cidadãos pacíficos exigiam, frente à câmera deste jornalista com a Constituição venezuelana nas mãos, recuo da ingerência dos EUA.

Para nem se dizer o que tem ocorrido em redes como Facebook e Twitter, caça às bruxas indiscriminada contra a mais básica liberdade de expressão e de se publicar, tão somente, informação - na primeira rede mencionada, este autor igualmente sofreu censura, ao publicar voz de palestinos contra o terror sionista.

Como observou certa vez o jornalista irlandês Patrick Cockburn, está em jogo um "controle monopolista de informações confidenciais do Estado".

"Houve um raio de luz: Assange não será enviado para apodrecer pelo resto da vida em uma prisão dos EUA", comemora Chomsky apesar de tudo.

Jornalismo como Crime

A juíza britânica resumiu, também, sua longa opinião e os argumentos de WikiLeaks, condenando veementemente o trabalho de Assange. "O resto da decisão de Baraitser foi uma capitulação completa aos EUA. Cada acusação do governo americano é aceita sem comentários, por mais absurda que seja. As refutações detalhadas no depoimento de defesa são totalmente ignoradas", lameta Chomsky com esta reportagem de sua residência em Tucson, Arizona, onde mora com a esposa brasileira Valeria.

Minando proteções a uma imprensa livre garantidas pela própria Primeira Emenda constitucional dos EUA, a juíza Baraitser expôs sua opinião sobre o trabalho de WikiLeaks da seguinte forma, considerada altamente perigosa por especialistas como o próprio Chomsky além de vários juristas dentro dos Estados Unidos, e em todo o mundo.

A seguir, alguns pontos da calamitosa decisão de Baraitser:

● A conduta de Assange "foi além da de um jornalista", ao concordar em ajudar Chelsea Manning a quebrar uma senha e dizer a ela que "olhos curiosos nunca secam", encorajando-a a vazar mais arquivos;
● A liberação de cabogramas não editados foi "indiscriminada";
● Os argumentos da defesa sobre as opiniões políticas de Assange eram "estranhos";
● Não havia evidências suficientes de que as acusações foram "pressionadas" pela administração Trump e, em vez disso, mostraram um debate interno saudável;
● Embora a comunidade de inteligência tenha criticado duramente WikiLeaks, isso não fala pela administração;
● Não cabe ao tribunal do Reino Unido comentar o caso da espionagem de UC Global contra Assange na Embaixada do Equador, uma vez que não tem acesso aos documentos judiciais no caso contra a UC Global na Espanha;
● Sobre se seria opressor extraditar: aceitei a opinião do professor Kopelman de que o senhor Assange sofre de um transtorno depressivo recorrente, que Assange tem ideação suicida e seria "obstinado" em uma tentativa de acabar com sua vida;
● Condições potenciais em uma prisão nos Estados Unidos: a CIA vê Assange como hostil, ainda um risco à segurança;
● Assange provavelmente seria enviado para ADX Florença, seria mantido em sério isolamento;
● O objetivo das Medidas Administrativas Especiais é minimizar as comunicações, e os prisioneiros têm limitações extremas. Essas condições foram consideradas por todos os especialistas como geradora de impacto degradante sobre a saúde mental de Assange;
● Assange tem intelecto e determinação para continuar com ideias suicidas;
● Portanto, considero que seria injusto extraditar o senhor Assange. Os EUA têm o direito de recorrer.

Noam Chomsky confessa que não ficaria surpreso se, algum dia, soubéssemos que a Corte de Londres tomou a decisão de não extraditar Assange como favor ao presidente Biden, que será poupado do constrangimento de um escândalo internacional sobre a prisão perpétua do jornalista australiano.

"Podemos, talvez, atribuir esses procedimentos judiciais à 'relação especial, o eufemismo para o declínio da Grã-Bretanha de líder mundial, transformada em vassalo de seu sucessor [os Estados Unidos] neste horrível papel", aponta o professor da Universidade do Arizona à reportagem, afirmando ainda que "o crime de Assange é ter realizado o trabalho de um jornalista sério: fornecer ao público informações críticas que o governo dos Estados Unidos não quer que os cidadãos tenham."

De acordo com Cockburn, "WikiLeaks fez o que todos os jornalistas deveriam fazer, disponibilizar informações importantes ao público permitindo-lhes formar julgamentos baseados em evidências sobre o mundo ao seu redor, seus governos e crimes de Estado”.

Ex-agente da C.I.A. e denunciante John Kiriakou disse, em entrevista a este jornalista em dezembro de 2018 (mais abaixo): “Julian não roubou informação. Simplesmente recebeu informação, e então a tornou pública”.

Washington disse, contudo, imediatamente apos o termino da audiencia de Londres no dia 4, que o regime americano apelaria da decisão de Beraitser: o Departamento de Justiça dos EUA alegou estar "extremamente decepcionado" com a decisão da juíza britânica, e acrescentou: "Continuaremos tentando a extradição de Assange."

“Meu palpite é que, secretamente, o Departamento de Justiça ficou bastante satisfeito com a decisão, e pode encontrar algum tipo de pretexto para deixá-lo descansar - talvez concordando com o julgamento de que Assange sofre de problemas psiquiátricos”, observa Noam Chomsky.

"Julian Assange é jornalista. Ele nunca deveria ter sido acusado de nenhum crime", disse Kiriakou, também membro de Assange Defense, em entrevista a este autor.

"Ao demonizar o mensageiro, os governos procuram envenenar a mensagem", escreveu Chomsky recentemente, ao jornal britânico The Independent.

Inimigo do Estado

O então secretário de Estado Mike Pompeo, criticou WikiLeaks colocando-o “serviço de inteligência hostil não estatal”, acrescentando que “não podemos mais permitir que Assange e seus colegas usem os valores da liberdade de expressão contra nós”.

O então procurador-geral dos EUA, Jeff Sessions, disse em abril de 2017 que processar Assange era "prioridade" para ele.

A ex-candidata à presidência dos EUA Hillary Clinton e o então vice-presidente Joe Biden, chamaram Assange de “terrorista”.

Apesar de ter se recusado a processar Assange, o governo Obama foi o que mais perseguiu denunciantes na história dos EUA.

Lei de Espionagem: Guerra Americana contra o Jornalismo

Promotores na Virgínia do Norte acusaram Julian Assange segundo a Lei de Espionagem de 1917, de conspirar para cometer intrusão ilegal de computadores com base em seu suposto acordo, para tentar ajudar a ex-militar Chelsea (Bradley) Manning a quebrar uma parte codificada da senha que teria permitido que ela se conectasse a uma rede militar classificada, sob a identidade de outro usuário.

Manning assumiu total responsabilidade por suas ações, e disse que Assange não a pressionou a fim de obtê-las. “Ninguém ligado à W.L.O. [a organização WikiLeaks] me pressionou a enviar mais informações ”, disse ela na época. “Assumo total responsabilidade”, disseram os ex-militares dos EUA em um tribunal em 2013.

O caso Assange é a primeira vez que a Lei de Espionagem acaba sendo utilizada contra um jornalista não apenas por publicar informações classificadas, representando uma séria ameaça à segurança dos EUA mas também, de acordo com a acusação, por colocar em risco as fontes de WikiLeaks.

"O histórico de Obama a esse respeito foi vergonhoso. A Lei de Espionagem foi promulgada durante a Primeira Guerra Mundial para punir espiões. Não foi utilizada em nenhum tribunal, e poderia muito bem ser considerada inconstitucional se tivesse sido", aponta Chomsky a esta reportagem.

De acordo com o advogado e defensor das liberdades civis Ben Wizner, da American Civil Liberties Union (ACLU), qualquer processo contra o Assange, pelas publicações de WikiLeaks, seria algo sem precedentes e inconstitucional. "Abriria as portas para investigações criminais contra outras organizações de notícias”, teme Wizner.

"Obama inovou ao usá-la mais que todos os governos anteriores combinados, não contra espiões mas contra 'vazadores' que liberavam material classificado para o público", relembra Chomsky.

O advogado de direitos humanos dos Estados Unidos, Carey Shenkman, disse em depoimento em setembro passado, no Tribunal de Londres:

“O que agora é certo, para jornalistas e editores em geral, é que qualquer jornalista em qualquer país do mundo - na verdade, qualquer pessoa - que transmita segredos que não estejam de acordo com as posições políticas da administração dos Estados Unidos, pode ser julgada sob a Lei de Espionagem de 1917."

O Estado contra o Cidadão

A principal alegação dos EUA é que WikiLeaks representa uma ameaça à sua segurança nacional. Tese refutada por Chomsky em entrevista a este jornalista:

"Em teoria, o material é classificado por 'motivos de segurança'. Mas a inspeção do rico registro de material desclassificado mostra que a 'segurança' em questão é muito comumente a segurança do poder do Estado de seu inimigo doméstico, a população doméstica."

O intelectual americano completa concisamente sua ideia, segundo uma possivel visao do regime de Washington: "Essas criaturas irritantes [os cidadãos] devem ser mantidas na escuridão sobre o que está sendo feito em nome delas, embora não seja do interesse delas."

A exposição de Chomsky acima nos faz lembrar o porta-voz do Pentágono, Geoff Morrell, que ao invés de comentar as torturas de militares americanos na detenção de Guantánamo Bay então reveladas por WikiLeaks, culpou a associação liderada por Assange pelas revelações.

“É uma pena que várias organizações de notícias tenham tomado a decisão de publicar vários documentos obtidos ilegalmente por WikiLeaks, sobre o centro de detenção de Guantánamo”, disse Morrell.

De acordo com o analista mais renomado do mundo, Noam Chomsky, os fatos básicos não escaparam aos estudos.

"Quarenta anos atrás", ele aponta de sua residência em Tucson, "o distinto cientista político e conselheiro do governo Samuel Huntington, Professor de Ciência do Governo em Harvard, escreveu que 'Os arquitetos do poder nos Estados Unidos devem criar uma força que pode ser sentido, mas não visto. O poder permanece forte quando permanece no escuro; exposto à luz do sol, começa a evaporar."

Para Chomsky, esta claro que Obama entendeu bem esse princípio. "Talvez, tenha aprendido isso em seus tempos de estudante em Harvard", lamenta o professor americano de Linguística.

A mesma segurança nacional dos EUA que Julian Assange é acusado de ter ameaçado e "minado" seus chamados processos democráticos, é o próprio sistema que o próprio fundador de WikiLeaks, em uma ironia amarga, provou ser uma mentira total.

A segurança nacional dos Estados Unidos que Julian Assange é acusado de ter ameaçado, "minando" seus chamados processos democráticos, é o próprio sistema que o próprio fundador de WikiLeaks, amarga ironia, provou ser uma mentira total.

A Mídia contra o Jornalismo

A mídia em todo o mundo incluindo a auto-proclamada alternativa em ampla medida, de quem se deveria esperar a mais forte voz de aopio a Julian Assange, tem se esquecido supreendentemente em suas reportagens e editoriais as crueis verdades trazidas corajosa e brilhantemente por WikiLeaks, e mantido silêncio covardemente conivente diante das ameaças e torturas psicológicas que o jornalista australiano tem sofrido, por praticar o jornalismo investigativo em seu mais elevado grau.

"A mídia americana", lembra Chomsky, "como a de outros países ficou feliz em usar materiais fornecidos por WikiLeaks, mas deu as costas a Assange e se juntou - e muitas vezes liderou - aos ataques com o fim de desacreditá-lo".

Segundo o líder do movimento Assange Defense, a mídia britânica, em geral, tem sido ainda mais covarde e às vezes baixa à mera vulgaridade neste ponto. "Isso inclui a tolerância da mídia com a tortura de Assange ao longo dos anos, a qual não preciso recordar aqui. A perseguição brutal contra ele, é um escândalo internacional".

"Não menos vergonhoso é o fato de que muitos daqueles que usam avidamente suas revelações, não estão se levantando para defender Julian Assange," indigna-se Chomsky, observando ainda que a integridade básica de uma imprensa livre e independente está sob ataque neste desempenho vergonhoso da midia internacional.

O Rei Está Nu

Curiosamente, a mídia predominante internacional tem não apenas virado as costas a Assange, como tem também perpetuado a velha, bem-conhecida linha que vai na contramão de suas proprias publicacoes, em favor do establishment nos mais diversos casos.

No caso da mídia dita alternativa, bastante seletiva ao reverberar WikiLeaks enquanto, desde o início, regozijava-se com as infindáveis revelações sobre os podres do Império americano e da direita política global, jamais considerou as traquinagens de seus políticos de estimação, os tão alardeados progressistas nos mais diversos países - incluindo o Brasil sob o governo do Partido dos Trabalhadores, considerado o supra-sumo da esquerda latino-americana - nos porões de suas políticas, nacionais e internacionais.

Assange desnudou, sem nenhuma distincão político-partidária, os bastidores da política global. O Rei, de repente, foi exposto nu nos mais diversos rincões do planeta. Pois a mídia em geral, evidenciando sua verdadeira face a quem ainda tinha alguma dúvida de seu (mau) caráter, preferiu despir-se completamente junto dos donos do poder locais, e, desfilando pelada, desavergonhadamente, pela mais cínica passarela da vergonha, abraçar seus velhos reis ao invés de, em nome da verdade dos fatos e dos princípios jornalísticos elementares, coroar a boa prática do jornalismo independente e combativo de Assange que virou o mundo de cabeça para baixo, vindo a revolucionar nossa geração.

Enquanto a mídia em geral faz como que os telegramas confidenciais, secretos e ultrassecretos revelados por WikiLeaks, simplesmente inexistissem.

"Na melhor das hipóteses, o debate público sobre as questões reais será prejudicado; na pior, a opinião pública será manipulada em favor do estabelecimento", escreveu Chomsky em The Independent em setembro de 2020.

A mídia mundial tem, certamente, cooperado para o pior cenário considerado por Noam Chomsky nesta entrevista.

Papéis Invertidos

Detenção de criminosos dos EUA devido a seus crimes de guerra, crimes contra a humanidade e conspirações para derrubar governos legítimos em todo o mundo. A inversão de papéis dos EUA mais do que nunca, impossível de ser negada desde que Assange entrou em ação.

"O dever primordial da imprensa", escreveu Robert Lowe no diário britânico The Times em 1852 (citado por Cockburn), 'é obter a inteligência mais antiga e correta dos acontecimentos de seu tempo e instantaneamente, divulgando-os, tornando-os propriedade comum da nação."

Envolvendo a politicagem imperialista e global incluindo a propalada progressista, demagógica especialmente latino-americana, nada poderia ser mais atual que as observações de Lowe há quase dois séculos - e o mundo inteiro sabe disso graças a Julian do WikiLeaks -, que completou sua ideia da seguinte forma:

"O estadista coleta suas informações secretamente, e por meios secretos; ele mantém guardada até a atual inteligência do dia, com precauções ridículas."

Imprensa Livre Significa Assange Livre

“Julian Assange não deveria ser motivo de audiência de um grande júri: ele deveria receber uma medalha. Ele está contribuindo com a democracia”, disse Chomsky certa vez.

Questionado por esta reportagem sobre o quanto realmente vê o caso de Assange como politicamente motivado pelo regime de Washington, Chomsky, mais que um brilhante analista - ser humano de rara beleza interior, indivizivelmente humanitário no mais profundo sentido do termo em um mundo repleto de oportunistas -, aponta que a única questão de segurança nacional que surge é a proteção do poder estatal da exposição aos cidadãos.

"A perseguição de Assange por esta tal 'violação de segurança' é politicamente motivada, virtualmente por definição", diz o especialista mais respeitado do mundo.

A editora-chefe de WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, reagiu imediatamente aos comentários da juíza Beraitser antes que o depoimento começasse, no dia 4 de janeiro, perguntando à defesa o quanto o resultado da eleição presidencial dos EUA poderia afetar o caso de Assange, apontando ainda que ela esperava emitir uma decisão antes do dia das eleições.

"Baraitser reconheceu o que estava claro, desde antes mesmo de a primeira acusação contra Assange ser aberta: esta é uma acusação politicamente motivada."

"Se as guerras podem ser iniciadas com mentiras, a paz pode ser iniciada com a verdade", costuma dizer Assange, apontado em 4 de janeiro a receber o Prêmio Nobel da Paz de 2021.

Julian Assange, que certa vez denominou WikiLeaks como "a CIA do povo", deve ser libertado e publicar novamente a fim de lançar a luz da verdade sobre a falsa democracia dos Estados Unidos, seus crimes de guerra e boicotes mundo afora além de expor o grande picadeiro político global, os imundos bastidores dos usurpadores do poder em todos os espectros, em todos os lugares.

Jornalismo não é crime. Assange livre, imprensa livre em favor da verdade e da democracia.


ENTREVISTA COM PETER TATCHELL
Iminente Extradição de Assange aos EUA

O fundador de WikiLeaks "é um herói, não um criminoso", afirma nesta entrevista o ativista britânico pelos direitos humanos, Peter Tatchell, para quem Assange jamais deveria ser julgado: "o governo e os militares dos EUA devem ser julgados". Tatchell questiona por que The Guardian e The New York Times, que publicaram revelações de Assange, não são acusados junto do jornalista australiano. "A diminuição de uma mídia vigilante e investigativa enfraquece um importante controle e equilíbrio sobre a elite de Washington". Abaixo, a íntegra da entrevista

15 de dezembro de 2018 / Published on Pravda Report


Edu Montesanti: Acusado de espionagem, o julgamento de Julian Assange em um tribunal nos Estados Unidos é iminente. O fundador do WikiLeaks é considerado por aqueles que o acusam, atolados em um lamaçal de ilegalidade, "ameaça" à segurança nacional dos Estados Unidos e de "minar" seus processos democráticos.

Qual sua visão disso, Peter?


Peter Tatchell: Sabemos que um grande júri secreto foi convocado anos atrás após as revelações de WikiLeaks, que destacaram os crimes de guerra dos Estados Unidos, e as mentiras e os encobrimentos do seu governo. A intenção é acusar Assange de sérios crimes que, provavelmente, resultarão em sua prisão por 30 anos.

Funcionários da administração de Trump admitiram que processar Assange é uma prioridade legal importante. Eles estão loucos para pegá-lo.

A verdade é que Assange prestou um grande serviço público, revelando os abusos dos direitos humanos dos EUA no Iraque e no Afeganistão. Ele é um herói, não um criminoso.

 
O que a condenação de Assange significaria ao jornalismo e à liberdade de expressão, e ainda para a luta contra o imperialismo e a corrupção? Aliás, Peter, não se trata de amarga ironia que os mesmos que cometem os piores crimes em todo o mundo, inclusive contra a humanidade sem ser responsabilizado por nada disso, trompeteiem aplicação da lei no caso de Assange, denunciante desses crimes?

Os Estados Unidos espionam o mundo inteiro, procurando condenar Assange agora por ter provado exatamente o que Washington, sem nenhuma evidência, histericamente acusa o Kremlin, por exemplo...

 
Assange publicou revelações do denunciante Chelsea Manning. O mesmo aconteceu com o jornal The Guardian em Londres e The New York Times. Por que Assange é escolhido para ser processado, mas não os dois jornais?

Liberdade de informação e liberdade de imprensa são importantes princípios de direitos humanos, minados pelo plano de colocar Assange em julgamento nos EUA, e prendê-lo por décadas.

O governo e os militares dos EUA devem ser julgados, não Assange.


Peter, acredito firmemente que a grande mídia desempenha importante e criminoso papel na atual situação de Assange, sob risco de ser preso, já que a mídia mundial ignorou o fundador de WikiLeaks e suas revelações... ou a mídia corporativa não lhe deu muita importância, como suas revelações exigem. Lembremo-nos que a revista alemã Der Spiegel relatou, anos atrás, que muitos "jornalistas" europeus são ativos da CIA, o que também é verdade na minha região, a América Latina.

Como você avalia a cobertura da mídia sobre WikiLeaks ao longo dos anos, e quanto ela é "culpada", digamos assim, o que você pode dizer sobre a responsabilidade da mídia pelo destino de Assange agora?


Grande parte da mídia ocidental não conseguiu relatar totalmente as terríveis restrições a Assange na Embaixada equatoriana em Londres, que são semelhantes às restrições impostas aos prisioneiros em prisões de segurança máxima. Ainda assim, Assange nunca foi acusado, e muito menos condenado por nenhum crime.

A mídia, em sua maioria, não conseguiu responsabilizar o governo dos EUA nem as Forças Armadas pelas violações dos direitos humanos reveladas por Assange. Isso é prejudicial à democracia.

A diminuição de uma mídia vigilante e investigativa enfraquece um importante controle e equilíbrio sobre a elite de Washington.


CASO ASSANGE
Extradição aos EUA Seria Ilegal, 'Jornalista Fazendo Seu Trabalho': John Kiriakou

Enquanto se acredita que o Equador extraditará Assange aos EUA, John Kiriakou, “denunciante relutante” considerado o
primeiro oficial de inteligência dos EUA a revelar informações sobre o uso de técnicas de tortura pela comunidade de
inteligência norte-americana, comenta o caso envolvendo o fundador de WikiLeaks em conversa com Edu Montesanti

por Edu Montesanti, 5 de dezembro de 2018 / Publicado em Pravda (Rússia), e em Global Research (Canadá)


"A única coisa que pode salvar Julian Assange é a anulação do júri", diz o denunciante (whistleblower) John Kiriakou, ex-oficial de contraterrorismo da CIA e ex-investigador chefe do Comitê de Relações Exteriores do Senado norte-americano residente no estado da Virgínia, em entrevista exclusiva a este repórter.

O Departamento de Justiça dos EUA está agindo nos bastidores para que Assange seja extraditado da Embaixada do Equador em Londres, e processado em solo estadunidense. As acusações criminais contra o fundador de WikiLeaks foram acidentalmente reveladas no início de novembro, quando o nome de Assange foi encontrado no processo judicial de um caso não relacionado ao seu, sugerindo que os promotores haviam copiado um texto clichê e se esqueceram de mudar o nome do réu.

O procurador-assistente Kellen S. Dwyer, instando um juiz a manter a questão lacrada, escreveu que “devido à sofisticação do réu e à publicidade em torno do caso, nenhum outro procedimento é susceptível a não ser manter confidencial por qual fato Assange foi acusado. Mais tarde, Dwyer escreveu que as acusações "precisariam permanecer seladas até que Assange fosse preso".

É muito provável que o jornalista australiano, que em março de 2017 divulgou um arquivo de documentos detalhando as operações de hacking da C.I.A. conhecidas como Vazamento Vault 7, esteja sendo acusado pelos promotores norte-americanos de violar a Lei de Espionagem de 1917.

O engenheiro Joshua A. Schulte, 29, de Nova Iorque, é o principal suspeito de fornecer ao WikiLeaks os documentos que revelam as sensíveis ferramentas de espionagem eletrônica massiva da CIA em todo o mundo, é acusado pelos promotores de violar repetidas vezes a Lei de Espionagem.

"Tecnicamente, a anulação do júri é ilegal. Dá-se quando um júri absolve não porque o réu é inocente, mas porque a lei está errada. A Lei de Espionagem está errada. Julian Assange é jornalista. Ele nunca deveria ter sido acusado de nenhum crime, em primeiro lugar", diz Kiriakou, a primeira autoridade dos EUA que discursou, em dezembro de 2007, contra o programa de tortura de George Bush e permaneceu 30 meses de prisão por causa disso, de 2013 a 2015.

A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) também qualifica a Lei de Espionagem de “fundamentalmente injusta e inconstitucional”. Kiriakou lembra que tem argumentado, ao longo dos anos, que “a Lei de Espionagem é tão ampla a ponto de ser inconstitucional, embora não tenha sido contestada pelo Supremo Tribunal".

'Investigando a MIM!?'

"Um oficial graduado da C.I.A. no Centro de Contraterrorismo me perguntou se eu queria ser 'treinado para o uso de técnicas avançadas de interrogatório', Eu neguei. Disse que tinha um problema moral e ético com tortura e que, apesar do julgamento do Departamento de Justiça, considerava-o ilegal", relatou Kiriakou em março passado ao jornal The Washington Post.

Autor de três livros, Kiriakou foi um dos protagonistas do documentário de James Spione, intitulado Silenced, no qual o ex-agente da C.I.A. informou-se ao lembrar que depois de suas denúncias, "percebi que eles estão investigando a MIM!?". O caso de John e de Assange possuem semelhanças não apenas por causar reação a favor de ambos por parte de pessoas que representam uma reserva moral em todo o mundo.

A "democracia profundamente fracassada dos EUA", segundo palavras de Kiriakou a este repórter em outubo de 2016, está mais uma vez agindo contra a liberdade de expressão e a justiça, pilares de uma verdadeira democracia. Na mais absoluta contraposição aos crimes estatais que ambos revelam, duramente condenados pelo mesmo Estado usurpador do poder.

Enquanto as revelações de Kiriakou - não ecoadas suficientemente pela grande mídia - não mudaram nada na "política" dos EUA, dentro e fora do país enquanto o regime de Washington continua cometendo hediondos crimes de guerra, contra a humanidade e contra a própria Constituição dos EUA - sob silêncio midiático enurdecedor - os criminosos denunciados por Assange pretendem processá-lo: em nome da democracia e da justiça.

Em seu primeiro discurso público como diretor da CIA no início do ano passado, Mike Pompeo criticou WikiLeaks, qualificando-o de “um serviço de inteligência não estatal hostil”, acrescentando que “não podemos mais permitir que Assange e seus colegas utilizem os valores da liberdade de expressão contra nós. Usar valores de liberdade de expressão contra nós”?

Portanto, mais uma vez está claro que, aos donos do poder estadunidense, há um limite para a uitilização da Primeira Emenda da Constituição local que garante liberdade de expressão, e para a democracia como um todo; o dispositivo constitucional, que faz os "falcões" baterem no peito e se vangloriar de possuírem a democracia mais avançada do planeta, é válido apenas enquanto não contrariar os interesses do establishment local.

Nenhum Ato de Espionagem

Kiriakou prevê que o governo dos EUA argumentará que Assange fez exatamente o que a Lei de Espionagem de 1917 descreve como espionagem, isto é, “fornecer informações de defesa nacional a qualquer pessoa que não tenha o direito de recebê-la”.

O denunciante norte-americano observa que "a questão aqui, altamente incomum, sem precedentes mesmo para um cidadão estrangeiro, e Assange é australiano, é ser acusado de espionagem tendo em vista que ele não roubou informação. Assange simplesmente recebeu informação, a qual ele posteriormente, tornou pública". Kiriakou aponta que Assange alega que se trata apenas de um jornalista fazendo seu trabalho: "Nenhum governo jamais acusou um jornalista de espionagem por fazer seu trabalho".

Jesselyn Radack, diretora do Programa de Proteção ao Informante e à Fonte e uma das advogadas de Kiriakou, escreveu em um editorial de 2014 intitulado Why Edward Snowden Wouldn't Get a Fair Trial: “Os argumentos da Primeira Emenda fracassaram, em grande parte porque criminalizariam o jornalismo feito possível pelos vazamentos. O motivo e a intenção do denunciante são irrelevantes. E não há defesa do denunciante, o que significa que o valor público do material divulgado não importa, absolutamente”.

Despotismo no Judiciário dos EUA

Outro sério obstáculo que Assange enfrentaria é a juíza Leonie Brinkema, de acordo com o ex-agente da C.I.A. Brinkema lidou com seu caso, assim como o da outra ex-agente da C.I.A. e denunciante, Jeffrey Sterling, além de também reservar o caso de Edward Snowden para si. "Brinkema é uma juíza de enforcamento", lamenta Kiriakou.

"Brinkema não me deu, literalmente, nenhuma chance de defesa. Em determinado momento, enquanto se aproximava o julgamento, meus advogados fizeram 70 moções pedindo que 70 documentos classificados fossem desclassificados, para que eu pudesse usá-los para me defender. Eu não tinha defesa sem eles. Ficamos três dias parados para as audiências. Quando chegamos ao tribunal, Brinkema disse: "Deixem-me economizar bastante o tempo de todo mundo: nego todas estas 70 moções. Você não precisa que nenhuma dessas informações seja desclassificada". Todo o processo levou um minuto. Ao sair do tribunal, perguntei ao meu advogado-chefe o que acabara de acontecer. "Acabamos de perder o caso. Foi o que aconteceu".

Ele lembra o triste final daquele julgamento quando, em 2013, Brinkema disse-lhe, com o dedo em riste, que se levantasse, e disse: “Senhor Kiriakou, odeio esse apelo. Se pudesse, o condenaria por dez anos”. John Kiriakou classifica seus comentários como“ inapropriados, mas essa é Brinkema”.

Guerra Declarada dos EUA contra a Humanidade

Barry J. Pollack, um dos advogados de Assange, disse assim que o nome do fundador de WikiLeaks foi encontrado no processo judicial de um caso não relacionado, mencionado mais acima: “O governo que impõe uma acusação criminal a alguém por publicar informações verídicas, trilha um caminho perigoso para uma democracia. A única coisa mais irresponsável que acusar uma pessoa de publicar informações verdadeiras, seria colocar uma informação pública que claramente não se destinava ao público e sem qualquer aviso ao senhor Assange. Obviamente, não tenho idéia se ele foi realmente acusado nem pelo quê, mas a noção de que as acusações criminais federais podem ser impostas com base na publicação de informações verdadeiras, é um precedente incrivelmente perigoso”.

O Procurador Geral dos EUA, Jeff Sessions, disse que processar Assange é "prioridade" para ele. Há alguns no Ocidente plenamente convencidos de que Assange merece ser julgado e posto na cadeia por "ameaçar" a segurança nacional dos EUA, e "minar" seus chamados processos democráticos - o sistema que Assange mesmo, amarga ironia, provou ser uma mentira total. A ex-candidata presidencial americana Hillary Clinton e o ex-vice-presidente Joe Biden o chamaram de "terrorista", mas a realidade é que o trabalho de Assange, fornecendo informações de alto interesse público, atua como antídoto revolucionário contra notícias falsas e a sombria política global, especialmente a estadunidense que é servida pelo povo, ao invés de servir ao povo.

Tudo isso, enquanto as amargas verdades que Assange traz à luz enviam uma mensagem clara de que a chamada democracia ocidental deve ser submetida a um processo de transparência radical. WikiLeaks não deixa duvidas, Valt 7 como mais recente exemplo, de que os serviços de inteligência em todo o mundo, a começar pela terrorista C.I.A., devem ser brecados - como desejava o presidente John Kennedy - enquanto ferramentas não democráticas destinadas a preservar o poder de uma minoria.

De acordo com o advogado norte-americano e defensor das liberdades civis Ben Wizner da ACLU: "Qualquer processo contra Assange pelas publicações de WikiLeaks não teria precedentes e inconstitucional, e abriria as portas para investigações criminais de outras organizações de notícias".

A grande mídia também deve ser culpada no caso de uma condenação de Julian Assange, e por essa distorção total de cenários já que não só nunca pressionou minimamente esses criminosos do regime de Washington que invadem smartphones, computadores e televisões conectadas à Internet em qualquer lugar do mundo - e ainda fazem parecer que os hacks eram praticados por outro serviço de inteligência.

Quem julga a C.I.A.?

Quem protege as pessoas de serem hackeadas?

Outra amarga ironia nisso tudo, é que uma provável condenação de Assange porá em perigo os próprios fundamentos da imprensa livre, imprensa especialmente ocidental que afirma ser livre mas que nunca deu a Assange a atenção que seu trabalho merece, longe disso - enquanto a inação da mídia fala por si mesma, o jornalista australiano também tem provado por todos estes anos, que a mídia corporativa não é livre.

A tempo: alguma semelhança, na forma de lidar com as leis e no comportamento arrogante, entre os juízes e promotores de lá e um "certo" juiz de terras tupiniquins, que escandaliza o mundo por ferir os princípios legais mais básicos? Pois WikiLeaks tambem já provou, documentalmente como sempre faz, que o juizeco Serginho Moro e toda a patota da cúpula do Poder Judiciário e Ministério Público tupiniquim, fez cursinhos jurídicos secretos nos Estados Unidos - com tudo pago.

Que seríamos de nós, em que mundo viveriamos se não fosse WikiLeaks?


FUTURO DA INTERNET
“Próxima Disputa Global Será pela Privacidade das Pessoas”

por Julian Assange (mentor do WikiLeaks)

Reproduzido pelo Observatório da Imprensa, e pela Folha de S. Paulo / Fevereiro de 2013


A luta do WikiLeaks se dá através de várias facetas. Em meu trabalho como jornalista, lutei contra guerras e para forçar os grupos poderosos a prestarem contas ao povo.

Em muitas ocasiões, manifestei-me contra a tirania do imperialismo, que hoje sobrevive no domínio econômico-militar da superpotência global.

Por meio desse trabalho, aprendi a dinâmica da ordem internacional e a lógica do império. Vi países pequenos sendo oprimidos e dominados por países maiores ou infiltrados por empreendimentos estrangeiros e forçados a agir contra os próprios interesses.

Vi povos cuja expressão de seus desejos lhes foi tolhida, eleições compradas e vendidas, as riquezas de países como o Quênia sendo roubadas e vendidas em leilão a plutocratas em Londres e Nova York. Expus grande parte disso e continuarei a expor, apesar de ter me custado caro.

Essas experiências embasaram minha atuação como um cypherpunk. Elas me deram uma perspectiva sobre as questões discutidas nesta obra, que são de especial interesse para os leitores da América Latina. O livro não explora essas questões a fundo.

Para isso seria necessário outro – muitos outros livros. Mas quero chamar a atenção para essas questões e peço que você as mantenha em mente durante a leitura.

Fibras ópticas

Os últimos anos viram o enfraquecimento das velhas hegemonias. Do Magrebe até o Golfo Pérsico, as populações têm combatido a tirania em defesa da liberdade e da autodeterminação.

Movimentos populares no Paquistão e na Malásia acenam com a promessa de uma nova força no cenário mundial.

E a América Latina tem visto o tão esperado despontar da soberania e da independência, depois de séculos de brutal dominação imperial. Esses avanços constituem a esperança do nosso mundo, enquanto o Sol se põe na democracia no Primeiro Mundo.

Vivenciei em primeira mão essa nova independência e vitalidade da América Latina quando o Equador, o Brasil e a região se apresentaram em defesa dos meus direitos depois que recebi asilo político.

A longa luta pela autodeterminação latino-americana é importante por abrir o caminho para que o resto do mundo avance na direção da liberdade e da dignidade. Mas a independência latino-americana ainda está engatinhando.

Os Estados Unidos ainda tentam subverter a democracia latino-americana em Honduras e na Venezuela, no Equador e no Paraguai. Nossos movimentos ainda são vulneráveis. É vital que eles tenham sucesso. Portanto, devem ser protegidos.

É por isso que a mensagem dos cypherpunks é de especial importância para o público latino-americano. O mundo deve se conscientizar da ameaça da vigilância para a América Latina e para o antigo Terceiro Mundo.

A vigilância não constitui um problema apenas para a democracia e para a governança mas também representa um problema geopolítico.

A vigilância de uma população inteira por uma potência estrangeira naturalmente ameaça a soberania. Intervenção após intervenção nas questões da democracia latino-americana nos ensinaram a ser realistas. Sabemos que as antigas potências colonialistas usarão qualquer vantagem que tiverem para suprimir a independência latino-americana.

Este livro discute o que acontece quando corporações norte-americanas como o Facebook têm uma penetração praticamente completa na população de um país, mas não discute as questões geopolíticas mais profundas.

Um aspecto importante vem à tona se levamos em consideração as questões geográficas. Para tanto, a ideia do “exército ao redor de um poço de petróleo” é interessante.

Todo mundo sabe que o petróleo orienta a geopolítica global. O fluxo de petróleo decide quem é dominante, quem é invadido e quem é excluído da comunidade global. O controle físico até mesmo de um segmento de oleoduto resulta em grande poder geopolítico. E os governos que se veem nessa posição são capazes de conseguir enormes concessões.

De tal forma que, em um só golpe, o Kremlin é capaz de condenar o Leste Europeu e a Alemanha a um inverno sem aquecimento. E até a perspectiva de Teerã abrir um oleoduto do Oriente até a Índia e a China é um pretexto para Washington manter uma lógica belicosa.

A mesma coisa acontece com os cabos de fibra óptica. A próxima grande alavanca no jogo geopolítico serão os dados resultantes da vigilância: a vida privada de milhões de inocentes.

Não é segredo algum que, na internet, todos os caminhos que vão e vêm da América Latina passam pelos Estados Unidos. A infraestrutura da internet direciona a maior parte do tráfego que entra e sai da América do Sul por linhas de fibra óptica que cruzam fisicamente as fronteiras dos Estados Unidos.

Palco africano

O governo norte-americano tem violado sem nenhum escrúpulo as próprias leis para mobilizar essas linhas e espionar seus cidadãos. E não há leis contra espionar cidadãos estrangeiros.

Todos os dias, centenas de milhões de mensagens vindas de todo o continente latino-americano são devoradas por órgãos de espionagem norte-americanos e armazenadas para sempre em depósitos do tamanho de cidades.

Dessa forma, os fatos geográficos referentes à infraestrutura da internet têm consequências para a independência e a soberania da América Latina. Isso deve ser levado em consideração nos próximos anos, à medida que cada vez mais latino-americanos entrarem na internet.

O problema também transcende a geografia. Muitos governos e militares latino-americanos protegem seus segredos com hardware criptográfico. Esses hardwares e softwares embaralham as mensagens, desembaralhando-as quando chegam a seu destino.

Os governos os compram para proteger seus segredos, muitas vezes com grandes despesas para o povo, por temerem, justificadamente, a interceptação de suas comunicações pelos Estados Unidos.

Mas as empresas que vendem esses dispendiosos dispositivos possuem vínculos estreitos com a comunidade de inteligência norte-americana.

Seus CEOs e funcionários seniores são matemáticos e engenheiros da NSA, capitalizando as invenções que criaram para o Estado de vigilância.

Com frequência seus dispositivos são deliberadamente falhos: falhos com um propósito. Não importa quem os está utilizando ou como --os órgãos de inteligência norte-americanos são capazes de decodificar o sinal e ler as mensagens.

Esses dispositivos são vendidos a países latino-americanos e de outras regiões que desejam proteger seus segredos, mas na verdade constituem uma maneira de roubar esses segredos.

Os governos estariam mais seguros se usassem softwares criptográficos feitos por cypherpunks, cujo design é aberto para todos verem que não se trata de uma ferramenta de espionagem, disponibilizados pelo preço de uma conexão com a internet.

Enquanto isso, os Estados Unidos estão acelerando a próxima grande corrida armamentista. A descoberta do vírus Stuxnet, seguida da dos vírus Duqu e Flame, anuncia uma nova era de softwares extremamente complexos feitos por Estados poderosos que podem ser utilizados como armas para atacar Estados mais fracos.

Sua agressiva utilização no Irã visa a prejudicar as tentativas persas de conquistar a soberania nacional, uma perspectiva condenada pelos interesses norte-americanos e israelenses na região.

Antigamente, o uso de vírus de computador como armas ofensivas não passava de uma trama encontrada em livros de ficção científica.

Hoje se trata de uma realidade global, estimulada pelo comportamento temerário da administração Obama, que viola as leis internacionais.

Agora, outros Estados seguirão o exemplo, reforçando sua capacidade ofensiva como um meio de se proteger. Neste novo e perigoso mundo, o avanço da iniciativa cypherpunk e da construção da ciberpaz é extremamente necessário.

Os Estados Unidos não são os únicos culpados. Nos últimos anos, a infraestrutura da internet de países como a Uganda foi enriquecida pelo investimento chinês direto.

Empréstimos substanciais estão sendo distribuídos em troca de contratos africanos com empresas chinesas para construir uma infraestrutura de backbones de acesso à internet ligando escolas, ministérios públicos e comunidades ao sistema global de fibras ópticas.

A África está entrando na internet, mas com hardware fornecido por uma aspirante a superpotência estrangeira. Há o risco concreto de a internet africana ser usada para manter a África subjugada no século XXI, e não como a grande libertadora que se acredita que a internet seja.

Mais uma vez, a África está se transformando em um palco para os confrontos entre as potências globais dominantes. As lições da Guerra Fria não devem ser esquecidas ou a história se repetirá.

Momento certo

Essas são apenas algumas das importantes maneiras pelas quais a mensagem deste livro vai além da luta pela liberdade individual.

Os cypherpunks originais, meus camaradas, foram em grande parte libertários.

Buscamos proteger a liberdade individual da tirania do Estado, e a criptografia foi a nossa arma secreta. Isso era subversivo porque a criptografia era de propriedade exclusiva dos Estados, usada como arma em suas variadas guerras.

Criando nosso próprio software contra o Estado e disseminando-o amplamente, liberamos e democratizamos a criptografia, em uma luta verdadeiramente revolucionária, travada nas fronteiras da nova internet. A reação foi rápida e onerosa, e ainda está em curso, mas o gênio saiu da lâmpada.

O movimento cypherpunk, porém, se estendeu além do libertarismo.

Os cypherpunks podem instituir um novo legado na utilização da criptografia por parte dos atores do Estado: um legado para se opor às opressões internacionais e dar poder ao nobre azarão.

A criptografia pode proteger tanto as liberdades civis individuais como a soberania e a independência de países inteiros, a solidariedade entre grupos com uma causa em comum e o projeto de emancipação global.

Ela pode ser utilizada para combater não apenas a tirania do Estado sobre os indivíduos, mas a tirania do império sobre a colônia. Os cypherpunks exercerão seu papel na construção de um futuro mais justo e humano. É por isso que é importante fortalecer esse movimento global.

Acredito firmemente nessa mensagem, escrita nas entrelinhas deste livro, apesar de não discutida em grandes detalhes. A mensagem merece um livro à parte, do qual me ocuparei quando chegar o momento certo e minha situação permitir. Por enquanto, espero que baste chamar a atenção para essa questão e pedir que você a mantenha em mente durante a leitura.


Bloqueio Econômico Impede WikiLeaks de Publicar - Outubro de 2011

WikiLeaks Interrompe Publicação devido a "Bloqueio Financeiro"

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Irish Times, 25 de outubro de 2011

Tradução de Edu Montesanti


Wikileaks cessou publicação de conteúdo novo, a fim de se concentrar em romper o "bloqueio financeiro" que tem baixado sua receita em 95 por cento.

Em entrevista coletiva em Londres em 24 de outubro (vídeo à direita), o fundador de Wikileaks, Julian Assange (imagem à direita), disse que o sítio em breve deixará de existir se não tiver condições de ter acesso a fundos de seus apoiantes.

Bank of America, Visa, Mastercard, Paypal e Western Union deixaram de processar pagamentos a Wikileaks em ezembro passado, dias depois que o sítio publicou centenas de milhares de documentos secretos da segurança dos EUA e telegramas diplomáticos.

Assange acusou as instituições financeiras de operar um "bloqueio financeiro arbitrário e ilegal", que custou ao sítio "dezenas de milhões de dólares".

Ele disse que o bloqueio era parte de um "ataque da orquestrada política norteamericana", através de grupos de direita. "Se publicar a verdade sobre a guerra é o suficiente para justificar essa ação agressiva dos escalões de Washington, então todos os jornais que publicam informações de Wikileaks estão à beira de ter seus leitores e anunciantes com pagamentos completamente bloqueados".

O fundador de Wikileaks, que atualmente depende de fiança de extradição à Suécia para enfrentar acusações de abuso sexual, disse ao Greenpeace, à Anistia Internacional e a outras ONGs internacionais que eles poderiam enfrentar o mesmo destino se seu trabalho irrita certos grupos poderosos.

Wikileaks tem instruído os advogados para se preparar para ações judiciais contra as instituições financeiras na "Islândia, Dinamarca, Bruxelas, Londres, Austrália e os EUA", disse Assange.

Também apresentou queixa à Comissão Europeia, de que Visa e Mastercard estão violando o direito da concorrência. Ele espera que a Comissão decida até meados de novembro se inicia ou não uma investigação completa.

Assange afirmou que o Tesouro dos EUA não havia encontrado associações para o bloqueio, enquanto uma investigação formal sobre o sítio na Austrália descobriu que ele não havia ferido a lei.

"Os jogadores mais poderosos do setor bancário têm se revelado um braço politizado de direita de Washington. Este conluio ocorreu fora de qualquer processo judicial ou administrativo ", disse ele.

Um representante de Wikileaks mostrou, na entrevista coletiva, um gráfico de sua captação de recursos que revelou o recebimento de uma média de 100 mil euros um mês antes da retirada de serviços de pagamento, cujo valor já hava caído para algo entre 6 e 7 mil euros.

Falando frente a um cenário de fundo que contou com logotipos de Mastercard, Visa, Paypal e Bank of America, Assange disse que Wikileaks precisava de 3,5 milhões de dólares para operar no próximo ano, e que agora recorreu a aceitar doações por correio.


XVIII. WIKILEAKS: REVELAÇÕES DOS SEGREDOS DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS
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“Somos a CIA do Povo”

Porta-voz do WikiLeaks analisa as estratégias da organização e os impactos que sua atuação vem causando no mundo

28.11.2011 / jornal Brasil de Fato


Regido pelo princípio de que a livre circulação de informações emancipa os povos para que empreendam suas lutas, o WikiLeaks – organização responsável pela divulgação de documentos confidenciais que revelam a má conduta de governos, empresas e organizações no mundo inteiro – chegou a tornar públicos, até dezembro do ano passado, cerca de 250 mil documentos diplomáticos estadunidenses. Por sua luta, tem sido penalizado por grandes conglomerados financeiros, como Mastercard, Visa, American Express, Bank of America etc., que têm bloqueado a transferência de doações feitas por simpatizantes no mundo inteiro, por meio de seus cartões de crédito. Apesar da tentativa de miná-la, a organização continua ativa e recebendo doações. O jornalista investigativo islandês Kristinn Hrafnsson, seu porta-voz, falou sobre o assunto ao Brasil de Fato, durante sua participação no I Encontro Mundial de Blogueiros, realizado entre os dias 27 e 29 de outubro, em Foz do Iguaçu, no Paraná.


Brasil de Fato – Como você chegou ao WikiLeaks?

Kristinn Hrafnsson – Depois de trabalhar mais de 20 anos com jornalismo, tornava-me mais e mais exasperado com o fato de os jornalistas não estarem cumprindo com seu papel de expor a má conduta dos governos. O jornalismo é reflexo do que acontece na Europa e nos EUA, com a noção errada de objetividade. Os jornalistas se impõem uma castração quando vão cobrir os fatos, sob o pretexto de uma pretensa objetividade. Comecei a ser muito crítico com o jornalismo. Eu tinha estado no Afeganistão, no Iraque, cobria eventos internacionais. Claro que eu estava com nojo da cobertura da imprensa sobre as questões do meu país, momentos antes das invasões ao Iraque e Afeganistão. Mas, relação a estas, via-se que os jornalistas estavam sendo alimentados com mentiras como se fossem bebês para justificar o envolvimento militar estadunidense na região.


Onde você trabalhava?

Na televisão islandesa. Em 2008, houve a bolha com os bancos na Islândia, mais um exemplo de mentiras que os jornalistas compraram. Em quatro dias ela estourou e colapsou todo o sistema bancário. As pessoas que não tinham nenhuma experiência em promover manifestações políticas foram às ruas e ameaçaram queimar o parlamento. Foi, basicamente, o que derrubou o governo, um processo popular. Quando a poeira começou a baixar, começamos a receber informações de como os bancos armavam as fraudes; o trabalho interno. O que todos achavam que era um milagre econômico era simplesmente o trabalho de jovens banqueiros com tendências doentias por jogos. Em 2009 eu conheci o WikiLeaks, quando ele expôs pela primeira vez esse sistema ao publicar a carta de empréstimos do maior banco da Islândia. Eles eram tão poderosos que controlavam governos e as instituições que deveriam monitorá-los. Para mim, foi um momento chave de mudança quando eu percebi que ele podia expor o que meus colegas jornalistas não expunham, as falcatruas. Nesse período, conheci Julian Assange na Islândia e nos tornamos amigos. Ele me contou que a proposta do WikiLeaks era baseada no ideal dos hackers australianos do final dos anos 1980, e, embora o termo hacker tenha hoje uma conotação ruim, trabalhava com a ideia clara e simples de que a informação deve ser pública. No momento em que me engajei, esse movimento estava crescendo em espiral, vindo à tona esses vazamentos massivos que temos publicado desde abril do ano passado. O primeiro foi o vídeo do helicóptero num ataque ao Iraque [Assassinato colateral], que me deixou muito chocado. A ideologia do WikiLeaks é muito simples e direta: trata-se de liberdade de informação, transparência e importância dos informantes que ajudam a revelar corrupção e má conduta. Quando a notícia é apropriadamente disseminada, pode ser um veículo de mudança social, para trazer o que chamamos de justiça.


Qual balanço vocês fazem do resultado desses vazamentos?

É difícil avaliar os impactos, mas talvez o mais forte tenha sido o psicológico. Por mostrar que uma organização pequena pode expor as grandes más ações das nações mais poderosas, que tem o impacto de dar poder ao povo e convencê-lo de que a justiça é possível. De que é possível trazer mudanças sociais por meio da ação direta. Nós mostramos tantas informações novas sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão, expondo suas realidades, que foi possível contar o que realmente aconteceu a partir dos próprios atores que dela participaram, dos papéis oficiais. Os papéis jogaram luz sobre a vocação imperialista dos EUA no mundo e mostraram como eles operam em cada país, além das informações de má conduta que os próprios EUA encontraram nesses países.


Você vê relação entre os vazamentos do WikiLeaks e a Primavera Árabe e os movimentos “Occupy”?

É quase certo que, quando começamos a expor os papéis da Tunísia, por exemplo, isso foi como um catalisador que deixou as pessoas mais furiosas para fazer a transformação. Não queremos superestimar o papel do WikiLeaks, mas acredito que as pessoas ficaram mais dispostas após os vazamentos. Mas o real ponto de virada foi a autoimolação do jovem Mohamed na praça, que derrubou o Ben Ali em dez dias. Não quero exagerar, mas acredito que alguma dose de contribuição foi dada naqueles processos. Quando as pessoas derrubaram os ditadores na Tunísia e Egito, perceberam que podiam derrubar também os maiores ditadores de todos, os bancos, o capital financeiro, as grandes corporações, que na realidade causaram mais estragos do que qualquer praga. Não houve mudanças, mesmo com esse efeito devastador. Foram socorridos financeiramente, não houve regulação do sistema financeiro em lugar nenhum. Os movimentos “occupy” são grandes apoiadores do WikiLeaks, reconhecem-se de alguma forma como lugar de inspiração. Começaram pequenos e foram crescendo, e a expectativa é a de que haja mais impulso e ganhe um papel mais proeminente. Esperamos poder entregar ainda muito mais informação sobre as instituições financeiras, que em geral trazem muito segredo e muita corrupção, geralmente em graus próximos, proporcionais. Da mesma forma em que segredos de Estado são geralmente justificados para proteger as pessoas contra o terrorismo etc, no caso financeiro, os segredos dos bancos são considerados essenciais, mas na prática são uma forma de esconder as “falcatruas”.


Vocês trabalham com informações prontas ou há situações em que, a partir do vazamento de um documento, é preciso investigar mais, aprofundar a apuração? Apenas a exposição da informação é suficiente?

Fizemos isso seja por nossa própria conta ou via parceria com outros órgãos de mídia. Depende basicamente da natureza do material. No caso do vídeo do helicóptero, trouxemos mais informações internas e divulgamos as duas coisas ao mesmo tempo, o vídeo e as informações mais detalhadas. Claro que as informações do Iraque e do Afeganistão tornaram o WikiLeaks mais famoso, mas antes disso já vínhamos trabalhando informações sobre falcatruas em todas as partes do mundo, como o banco do Julius Baer na Suíça, a Igreja da Cientologia, o despejo de lixo tóxico na África, corrupção no governo queniano... Havia um largo escopo de informações que foram sendo reveladas aos poucos, e quando você as junta vê que não é uma agenda meramente antiestadunidense.


O trabalho do WikiLeaks mostrou a hipocrisia do discurso da liberdade de expressão e do direito à informação. Você diria que as garantias legais de liberdade de expressão nas democracias ocidentais são fracas?

Um dos aspectos psicológicos mais interessantes do trabalho é justamente expor essa hipocrisia. É hilário, por exemplo, comparar um discurso da Hillary Clinton, em janeiro de 2010, falando da importância da internet para informantes conseguirem vazar esquemas de corrupção na China, e alguns meses depois se deparar com a mesma exposição, mas de seu próprio governo. O tom mudou completamente. Expusemos também a hipocrisia na mídia corporativa; revelamos, por exemplo, quão suscetíveis são empresas como o New York Times e o The Guardian para uma cultura de autocensura e de cooperação com o governo. Esses são alguns efeitos colaterais da nossa atuação. No que se refere à legislação, é frustrante ver como, ao invés de se partir de um ponto extremo de que tudo deve ser livre, com algumas exceções muito bem definidas, quando se vai trabalhar no aspecto legal em relação à democratização da informação parte-se do contrário: o segredo é a regra, apenas algumas coisas devem ser públicas, o que fere a lógica do direito público ao acesso à informação. Há também a tendência, em grande parte dos governos ocidentais, de privatizar parte importante da esfera pública, jogando o que devia ser público para o privado e acabando com a liberdade de informação. Esse é um dos problemas que fazem a ideia da liberdade de informação menos efetiva.


Qual seria a grande mudança no WikiLeaks desde o início do trabalho? Aumentou a credibilidade ou o impacto, ou eles vêm juntos? O WikiLeaks pode, hoje, garantir que se houver uma informação ele vai divulgar e que, se divulgar, ela vai repercutir?

Nós publicamos informações que foram escondidas ou suprimidas e que são de relevância política, histórica, social ou econômica. Nós somos o refúgio dessas informações. Somos a agência de inteligência do povo. A CIA do povo.


De quanto o WikiLeaks precisa para continuar trabalhando?

3,2 milhões de dólares. Uma boa parte vai ser usada para promover batalhas legais contra as corporações financeiras que estão fazendo o bloqueio econômico ao WikiLeaks, como Visa, Mastercard, PayPal, Bank of America, Western Union... vamos destruir esses canalhas. Estamos falando de expor governos, mas, pela resposta que essas organizações financeiras deram ao nosso trabalho, fica claro a quem esses governos estão ligados. Visa, American Express, estão todos ao nosso redor, e mantêm a ideia de que não são políticos, de que funcionam para todos... Você pode dar seu dinheiro para a Ku Klux Klan com seu Visa, patrocinar zoofilia com seu Mastercard, pode bancar movimentos nazi da Europa, grupos de extrema direita, você pode comprar quase tudo, menos doar para o WikiLeaks.


WIKILEAKS
Carta de Alforria para Ex-Paranóicos Brasileiros
XVIII. WIKILEAKS: REVELAÇÕES DOS SEGREDOS DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS
por Edu Montesanti, 24 de maio de 2011


"Achar que os norte-americanos se sentam com nossa mídia todos os dias ao meio-dia para pautá-la, é uma paranóia comunista", sentenciou certa vez nosso professor de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, sr. Andrade, devido a reclamações de alunos especialmente à prática "jornalística" da Rede Globo - dentre tais críticos, estávamos os que, constantemente, reclamávamos da própria prática "jornalística" da faculdade, e das precárias condições dos materiais ali. Semanas antes, havíamos organizado dentro da instituição barulhento panelaço com apitaço e cornetaço, além de discursos protestantes em microfone nos idos de 2002.

Doce ironia do destino: "(...) O Estado de S. Paulo e O Globo, além da revista Veja, podem se dedicar a informar sobre os riscos que podem advir de se punir quem difame religiões, sobretudo entre a elite do país. Essa embaixada tem obtido significativo sucesso em implantar entrevistas encomendadas a jornalistas, com altos funcionários do governo dos EUA e intelectuais respeitados (...)", é uma das graves revelações WikiLeaks atualmente, através de telegrama secreto emitido pela Embaixada dos EUA conforme divulgamos nesta seção, em Brasil - Página 2, na tradução de telegrama secreto intitulado Plano de Washington: Constranger governo brasileiro usando a mídia, a fim de não votar na ONU a favor de punição internacional à difamação religiosa. Revelações que denunciam todo tipo de espionagem e conspiração dos norte-americanos em parceria direta com a mídia grande e altos escalões da politicagem brasileira, conforme temos feito ampla cobertura aqui no Blog, com traduções inéditas no Brasil.

WikiLeaks tem provado, através de cabos secretos de "embaixadores" dos Estados Unidos em todo o mundo (muitos deles, agentes da CIA travestidos de diplomatas), que por "democracia" dentro de um país o governo de Washington considera livre-mercado, a abertura das economias nacionais às empresas norte-americanas independente de haver efetivamente democracia na acepção do termo no Estado em questão: um governo democraticamente eleito que priorize justiça social e direitos humanos. Mesmo contrariando tudo isso, e sem apoio das sociedades locais, a Casa Branca exerce sua influência para que tal governo siga no poder. Por outro lado, se se contraria os interesses de Washington, ainda que dentro dos padrões democráticos, pacífico e bem sucedido em diversos pontos, inclusive econômico, sofre invariavelmente sabotagem, das mais diversas formas, da única superpotência mundial.

É isso que explica a omissão dos EUA, por exemplo, em relação à Arábia Saudita, maior aliada de Washington no Oriente Médio dentre os países árabes e país que mais fere os direitos humanos no mundo ao lado da China, enquanto, sob escusa de democracia e liberdade, invade a Líbia, o Iraque e pratica toda a sorte de sabotagem contra o governo venezuelano que, democraticamente eleito, amplamente apoiado pela massa elevando em muitas vezes os índices sociais, nacionalizou suas reservas petrolíferas e contrariou o Consenso de Washington (baseado justamente na abertura dos mercados nacionais sob os ditames dos EUA). Foi assim no golpe militar de 1964 no Brasil, é assim até hoje em toda a América Latina e em todo o mundo. Um Império agressivo, cruel, disposto a tudo em nome de seus interesses, valendo-se para isso dos mais sofisticados recursos.

Hipocrisia em excesso à parte, em 2008, antes da revelação desses mais de 250 mil telegramas-bomba apenas envolvendo os segredos de Estado dos Estados Unidos sob poder de WikiLeaks, o jornal A Nova Democracia já havia publicado reportagem, SNI Continua Sabotando o Povo (leia-a aqui no Blog, em Arquivo). A matéria mostra como a atual "Abin (Agência Brasileira de Inteligência) não passa de uma reedição do SNI, o Serviço Nacional de Informações, criado sob a supervisão da CIA em 1964 pelo gerenciamento militar, então recém instaurado no Brasil". O jornal ainda relata, baseado em fatos e testemunhos, que "hoje, os sucessivos casos de grampos ilegais que chegam ao conhecimento público — além das exorbitantes 407 mil autorizações judiciais para escutas telefônicas — nada mais são do que a ponta do iceberg. Valendo-se das atualizações tecnológicas, generalizou-se uma prática fascista do SNI da época dos milicos [militares] sob o nome de "sangrar linhas".

Tais grampos envolvem até mesmo, ou na verdade principalmente, conforme apontam dados provados na mencionada matéria de A Nova Democracia, pessoas mais comuns a fim de espioná-las e sabotá-las se for o caso, tais como ativistas por direitos humanos e militantes em geral que, de acordo com as classes dominantes apoiadas por agentes norte-americanos, representam "ameaça" a seus interesses.

Uma célebre evidência disso, foram as denúncias públicas de Heloísa Helena de que estava sendo "monitorada" através de grampos telefônicos (e quem praticava isso, fazia questão que ela soubesse que estava sendo vigiada), recebendo inclusive ameaça de morte quando expulsa do Partido dos Trabalhadores (PT), por votar contra seus ditames e manifestar-se contra casos de corrupção dentro do partido.

Conforme escrevemos em - Novo Terrorismo Made in USA na Argentina? - Não, o Mesmo de Sempre, Sir, na Terceira Página - Crônicas, os EUA criam problemas, para depois vender suas soluções e justificar intervenções em várias partes do mundo. Na América Latina, região mais rica do mundo em biodiversidade, e riquíssima em gás natural (Bolívia) e em petróleo (Venezuela e Brasil), é antigo o "interesse" dos norte-americanos: remonta fins do século XIX e princípios do XX, com a política do Big Stick (Grande Porrete) de Theodore Roosevelt, que definia sua "diplomacia" na América Latina através do provérbio africano "fale com suavidade, e tenha à mão um grande porrete".

Depois, veio a luta "anticomunista", na qual nossos "libertadores" derrubaram governos democraticamente eleitos e amplamente apoiados pelo povo, colocando em seus lugares ditaduras mais sangrentas que, seguindo fielmente os ditames de Washington, causaram o terror de Estado mais genocida desde as antigas colônias na América Latina. Paus-de-arara, choques elétricos, voos da morte através dos quais atiravam pessoas amarradas ao oceano, enfim, a luta ideológica reacionária, "incansável defensora" da "vida", da "boa religião", da "família", dos "bons princípios", da "democracia" enfim, da "liberdade!", não encontrou limites em sua luta por "libertação" dos países latino-americanos do "grande mal comunista". A Guerra Fria - que levava em seu bojo a retórica de Luta do Bem contra o Mal principalmente por parte dos EUA, que se colocavam como salvadores da humanidade - deixou o saldo mais sangrento da história da humanidade, e inúmeras nações divididas e em feroz guerra civil até hoje.

Vale registrar que, para compor tal histérico Eixo do Mal, versão Guerra Fria, bastava que governantes e/ou civis clamassem por nacionalismo, aumentos salariais, direitos humanos e reforma agrária - pelo que, na verdade, os próprios Estados Unidos sempre lutaram em sua história interna, haja vista que a seguridade social e própria questão agrária do país, embora em grande queda nas últimas décadas, estão muito mais consolidadas que no Brasil e em toda a América Latina.

Confiscaram a Bandeira do Japão, Pensando que Fosse a da China: "Na invasão da Universidade de Brasília, militares confiscaram como indícios de subversão comunista: O Vermelho e o Negro, romance do escritor francês Stendhal (1783 - 1842); a revista de arquitetura Comunitas; e maior prova de comunização apresentada à imprensa, uma bandeira da China que encontraram hasteada na Faculdade de Educação - só que era do Japão, em homenagem a crianças japonesas que ali expunham gravuras."

Bíblia Subversiva: "'O golpe sai vencedor. Autoridades organizam em Porto Alegre uma exposição com material dito subversivo, apreendido em casas de esquerdistas e militantes em geral. Lá está um livro, bem antigo, e ao lado a legenda: 'Livro Subversivo', em chinês'. Era uma Bíblia, em hebraico."

Citado em Golpes Militares na América Latina - Brasil, aqui no Blog, esses foram alguns dos grandes feitos reacionários brasileiros em sua "sábia luta anticomunista por democracia", a qual servia de justificativa para praticar justamente o que, na teoria, mais condenavam: oposição às instituições democráticas e à soberania de um país, bem como as mais crueis práticas de terrorismo.

E para se ter ideia da importância que os EUA sempre deram ao papel do Brasil no continente, vale repetir as palavras do ex-presidente norte-americano Richard Nixon (1969-1974), conforme reportamos em Golpes Militares na América Latina - Brasil: "Para o lado que pendesse o Brasil (alinhamento aos EUA, à ex-União Soviética ou a terceira via, de não-alinhamento a nenhum dos lados na época da Guerra Fria), para lá seguiria toda a América Latina".

Desde a queda do Muro de Berlim em 1989 e do desmoronamento da ex-União Soviética dois anos mais tarde, a ocupação "anticomunista" na América Latina, como em todo o mundo, tem sido substituída pelo "combate ao terrorismo" (Colômbia, Equador, Venezuela e Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai), e "contra as drogas" (sendo que exatamente a sociedade norte-americana, é a maior consumidora de drogas em todo o mundo), instalando bases militares em toda a região, especialmente na Colômbia. Em tudo isso, está de volta ao mundo a retórica puritana e salvadora dos EUA da época da Guerra Fria, para cuja prática redentora é imprescindível a ampliação de seu poderio militar bem como de sua intervenção nos mais remotos rincões do planeta, colocando em descrédito os direitos humanos e a autodeterminação dos povos (e assim como nos tempos de Guerra Fria, quem não aceita essa "verdade" made in USA é considerado herege, inimigo da moral e de Deus que deve ser revelado e combatido a todo custo, de todas as maneiras).

Para tanto, no Brasil a alta elite, a mídia grande e altos os escalões da política são históricos porta-vozes e agentes muitas vezes diretos dos interesses de Washington. Outro mecanismo de dominação da única superpotência mundial no país, são diversas ONGs e até igrejas ditas cristãs, conforme observa o doutor em Ciências Políticas e professor de História da Universidade de Brasília, sr. Luiz Alberto Moniz Bandeira:

"A operação para eventualmente intervir no Brasil começou, por volta de 1961. O Departamento de Estado, naquele ano, começara a solicitar ao Itamaraty vistos para cidadãos americanos, que entravam no Brasil sob os mais diferentes disfarces (religiosos, jornalistas, comerciantes, Peace Corps etc), dirigindo-se a maioria para as regiões do Nordeste. Em meados de 1962, da tribuna da Câmara Federal, o deputado José Joffily, do partido Social-Democrático (PSD), denunciou a “penetration” e, no princípio de 1963, o jornalista José Frejat, através de O Semanário, revelou que mais de 5.000 militares norte-americanos, “fantasiados de civis”, desenvolviam, no Nordeste, intenso trabalho de espionagem e desagregação do Brasil, para dividir o território nacional. Se a guerra civil eclodisse, segundo ele, a esquadra do Caribe estaria pronta para apoiar as atividades dos supostos civis americanos, com armas e tropas.

"Comprovadamente, até 1963, o Itamaraty concedera mais de 4.000 vistos e recebera solicitação para mais 3.000, cujo atendimento os militares nacionalistas brasileiros obstaram. Esse volumoso número de requerimentos. causara tanta estranheza que levou o Itamaraty, certa vez, a interpelar o embaixador Gordon. A resposta foi evasiva. Ele declarou que apenas 2.000 americanos utilizaram efetivamente os vistos, sendo que os demais ficariam como reservas. Não era verdade. Mentiu. Cerca de 4.968 norte-americanos, conforme as estatísticas oficiais de desembarque, chegaram ao Brasil, apenas em 1962, batendo todos os recordes de imigração originária dos EUA e superando quase todos os números registrados durante os anos da Segunda Guerra Mundial, quando eles instalaram, oficialmente, bases militares em diversos estados do Nordeste. Aquele número baixou, em 1963, para 2.463, talvez em virtude de restrições do Itamaraty, mas, ainda assim, continuou acima da média de entradas de norte-americanos em todos os anos anteriores e posteriores".

No caso específico da importância que Washington dá às igrejas, a fim de cumprir seus almejos imperialistas e até espionagem (as igrejas podem manobrar eficientemente grandes massas) é importante notar trecho da revelação WikiLeaks mencionado na tradução de telegrama secreto intitulado Plano de Washington: Constranger governo brasileiro usando a mídia, a fim de não votar na ONU a favor de punição internacional à difamação religiosa, cuja trdaução pode ser lida, na íntegra, em Brasil - Página 2 sob o título Plano de Washington: Constranger governo brasileiro usando a mídia a fim de não votar na ONU a favor de punição internacional à difamação religiosa: "Aumentar a atividade pela mídia e o alcance das comunidades religiosas parceiras (...). Essa campanha [de manipulação midiática] também deve ser orientada às comunidades religiosas, que parecem ter influência sobre o governo do Brasil (...)".

Outro telegrama secreto liberado recentemente é, igualmente, bastante revelador neste sentido, conforme mostram dois artigos na seção Estados Unidos sob os títulos, EUA Tem Interesse em Manter Relações com Vaticano, e Novos Documentos WikiLeaks Mostram EUA Pressionando Vaticano sobre Iraque, e OGM's.

Ao longo da história, políticos e líderes mais inescrupulosos em geral, paradoxalmente, apoiam-se na Bíblia e incentivam às pessoas que frequentem igrejas, a fim de cumprir seus almejos escusos(leia artigo O Cristianismo de Sonhos, Igualdade e Poderosa Transformação do Ser Humano, como Ferramenta de Alienação e Arma para Corruptos Inescrupulosos, aqui no Blog).

A Internet, na qual a norte-americana Google literal e nocivamente "manda", tem o monopólio e absoluto controle de tudo, em seu sentido mais amplo, está totalmente vigiada - e WikiLeaks também revelou algo muito semelhante: "Fundador do WikiLeaks Diz que Facebook é uma Máquina de Espionagem", em Estados Unidos, embora haja tantas evidências, que nem era fundamentalmente necessário tal revelação WikiLeaks, para que tivéssemos plena consciência disso.

Tal revelação explica porque tantos blogs, especialmente os da própria Google (Blogspot) são sumariamente removidos sem nenhum prévio aviso em todo o mundo, conforme ocorrido conosco mesmo no blog que criamos em prol da ativista por direitos humanos, a afegã Malalaï Joya, e ocorrido mais recentemente com O Grito do Bicho, também do Blogspot da Google, em prol dos animais que relata, entre outras coisas, crueldade praticadas por algumas grandes empresas e pela ciência contra os animais.

Além de ameaça de morte que recebemos através de correio eletrônico (*) anos atrás, o que virou caso de Polícia, hackers ainda escreveram-nos a partir de contas de alguns de nossos contatos, dizendo que mesmo que trocássemos de conta nos encontrariam. Posteriormente, enquanto houve algumas pessoas afirmando ter enviado mensagens as quais nunca recebemos, e vice-versa (não entendíamos o que estava acontecendo), uma amiga nos comunicou que, de nossa conta e em nosso nome, escreveram-na mensagens sexuais de maneira bastante sutil, e também ficamos sabemos, através de funcionário da empresa envolvida, que um chamado profissional a nós foi enviado sem que nunca pudéssemos tê-lo lido e respondido - suspeitamos serissimamente de que outros também foram apagados -. Ao mesmo tempo, tivemos o telefone grampeado e nossas conversas eram reproduzidas pelos que faziam isso, a fim de nos intimidar.

Em relação às universidades brasileiras, o jornal A Nova Democracia publicou reportagem Invasão do Capital Estrangeiro no Ensino Superior, e vale registrar alguns argumentos e fatos aqui:

"Desde 2004 o imperialismo tem despejado uma torrente de dólares e euros na educação brasileira de nível superior. O objetivo não é ampliar nem atualizar conteúdos, especializar professores, equipar laboratórios e hospitais-escola. Pretende-se, na verdade, aprofundar o processo de transformação da educação em mercadoria para obter lucro máximo, seja com a venda de cigarros na cantina, o ensino à distância para tropas no Haiti, ou a coleta dos recursos do Pro Uni, criado para não universalizar o ensino público gratuito.

"(...) Em 18 de outubro do ano passado, 3.875 prepostos do capital financeiro internacional completaram uma injeção de 412,5 milhões de dólares para assumir 80% do SEB (Sistema Educacional Brasileiro S. A.). Com US$ 478.773.750,00, cerca de 12 mil estrangeiros assumiram 70% do controle da Kroton, criadora da rede Pitágoras e, com US$ 446.940.000,00 ficaram com 64% da Estácio de Sá, num negócio para o qual cada aluno foi "avaliado" em R$ 10.800.

"Em 12 de março do ano passado, 14.651 investidores estrangeiros desembolsaram 512,5 milhões de dólares, para abocanhar 76% do capital da Anhanguera Educacional, complexo de ensino que possui 51 unidades distribuídas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, congregando 140 mil alunos, rendendo cada um 18,8 mil dólares (...)".

Isso vai de encontro ao que também observa o professor Moniz Bandeira: "As operações de guerra psicológica implicam propaganda e divulgação, ou seja, campanha através da media, junto às diversas organizações estudantis, sindicatos, outros grupos profissionais e culturais, bem como junto aos partidos políticos, sem que a procedência das informações possa ser atribuída ao governo americano.

"Ela é efetivada, muitas vezes, por agentes da CIA, estacionados na Embaixada Americana como diplomatas, ou homens de negócios, estudantes ou aposentados, enquanto as operações paramilitares consistem na infiltração em áreas proibidas, sabotagem, guerra econômica, apoio aéreo e marítimo, financiamentos de candidatos nas eleições, suborno, assassinatos (...)", aponta o professor.

E isso tudo também pode, muito bem, explicar a irritada colocação do nosso professor-jornalista, sr. Andrade.

Em toda nossa cobertura sobre os telegramas secretos liberados por WikiLeaks, pode-se constatar as mais diversas técnicas de espionagem, sabotagem, conspirações, manipulações e boicotes por parte de "embaixadores" dos EUA - como observa o professor Moniz Bandeira, e conforme fica claro através deste trabalho juntando tudo isso à própria história, agentes da CIA executando serviços de "diplomacia". Vale atentar, em Brasil - Página 1 (mais abaixo) e Página 2, às reuniões de políticos dos partidos dominantes brasileiros com tais "embaixadores, e o caráter espião e totalmente conspiratório desses encontros, a cujo serviço nossos políticos de todos os grandes partidos se rendem, nada patrioticamente.

Enquanto no Equador, na Bolívia, Argentina e Venezuela, entre outros países, a espionagem e as mais diversas conspirações se deram através de reuniões de embaixadores-agentes da CIA com grandes empresários e determinados setores da mídia, aqui no Brasil tudo isso foi além: envolveu políticos dos grandes partidos, inclusive o governista PT que, historicamente, adota ressonante discurso anti-imperialista e tal fato é, no mínimo, tão preocupante quanto os próprios embaixadores-espiões agindo livremente no país.

Em 2010, o embaixador norteamericano envolvido nas revelações WikiLeaks foi sumariamente expulso do Equador, em 2008 outro havia sido expulso da Bolívia por sabotar o governo de Evo Morales e conspirar seu assassinato, e dias depois a Venezuela fez o mesmo ao passo que em 2010 o então presidente Lula, quando perguntado por jornalistas sobre WikiLeaks, desconversou: "Se fossem telegramas importantes, não teriam sido revelados". O povo brasileiro, agora de maneira absolutamente inconteste, convive com cobras em seu quintal.

As justificativas mudaram, os métodos também, mas não a agressividade imperialista: hoje, em tempos que já não sopram mais os "ventos comunistas" e vivemos relativa democracia no Brasil, os atos de terror não se dão mais em paus-de-arara nem nas cadeiras elétricas (não tanto quanto antes, mas ainda se pratica deliberadamente tortura em certas regiões do Brasil, conforme reportamos em Saneamento Público - Onde Jogar Tanto Lixo Humano?, aqui no Blog), mas, geralmente, através de tortura psicológica e até "financeira", isto é, "queimando" profissionais no mercado (um de nossos professores de História da Diplomacia divergiu da faculdade de Relações Internacionais da Universidade Americana - bastante poderosa, o nome já diz tudo - pedindo demissão. Um dos funcionários da reitoria confidenciou-nos, diretamente a nós: "Ele não trabalha mais..."). Não raramente, conhecemos pessoas de diversos países (geralmente jornalistas, ativistas por direitos humanos e militantes em geral) que testemunham sofrer esse tipo de cerco. E tendo em vista a atual e já longa crise por que os EUA atravessam, tal agressividade tende a ser cada vez mais acentuada.

Muitos anos atrás, uma pessoa deveria ser bastante bem informada para saber que em meio à sociedade acontece esse tipo de coisa, ou era necessário que sofresse na pele tudo isso; e quem dizia que isso ocorria era, geralmente, tido como louco, paranóico por pessoas menos atualizadas e especialmente pelos mais reacionários.

Hoje, em tempos de Internet e de WikiLeaks, a máscara do Império, definitivamente, caiu. Mas os norte-americanos e seus afilhados brasileiros, que comem suas migalhas, ainda tentarão de tudo, inclusive usar argumentos mais bestas e sem sentido, fazendo verdadeira lavagem cerebral distorcendo a realidade dos fatos, como sempre fizeram, a fim de desqualificar toda e qualquer oposição. E a secreta guerra suja praticada por eles, amplamente apresentada a partir das próximas linhas, não vai parar por aí...

Enfim, por que somos 99% de indivíduos, das mais diferentes classes e pensamentos, lutando contra o 1% dono do poder ao longo dos séculos sem que o sistema, em sua essência, seja mudado em absolutamente nada, pelo contrário, siga fechado e servindo aos privilégios dessa ínfima minoria a que pese tanto sangue derramado e vidas perdidas? A resposta para essa inevitável pergunta está nestas páginas, claramente, inclusive na nota mais abaixo que retrata a mais baixa retaliação e covarde agressão que inúmeras pessoas ao redor do mundo têm sofrido. A cadeia dos poucos donos do poder está muito bem estruturada, e não admite oposição.

Nunca havíamos colocado exatamente isso na faculdade, mas realmente, professor, eles literalmente se sentam com nossa mídia para conspirar. O senhor já sabia? Como?

A democracia [para a política mundial dominante] é um luxo que nem todos merecem
Eduardo Galeano

Democracia é necessidade básica, nata aspiração humana em seu anseio por liberdade, o que as novas gerações "exigem" apoiadas também nas novas tecnologias que, entre outros benefícios, estão crescentemente evidenciando a essência do sistema mundial
Edu Montesanti


(*) Sobre as constantes invasões a nossas contas de correio eletrônico, dia 3 de junho de 2011 edumontesanti@web.de foi desativada pela própria Web.de, de maneira emergencial de acordo com o relato abaixo (traduzido do alemão). Observação importante é que nesta conta em que, conforme observamos no artigo acima, sofremos ameaça de morte e da qual foram apagadas mensagens profissionais, foram apagados artigos arquivados além de um de nossos contatos, do sexo feminino, ter denunciado o recebimento de mensagens sexualmente ofensivas em nosso nome (ao que notou não ser nossas mensagens, mas tratar-se de invasão comunicando-nos em seguida o ocorrido, pelo que fizemos boletim policial - maiores detalhes, mais abaixo), estavam armazenados importantes registros de nossos contatos com Malalaï Joya do Afeganistão, arquivos de suma importância tais como seus contatos com o jornal brasileiro O Tempo (leia o artigo Por Trás das Cortinas do Jornalismo Internacional: Entrevista do Afeganistão Distorcida - Apresentamos a Original) revelando o jogo sujo da mídia brasileira, em grande parte perdidos (a solicitamos o envio disso tudo a outra conta criada, o que ela fez parcialmente já que tampouco os possuía na íntegra):

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Recebida diversas vezes no segundo semestre de 2011 após tentarmos, em vão, enviar mensagens de nova conta, recentemente aberta na Yahoo até que, finalmente, ficamos totalmente impossibilitados de enviar qualquer mensagem:

Sua mensagem não foi enviada.
Foi detectada uma atividade suspeita em sua conta.
Para proteger sua conta e nossos usuários, sua mensagem não foi enviada.


Mensagem de Hotmail em dezembro de 2011, quando tentávamos acessar uma outra conta:

Sua conta foi bloqueada

Por que você está vendo isso?

Alguém pode ter usado sua conta para enviar uma grande quantidade de lixo eletrônico (ou outro item que viole os Termos de Serviço do Windows Live).

Estamos aqui para ajudá-lo a reaver a sua conta.

O que você precisa fazer?

Você será orientado em algumas etapas para verificar a propriedade da conta e alterar a senha, caso outra pessoa também esteja acessando a sua conta. Bastam alguns minutos e você será desbloqueado.

Limpamos as configurações da sua conta

Em geral, os clientes chegam aqui porque outra pessoa obteve acesso à conta deles e ela está sendo usada, sem que saibam, para enviar spam. Para que você e seus contatos sejam protegidos, removemos todas as respostas automáticas ou contas vinculadas que você já teve.

Em 16 de setembro de 2012 tentamos acessar novamente essa conta, sem sucesso, ao que recebemos como resposta de Hotmail:

Parece que outra pessoa está usando sua conta
Para ajudar você a retornar ao edu.goldoni@hotmail.com, nós precisamos verificar se é sua.


A mensagem acima foi novamente recebida em 19 de junho de 2012 em outra conta criada, definitivamente bloqueada por Hotmail


Em 14 de junho do mesmo ano, nova conta recentemente criada para o lançamento do livro
Mentiras e Crimes da "Guerra ao Terror", foi igualmente bloqueada recebendo esta mensagem:

Detectamos uma atividade incomum na sua conta do Hotmail. Para ajudar a proteger você e todos os
outros usuários, sua conta foi temporariamente bloqueada. Para desbloqueá-la, verifique a sua conta.


6 de janeiro de 2013, na tentativa frustrada de acessar outra conta criada a menos de duas semanas na Yahoo, exibida esta mensagem:

Lamentamos por você não conseguir acessar o email alternativo ou número de celular fornecido para sua conta. Deseja tentar outro email ou número de celular?

Retorne em 07 de janeiro de 2013, após às 15:05, quando será possível redefinir sua senha usando a pergunta secreta escolhida para sua conta.

Por que tenho que esperar?

Bloqueamos essa opção para sua proteção, pois acreditamos que alguém pode ter acessado sua conta sem a sua autorização. Entre em contato com o Atendimento ao cliente.

Contatar o atendimento ao usuário


Neste mesmo dia, foi tentado entrar em duas contas criadas no ano anterior na Bol, ambas impossibilitadas, com senhas trocadas.


Desta maneira, neste mesmo 6 de janeiro à tarde, criamos outra conta na Bol, da qual contactamos algumas pessoas. À noite, a conta já
possuía senha também modificada, e por fim a Bol informou que investigaria o ocorrido, em ambos os casos com a seguinte mensagem:


Central de Ajuda BOL

Foi excedido o número de tentativas de acesso vindas do endereço IP: (...) do seu computador ou rede em Sun Jan 06 22:05:39 BRST 2013. Estas tentativas foram registradas para a segurança dos usuários do UOL.

O UOL pode usar estas informações para localizar e tomar todas as medidas legais cabíveis, para resguardar a privacidade de seus usuários.


2 de julho de 2011, ocorrido com o jornalista Jorge Kajuru:

CANALHAS DA INTERNET! ME DEIXEM EM PAZ! ESCLARECIMENTO IMPORTANTE:

Postado em 02/07/2011 por tvkajuru

ESTOU DESESPERADO! ACABO DE SABER QUE ALGUM CANALHA DESCOBRIU A SENHA DO MEU FACEBOOK E ESTÁ MANDANDO MENSAGENS PORNOGRÁFICAS E ABSURDAS, COINCIDENTEMENTE PARA MINHAS AMIGAS.

CASO VOCÊ TENHA RECEBIDO ALGUMA, JAMAIS CREIA, PELO AMOR DE DEUS, QUE TENHA PARTIDO DE MIM. ESTOU REVOLTADO E JÁ MUDEI A SENHA. ESSAS COISAS DE INTERNET, COMO HACKER E OUTROS BANDIDOS, ME DESANIMAM CONTINUAR USANDO ESSAS FERRAMENTAS.


A partir de fins de 2003, o que já virou caso de polícia, não apenas nossas contas de correio eletrônico passaram a ser invadidas, como também, segundo relatos de contatos confirmando nossas impressões, importantes mensagens enviadas à nossa conta estavam sendo apagadas, e mais: eram escritas mensagens em nosso nome, a partir de nossa própria conta conforme uma amiga, a Geanne da Igreja Assembleia de Deus de São Paulo comunicou, no segundo semestre de 2004- quando já estava evidente que algo do tipo estava ocorrendo -, ter recebido diversas sexualmente inconvenientes e até criminosas, cujo mensageiro se passava por nós de maneira muito sutil, primeiro convencendo a pessoa de que éramos nós escrevendo para depois, gradativamente entre muita "simpatia" e até humanitarismo, o tal "Edu Montesanti" ser totalmente inconveniente e ofensivo. A amiga Geanne, em dado momento, teve certeza do que se tratava: o mensageiro não era quem se dizia ser... Quando ainda estava meio em dúvida, contou-nos ter exortado o "Edu Montesanti": - Por que você escreve essas coisas, Edu? -, ao que foi respondida: - Mas eu sou de Jesus!

Essa revelação, que veio na mesma época em que uma empresa lamentou, tarde demais, ter enviado chamado profissional à mesma conta, ao qual nunca tivemos acesso, trouxe à luz muita coisa fazendo-nos entender diversas situações desagradáveis: a razão de pessoas recém-conhecidas com quem trocávamos endereços de correio eletrônico, especialmente do sexo feminino nos diversos lugares que frequentávamos, nos próximos encontros manifestavam silencioso incômodo e até aversão em relação a nós acabando por se afastar, em outros casos nem sequer nos atendiam em ligações telefônicas ou atendiam de maneira áspera ao que não entendíamos o porquê, além das intrigantes mensagens profissionais às quais nunca tivemos acesso. Depois disso, muitas outras mensagens seriam enviadas, segundo terceiros, as quais jamais pudemos ler e responder.

Em julho e agosto de 2004, antes do comunicado da amiga Geanne, escrevíamos para o Boletim On-Line (jornalístico) da empresa HS Contábil, de propriedade do sr. Humberto Batella. Diversas vezes ele nos enviava nosso artigo publicado junto de outras colunas, e na maioria das vezes não chegava causando muita estranheza no próprio sr. Humberto. Foi nesta mesma época que os artigos arquivados mencionados mais acima foram apagados da conta Web.de. As coisas estavam ficando muito claras, até que vieram as denúncias da Geanne e tudo saiu da subjetividade - ainda assim, situação e assunto extremamente delicados de serem tratados, obviamente.


É desta maneira, por tudo isso confirmando impressões, posteriormente declarações de contatos e agora as revelações WikiLeaks, que, há um bom tempo, Edu Montesanti já não está mais nas redes sociais, nem mantém nenhum endereço de correio eletrônico, após anos de trocas de senhas, até dos próprios endereços e, conforme informado mais acima, bloqueios das próprias Web, Hotmail e Yahoo alegando invasões, coincidindo totalmente com o dito por parte de nossos contatos, com o que milhões de pessoas têm passado em todas as partes do mundo, em maior ou menor grau dependendo de cada caso, e coincidindo, igualmente, com as diversas revelações WikiLeaks, documentais como sempre, às quais a mídia gorda não dá espaço mas, de nossa parte, estendemos o tapete vermelho a elas nestas quatro páginas com traduções exclusivas do Blog de documentos, secretos e sujos, emitidos pelas embaixadas dos EUA mundo afora. Sobre toda essa invasão virtual abordada, leia mais abaixo: "Governos Fazem Espionagem em Massa de Celulares e Computadores". Além de "WikiLeaks Diz que Facebook é uma Máquina de Espionagem", na página Estados Unidos, e "SNI Continua Sabotando o Povo", em Arquivo - Os Noticiários Mundiais - Página 2, ambos os materiais abordados em nosso artigo acima. Leia também reportagem do jornal Correio do Brasil do Rio de Janeiro, de 5 de abril de 2012: Perillo [governador de Goiás-PSDB] contrata hackers para bloquear oposição nas redes sociais, denunciam ativistas.


WikiLeaks Publica Telegramas Confidenciais das Embaixadas Americanas

28.11.2010 / Fonte: Wikileaks.ch


A partir do dia 28 de novembro de 2010, WikiLeaks começou a publicar 251.287 telegramas de embaixadas americanas pelo mundo - o maior vazamento de documentos confidenciais da história.

Para a organização, os documentos vão permitir que pessoas de todo o mundo conheçam a fundo como funcionam as atividades americanas no exterior.

Os telegramas, que cobrem desde 1966 até o final de fevereiro de 2010, contêm informações confidenciais enviadas por 274 embaixadas em diversos países e pelo Departamento de Estado em Washington para essas embaixadas.

Do total, 15.652 são classificados como secretos.

"Os telegramas mostram os EUA espionando seus aliados e a ONU; ignorando a corrupção e abusos de direitos humanos em Estados 'serviçais'; negociando a portas fechadas com Estados supostamente neutros e fazendo lobby em prol das corporações americanas”, diz o porta-voz da organização, Julian Assange.

No caso brasileiro, o WikiLeaks obteve 1.947 documentos enviados pela embaixada em Brasília entre 1989 e 2010. Desses, 54 são classificados como secretos e 409 como confidenciais.

O ano de 2009 foi o recordista em telegramas: foram 348, quase um por dia. Em 2010, foram 59 comunicados de janeiro a fevereiro apenas.

Além deles há 12 do consulado de Recife, 119 do Rio de Janeiro e 778 de São Paulo.

Eles revelam como os diplomatas americanos realmente vêem o Brasil à medida que o país busca reconhecimento internacional – nem sempre com bons olhos – e como a embaixada faz lobby pelos interesses dos EUA, desde petróleo até a venda de equipamentos militares.

Também relatam encontros com autoridades, membros do governo e da oposição, jornalistas e diplomatas de outros países. Revelam como os diplomatas americanos narraram alguns dos acontecimentos políticos e econômicos mais importantes dos últimos sete anos. E como os EUA continuam buscando influenciar a política nacional, mesmo na era Obama, fazendo lobby contra governos vizinhos.

Entre outras coisas, os documentos mostram que os EUA trabalham proximamente ao Brasil em operações de contraterrorismo, e que vêem buscando um papel maior em termos de segurança e combate às drogas.

"A publicação desses documentos revela a contradição entre a persona pública dos EUA e o que a potência faz por debaixo dos panos. E também provam que, se os cidadãos querem que seus governos ajam de acordo com as suas aspirações, devem exigir explicações sobre o que acontece às escondidas".

"Toda criança americana aprende que George Washington, o primeiro presidente dos EUA, não conseguia mentir. Se as administrações atuais seguissem o mesmo princípio, o vazamento de hoje seria apenas um pequeno vexame" diz Julian Assange. "Em vez disso, os EUA têm alertado governos ao redor do mundo - até mesmo os mais corruptos - sobre a publicação de hoje e se armando para a exposição que fatalmente irão enfrentar".

Diferentemente dos outros lançamentos do WikiLeaks, nas quais uma grande quantidade de documentos foi publicada de uma vez, a organização vai lançar os arquivos das embaixadas ao longo das próximas semanas.

"Os telegramas da embaixada vão ser lançados em etapas. Consideramos que o tema é tão importante e o alcance geográfico tão amplo, que se publicássemos tudo de uma vez não estaríamos fazendo justiça a esse material”.

"Devemos, a quem nos confiou o material, garantir o tempo necessário para que ele seja noticiado, comentado e discutido amplamente - o que seria impossível se centenas de milhares de documentos fossem publicados de uma só vez".

"Enquanto os documentos mostram cinismo e abuso diplomáticos chocantes, o fato desse material ter vazado prova que existem pessoas boas e corajosas dentro do governo que acreditam em transparência e em uma política exterior mais ética”, afirma Julian. “Essas pessoas estão buscando reformar as instituições para as quais trabalham. O lançamento de hoje mostra que elas também têm poder. Mas é a resposta do mundo a esses documentos que vai determinar se a sua publicação levará a uma mudança".

“Assim, nas próximas semanas vamos poder julgar o clima político em dezenas de países através da maneira como eles respondem. Será que vão se empenhar numa campanha para desviar as atenções ou será que vão fazer uma campanha para mudar a maneira como as coisas são feitas?”

Os telegramas, em números:

No total, são 251.288 documentos, ou 261.276.536 de palavras (sete vezes mais do que nos arquivos secretos sobre o Iraque).

Uma pessoa lendo com atenção levaria 70 anos para ler todos os arquivos.

Os telegramas são de 1966 até o final de fevereiro de 2010 e são provenientes de 274 embaixadas, representações e consulados.

Os principais assuntos são:

Relações internacionais – 145.451; Assuntos internos dos governos – 122.896; Direitos humanos – 55.211; Condições econômicas – 49.044; Terroristas e terrorismo – 28.801; O Conselho de Segurança da ONU – 6.532.

O Iraque é o país mais discutido – 15.365 telegramas (desses, 6.677 foram enviados do Iraque)

A embaixada de Ancara, na Turquia, foi a que mais enviou telegramas – 7.918

8.017 telegramas foram enviados pelo Departamento de Estado.

15.652 telegramas são secretos, 101.748 são confidenciais e 133,887 não são classificados.

Telegramas enviados pela embaixada dos EUA em Brasília -

Total: 1.947 54 secretos 409 confidenciais.

Por ano: 1989 - 1; 2002 - 1; 2003 - 45; 2004 - 196; 2005 - 306;
2006 - 391; 2007 - 321; 2008 - 279; 2009 - 38; 2010 - 59.

Consulado no Recife - 12; Consulado no Rio de Janeiro - 119; Consulados em São Paulo - 777

Total do Brasil: 2855


Confira lista do que já publicou WikiLeaks, clique aqui


www.edumontesanti.skyrock.com
quem poderia ter lhe contado?

#Posté le mercredi 09 mars 2011 19:41

Modifié le mardi 09 février 2021 05:26

XVIII. WIKILEAKS - Brasil


XVIII. WIKILEAKS - BrasilTradução de telegrama secreto enviado pela Staffor, empresa de Inteligência dos EUA
Traduzido ao português com exclusividade pelo Blog
Político brasileiro, cujo nome não é mencionado, revela que presidente Lula recebeu propina
Na comprar do caça francês Rafale. Ainda suspeita que se deu o mesmo na aquisição de
Submarinos franceses. Afirma ainda que "o Brasil é um país incrivelmente corrupto", e que
"A Marinha do Brasil é uma merda". Revela práticas de suborno envolvendo negócios da
França com o Paquistão, que resultou na morte de engenheiros franceses


18.10.2010 / Fonte: WikiLeaks

Tradução de Edu Montesanti


Segunda-feira, 27 fevereiro de 2012, WikiLeaks começou a publicar arquivos de Inteligência globais, mais de cinco milhões de correios eletrônicos do Texas, sede da empresa Stratfor de Inteligência global. Os correios eletrônicos datam de julho de 2004 a fins de dezembro de 2011. Revelam o funcionamento interno da empresa que está na vanguarda como produtora de inteligência, fornece serviços de inteligência confidenciais de grandes corporações tais como Dow Chemical Co., Bhopal, Lockheed Martin, Northrop Grumman, Raytheon e agências governamentais incluindo o Departamento de Segurança Interna dos EUA , fuzileiros navais dos EUA e Agência de Inteligência da Defesa dos EUA. Os correios eletrônicos mostram a rede de informantes da Stratfor, a estrutura de suborno, as técnicas de lavagem de dinheiro e métodos psicológicos.

Para ter acesso à lista de telegramas secretos envolvendo esta empresa de Inteligência sediada no Texas, Estados Unidos, clique aqui

Leia este trecho de um telegrama liberado por WikiLeaks:

Você deve tomar o controle dele. Controle significa o financeiro, sexual ou psicológico... A intenção é começar a nossa conversa sobre a próxima fase". - George Friedman para o analista da Stratfor, Reva Bhalla, em 6 de dezembro de 2011 sobre como explorar uma informante da inteligência israelense, que dispõe de informações sobre a condição médica do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.


Abaixo, a tradução do telegrama secreto emitido pela Staffor sobre Marinha brasileira, e aquisição de caça e submarino pelo governo Lula


"A Marinha do Brasil é uma merda. Eles estão olhando para o Rafale que é superfaturado [governo Lula], mesmo com cortes de preços,
e ao Gripen que é simplesmente uma merda. Você compra o Gripen se é trouxa. (...) O Brasil é um país incrivelmente corrupto"


Re: INSIGHT - BRASIL - Sobre compras militares

E-mail ID-971109

Data 2010/10/18 17:14:03

De hughes@stratfor.com

Para marko.papic@stratfor.com, secure@stratfor.com

Houve um longo artigo da Economist recentemente sobre como uma industrial gigante alemã (talvez a Siemens) havia realmente mudado suas atitudes após anos de práticas corruptas. Uma coisa é torná-la ilegal, outra é realmente uma casa limpa e acabar com as práticas. Assim, os franceses podem estar, além disso, por trás deste último - e também, eles estão ficando desesperados com o Rafale, já que, por fim, eles terão que começar a desligar a linha...

Em 18/10/2010 11:08, Marko Papic escreveu:

PUBLICAÇÃO: Se necessário
FONTE: US505
ATRIBUIÇÃO: Autoridades norte-americanas no Brasil
DESCRIÇÃO DA FONTE: FSO estacionado no Rio, responsável pela cooperação econômica
FONTE: Confiável: A
CREDIBILIDADE DO ITEM:
DISTRIBUIÇÃO: Segura
MANUSEIO ESPECIAL: Marko

Questionado sobre uma boa fonte de minério no Rio, o que ele pensava sobre nossa interna discussão sobre o Brasil e as suas compras militares. Esta foi uma conversa por telefone de domingo, por isso trago à memória grande parte disso. Esta foi sua resposta:

Você está correto em estar se perguntando o que, em nome de Deus, estão fazendo em Brasília. Olha, a Marinha do Brasil é uma merda. É uma piada, e eu sei porque falo com nossos militares no consulado o tempo todo sobre isso. Que eles foram aos submarinos nucleares, não faz sentido. Na verdade, a realidade é que eles querem [sic] que o Rafale e Gripen são uma brincadeira também [quem escreveu "querem" provavelmente quis dizer "acham"]. O F-18 é a melhor peça de carga pesada. Nós até lhes demos o máximo de transferência de tecnologia que não damos a ninguém. Literalmente, demo-lhes um pacote que dizia: "você tem tudo, silêncio em relação ao negócio com Israel". É um grande negócio, e qualquer um gostaria de participar dele. Em vez disso, eles estão olhando para o Rafale que é superfaturado, mesmo com cortes de preços, e ao Gripen que é simplesmente uma merda. Você compra o Gripen se é trouxa.

Nosso pensamento, e estamos muito unidos nesta visão aqui no Consulado e na ampla comunidade de diplo, é que existem alguns graves casos de propina ocorrendo. O Brasil é um país incrivelmente corrupto. No entanto, nosso Departamento do Tesouro nos proíbe de encher a carteira deles como fazem os franceses. Realmente é assim. Você se lembra daquele negócio no Paquistão que levou à morte de um grupo de oficiais franceses? Adivinha de que se tratava aquilo? Venda de três submarinos franceses por 1 bilhão de dólares. Os franceses, certamente, tinham algum negócio sujo com o Paquistão, razão pela qual o Paquistão comprou os submarinos em primeiro lugar. [MP: mais tarde, os franceses negaram o pagamento da propina, que - em tese - resultou na morte de engenheiros franceses em 2002].

Não posso provar nada, e não me mencione nisto, mas a compra dos submarinos é tão particularmente estúpida que deve fazer parte de alguma propina. Lula está, provavelmente, buscando o dinheiro da aposentadoria. E olha, a compra veio curiosamente perto do final de seu mandato. O mesmo se deu com o jatos. Nosso Departamento do Tesouro é realmente vingativo no que diz respeito a subornos. Não podemos fazer nenhum negócio verdadeiro em um lugar corrupto como o Brasil. Os franceses não têm esses problemas [MP: Não estou dizendo que discordo, mas acho os franceses também fizeram suborno ilegal].

Então, lamento que não possa dar-lhe nenhuma grande explicação sobre a grande estratégia do Brasil. É nossa avaliação que isso se trata puramente de subornos, e as estratégias francesas usando as estratégias aplicadas no passado aqui no Brasil. A única diferença é que o Brasil agora tem dinheiro, muito dinheiro, então o país pode fazer essas coisas. O que quero dizer é isso, é uma coincidência que eles estejam comprando tanta coisa da França? Os franceses sabem como subornar.


Encontros de Jucá com 'Embaixada' dos EUA: A Hipocrisia Esquecida do PT

Resquícios da patologia do poder fazem passar desapercebidas dos petistas diversas contradições nos mais de 13 anos no poder nacional
Na indignação por encontros do senador roraimense com diplomatas dos EUA, omite-se que José Dirceu, com o pires na mão, fez o mesmo
Exótico por um lado, ao contrariar discurso oficial; por outro com revelações importantes sobre corrupção partidária - neste caso, o PT

24 de maio de 2016 / Publicado no Jornal Pravda (Rússia)

XVIII. WIKILEAKS - BrasilA demagogia que marcou os mais de 13 anos do governo pela metade (projetos e obras de fachada, sem atingir o essencial) do Partido dos Trabalhadores (PT) não poderia ficar de fora da atual retórica contra-golpista que envolve os encontros do senador Romero Jucá (PMDB-RR) com a "diplomata" norte-americana em Brasília, Lisa Kubiske, revelados por WikiLeaks.

Pois o mesmo WikiLeaks usado também hoje pelo partido que se deslumbrou descomedidamente com os privilégios do poder e, cegado pela arrogância excessiva, esqueceu-se de que o golpe de direita sempre latente, desde que assumiu o poder, poderia se concretizar ignorando e até atacando todas as advertências (com direito a estigmas tais como "radicais de esquerda"), também havia revelado em 2010 e 2011 que o homem mais forte do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, o então ministro da Casa Civil José Dirceu, havia se prestado ao mesmo papel de Jucá, com o pires na mão em pleno centro de espionagem dos Estados Unidos com fachada de Embaixada, ou em fraternal almoço como também foi o caso. Porém, a dose de hipocrisia de José Dirceu foi ainda maior.

Mais abaixo, tradução com exclusividade de três dos telegramas confidenciais emitidos pelos espiões estadunidenses travestidos de diplomatas no Brasil, agora tão condenados pelos partidários do PT, revelando encontros em 2005 em que o outrora todo-poderoso ministro da Casa Civil prestava contas em nome do governo brasileiro junto a dois "embaixadores" norte-americanos diferentes.

No primeiro a seguir, datado de abril de 2005 e liberado por WikiLeaks em janeiro de 2011, o homem da mais alta confiança de Luiz Inácio (que certamente teria sido candidato do PT à Presidência da República em 2010 não tivesse ido para detrás das grades pelo escândalo do Mensalão), simplesmente apoiou, contrariamente à sua retórica pública assim como a de todos os petistas, a ideia da concretização da ALCA (Área de Livre Comércio para as Américas) idealizada por George Bush, a qual minaria o Mercosul. não apenas a apoiou: esforçou-se para buscar alternativas com os norte-americanos.

O segundo telegrama confidencial, de outubro de 2005, liberado por WikiLeaks cinco anos mais tarde, em dezembro de 2010, revela outro discurso secreto de José Dirceu bem diferente daquele que marcou sua vida pública, bem como das campanhas com forte apelo moralista de seu partido, que prometia raivosamente um Brasil decente, e mudança especialmente em relação à sua precária defesa sobre o Mensalão:

Dirceu admitiu que ele próprio tinha habitualmente gasto o dobro do que relatou em suas próprias campanhas, e que todos os políticos brasileiros empregam algum tipo de Caixa 2 (recursos não contabilizados ou não revelados). Embora incomodado com a hipocrisia dos seus adversários atuais sobre este assunto, Dirceu considerou esta prática natural e mesmo inevitável em um país onde os políticos não gostam de ser vistos recebendo dinheiro, e os doadores não gostam de ser vistos dando-o.

Portanto, na briga de cachorro raivoso pelo poder, secretamente vale, sim, o "todo mundo faz...", ou "rouba, mas faz".

No terceiro traduzido mais abaixo, de agosto de 2005, liberado pela organização do jornalista australiano Julian Assange em dezembro de 2010, José Dirceu criticou duramente alguns de seus próprios "companheiros" petistas, e de alto escalão, aos norte-americanos. Uma importante observação sobre José Dirceu no cabo confidencial enviado pelo então "embaixador" John Danilovich ao Departamento de Estado em Washington, dizia impiedosamente do "ex-comunista" do PT:

A saída de Dirceu do cenário político seria um divisor de águas, encerrando um capítulo distinto na moderna política brasileira. Contudo, não podemos nos deixar levar muito por acreditar que este camaleão, cruel e brilhante, está disposto a cair tão silenciosamente no esquecimento - não ainda.

Logo que vieram à tona, algumas pouquíssimas vozes no deserto que divulgaram tais telegramas - e protestaram - presenciaram o silêncio omisso de muitos petistas, e em outros casos acabaram atacadas por eles: "ultra-esquerdistas" que, em seu radicalismo, não entendiam nada de política e de diplomacia.

Agora, ao lado da mídia dita alternativa (outra face de uma mesma moeda politiqueiro-midiática, que sempre ignorou este caso) lamentam-se, indignam-se profundamente contra o golpista Romero Jucá, uma das fontes da "Embaixada" dos EUA, para não perder o costume condenando no outro o que tanto praticavam.

XVIII. WIKILEAKS - Brasil
"Não se pode confiar no Império nem um tantinho assim", disse certa vez Che Guevara. Pois apenas o PT, no auge da patologia do poder, acreditou que poderia se aliar ao que existe de pior, dentro e fora do país, e gozar do assento ao trono das demagogias em nome de suposta "revolução social", impunemente. Como disse recentemente Heloísa Helena, expulsa do PT por não seguir as orientações do partido nas votações que favoreciam as elites nacionais em detrimento dos trabalhadores: "O mundo dá voltas".

De falta de aviso ao londo de todos estes anos, nenhum desses petistas pode, jamais, reclamar. Enfim, abaixo as traduções com as devidas ligações aos documentos originais mencionados evidenciando que não apenas a direita golpista (e tem é essencialmente golpista), mas também a alta cúpula da "esquerda" mesquinha, hipócrita e igualmente golpista deste país, também foi informante dos espiões de Washington


XVIII. WIKILEAKS - BrasilTelegrama confidencial emitido pela Embaixada dos EUA em Brasília
Traduzido ao português com exclusividade pelo Blog
Encontro do embaixador e delegação daquele país com o então
Ministro da Casa Civil do Brasil José Dirceu (governo Lula)
No qual, contrariando sua retórica, apoia criação da Alca


20.4.2005 / Fonte: WikiLeaks.ch

Tradução de Edu Montesanti

As ligações no presente telegrama foram estabelecidas pelo Blog, a fim de contextualizar melhor a mensagem


Escrito em 20.4.2005 / Liberado à Imprensa em 12.1.2011 / Classificação: Confidencial / Origem: Brasília

C O N F I D E N T I A L SECTION 01 OF 02 BRASILIA 001067

SIPDIS

STATE PASS USTR
NSC FOR SHANNON, BREIER, AND RENIGAR

E.O. 12958: DECL: 4/19/2012
TAGS: ETRD KIPR SOCI BR FTAA

ASSUNTO: Chefe da Casa Civil Dirceu sobre a ALCA e a PATENTE DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS

REF: BRASILIA 1017
Classificado por: EMB. Danilovich baseado na razão 1,4 (B)


 ¶ 1. (C) Resumo. Em 18 de abril, o embaixador e uma delegação do Estado da Flórida, encontraram-se com José Dirceu, chefe da Casa Civil, para discutir a proposta de Miami de se tornar o local do secretariado permanente da ALCA. Dirceu aproveitou a oportunidade para manifestar seu desejo que as negociações da Alca avancem, declarando repetidamente que o Brasil pode exportar pelo menos quatro vezes mais para os EUA que atualmente (20 bilhões de dólares). Acrescentando que já conversou com o ministro das Economia Palocci sobre a inflexibilidade do Ministério das Relações Exteriores sobre a ALCA, Dirceu disse que, no próximo mês, ele e Palocci tentariam falar com o presidente Lula sobre isso. Membros da delegação da Flórida manifestaram reações variadas com o desempenho de Dirceu, alguns observando seus comentários como uma forma de dar início a negociações paralisadas, e outros interpretando suas declarações como disfarçante (isto é, que o Brasil sinceramente tenta superar o impasse) caso a reunião de 12 de maio co-presidencial entre EUA-Brasil não produzam resultados. Dirceu mal tocou na postura do Brasil em relação a questões fundamentais de interesse dos EUA, como o tratamento dos direitos de propriedade intelectual dentro do mercado comum da ALCA. (Em uma conversa posterior, mais tarde naquele dia, chefe do governo para política da ALCA, Regis Arslanian, disse à delegação que o chanceler Amorim pressionaria o 4 - 1 Mercosul - EUA do Brasil, em favor da ALCA na reunião ministerial de 26 de abril com o secretário de . Brasília). O embaixador aproveitou a ocasião para levar a dirceu as preocupações da USG sobre o direito de patente de medicamentos para HIV / AIDS anti-retrovirais, produzidos por empresas dos EUA, ao que Dirceu disse que o governo brasileiro iria consultar a USG antes de qualquer decisão do presidente Lula. Fim Resumo.

 ¶ 2. (SBU) Em 18 de abril, o embaixador acompanhou visita da delegação do Estado da Flórida a uma reunião com o chefe da Casa Civil, José Dirceu. A delegação (composta pela secretária de Estado da Flórida, Glenda Hood, pelo secretário da ALCA na Flórida e ex-embaixador, Charles Cobb, e pelo presidente da ALCA na Flórida, Jorge Arrizurieta) pediu para discutir;se o caso de Miami como local de uma Secretaria Permanente da ALCA. Do lado brasileiro, Dirceu esteve acompanhado pelo Assessor Especial Américo Fontenelle. O encontro, previsto para durar meia hora, durou o dobro desse tempo.

 ¶ 3. (C) Depois, a delegação da Flórida falou sobre as perspectivas sobre a ratificação da CAFTA e sobre as ligações de comércio substanciais entre a Flórida e o Brasil, com Dirceu dando sua opinião. Atualmente, o Brasil exporta cerca de 20 bilhões de dólares aos EUA, embora possa exportar pelo menos quatro vezes esse valor, disse ele. Por causa do impasse da Alca, o Brasil estava perdendo uma oportunidade histórica de obter acesso ao mercado dos EUA, algo que ele denominou e um escândalo. Para manter o crescimento de 5 a 7 por cento ao ano, o Brasil precisaria aumentar o percentual do PIB ao investimento para 25 por cento (contra 21,5 por cento atuais), e gerar 2 milhões de empregos por ano. Um acordo da ALCA, afirmou ele, ajudaria a trazer esse investimento tão necessário para o Brasil, estimular ainda mais o altamente competitivo setor agroindustrial do país, e ajudar o Brasil a aumentar suas exportações do setor de serviços. Dirceu alegou o Brasil poderia desempenhar importante papel no setor de serviços, destacando que, atualmente, 60 por cento do lucro da construtora Odebrecht vem do exterior.

 ¶ 4. (C) Dirceu comentou que o quadro da ALCA acordado em suas reuniões ministeriais em 2003 foi uma boa base para negociação, e que a falta de progressos nas negociações deveu-se ao desejo do ministério do Exterior [do Brasil, grifo nosso], de promover seus objetivos de integração regional, em detrimento das preocupações empresariais. O que era necessário para resolver o impasse, disse ele, era dar um empurrão nas negociações políticas. Dirceu afirmou que ele já tinha conversado com Palocci, o ministro da Economia, sobre essa questão, e que ele iria retomar a discussão quando voltasse de sua viagem a Nova Iorque. Então, os dois se aproximariam do presidente Lula em maio, a fim de argumentar em favor da retomada das negociações da ALCA. Acercar-se ao ministério da Agricultura e a grupos empresariais influentes (ou seja, a Confederação Nacional da Indústria e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) envolvidos no processo era fundamental, acrescentou.

 ¶ 5. (C) Dirceu fez notar que havia problemas práticos a ser enfrentados. A agricultura foi uma questão complexa para ambos os lados, mas se um acordo pudesse ser alcançado no âmbito da OMC que limitam os subsídios agrícolas, certamente ajudariam, disse. Dirceu lembrou que em sua conversa anterior com o secretário em Washington, havia assinalado que os temas mais importantes do momento, como algodão e açúcar, precisam ser tratados como questões comerciais e não políticas. O que seria realmente um sinal ruim, um péssimo sinal ao Governo Federal dos EUA, acreditava ele, era qualquer rejeição do Congresso dos EUA ao CAFTA.

 ¶ 6. (C) Os membros da delegação da Flórida reagiram de maneiras distintas às observações de Dirceu. Um dos participantes na reunião consideraram que o interesse de Dirceu da pode impulsionar as negociações paralisadas. Outros acharam que Dirceu pode ter tentado encontrar um atalho casos conversações co-presidenciais de 21 de maio entre EUA e Brasil falhem, ou exima o Brasil de responsabilidades por qualquer impasse.

 ¶ 7. (C) Mais tarde naquele dia, a delegação da Flórida encontrou-se com o diretor do Ministério das Relações Exteriores de Negociações Comerciais Internacionais, Regis Arslanian, formulador de políticas do Governo Federal diretamente responsáveis para as negociações da ALCA. (Parece que, a pedido de Dirceu, o nível da reunião do Ministério dos Negócios Estrangeiros foi interrompido pelo gabinete do diretor Secretário Assistente). Quando perguntado por Cobb o que ele esperava do ministro Amorim sobre a ALCA em reunião de 26 de abril com Rice, disse Arslanian que, sem dúvida, o ministro vai pressionar o 4 - 1 Mercosul-EUA do Brasil, para aceitar a proposta dos EUA. Arslanian reiterou a oposição do ministério do Exterior para a ideia do governo brasileiro de aceitar qualquer compromisso com aplicação do direito a patentes, no âmbito da ALCA.

 ¶ 8. (C) Comentário. Embora as declarações de Dirceu, sem dúvida, sejam bem-vindas, como apontado acima estão sujeitas a interpretação. Por exemplo, apesar de seus comentários gerais, Dirceu não fez nenhuma menção de flexibilidade do governo brasileiro sobre questões centrais do impasse atual, sobre a ALCA. Além disso, Dirceu, dá ênfase no acesso ao mercado demonstrando razão nos argumentos de Arslanian de que o governo brasileiro não havia desistido de sua proposta de acesso a seu mercado 4 - 1. Também não está claro qual o prazo para qualquer intervenção de Dirceu no possível processo de tomada de decisão do governo brasileiro (antes ou depois da agendada reunião co-presidencial Brasil-EUA de 12 de maio) e se Dirceu (ou Dirceu e Palocci em conjunto) pode fazer com que o presidente e o chanceler Amorim mexam na ALCA. Na verdade, Lula foi citado recentemente pela Imprensa no exterior da seguinte maneira: (Sobre o tema da ALCA), Os Estados Unidos só querem negociar em assuntos que sirvam aos seus interesses, tais como serviços. Eles não querem negociar sobre assuntos que são de nosso interesse, tais como produtos agrícolas. . . O Brasil é um negociador-chave para as negociações da ALCA, e vamos continuar negociando o tempo que for preciso para alcançar o que é necessário.

 ¶ 9. (SBU) Por último, o embaixador levou a Dirceu a preocupação com a USG, de que o governo brasileiro pudesse romper as negociações com empresas farmacêuticas dos EUA e buscar patentes destas empresas para remédios HIV / AIDS anti-retroviral. Dirceu observou que ele pretendia abordar tal questão com o ministro da Saúde Costa, em 19 de abril, e que qualquer que seja a decisão do governo brasileiro, tomasse viria do próprio Presidente Lula. Dirceu salientou que o governo brasileiro se encontrou em situação difícil dado o aumento do custo de fármacos anti-AIDS, e seu desejo de manter em andamento o programa de tratamento em âmbito mundial. No entanto, concluiu ele, antes de chegar a qualquer decisão definitiva, o governo brasileiro estaria em contato com a USG para ouvir nossas opiniões.

Danilovich


XVIII. WIKILEAKS - BrasilTelegrama confidencial emitido pelo embaixador dos EUA
Traduzido ao português com exclusividade pelo Blog
Comentando impressões pessoais e políticas sobre José Dirceu
Após suspensão deste da política por corrupção


20.12.2010 / Fonte: WikiLeaks

Tradução de EduMontesanti


"Dirceu admitiu que ele próprio tinha habitualmente gasto o dobro do que relatou em suas próprias campanhas, e que todos os políticos brasileiros empregam algum tipo de Caixa 2 (recursos não contabilizados ou não revelados). Embora incomodado com a hipocrisia dos seus adversários atuais sobre este assunto, Dirceu considerou esta prática natural e mesmo inevitável em um país onde os políticos não gostam de ser vistos recebendo dinheiro, e os doadores não gostam de ser vistos dando-o".


Escrito em 13.10.2005 / Liberado à Imprensa: 20.12.2010 / Classificação: Confidencial / Origem: São Paulo

C O N F I D E N T I A L SECTION 01 OF 02 SAO PAULO 001158

SIPDIS

E.O. 12958: DECL: 10/12/2015

TAGS: PINR PGOV BR

ASSUNTO: CONVERSA COM JOSÉ DIRCEU, 9 DE OUTUBRO DE 2005

REF: A. BRASILIA 2219 B. BRASILIA 2687 AND PREVIOUS

Classified By: ACTING CONSUL GENERAL ARNOLD VELA. REASON:

E.O. 12958, 1.4(D)


Resumo: Enquanto esteve em São Paulo, Poloff da embaixada de Brasília almoçou, em 9 de outubro, com amigos no qual o deputado federal e ex-chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu, estava presente. Durante conversa de 30 minutos, Dirceu compartilhou suas visões sobre a crise política, o futuro do Partido dos Trabalhadores (PT), as perspectivas para a reforma política, e seu próprio status atual e os planos para o futuro. Fim de resumo.

 ¶ 2. (C) Dirceu pareceu bem, e razoavelmente relaxado. No decorrer da refeição, falou principalmente de sua própria família, gastronomia, viagens e coisas pessoais que queria fazer no futuro. Era notório que, no dia da segunda rodada decisiva das eleições internas PT, ele tinha dedicado quatro horas contínuas a esse tipo de atividade. Seu celular tocou apenas três ou quatro vezes. Várias dessas chamadas pareceram relacionadas aos esforços da oposição para acusar o filho de ter cometido irregularidades, o que, obviamente, o irritou. Após a refeição, Poloff teve a oportunidade de conversar cara-a-cara com Dirceu, por cerca de 30 minutos.

 ¶ 3. (C) Em relação a conversas anteriores - logo após a sua demissão do Planalto em junho, e novamente no final de agosto (referência A) - Dirceu foi menos crítico ao governo e mais otimistas sobre perspectivas para a reeleição de Lula, no próximo ano. Ao contrário de predizer categoricamente que o presidente perderia, ele agora pensa que haverá uma disputa competitiva, resultado atualmente imprevisível. Em relação à eleição da PT à presidente nacional, ele previu (com precisão) que Ricardo Berzoini ganharia por pouco, com cerca de 52 por cento dos votos. Ele não previu que a composição nova, a mais esquerdista da Direção Nacional, causaria grande problema dentro do partido ou do governo. Em resposta a uma pergunta sobre o possível volta à radicalização da esquerda brasileira a médio e longo prazo, Dirceu fez as seguintes observações: O PT (mais ou menos como é hoje) vai continuar a dominar o lado esquerdo do sistema político brasileiro. Algumas poucas deserções mais poderiam ocorrer, sobre o que apontou que ele mesmo teria prazer em ver, mas que nenhum partido de massa se levantaria à esquerda do PT. E que ninguém dentro de suas fieis fileiras retornariam à antiga postura (de esquerda mais radical), durante o período pós-Lula. Em interessante parêntesis, Dirceu asseverou que (toda a modéstia de lado), ele foi o único que poderia realizar tal mudança total de postura, mas que ele não tinha nenhuma intenção de fazê-la, pelo tipo de pessoa que é, e pelo fato de que seria ruim para o país.

 ¶ 4. (C) Como em ocasiões anteriores, Dirceu não pareceu muito interessado na questão da reforma política, ou nos detalhes ou pormenores de tal reforma. Ele reconheceu que os candidatos, inclusive Lula, teriam que usar a reforma como um tema de campanha. Neste contexto, Dirceu admitiu que ele próprio tinha habitualmente gasto o dobro do que relatou em suas próprias campanhas, e que todos os políticos brasileiros empregam algum tipo de Caixa 2 (recursos não contabilizados ou não revelados). Embora incomodado com a hipocrisia dos seus adversários atuais sobre este assunto, Dirceu considerou esta prática natural e mesmo inevitável em um país onde os políticos não gostam de ser vistos recebendo dinheiro, e os doadores não gostam de ser vistos doando-o.

 ¶ 5. (C) No que diz respeito à sua própria situação, Dirceu pretende continuar defendendo-se vigorosamente contra qualquer coisa, a não ser a aceitação da responsabilidade política geral em relação aos problemas atuais do PT e do governo Lula. De acordo com Dirceu, ele está em bons termos com o governo, mas este não o está ajudando muito, e ele não quer nem precisa de nenhum favor do gabinete do presidente. No entanto, Dirceu ainda espera ser expulso do Congresso e privado do direito de concorrer novamente por oito anos, e parecia, nesta ocasião, com um pouco menos de certeza do que tinha anteriormente, que este resultado poderia ser paralisado ou revertido nos tribunais. Mas considera a sentença como uma questão puramente política. Ao que lhe parece, em contraste com a maioria dos outros deputados acusados, não há provas concretas de irregularidades de sua parte e o comitê de ética do Congresso não tem competência jurídica em seu caso, já que ele não estava atuando como deputado federal quando ocorreu qualquer um dos atos dos quais é acusado de ter cometido. No entanto, ele tem que aceitar o que, finalmente, venha a acontecer. Sua estratégia agora é manter a tranquilidade, e trabalhar para manter a velha influência que ainda exerce dentro do partido.

 ¶ 6. (C) A esse respeito, Dirceu reiterou fortemente seu interesse em viajar aos Estados Unidos durante o período dezembro-fevereiro, com o objetivo de relaxar, desenvolver um livro e aprender inglês. Pela primeira vez, começou a fazer perguntas concretas sobre tais questões práticas como, por exemplo, um visto, onde ele deveria ficar nos EUA, e o que ele poderia fazer por lá. Poloff não se comprometeu em nada, mas prometeu falar com ele novamente, em Brasília.

 ¶ 7. (U) Esta mensagem foi coordenada com a Embaixada de Brasília.

VELA


XVIII. WIKILEAKS - BrasilTelegrama confidencial emitido pela Embaixada dos EUA em Brasília
Traduzido ao português com exclusividade pelo Blog, sobre
Escândalo do Mensalão que envolve José Dirceu, relatando impressões do caso
Através de encontro daquela Embaixada com o político brasileiro


19.8.2005 / Fonte: WikiLeaks.ch

Tradução de Edu Montesanti


"A saída de Dirceu do cenário político seria um divisor de águas, encerrando um capítulo distinto na moderna política brasileira.
Contudo, não podemos nos deixar levar muito por acreditar que este camaleão, cruel e brilhante, está disposto a cair
tão silenciosamente no esquecimento - não ainda"


Escrito em 19.8.2005 / Liberado à Imprensa em 20.12.2010 / Classificação: Confidencial / Origem: Brasília

C O N F I D E N T I A L SECTION 01 OF 02 BRASILIA 002219

SIPDIS

TREASURY FOR PARODI, STATE PASS TO USTR AND USAID/LAC/AA

E.O. 12958: DECL: 08/17/2015
TAGS: PGOV PREL ECON BR

ASSUNTO: BRASIL ESCÂNDALO DE CORRUPÇÃO DADOS: JOSÉ DIRCEU REFLEXIONA

BRASÍLIA A. 2082: REF
 ¶ B. BRASÍLIA 1979
 ¶ C. BRASÍLIA 1874
 ¶ D. BRASÍLIA 1973
 ¶ E. BRASÍLIA 1631
 ¶ F. BRASÍLIA 2025
 ¶ G. BRASÍLIA 2150

Classificado por: Classificado por Dennis Hearne Conselheiro Político. Razões 1.4 (b) (d).


 ¶ 1. (C) Introdução: José Dirceu, ex-ministro mais poderoso do gabinete do presidente Lula da Silva e, atualmente, deputado federal que possivelmente será cassado do seu mandato no Congresso, é uma figura central nos escândalos atuais que assolam o governo e o PT. Por isso, neste momento ele está "muito buscado" para contatos diretos com o pessoal da missão. No entanto, Pol Couns, sob aprovação do COM, decidiu aproveitar a visita esta semana a Brasília, onde se encontre o Assessor Especial da Embaixada, Bill Perry - que esteve no Brasil em qualidade semi-privada, e conviveu com Dirceu por vários anos, pessoalmente - a fim de avaliar as opiniões de Dirceu sobre a crise política, e sobre sua complicada situação. Perry também concordou em procurar Dirceu, e reuniu-se de maneira privada com ele em um café da manhã, no apartamento de Dirceu em Brasília em 17 de agosto. Perry informou posteriormente os seguintes pontos e impressões a partir dessa conversa, e contribuiu ao comentário no parágrafo 6.

 ¶ 2. (C), Dirceu parecia bem e em forma, apesar do estresse das últimas semanas. Ele disse que tinha se disciplinado a fazer exercícios regularmente e manter bastante contato com a família, e está dormindo razoavelmente bem. Mas Dirceu parecia muito menos combativo do que em um encontro com Perry no final de junho, logo após sua demissão como ministro da Casa Civil. Notadamente, Dirceu alegou que tinha desistido porque vai ser "cassado" - ou seja, sofre cassação de seu assento parlamentar e do direito de correr para qualquer cargo por um período de oito anos - o que,provavelmente, ocorrerá em novembro.

 ¶ 3. (C) Dirceu, o que era previsível, considerou isso injusto e defendeu sua reputação. Seu raciocínio foi que a direção do PT, após-2002, surgiu com esquemas de financiamento ilegal, perversos e "até os ossos" que estão no centro das investigações atuais, em resposta às pressões dos partidos aliados, pequenos e mercenários - PTB, PL, PP - e desde 2002, na campanha do especialista em mídia, Duda Mendonça. Nesta versão, Dirceu não teve nada a ver com esses acordos. Na verdade, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, "não deu as caras" - Soares surgiu do movimento sindical -, e Dirceu nunca o aceitou em tal cargo delicado. Dirceu também criticou a fraqueza do ex-presidente do PT, José Genoíno, e do presidente interino do PT, Tarso Genro (quem atualmente tenta assumir o controle do PT, a partir da poderosa facção de Dirceu).

 ¶ 4. (C) Essa defesa esteve entrelaçada com críticas de Dirceu ao governo Lula. Lula não faz muito, de sua própria iniciativa, afirmou Dirceu, e ele disse que Lula deveria ter prestado mais atenção à busca de legítimas fontes de financiamento das empresas, na sequência das eleições de 2002. Ele também deveria ter trazido o PMDB e outros grandes, os responsáveis pelo governo anterior e recompensado-os com cargos ministeriais. Dirceu disse que estava querendo deixar o dividido ministério, e voltar ao Congresso muito antes que o presidente pudesse fazer algo contra isso. Importante, Lula está conduzindo mal a crise atual, afirmou Dirceu.

 ¶ 5. (C) Como resultado dessas deficiências e do fracasso em seu desdobramento, Dirceu agora acredita que é improvável que Lula se reeleja no ano que vem. Na verdade, Dirceu disse que acha que Lula não pode ser candidatar, "se ele está enfraquecido." Dirceu vê um candidato do PSDB como provável vencedor (o prefeito de São Paulo, José Serra, previu), mas não acha que a administração liderada pelo PSDB será capaz de governar com eficiência. Dirceu foi mais otimista sobre o futuro do PT, ao menos após alguns anos de reabilitação e recuperação. Dirceu disse que acha que sua facção vai ganhar de novo as eleições do partido em setembro, seguindo assim seu domínio sobre o PT.

 ¶ 6. (C) Comentário. Dirceu eximiu-se completamente de qualquer culpa pelos escândalos, que assola seu partido e o governo Lula, e sustentou "Eu não sabia de nada", foi a defesa de seu recente depoimento perante a comissão de ética do Congresso. Ambas as posições são amplamente consideradas ridículos por políticos e jornalistas brasileiros, que têm acompanhado a carreira de Dirceu e compreendem tanto a extensão de seu poder dentro do governo brasileiro, quanto de um ministro e da mão de ferro que exerce sobre o PT, até hoje. Compartilhamos do ceticismo. Além disso, a sinceridade das profissões de Dirceu sobre o seu futuro pode ser colocada em dúvida, dada sua longa e extraordinária história pessoal de pensamento de poder único. Mas, para ser justo, talvez ele esteja sendo realista. Parece altamente provável que Dirceu irá, de fato, perder o mandato parlamentar e os direitos políticos. Além disso, as feridas provocadas pela crise no governo Lula - que é criatura de Dirceu, de várias maneiras - em conjunto com novas pesquisas, que mostram que Lula perde para candidatos do PSDB, sugerem que a era Lula pode estar acabando. Por agora, as únicas coisas que Dirceu vai fazer, são tentar evitar mais acusações graves, preservar certa medida de influência nos bastidores por meio da dominação do PT por sua facção, e, aos 59 anos, fazer o possível para aproveitar ao máximo o resto de sua vida . Por isso, ele meditou sobre algumas possibilidades específicas, inclusive sair do Brasil por vários meses rumo aos EUA, a fim de aprender Inglês e escrever um livro. A saída de Dirceu do cenário político seria um divisor de águas, encerrando um capítulo distinto na moderna política brasileira. Contudo, não podemos nos deixar levar muito por acreditar que este camaleão, cruel e brilhante, está disposto a cair tão silenciosamente no esquecimento - não ainda.

Danilovich


Clinton Pediu Informações Pessoais sobre Integrantes do Governo Brasileiro

10.12.2010 / Fonte: WikiLeaks.ch


Dentre os quase 3 mil documentos obtidos pelo WikiLeaks que tratam de Brasil há um de especial interesse. Trata-se de um telegrama confidencial enviado no dia 23 de abril de 2009 ao departamento politico da embaixaada em Brasília e assinado pela própria Secretária do Departamento de Estado americano, Hillary Clinton.

Todo escrito em letras garrafais, o documento - produzido dois meses e meio depois da posse de Clinton no cargo - mostra que ela também pediu informações detalhadas sobre membros do governo que seriam de especial interesse à administração americana.

Clinton agradece pela informação sobre os possíveis candidatos à sucessão presidencial, em especial ao relatório "estelar" sobre José Serra (candidato do PSDB). As informações seriam usadas em relatórios para "clientes-chave" - ou seja, agências e secretarias do governo, relata Clinton.

Ela também agradece pelos detalhes biográficos enviados a respeito do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e à negociadora do Itamaraty Vera Machado.

"Essa informação ajuda a preencher vácuos biográficos sobre atores-chave na política ambiental e de mudanças climáticas - um tema bilateral muito importante".

Em especial, os oficiais de Washington valorizam informações sobre "o jeito de atuar dos líderes, motivações, qualidades e defeitos, relações com superiores, sensibilidades, visões de mundo, hobbies e proficiência em linguas".

Relatos sobre divergências e convergências entre os líderes brasileiros em relação a temas econômicos, políticos e de relações exteriores,também serviriam para os americanos identificarem "interlocutores favoráveis ou obstáculos" nos temas prioritário como energia e comércio/protecionismo.

Washington pede mais. Quer que o corpo diplomático reúna informações sobre "divisões dentro do núcleo do governo Lula" em relação às políticas usadas para atenuar os efeitos da crise econômica, em especial aquelas que pudessem afetar o comércio bilaterial entre os dois países.

Por fim, Clinton agradece informações sobre "a relativa influência de assessores econômicos, seus estilos de negociação e sua autoridade" e pede mais detalhes sobre a pesonalidade de membros do executivo por trás de projetos de lei que saem do Planalto e não do Congresso, pois eles ajudam Washington a "avaliar a influência, as visões de mundo e a linha política" desses indivíduos.


XVIII. WIKILEAKS - Brasil
O Presidente e o Embaixador

8.12.2010 / Fonte: WikiLeaks.ch


A menos de um mês do final do mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva, o WikiLekas publica uma série de telegramas que revelam como o presidente e figuras-chave do seu governo eram descritos pela diplomacia americana.

Lula nunca foi mal visto pelos embaixadores – foram quatro durante seu governo –, embora a política externa fosse olhada com desconfiança. Mas, pessoalmente, ele foi descrito muitas vezes com surpresa, suas quebras de protocolo devidamente registradas e a sua equipe devidamente estudada.

Logo no primeiro contato, o senador Aloizio Mercadante foi descrito como “radical”, enquanto José Dirceu, que viria a ser ministro da Casa Civil, seria mais “discreto”. Já o ex-ministro da Economia, Antônio Palocci seria “uma voz para acalmar os mercados”.

Os telegramas também mostram que, se os embaixadores viam o Itamaraty como adversário, Lula reclamava do Departamento de Estado como um obstáculo para uma boa relação com o presidente Bush.

Primeiro contato

Na primeira reunião com oficiais americanos, no dia 21 e novembro de 2002, Lula, “animado, elegante e descansado”, teria dito logo de cara que queria ter uma boa relação com Bush : “Acho que dois políticos como nós vamos nos entender quando nos encontrarmos frente a frente”. Dois anos depois, ele voltaria a elogiar o presidente Bush, agradecendo “calorosamente” por sempre ter sido tatado com respeito e gentileza pelo americano (CLIQUE AQUI).

Mas o telegrama sobre a primeira impressão americana, de novembro de 2002 (CLIQUE AQUI) relata tambem uma gafe presidencial, talvez a primeira. O presidente teria afirmado querer mudar a percepção que os oficiais brasileiros são “um bando de ladrões irresponsáveis” e de que “o Brasil é outra Colômbia”.

A frase teria sido proferida na reunião entre o que viria a ser o núcleo duro do governo com o subsecretário de estado americano Otto Reich – um encontro descrito como “caloroso e produtivo”.

Nele, Dirceu, Palocci e Mercadante defenderam a prioridade aos parceiros do Mercosur. Segundo o telegrama, Dirceu chegou a interromper Mercadante para dizer que as negociações bilaterias são importantes “mas teriam que ser feitas dentro dos compromissos regionais do Brasil”.

Reich ainda tentou tirar satisfação sobre a participação de Marcadante no Foro de São Paulo - uma coalizão de partidos de esquerda latinoamericanos - irritado com o fato de que havia ali líderes das Farc e do governo cubano.

Mercadante respondeu que muitos dos participantes do Fórum são “esquerdistas antiquados” e que poderiam aprender muito com o PT, cujo foco seria “defender a democracia”. Foi a deixa para Reich falar de violações de direitos humanos em Cuba, ao que Dirceu rebateu. "Nós vamos simplesmente ter que concordar em discordar".

No final, Reich é taxativo : “Nós não temos medo do PT e da sua agenda social”, promete.

No telegrama enviado ao Departamento de Estado, ele descreveu os três políticos como tendo “personalidades complementares e contrastantes”.

“O radicalismo antigo de Mercadante não está muito longe da superfície. Ele fala para convencer mais do que para explicar, frequentemente apontando o dedo para seu interlocutor. Mesmo assim é cortês e claramente focado em projetos bilaterias específicos”.

“Dirceu é muito mais discreto. Nunca corrigiu Mercadante mas algumas vezes o interrompia para qualificar suas observações. Ele parece ser o 'primeiro entre iguais'”.

“Palocci, cuja estrela ascendeu rapidamente nos últimos meses, é talvez o mais pragmático do grupo. Ele fala devagar e com calma – geralmente sobre temas econômicos – claramente consciente do efeito das suas palavras. É uma voz aparentemente designada para acalmar os mercados”.

Segundo mandato

Em outubro de 2006, o futuro embaixador Clifford Sobel e os conselheiros políticos da embaixada presenciaram outro momento histórico.

Era dia 30 de outubro, o dia seguinte à reeleição, e eles visitaram o Palácio do Planalto, onde detectaram um clima de “jubilante celebração”, segundo um telegrama secreto enviado às 17:51 horas do dia 1 de novembro.

“Uma fileira de VIPs fluíam pelo palácio para ter audiências com o presidente reeleito”, prossegue Sobel.

Os americanos encontraram o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho “aliviado” e “nas alturas”. Carvalho afirmou a eles uma frase que seria um mantra nos encontros com a diplomacia americana : apesar de ter buscado ampliar as alianças no primeiro mandato, a prioridade seria relações com os parceiros tradicionais, como os EUA.

Mas o embaixador não deixou barato, reclamando que “certos” membros do governo falavam que o Brasil precisava "countrabalancear" o poder americano. Carvalho concordou enfaticamente, disse que não se falaria mais nisso – e ainda pediu a compreensão pela retórica usada durante a campanha eleitoral.

Sobel também encontrou com o general Jorge Armando Felix, ministro do Gabinete de Segurança Institucional e o ministro do Desenvolvimento e Indústria Luiz Furlan – ambos, na visão da diplomacia americana, aliados que sempre brigaram por mais proximidade com o país. Mas conclui seu telegrama com uma crítica ao Itamaraty, o que seria a sua marca à frente da embaixada.

“Nossos interlocutores do alto escalão estavam de muito bom humor ontem, com palavras gentis para todo o mundo, inclusive para os EUA. Mas sem grandes mudanças no alto escalão e na orientação do ministério das relações exteriores duvidamos sobre a viabilidade de uma mudança favorável aos EUA e ao mundo desenvolvido em vez da prioridade sul-sul do primeiro mandato de Lula”.

O Departamento de Estado, outro desafeto

Clifford Sobel se apresentou formalmente como embaixador no dia 7 de novembro de 2006. E já chegou reclamando. No telegrama enviado no dia seguinte, (CLIQUE AQUI) explicou que a cerimônia foi atrasada pela campanha eleitoral, sendo que ele estava no Brasil desde agosto. Mesmo assim, a reunião com Lula teria sido “positiva” e com uma “atmosfera calorosa”.

Lula conversou com Sobel e seus assessores junto com o chanceler Celso Amorim e o assessor especial Marco Aurélio Garcia. Defendeu uma parceria sobre etanol e ganhou como resposta um inusitado presente : uma foto autografada por Bush do encontro do G-8 ocorrido em São Petesburgo, na Rússia, em julho.

No final, Sobel voltou a mostrar desconfiança com as palavras doces do governo brasileiro : “nós vamos continuar esperando para ver, atentos para outros desenvolvimentos que podem indicar se essa ofensiva charmosa se traduz em uma mudança significativa na politica externa”.

Como já demonstraram outros telegramas publicados pelo WikiLeaks, o embaixador – que jamais conseguiu dominar o português – a continuou esperando até o fim.

Embora os EUA continuem sendo um forte parceiro comercial e Sobel tenha chegado a comemorar em entrevista à revista Veja um estrondoso aumento dos investimentos brasileiros no país, a dinâmica do comércio exterior brasileiro mudou e a China chegou a substitui-lo como principal parceiro comercial em 2008.

No dia 27 de julho de 2009 (CLIQUE AQUI), Sobel se despediu do país. Na ocasião, ele enviou um colorido telegrama a Washington narrando o último encontro com Lula.

“Essa conversa final permitiu um insight singular sobre a complexidade e a tensão no pensamento de Lula sobre as relações exteriores. Caloroso, pessoal, e sedutor no começo e no final da reunião, ele fez um monólogo intenso e quase agressivo no meio da conversa”, diz.

Para Sobel, o fato de Lula ter reclamado das dificuldades com o Mercosul – em especial do presidente boliviano Evo Morales, que acusara Washington de tramar o golpe em Honduras – era uma boa nova. O embaixador via isso como um sinal de que Lula queria se aproximar dos EUA para solidificar seu papel no continente.

Nesse sentido, relatou ele, o presidente reclamou da proibição do governo americano à venda dos aviões super Tucanos à Venezuela.

“O Brasil precisa das ferramentas para poder lidar com seus vizinhos, disse Lula. Se a Bolivia que comprar Super Tucanos, Lula tem que poder vender. O Brasil não pode arcar com esse tipo de vexame ao não poder vender Super Tucanos à Venezuela”.

Para Sobel, “o Mercosul chegou aos seus limites como mecanismo de integração”. Ele escreveu que após a cúpula do Mercosul em julho, “a tensão era palpável” e Lula estaria “perturbado”.

“Ele acredita que os Estados Unidos ainda têm problemas significativos com sua imagem e relacionamento no hemisfério mas que o presidente Obama pode superar esses problemas”.

Lula também teria criticado a burocracia do governo americano, que não teria ajudado nas relações bilaterais – assim como Sobel tantas vezes criticou o Itamaraty.

Apesar de ter uma boa relação com Bush, Lula afirmou que “nunca conseguiu trazer o Departamento de Estado para essa relação”.

“O seu foco nos líderes Morales, Sarkozy, Obama e a sua visão negativa da burocracia são uma demonstração clara da importância que Lula dá às relações pessoais da conduta da política externa”, observa Sobel.

O embaixador de Obama

Somente em 9 de fevereiro de 2006 (CLIQUE AQUI) o atual embaixador, Thomas Shannon, se apresentou formalmente ao presidente Lula. Nesse encontro, Lula avisou que iria visitar o Irã em maio com o objetivo de "abaixar a temperatura” sobre a questão iraniana – uma versão muito diferente do que foi retratado pela imprensa.

Lula, “saudável depois de uma crie de hipertensão”, mais uma vez estendeu a reunião por muito mais tempo que o combinado, o que foi notado pelo americano. Shannon também relatou a empolgação com a figura de Barack Obama. “Ele vê o engajamento de Obama como crítico para uma nova relação de qualidade não só com o Brasil, ma com a América Latina como um todo”.

O terremoto do Haiti, ocorrido duas semanas antes, também dominou a pauta. “Lula, claramente engajado na questão o Haiti, reforçou a necessidade de colocar a ONU e o governo haitiano no comando dos esforços de reconstrução”.

O presidente teria lamentado que os países ricos usassem a corrupção do governo haitiano como argumento para não dar dinheiro diretamente a ele. Com as ONGs, a coisa seria tanto pior : “A maioria do dinheiro dado através de ONGs vão para pagar salários e despesas para estrangeiros ou funcionários que estão fora do Haiti”, teria dito o presidente brasileiro.


Uribe: Brasil Tem "Espírito Imperial"

17.2.2011 / Fonte: Wikileaks.ch


Em 15 de dezembro de 2004, entre as 17h30 e 18h, o ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, participou de uma reunião de alto nível no palácio presidencial com o então subsecretário-adjunto do Departamento de Estado dos Estados Unidos para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Charles Shapiro, o subsecretário-adjunto para o combate às drogas Jonathan Farrar e o embaixador norte-americano em Bogotá, William B. Wood, além do diretor de temas andinos, David Henifin.

O fato é relatado num dos documentos obtidos pelo Wikileaks aos quais esta repórter teve acesso. São despachos da diplomacia americana que tratam das relações entre o Brasil e outros países sul-americanos. Em vários destes documentos, o resistência de alguns países sul-americanos em relação à influência brasileira é evidente, embora também haja que a veja com bons olhos e como contraponto aos EUA.

Na época da reunião, Uribe estava havia dois anos no cargo e levava a cabo a política que chamou de “segurança democrática”, para combater os grupos armados que atuam no país. A política, abertamente apoiada pelos Estados Unidos, fortaleceu o Exército do país e liberou estradas colombianas antes controladas pelas guerrilhas, empurrando os combatentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) para as montanhas.

O principal tema da reunião foi a ajuda americana na luta contra as FARC. Uribe afirmou, na reunião, que os grupos armados não poderiam resistir mais que cinco anos à pressão militar. O presidente colombiano também se queixou de Hugo Chávez, presidente da Venezuela. A certa altura a conversa chegou ao Brasil.

“Uribe disse que a sue relação com [o então presidente] Lula é complicada pelos esforços de Lula em construir uma aliança anti-Estados Unidos na América Latina”, relata o telegrama. Em seguida, Uribe afirma que o Brasil teria pretensões imperialistas: “Lula é mais prático e inteligente que Chávez, mas é levado pelo seu background de esquerda e o 'espírito imperial' brasileiro a se opor aos EUA”.

O presidente colombiano disse ter pouca influência sobre Lula ou Chávez porque eles o veriam como um amigo dos EUA. Mesmo assim, afirmou que continuaria a pressionar Chávez a tomar ações contra narcotraficantes. Afirmou ainda que Lula não cumpriu suas promessas de lutar contra o narcotráfico.

Conselho de Defesa Sul-Americano

Essa não foi a única vez que o alto escalão do governo colombiano reclamou do Brasil aos diplomatas americanos. Outro telegrama, datado de 9 de maio de 2008, revela a desconfiança do ex-ministro da defesa colombiano, Juan Manuel Santos (presidente da Colômbia desde junho de 2010) em relação à proposta de criação do Conselho de Defesa Sulamericano (CDS), defendida pelo Brasil.

Durante a conversa, que aconteceu em 30 de abril do mesmo ano, o embaixador norte-americano chegou a sugerir formas de flexibilizar o mandato do Conselho.

Dois dias antes da reunião na embaixada Juan Manuel Santos tivera um encontro com o ministro de defesa brasileiro, Nelson Jobim, em que discutiu a proposta encabeçada pelo Brasil sobre a criação do Conselho.

Jobim viajara a diversos países sul-americanos para apresentar a proposta. No caso da Colômbia, a reunião aconteceu em Bogotá. Ao embaixador, Santos disse que rejeitou proposta, expressando preocupação de que a iniciativa poderia duplicar as funções da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da ONU (Organização das Nações Unidas).

“Santos explicou para Jobim que o governo colombiano temia que a iniciativa soasse demasiadamente como uma ideia da Venezuela”, diz o telegrama. “O governo colombiano não quer suas forças armadas subjugadas a uma instituição que não compreende totalmente. Do mesmo modo, está relutante a ingressar em uma instituição que poderia ser percebida por muitos como um esforço para distanciar a América do Sul do governo americano”.

A resposta de Jobim, segundo o documento, foi dura: a Colômbia ficaria completamente isolada se não entrasse na iniciativa – e o Brasil prosseguiria com ou sem ela.

No dia 1º de maio, foi a vez do ex-comandante do exército General Mario Montoya conversar com a representação americana. Ele disse que os militares colombianos não queriam “ser isolados” do resto da América do Sul, embora o “timing” da proposta fosse particularmente “infeliz” por causa do atraso na aprovação do tratado de livre comércio com os EUA.

O embaixador avisou que repassaria informações sobre a iniciativa a Washington. “Ele concordou que o governo colombiano deveria explorar se outros governos regionais tinham receios e, se fosse o caso, ver se eles se aliariam ao governo colombiano”.

O embaixador propôs que o governo explorasse se poderia sugerir opções que iriam ajustar o “timing” e o nível de participação. “Por exemplo, quem sabe um governo poderia se unir sem ter que aceitar todos os níveis de participação”. O telegrama é assinado pelo embaixador William R. Brownfield.

O Conselho de Defesa Sul-Americano acabou sendo aprovado, afinal, na cúpula extraordinária da União de Nações Sul-Americanas em 15 de dezembro de 2008.


EUA Pediu que Brasil Doasse US$ 10 mi à Palestina

24.1.2011 / Fonte: Wikileaks.ch


Um telegrama publicado pelo WikiLeaks revela os bastidores da mudança de postura que significou o governo de Barack Obama em relação às negociações de paz entre Israel e Palestina.

O documento confidencial, datado de 4 de setembro de 2009, mostra que a diplomacia americana pediu que o governo brasileiro doasse 10 milhões de dólares para a Autoridade Nacional Palestina.

Mas o Itamaraty não deu uma resposta conclusiva, alegando que outra doação US$ 10 milhões para a reconstrução da faixa de Gaza ainda não havia sido aprovada pelo Congresso.

A doação de 25 milhões de reais acabou sendo feita apenas em meados do ano passado, e sob críticas. Congressistas consideravam que o dinheiro era muito necessário para o Brasil.

Já os EUA têm aumentado significativamente suas doações para a autoridade palestina. No total, os EUA doaram 740 milhões de dólares à Palestina em 2010 para fortalecer a instituição, treinar forças de segurança e manter os palestinos engajados nas discussões de paz.

Reunião

O documento publicado pelo WikiLeaks descreve uma reunião em 3 de setembro de 2009 do representante político da embaixada com os então diretores da divisão do Itamaraty para Oriente Médio, Claudio Nascimento e Roberto Abdalla.

“Embora Nascimento, em particular, tenha se mostrado entusiasta do conceito de prover fundos para a Autoridade Palestina diante das negociações de paz, eles admitiram que os US$10 milhões prometidos para a reconstrução de Gaza pelo ministro Celso Amorim antes da Cúpula América do Sul-Países Árabes ainda não foi aprovada pelo congresso”, diz o telegrama.

O documento mostra que o Itamaraty elogiou a postura de Obama sobre o tema. Nascimento teria elogiado a aproximação com a Síria e a ênfase do governo Obama em pedir o fim da expansão dos assentamentos na faixa de Gaza.

“Em contraste com reuniões anteriores com a embaixada, nas quais o Itamaraty tem geralmente criticado a política dos EUA para o Oriente Médio, a resposta sobre a postura dos EUA à questão Israel-Palestina foi bastante positiva. Eles elogiaram especificamente o presidente Obama e o enviado especial (americano, George) Mitchell por terem uma postura diferente e mais prática”.

Posição brasileira é “indefinida”

Segundo a análise da conselheira da embaixada em Brasília Lisa Kubiske, autora do telegrama, o “entusiasmo” do Itamaraty dificilmente se converterá em ações concretas. “Mas o Brasil está determinado a assumir um papel maior”, prossegue ela. “Contatos adicionais com o governo brasileiro sobre esse tema serão boas para informar e influenciar o que ainda é uma política relativamente indefinida com relação à região e em, particular ao processo de paz Israel-Palestina em particular”.

A revelação acontece em meio à polêmica dos documentos publicados pela Al Jazeera que alegam que a Autoridade Palestina teria oferecido parte de Jerusalém a Israel em busca de um acordo de paz. Os documentos também mostram a cooperação próxima entre forças de segurança israelense e a autoridade palestina.


EUA Pediu a Brasil US$ 5 Milhões para Exército do Afeganistão

13.1.2011 / Fonte: Wikileaks.ch


Em setembro de 2008, a embaixada americana procurou o governo brasilerio para pedir 5 milhões de dólares para as forças militares do Afeganistão, como revela um telegrama publicado hoje pelo WikiLeaks. O pedido foi um de muitos pedidos de assistência para o país negados pelo Itamaraty.

O telegrama de 3 de outubro relata que o representante político da embaixada encontrou-se com o embaixador Marcos Pinta Gama e no dia 29 com a secretária responsável pelo Afeganistão no MRE, Marisa Kenicke, para pedir o montante.

Pinta Gama negou, dizendo que o Brasil "tem procurado projetos relacionados a desenvolvimento mais do que apoio aos militares", mas mesmo assim não tinha encontrado uma oportunidade adequada.

"O pedido de cinco milhões de dólares ao longo de cinco anos é bem maior do que muitos outros pedidos que fizemos e que seguem sem resposta", comentou o então embaixador Cliffords Sobel. "Os recursos do Brasil para assistência em geral são extremamente limitados, e o governo tende a preferir assistência técnica para projetos de desenvolvimento social".

Em 2009, o tema volta à pauta da embaixada, como mostra outro telegrama confidencial, do dia 14 de abril.

Trata-se de um relatório sobre outra reunião, com o embaixador Roberto Jaguaribe, subsecretária para assuntos políticos, que terminou em mais uma negativa.

Jaguaribe teria dito a Sobel que, por causa da redução da verba para assistência no Congresso, a chance de conseguir fundos era "muito pequena", mas talvez fosse possível obter alimentos.

Para ele, o Brasil vê o Afeganistão como "remoto e distante", seguindo os desenvolvimentos no país mas sem ser "um ator relevante", embora houvesse a possibilidade de abrir uma embaixada em Kabul. Ele também teria sugerido que o Irã poderia ser um ator relevante na região.

Para Sobel, conforme ele descreve no documento, há três obstáculos para uma ajuda brasileira: "a) o orçamento brasileiro, b) receptividade política, e c) a dificuldade brasileira em 'abraçar algo que não formulou'".



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XVIII. WIKILEAKS - Brasil
Brasil Negociou Imunidade a Militares Americanos

21.12.2010 / Fonte: Natália Viana


Durante anos, o governo americano pressionou o Brasil a assinar um acordo que garantia imunidade judicial a cidadãos americanos que estiverem no país, em especial um tipo de “blindagem” contra o alcance do Tribunal Penal Internacional (TPI).

Documentos revelados pelo WikiLeaks mostram que o governo brasileiro chegou a acenar com um acordo “informal” nesse sentido, mas depois recuou.

Mesmo assim, de fato, o Brasil permite uma “blindagem” legal a crimes cometidos por militares americanos em território nacional.

Soldados americanos não podem ser processados pela justiça brasileira se cometerem crimes dentro de navios ou aviões militares dos EUA, ou se cometerem crimes durante a realização de exercício militares.

Artigo 98

Entre 2003 e 2008, os Estados Unidos empreenderam uma forte campanha para blindar os seus cidadãos da jurisdição do Tribunal Penal Internacional em Haia, que EUA não reconhecem como legítimo.

Em 2003, o governo de George W Bush aprovou uma lei destinada a proteger seus militares de serem julgados por cortes internacionais. Com base no American Service Members Protection Act, o governo começou a pressionar diversos países a assinarem um acordo chamado Artigo 98, segundo o qual se comprometem a não extraditar cidadãos americanos ao TPI.

A pressão chegou até o Brasil

“Os Estados Unidos têm responsabilidades globais que criam circunstâncias únicas”, defendeu a atual secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em fevereiro de 2005, quando ainda era senadora. “Por exemplo, somos mais vulneráveis ao mau uso de uma corte criminal internacional por causa do papel internacional que temos e dos ressentimentos que surgem por causa da nossa presença ubíqua em todo o mundo”.

Pra quem não assinar, sanções

Embora a atual administração de Barack Obama seja menos radical na oposição ao Tribunal, o empenho do governo Bush garantiu imunidade a cidadãos americanos em mais de cem países através de acordos do Artigo 98 que continuam em vigor.

Outros países que não cederam sofreram sanções – desde cortes de financiamentos e treinamento às forças armadas até o fim de assistência econômica. Países como Mali, Namíbia, África do Sul, Tanzânia e Quênia, que rejeitaram publicamente o acordo em 2003, perderam milhões de dólares em auxílio para programas de desenvolvimento econômico.

O TPI tem investigado casos importantes no continente africano, incluindo massacres em Uganda, na República Democrática do Congo e no Sudão.

No Brasil, os EUA pressionaram ao acabar com uma subvenção que era dada para militares brasileiros para participar de cursos militares oferecidos pelas Forças Armadas daquele país, conforme um telegrama de março de 2004.

“Antes da imposição das sanções, o Ministério da Defesa brasileiro avisou que ia buscar treinamento militar e troca de oportunidades em outro lugar se o Brasil fosse obrigado a pagar o preço total do treinamento militar. Quase nove meses depois, o Ministério da Defesa realmente mudou grande parte do seu treinamento”.

O telegrama nota que desde 2003 a maior parte do treinamento militar brasileiro no exterior passou a ser realizado na França e no Reino Unido, mas também há exercícios na China, na Índia e na África do Sul. Segundo o telegrama, muitos militares brasileiros disseram querer voltar a se aproximar das forças americanas, mas o governo considerava “inaceitável” o aumento dos preços.

Jeitinho brasileiro

“Vocês precisam pensar fora da caixinha”, teria dito o secretário da Divisão das Nações Unidas do Itamaraty, Achiles Zaluar, ao secetário assistente americano para Assuntos Político-Militares, Lincoln Bloomfield Jr, em 14 de maio de 2004. Segundo ele, “o Brasil extraditaria (cidadãos americanos) para os EUA antes (de mandar para o) Tribunal Penal Internacional”.

Na mesma conversa, Zaluar teria explicado que o TPI tinha grande apoio no Brasil e que o governo não queria dar a impressão de que a lei internacional não se aplicava a alguns países.

“As coisas seriam diferentes se estivéssemos falando somente sobre oficiais e soldados americanos. Mas uma carta branca para todos os cidadãos americanos poderia ser prejudicial se (essa política) fosse aplicada por todos os países da Corte Penal”.

Zaluar também teria dito que o processo de extradição no Brasil é similar ao da União Européia e que o Brasil poderia oferecer “garantias adicionais” se fosse necessário.

Extradição “inimaginável”

Nos meses seguintes a pressão americana continuou intensa.

Um telegrama de 14 de julho relata um encontro entre o representante político da embaixada em Brasília com o diretor do Departamento de Organismos Internacionais do Itamaraty, Carlos Duarte. Ele teria reafirmado que o Brasil apoia fortemente a Corte Penal Internacional, mas isso não impediria “uma alternativa mutualmente aceitável” ao Artigo 98.

“Repetindo uma posição de longa data do governo brasileiro, Duarte comentou que nem ele nem seus superiores concebiam nenhuma ocasião em que o Brasil submeteria cidadãos americanos em solo brasileiro à jurisdição do Tribunal Penal Internacional”, descreve o diplomata Patrick Duddy, para quem a garantia brasileira parecia “sincera”.

Duarte teria dito ainda que “as preocupações dos EUA que levaram a essa posição são claramente compreendidas pelo governo brasileiro”. E enfatizou a vontade do Brasil de encontrar uma solução – até propôs um novo texto para o acordo.

“Ele sugeriu que o governo americano submetesse outra proposta com um texto modificado que se referisse exclusivamente aos militares e funcionários americanos em vez de a todos os cidadãos”.

As negociações por um acordo que blindasse os americanos chegaram a um final em 2005, segundo os telegramas obtidos pelo WikiLeaks. Em 28 de abril, o embaixador Antônio Guerreiro se encontrou com o secretário-assistente para Não-Proliferação de Armas, Stephen G. Rademaker. Foi taxativo, deixando clara a mudança de postura do Itamaraty.

O embaixador John Danilovich descreve que “Guerreiro educadamente mas inequivocadamente falou que o Brasil não assinaria um acordo sobre o Artigo 98 com os EUA e vê essa idéia como insolúvel”. Em diversos telegramas seguintes, a embaixada comandada por John Danilovich considera que conseguir o acordo seria muito difícil por conta da oposição do Ministério de Relações Exteriores.

Garantias de facto

Ao mesmo tempo, os EUA buscavam garantias para seus soldados que periodicamente vêm ao Brasil para realizar exercícios militares conjuntos.

“Apesar do governo brasileiro ter dado suas garantias escritas usuais para os militares participando desses exercícios, a embaixada entende que o departamento de Estado queira padronizar as proteções oferecidas”, diz um telegrama de 24 de março de 2005.

“Devemos ressaltar que nas décadas em que os EUA e o Brasil têm colaborado em exercícios militares, o governo brsaileiro sempre respeitou todas as normas e imunidades relativas ao nosso pessoal envolvido nesses exercícios — e não temos conhecimento de nenhum incidente afetando pessoal dos EUA que o governo brasileiro não tenha resolvido prontamente em nosso benefício”.

O embaixador John Danilovich explica em seguida como deveria ser a proposta de um acordo para proteção dos militares americanos.

Entre as condições estão a isenção de taxas de importação de equipamentos e a permissão para contratação de empresas privadas pelos militares estrangeiros. Danilovich conclui que “o Brasil já concorda com um status administrativo e técnico de facto para o pessoal militar americano que participa de exercícios militares”.

Esse status, conhecido como A&T, estabelece imunidades a forças militares de jurisdição criminal e civil – desde que a contravenção tenha sido realizada durante o cumprimento do serviço militar.

Itamaraty X Defesa, de novo

A resposta do Itamaraty foi firme. Em 31 de maio de 2005, um telegrama relatou que o Brasil rejeitou o acordo proposto. O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães teria recomendado que o Brasil não garantisse o status A&T aos militares americanos.

“Oficiais da missão americana acompanharam o progresso do tema com integrantes do Ministério da Defesa, que demonstraram forte apoio em garantir um acordo que facilitaria os exercícios militares”, descreve o telegrama, citando que o então ministro da Defesa José Alencar cogitava enviar uma carta ao chanceler Celso Amorim pedindo a proteção extra aos americanos.

No final, os militares brasileiros saíram derrotados.

No dia 30 de maio, o chefe de relações militares da embaixada foi chamado ao ministério da Defesa pelo Almirante Angelo Davena, secretário de Assuntos Políticos, Estratégicos e Internacionais.

“Davena disse que considerava uma 'derrota pessoal' não ter coneguido persuadir o alto escalão dos ministérios das Relações Exteriores e da Defesa a garantir status A&T, e pediu que o chefe de relações militares da embaixada transmitisse sua esperança de que os exercícios continuassem mesmo assim”.

Naquele ano, um exercício aéreo – Patriot Angel – foi cancelado, mas o exercício naval UNITAS aconteceu no dia 17 de outubro, partindo da Base Naval do Rio de Janeiro, com a participação de militares dos Estados Unidos, Espanha, Argentina e Uruguai.

Imunidades

Na prática, embora não tenha conseguido blindagem contra o Tribunal Penal Internacional, os soldados americanos têm algumas imunidades a crimes cometidos no Brasil.

Os detalhes são revelados em uma nota diplomática enviada pelo Itamaraty em setembro de 2005 e reproduzida em um telegrama da embaixada dos EUA em Brasília de 6 de julho do ano seguinte.

Nela o Ministério de Relações Exteriores lamenta não estar de acordo com os termos exigidos pelos americanos (de garantir status A&T) por avaliar que a concessão de imunidades judiciais iria contra a legislação penal brasileira, além de ferir o princípio de equidade entre os Estados e de isonomia entre brasileiros e estrangeiros.

Mas nota explica com que há, de fato, imunidades para quaisquer militares americanos que passam pelo Brasil em exercício militar. As garantias são as mesmas em “quase meio século”.

O Brasil reconhece o princípio de extraterritorialidade de embarcações e aviões militares, explica o documento. “Nesse sentido, os crimes cometidos dentro desses navios e aviões não estão sujeitos à legislação brasileira. Da mesma forma, crimes cometidos em território brasileiro por pessoal militar estrangeiro, enquanto estiverem cumprindo suas funções, não estão sujeitos à jurisdição brasileira, mas à jurisdição do país ou nacionalidade do perpetrador”.

A nota diplomática do Itamaraty reforça, no entanto, que as cortes brasileiras têm jurisdição sobre crimes cometidos fora do exercício militar determinado. “Neste úlimo caso, as cortes brasileiras agirão independentemente de quaisquer consultas entre os dois governos, baseando-se nos princípios constitucionais que estabelecem a independência de poderes”.

O mesmo telegrama mostra a irritação do Itamaraty em relação ao lobby americano junto a militares brasileiros pela conquista da imunidade judicial.

“Finalmente, o Ministério expressa à embaixada que as comunicações sobre esse assunto, para que sejam consideradas oficiais, devem ser direcionadas ao Itamaraty, a autoridade com responsabilidades apropriadas e o órgão que gerencia privilégios e imunidades a oficias estrangeiros que visitam o país”, diz a nota diplomática.

#Posté le mercredi 09 mars 2011 19:42

Modifié le jeudi 20 octobre 2016 11:34



WikiLeaks: Governos Fazem Espionagem em Massa de Celulares e Computadores

2.12.2011 / Fonte: UOL Notícias

WikiLeaks divulgou 'mapa da espionagem', com empresas fariam interceptação de dados


O site Wikileaks divulgou nesta quinta-feira (1) um sistema de espionagem em massa realizado por governos de diversos países em telefones celulares, computadores e também nos perfis de redes sociais de seus cidadãos. A prática, diz o documento, é adotada por ao menos 25 nações (entre elas o Brasil) por intermédio de 160 empresas de inteligência.

“Na prática, essa indústria [de espionagem] não é regulamentada. Agências de inteligências, forças militares e autoridades policiais podem, de forma silenciosa, em massa e secretamente, interceptar ligações e controlar computadores sem a ajuda ou conhecimento de empresas de telecomunicações. A localização física do usuário pode ser traçada se ele tiver um telefone celular, mesmo que o aparelho esteja em stand by”, afirma o documento do Wikileaks.

Esse vazamento foi chamado de projeto Spy Files (arquivos espiões) e, segundo o Wikileaks, mais informações serão publicadas sobre esse tipo de espionagem ainda nesta semana e também no próximo ano. O projeto fala ainda sobre a existência de muitas empresas que vendem equipamentos de espionagem em massa para agências de inteligência.

“Nos últimos dez anos, sistemas para espionagem indiscriminada em massa tornaram-se a regra. Empresas de inteligência como a VasTech vendem secretamente equipamentos que registram de forma permanente chamadas telefônicas de nações inteiras. Outras gravam a localização de cada telefone celular em uma cidade (...). Sistemas para infectar cada usuário do Facebook ou de smartphone de um grupo inteiro de pessoas estão no mercado de inteligência”, diz o documento do Wikileaks.

Brasil

O UOL Tecnologia entrou em contato com a Suntech, única empresa brasileira listada pelo site, que negou fazer interceptação de dados em massa – algo ilegal no país. Em seu site, a companhia baseada em Florianópolis define ser uma “empresa global que fornece inteligência em comunicações e soluções líderes de mercado para interceptação legal, retenção de dados e gerenciamento de rede para importantes fornecedores de serviços de comunicação e governos”.

Segundo a equipe de marketing da Suntech, só são interceptados dados de indivíduos mediante autorização judicial e isso nunca é feito em massa. A empresa brasileira acredita ter parado na lista porque – assim como as outras companhias que aparecem no mapa divulgado pelo Wikileaks – participa regularmente de um evento do setor chamado ISS (Intelligent Support Systems).

"Ditadores"

Para exemplificar como esse mercado funciona, o documento afirma que quartos com equipamentos de escuta foram encontrados neste ano, quando os ditadores do Egito e Líbia caíram – esses sistemas seriam responsáveis por monitorar os cidadãos no telefone e também na internet.

Outras companhias internacionais são citadas como desenvolvedoras de softwares que se instalam em computadores e smartphones (iPhones, Blackberries e modelos com plataformas Android) para registrar todo tipo de uso desses dispositivos, movimentos feitos por seus usuários e até mesmo os sons nos ambientes onde os aparelhos se encontram.



Para EUA, Aumento de Influência de Bancos Públicos
“Põe em Risco” Setor Financeiro

3.8.2011 / Fonte: A Pública


Dentre os cerca de 3 mil documentos referentes ao Brasil publicados pelo WikiLeaks ainda há muitos que são importantes para compreender a visão americana sobre eventos que aconteceram no país.

É o caso de um documento enviado pelo consulado de São Paulo em 15 de setembro de 2009 ao Departamento de Estado, sob o título “Brasil: aumento da influência dos bancos públicos traz riscos para o setor financeiro”.

O telegrama consiste em uma análise do crescimento da oferta de crédito pelos bancos públicos nos primeiros anos de crise econômica mundial – servindo, segundo a visão americana, como “quase um último recurso” para os setores mais afetados da economia.

Para o adido do tesouro dos EUA, o aumento “é resultado de pressão significativa do presidente Lula”, enquanto “o governo brasileiro também instruiu os bancos públicos a reduzir as taxas de empréstimo”.

Ouvindo fontes dos bancos privados – que não são nomeados no documento – a missão americana avalia que há muitas “vantagens de mercado” para os bancos públicos, tornando a competição desigual.

“Banqueiros disseram ao adido da embaixada do Tesouro americano que eles simplesmente não conseguem competir em empréstimos de longo prazo”.

Os motivos enumerados nos documentos são: os fundos provenientes do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), destinados aos bancos públicos, seriam de baixo custo; o acesso a financiamentos adicionais do Ministério da Economia; e a possibilidade de fazer empréstimos de mais alto risco com menos garantias.

“Com a recuperação da economia, o crescimento contínuo de crédito dos bancos públicos poderia gerar problemas inflacionários de curto prazo, à medida que o crédito privado deve aumentar”.

O pior cenário previsto pelo consulado é de 6,5% de inflação em 2010 – na verdade, chegou a 5.91%, a maior em seis anos.

De olho nas mudanças de direção

A missão americana também manteve Washington bem informado sobre mudanças nas lideranças de instituições-chave para a economia brasileira.

A expectativa da saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi citada no documento, assim como de dois “respeitados” integrantes do COPOM (Comitê de Política Monetária), Mário Mesquita e Mário Toros. A informação teria vindo de uma fonte de um grande banco privado.

“O aumento consistente nos empréstimos de bancos públicos no longo prazo poderia expulsar os emprestadores privados e se tornar um empecilho estrutural para a competição entre os bancos no futuro. Enquanto os bancos privados são expulsos do mercado de empréstimos, os subsídios e as garantias recebidas pelos bancos públicos podem aumentar as distorções e impor um alto custo à eficiência do sistema financeiro brasileiro e aos clientes do setor privado”.

No futuro, saturação

O relato diplomático termina com uma nota de preocupação – e ceticismo. “Muitos brasileiros, incluindo o presidente Lula, acreditam que o estável – embora ineficiente –sistema bancário (nacional) foi responsável por ajudar o Brasil a suportar a crise global”.

“O presidente Lula chegou a sugerir que uma fraqueza do sistema financeiro americano é a ausência de grandes bancos públicos”.

Segundo o documento essa “popularidade” tornaria uma reforma dos bancos públicos “politicamente difícil”.

No entanto, diz o texto, o aumento dos empréstimos levaria à uma “saturação do mercado nos próximos anos”. “A essa altura, restringir os bancos públicos pode ser ainda mais difícil”.

Todos os documentos da embaixada americana e consulados no Brasil foram publicados pelo WikiLeaks no dia 11 de julho, estando à disposição de pesquisadores, jornalistas e internautas no sítio www.wikileaks.org.



FHC: "Lula Só Quer Manter Sua Popularidade"

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso manteve dois encontros com o cônsul-geral de São Paulo, segundo documentos revelados pelo WikiLeaks. No primeiro, criticou Lula duramente, dizendo que ele só se importava em manter sua popularidade. Dois anos depois, defendeu Serra e afirmou que “Não era a vez de Aécio”

23.3.2011 / Fonte: A Pública


“Ele [FHC] afirmou que Lula não está interessado em reforma alguma, mas apenas em manter sua popularidade”, diz a mensagem. De acordo com o ex-presidente, faltava vontade política ao governo de Lula em implementar reformas ou mudanças fundamentais de natureza controversa.

O tema em questão era a CPMF. Segundo o relato, FHC disse ao cônsul Thomas J. White que seria “impossível eliminar a CPMF, apesar do sentimento popular e do lobby da comunidade de negócios porque o governo tornou-se dependente da receita gerada por ela”, relata o telegrama de 16 de agosto de 2007 que transcreve o encontro de dois dias antes.

Ele teria dito que achava difícil o governo passar tal medida no Congresso uma vez que a prorrogação dependeria de 60% de votação em ambas as casas para ser aprovada. A posição de Fernando Henrique diante da questão era que alíquota caísse de 0,38% para 0,2% e que uma parte da receita da CPMF deveria ser destinada aos estados e municípios. “Estas receitas foram estimadas em aproximadamente 15 bilhões de dólares em 2006”, calcula FHC na conversa.

Criada em 1997, a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) foi prorrogada no governo FHC por duas vezes, em 1999 e 2002. Durante o governo Lula houve mais uma prorrogação. Em 2007 a oposição votou toda contra a proposta do governo somando 27 votos contra. Na época, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) disse à imprensa que o esforço do PSDB havia sido orientado pelo próprio Fernando Henrique.

O telegrama conclui: “FHC, que completou 76 anos em junho, mantém-se ativo não só no seu partido, mas também na política nacional e no cenário internacional. Sua descrição de suas viagens programadas para os EUA, Europa e África são mais ambiciosas do que seria esperado de um estadista que se retirou para a vida acadêmica. Embora nem todos no PSDB apreciem que ele dê declarações com a frequencia que ele dá, especialmente por ele ser bastante crítico a líderes e membros do partido, poucos deles se atreveriam a ignorá-lo”.

Não era a vez de Aécio – Quase dois anos depois, Fernando Henrique encontrou-se mais uma vez com Thomas White e foi categórico ao dizer que Serra seria o candidato à presidência. “Agora não é a hora dele [Aécio] ser presidente”, cita o telegrama que ainda diz que FHC acredita que o mineiro ainda será presidente.

No telegrama de 12 de maio de 2009, Fernando Henrique julgou Aécio um excelente vice-presidente enquanto elogiava Serra ostensivamente. “Serra não tem medo de gente, é persistente e tem grande senso de propósito”, listou o tucano sobre o colega a quem considerava um servidor público exemplar e alguém que “entrou na política para ajudar as pessoas boas” e com “grande capacidade de entender o povo”. Ainda de acordo com Fernando Henrique, Serra possuía a mesma origem humilde que Lula e era um produto do sistema público de educação.



De olho na Olimpíada, EUA Faz Lobby e Amplia Presença no País

2.12.2010 / Fonte: WikiLeaks.ch


Telegramas enviados pela embaixada americana em Brasília e publicados pelo Wikileaks revelam que EUA estão preocupados com a segurança da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 no Brasil - e querem lucrar com isso.

Mesmo antes da escolha do país como sede das Olimpíadas, a seguraça dos jogos já era um dos principais temas na pauta de reuniões bilaterias entre diplomatas e militares. Os EUA buscam cooperação militar, oportunidades comerciais e já preparam um aumento do seu pessoal no país.

O apagão que deixou no escuro 18 estados brasileiros em 10 de novembro de 2009 ofereceu, nas palavras da conselheira para assuntos administrativos da embaixada, uma "excelente ocasião" para tratar do assunto.

"A preocupação, recentemente ampliada, com a infraestrutura brasileira depoois do blackout, aliada à necessidade de resolver desafios de infraestrutura na contagem regressiva para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, apresentam uma oportunidade para os EUA se envolverem em desenvolvimento de infrastrutura e também na proteção de infraestrutura crítica e segurança cibernética", escreveu Cherie Jackson num telegrama a Washington (CLIQUE AQUI).

O documento traz uma análise sobre o apagão , incluindo detalhes técnicos obtidos em conversas com membros do governo como Plínio de Oliveira, presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico e o Secretário Executivo do Ministério de Minas e Energia José Coimbra.

Jackson acredita que, embora a segurança física das instalações nunca tenha sido prioridade no Brasil, o foco deve ser cada vez maior à medida que se aproximam os jogos. Segundo ela, autoridades brasileiras "admitem a possibilidade de um ataque" e estariam identificando as principais instalações que precisam ser protegidas.

"O Brasil pode estar aberto a buscar cooperação em proteção crítica de insfraestrutura", diz ela.

Assim, Cherie Jackson faz um apelo para que diversos setores do governo dos EUA explorem as oportunidades a médio prazo no país.

Além dos americanos, o governo islaense também ofereceu apoio na coordenação das olimpíadas. Em 11 de novembro de 2009, o presidente de Israel Shimon Peres liderou uma comitiva de 40 empresas israelenses ao Rio de Janeiro.

"Da mesma forma que fizemos com as Olimpíadas da Grécia e na China, estamos oferecendo tecnologias especiais de comunicação e segurança", disse ele durante a visita.

O futuro é hoje

Em 24 de dezembro de 2009, Departamento de Defesa americano recebeu um detalhado relatório intitulado "Olimpíadas do Rio - O Futuro é Hoje" (CLIQUE AQUI). O telegrama, assinado pela Ministra Conselheira da Embaixada Lisa Kubiske - que permanece no cargo mesmo depois da troca de embaixadores este ano - aponta oportunidades comerciais e militares.

"O governo brasileiro compreende que enfrenta desafios críticos na preparação dos Jogos de 2016 e demonstrou grande abertura em áreas como compartilhamento de informações a cooperação com o governo dos Estados Unidos - chegando até a admitir que poderia haver a possibilidade de ameaças terroristas", diz o documento. A admissão, "pouco usual" para um "governo que oficialmente acredita que não existe terrorismo no Barsil", teria sido feita por Vera Alvarez, chefe da Coordenação-Geral de Intercâmbio e Cooperação Esportiva do Itamaraty.

Ela prossegue : "além de preparar as oportunidades comerciais que os jogos vão oferecer às empresas americanas, o governo dos EUA deveria se aproveitar do interesse do Brasil no sucesso olímpico para progredir na cooperação bilateral em segurança e troca de informações".

Jeito brasileiro

Kubiske reclama, no entanto, de muitas promessas e pouco planejamento e ação. Por exemplo, o presidente Lula prometeu entradas grátis para estudantes e trabalhadores de outros países, mas não pensou em como fazer isso.

Além disso, diz ela, tentativas dos EUA e do Reino Unido - que sediará as olimpíadas de 2012 - de entrar em contato com o Ministério dos Esportes não foram bem-sucedidas.

"Articular os objetivos mais amplos e deixar os detalhes para o último minuto pode ser o jeito tipicamente brasileiro, mas pode gerar problemas", comenta Kubiske.

"Os atrasos que esperamos do governo brasileiro em planejar e executar os trabalhos de preparação para uma Copa do Mundo e Olimpíadas bem-sucedidas com certeza vão gerar um ônus maior para o governo americano poder garantir que os padrões necessários serão alcançados".

Por isso, a missão americana já está coordenando a ampliação de pessoal, estrutura e recursos, com suas agências em Brasília e no Rio de Janeiro - o que seria necessário para gerenciar o envolvimento dos EUA nos Jogos. "Já existem oportunidades para o governo americano para buscar colaboração em função dos Jogos, incluindo aumentar a cooperação e a expertise brasileira em contraterrorismo", finaliza o telegrama.



Os Telegramas do Wikileaks, a Mídia e o MST

23.12.2010 / Fonte: América Latina em Movimento

por Igor Fuser, Professor de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero,
Doutorando em Ciência Política na USP e membro do conselho editorial do jormal Brasil de Fato



Os jornais brasileiros divulgaram na semana passada referências ao MST feitas em telegramas sigilosos enviados nos últimos anos por diplomatas estadunidenses no Brasil aos seus superiores em Washington e revelados pela rede Wikileaks. Algumas reflexões podem ser feitas a partir da leitura desse material.

1. A imprensa empresarial brasileira manteve nesse episódio sua habitual postura de hostilidade sistemática ao MST, apresentado sempre por um viés negativo, e sem direito a apresentar o seu ponto de vista. Para os jornais das grandes famílias que controlam a informação no país, como os Marinho e os Frias, o acesso a vazamentos da correspondência diplomática representou a chance de lançar um novo ataque à imagem do MST, sob o disfarce da objetividade jornalística. Afinal, para todos os efeitos, não seriam eles, os jornalistas, os responsáveis pelo conteúdo veiculado, e sim os autores dos telegramas.

Desrespeitou-se assim, mais uma vez, um princípio elementar da ética jornalística, que obriga os veículos de comunicação a conceder espaço a todas as partes envolvidas sempre que estão em jogo acusações ou temas controvertidos. Uma postura jornalística honesta, voltada para a busca da verdade, exigiria que O Globo, a Folha e o Estadão mobilizassem seus repórteres para investigar as acusações que diplomatas dos EUA no Brasil transmitiram aos seus superiores. Em certos casos, nem seria necessário deslocar um repórter até o local dos fatos. Nem mesmo dar um telefonema ou sequer pesquisar os arquivos. Qualquer jornalista minimamente informado sobre os conflitos agrários está careca de saber que os assentados no Pontal do Paranapanema mencionados em um dos telegramas não possuem qualquer vínculo com o MST. Ou seja, os jornais que escreveram sobre o assunto estão perfeitamente informados de que o grupo ao qual um diplomata estadunidense atribui o aluguel de lotes de assentamento para o agronegócio não é o MST. O diplomata está enganado ou agiu de má fé. E os jornais foram desonestos ao omitirem essa informação essencial.

Esse é apenas um exemplo, revelador da postura antiética da imprensa em todo o episódio. Se os vazamentos do Wikileaks mencionassem algum grande empresário brasileiro, ele seria, evidentemente, consultado pela imprensa, antes da publicação, e sua versão ganharia grande destaque. Já com o MST os jornais deixam de lado qualquer consideração ética.

2. A cobertura da mídia ignora o que os telegramas revelam de mais relevante: a preocupação das autoridades estadunidenses com os movimentos sociais no Brasil (e, por extensão, na América Latina como um todo). Os diplomatas gringos se comportam, no Brasil do século XXI, do mesmo modo que os agentes coloniais do finado Império Britânico, sempre alertas perante o menor sinal de rebeldia dos “nativos” nos territórios sob o seu domínio. Nas referidas mensagens, os funcionários se mostram muitos incomodados com a força dos movimentos sociais, e tratam de avaliar seus avanços e recuos, ainda que, muitas vezes, de forma equivocada. O “abril vermelho”, em especial, provoca uma reação de medo entre os agentes de Washington. Talvez por causa da cor... A pergunta é: por que tanta preocupação do império estadunidense com questões que, supostamente, deveriam interessar apenas aos brasileiros?

3. O fato é que o imperialismo estadunidense é, sim, uma parte envolvida nos conflitos agrários no Brasil. Essa constatação emerge, irrefutável, no telegrama que trata da ocupação de uma fazenda registrada em nome de proprietários estadunidenses em Unaí, Minas Gerais, em 2005. Pouco importa o tamanho da propriedade (70 mil hectares, segundo o embaixador, ou 44 mil, segundo o Incra). O fundamental é que está em curso uma ocupação silenciosa do território rural brasileiro por empresas estrangeiras. Milhões de hectares de terra fértil – segundo alguns cálculos, 3% do território nacional – já estão em mãos de estrangeiros. O empenho do embaixador John Danilovich no caso de Unaí sinaliza a importância desse tema.

4. Em todas as referências a atores sociais brasileiros, os telegramas deixam muito claro o alinhamento dos EUA com os interesses mais conservadores – os grandes fazendeiros, os grandes empresários dos municípios onde se instalam assentamentos, os juízes mais predispostos a assinarem as ordens de reintegração de posse.

5. Por fim, o material veiculado pelo Wikileaks fornece pistas sobre o alcance da atuação da embaixada e dos órgãos consulares dos EUA como órgãos de coleta de informações políticas. Evidentemente, essas informações fazem parte do dia-a-dia da atividade diplomática em qualquer lugar no mundo. Mas a história do século XX mostra que, quando se trata dos EUA, a diplomacia muitas vezes funciona apenas como uma fachada para a espionagem e a interferência em assuntos internos de outros países. Aqui mesmo, no Brasil, fomos vítimas dessa postura com o envolvimento de agentes dos EUA (inclusive diplomatas) nos preparativos do golpe militar de 1964. À luz desses antecedentes, notícias como a de que o consulado estadunidense em São Paulo enviou um “assessor econômico” ao interior paulista para investigar a situação dos assentamentos de sem-terra constituem motivos de preocupação. Será essa a conduta correta de um diplomata estrangeiro em um país soberano?



Cablegate: Os Relatórios sobre o MST

19.12.2010 / Fonte: Natália Viana


O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) mereceu especial atenção da embaixada americana em Brasília e dos consulados – que, é claro, não viam o movimento com bons olhos.

São 7 relatórios enviados entre 2004 e 2009 avaliando como funciona o movimento e o seu peso político. Um deles, de outubro de 2005, mostra como os EUA se empenharam em investigar a ocupação de uma fazenda pertencente a um grupo americano, em Minas Gerais.

“(O gerente da fazenda) Genevil depois disse ao adido para temas agrícolas da embaixada que o juiz que queria negociar com o MST foi substituído por um outro 'novo, mais sensato'. Genevil pareceu muito contente com essa decisão e acreditava que a ordem de reintegração seria expedida”, descreve o telegrama.

Outros telegramas avaliam que o MST tem sido “marginalizado como força política” por causa da avanço econômico e do programa Bolsa-Família.

O cônsul-geral em São Paulo, Thomas White, também não poupou críticas ao MST, ao ouvir que lotes distribuídos para fins de reforma agrária acabam sendo alugados para fazendeiros.

“O presidente Lula tem sido flagrantemente silencioso com suas promessas de campanha de apoiar o MST por uma boa razão: uma organização que ganha terra em nome dos sem-terra e que depois a aluga para as mesmas pessoas de quem tirou tem um sério problema de credibilidade”, escreveu em 29 de maio do ano passado.

A seguir, leia artigos sobre cada um dos telegramas, com os links



Abril Vermelho

19.12.2010 / Fonte: Natália Viana


A onda de ocupações do Abril vermelho de 2004 parece ter tomado de surpresa a embaixada americana. Logo a então embaixadora Donna Hrinak foi encarregada de escrever um relatório sobre o MST explicando do que se tratava. O documento foi enviado a Washignton em 12 de abril.

Hrinak criticou o líder João Pedro Stédile, que disse ter uma retórica “picante”, e fazer comentários como “Abril será um mês vermelho”.

Mas o documento avalia que o Plano Nacional de reforma Agrária – que previa de assentar 400 mil famílias até o fim de 2006 - andava mesmo a passos lentos: “O Plano Nacional é bom no papel mas está longe de ser realizado”.

Como resultado do abril vermelho, diz Donna Hrinak, “alguma verba deve ser liberada para reforma agrária, mas não o suficiente para alcançar as metas do Plano Nacional. De outro lado, o MST não vai dar trégua nas suas invasões de terra – nunca dá – mesmo se o governo atender suas demandas”.



Embaixada Vê MST em Declínio

19.12.2010 / Fonte: Natália Viana


A missão americana no Brasil avalia que o MST perdeu força política e suas atividades estejam em declínio.

Uma primeira avaliação nesse sentido veio em um telegrama de 16 de maio de 2008, enviado pelo consulado de São Paulo.

A missão procurou alguns especialistas para saber mais sobre o MST. Entre eles, o ombundsman da Fundação Instituto de Terras de São Paulo (ITESP), Carlos Alberto Feliciano.

Segundo Feliciano teria dito, o MST tem tido dificuldades em recrutar novos membros por causa do crescimento econômico e do Bolsa Familia.

“Muitos beneficiados pelo Bolsa Familia estão relutantes em se juntar ao MST por medo de perder seus benefícios. É difícil para eles seguir as condições do programa – manter os filhos na escola e garantir que sejam vacinados segundo o cronograma – enquanto vivem em um acampamento”, descreve o cônsul em São Paulo, Thomas White.

A embaixada também procurou o professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, da USP, que descreveu a falta de vontade política do governo Lula, para quem o agrobusiness e as grandes propriedades “oferecem um modelo econômico melhor para o desenvolvimento rural”.

Oliveira explicou que o lento processo de desapropriação tem enfraquecido o movimento, pois se não há terras para distribuir “muitas pessoas simplesmente desistem e voltam para as cidades”.

Por isso, avalia o documento, o MST tem feito ações rápidas destinadas a chamar a atenção da imprensa – e cita como exemplo os protestos conta a Vale.

“As ações contra a Vale, além de gerar publicidade, também são destinadas a satisfazer o nicho eleitoral do MST. Os líderes sem-terra acusam a empresa de explorar os trabalhadores e degradar o meio ambiente, e muitos integrantes da esquerda querem que a privatização seja revertida”.

O cônsul de São Paulo descreve o confronto ocorrido no terreno da Syngenta em 2007 que levou ao assassinato do líder Valmir Oliveira, conhecido como Keno. Os sem-terra protestavam contra testes de alimentos transgênicos que estariam sendo feitos próximos a uma reserva.

“O fato que os transgênicos continuam sendo um tema controverso nas mentes dos brasileiros também oferece uma oportunidade de propaganda vitoriosa ao MST ao atacar seus produtores”, escreve.

(Vale notar que outro documento da representação americana no Vaticano, publicado hoje pelo WikiLeaks, descreve o apoio do alto clero aos transgênicos. Leia aqui)

Alerta

O cônsul conclui o telegrama pedindo aos EUA para permanecerem em alerta com o MST.

“Apesar do MST estar em declínio, é improvável que acabe em curto prazo. Suas atividades continuam sendo uma fonte de preocupação para muitos proprietários”, escreve.

“Mesmo assim, a economia em crescimento combinada com as políticas destinadas a melhorar as condiçõs de vida da camada mais pobre – como o aumento do salário mínimo e o programa de transferência de renda “Bolsa Familia” – parecem fornecer pelo menos a alguns militantes uma alternativa, e pode estar forçando os líderes do MST a repensar suas táticas”.

Em outro telegrama, o consulado de Recife também ouviu fontes da igreja católica sobre o MST, em especial o padre Hermínio Canova, que reforçou que o Bolsa Família teria enfraquecido o movimento, que agora era forçado a “se reinventar”.

#Posté le mercredi 09 mars 2011 19:44

Modifié le vendredi 06 avril 2012 16:21



Clifford Sobel: Justiça Sobrecarregada e Impunidade no Brasil

Ex-embaixador dos EUA no Brasil criticou a justiça brasileira e a impunidade. O telegrama, de 25 de junho de 2008, é o primeiro da nova série a ser publicada pelo WikiLeaks com base nos pedidos dos internautas. O tema é o judiciário brasileiro

Março de 2011 / Fonte: A Pública


“Nós não esperamos que o governo Lula encaminhe algo nos dois anos e meio restantes, e não é claro que alguém influente esteja preparado para levantar o padrão”, diagnostica Sobel na mensagem, intitulada: “será que todos os os escândalos de corrupção importam?”

Nela, Clifford Sobel critica a postura das instituições brasileiras diante da corrupção no país. “O desfile constante de escândalos de corrução envolvendo agentes do governo e políticos, geralmente acabando em impunidade, resulta de fatores que perpetuam o status qho, incluindo instituições fracas, o status especial de políticos e o comportamento eleitoral”, descreve o diplomata no sumário do telegrama.

Sobel equaciona a impunidade e corrupção no Brasil como sendo frutos de aplicação fraca das leis, sobrecarga do judiciário, falta de verbas para agências e pressão política.O funcionamento do Ministério Público é criticado por Sobel. “O Ministério Público, um agente investigativo federal independente com poderes abrangentes, é reconhecido como quase sempre livre de corrupção, no entanto é comum que se envolva tarde demais em investigações ou falhe em agir.”, relata o telegrama.

Para o diplomata, as CPI's constituiam um dos principais mecanismos de investigação e também careciam de eficácia. “Absolvições por falta de provas ou por motivos políticos são comuns, e mesmo quando uma CPI conclui que um crime foi cometido, ela não tem como aplicar a lei ou poderes legais”, explica Sobel.

Relatório de um assinante de revistas – Na mensagem, Clifford Sobel desfia uma breve história americana da corrupção brasileira através das manchetes. Com base em revistas semanais, Sobel contabiliza 38% dos senadores e 36% dos deputados federais como acusados de crimes sérios ou já condenados. “As acusações são compra de votos, uso de propaganda eleitoral proibida e apropriação de dinheiro público”, relata o telegrama.

Lançando mão de dados da mídia, Sobel conta 3.712 pessoas presas pela Polícia federal por corrupção entre 2003 e 2006, dentre elas 1.098 seriam agentes públicos. “Destes, apenas 432 (cerca de 11%), foram condenados”, diz o telegrama onde está listado uma série de escândalos da época.

Dentre os casos de corrupção detalhados estão o uso abusivo dos cartões corporativos, os casos da Varig e da VarigLog, a Operação Navalha, os empréstimos do BNDES intermediados por Carlos Lupi e Paulinho da Força, o escândalo de Jader Barbalho na SUDAM, o mensalão de Zeca do PT, o esquema de Álvaro Lins na polícia civil carioca, e as operações Megabyte no Distrito Federal e João-de-Barro que agia em obras do PAC
em 8 unidades federativas.

Foro privilegiado e ficha limpa

O telegrama nota esforços no país para uma política mais ética no país. Dentre eles está a extinção do foro privilegiado no julgamento de autoridades e o impedimento da candidatura de políticos condenados criminalmente. “Apesar dos sinais positivos, não existe um esforço concentrado em resolver as falhas sistemáticas que criam um ambiente tão viável à corrupção”, comenta Sobel.

O embaixador americano em Brasília via no foro privilegiado um dos principais mecanismos de impunidade no país. “Autoridades federais eleitas, além de oficiais de alto escalão do poder executivo e membros do judiciário, são designados a terem seus casos julgados na Suprema Corte (STF) ou no Supremo Tribunal de Justiça, mas o primeiro nunca condenou ninguém em uma acusação de corrupção”, detalha a mensagem que explica que politicos podem protelar as ações através de manobras jurídicas. O telegrama sublinha o julgamento dos 40 réus do Mensalão como sendo a oportunidade do STF “quebrar este recorde depressivo” e conta apenas 5 condenações por corrupção por parte do STJ.



Ex-Ministra do Paraguai Temia "Controle" do Brasil sobre Seu País

17.2.2011 / Fonte: Natália Viana


Além da Colômbia que, conforme revelou despacho de 2004 vazado pelo Wikileaks, reclamou com os Estados Unidos sobre um suposto “imperialismo brasileiro” na América do Sul, a ex-ministra de Relações Exteriores do Paraguai, Leila Rachid, foi outra autoridade que buscou auxílio da diplomacia norte-americana contra a política externa brasileira, em uma reunião com o embaixador dos EUA em Assunção, em 21 de abril de 2005.

Leila Rachid foi chanceler entre 2003 e 2006, durante o governo do colorado Nicanor Duarte Frutos. Duarte foi o último presidente do Partido Conservador, que dominou a política paraguaia por seis décadas, até a vitória eleitoral do progressista Fernando Lugo, em 2008. Considerado um aliado próximo dos EUA, o paraguaio chegou a permitir a presença de tropas norte-americanas no país até 2006, como parte de um acordo de cooperação militar com os EUA.

Na época da reunião descrita no documento, o Paraguai estava atuando como presidente do Mercosul, e por isso havia emitido um comunicado conclamando o Equador a “preservar a democracia” diante do caos. No dia 20 de abril, o presidente equatoriano Lucio Gutierrez fora destituído pelo Congresso após ter perdido o apoio das Forças Armadas em meio a protestos populares.

O comunicado do Mercosul evocava as diretrizes da recém-criada Comunidade Sul-Americana de Nações (que depois se tornaria a atual Unasul – União de Nações Sul-Americanas). Segundo disse Leila Rachid ao embaixador norte-americano, a observação foi resultado da insistência do ex-chanceler brasileiro Celso Amorim, que preferiu a Unasul em vez da Carta Democrática Interamericana.

Ela explicou que se opôs à ideia porque a Comunidade Sul-Americana de Nações “é meramente um brilhozinho nos olhos a essa altura; foi anunciada como uma proposta no ano passado, mas falta estrutura, um conjunto de princípios acordados pelos membros e outras características normais de 'institucionalização'”. Segundo o despacho, Amorim teria dito que citar a carta Interamericana seria um convite aos EUA para “interferir” em questões regionais, que, para o Brasil, deveriam ser cuidadas apenas pelos países sul-americanos.

O documento prossegue: “Ela fez um comentário pessoal [dizendo] que Amorim está empurrando uma agenda para minimizar a influência dos EUA na América do Sul e afirmar o domínio brasileiro, uma direção que ela se opõe fortemente porque se traduz em controle irrestrito do Brasil sobre o destino do Paraguai”, diz o despacho.

Um mês depois, em 13 de maio, Leila seria ainda mais explícita. Ela compareceu à outra reunião com o embaixador norte-americano John F. Keane para tratar do congresso ministerial da OEA (Organização dos Estados Americanos) e a possibilidade de assinar o Artigo 98 – segundo o qual o Paraguai se comprometeria a não extraditar cidadãos norte-americanos ao Tribunal Penal Internacional.

Nessa reunião, Rachid não poderia ser mais clara: pediu um encontro com a secretária de Estado Condolezza Rice sobre a atitude comercial brasileira e a política externa. “Ela reclamou que o Brasil havia cortado cotas de exportações paraguaias”, relata o documento. “Ela também estava preocupada com a ambição brasileira de se tornar a maior liderança política na região e instou que os EUA se afirmassem para se opor ao Brasil”. 




Embaixada Fez Lobby em Nome das Indústrias Farmacêuticas

16.12.2010 / Fonte: Natália Viana 


Hoje o WikiLeaks disponibilizou no seu site documentos que contam como fucniona o lobby americano para proteger as patentes das empresas americanas. Os documentos podem ser vistos neste link.

Os telegramas mostram como os diplomatas atuavam para influenciar entidades brasileiras – em especial a Confederação Nacional das Indústrias – para evitar que a quebra de patentes de remédios anti-HIV se propagassem para outros medicamentos e produtos.

O temor da indústria americana fica claro por exemplo em um telegrama enviado em 26 de setembro de 2003, pouco depois que o governo assinou um decreto que permitia o licenciamento compulsório de remédios se houvesse uma emergência.

Nele, o diplomata Richard Verdin relata o que chama de “um crescente sentimento antipatentes no Brasil”.

O Brasil é mantido em uma lista “de alerta” (Spcial 301 Review) do governo americano sobre pirataria e respeito à proriedade intelectual. Os EUA tinham claramente um enorme receio quanto ao Governo Lula – que chegou a quebrar uma patente apenas, de um medicamento antiretoviral.

“Mais atenção para problemas de propriedade intelectual, especialmente na área de direitos de copyright, deve acontecer durante o novo governo Lula”, diz um telegrama de 2 de março de 2003. “É muito cedo para avaliar o compromisso do novo governo”.

“Manter o estatus do Brasil na lista Special 301 será o equilíbrio ideal entre o reconhecimento de uma tradição ruim em termos de respeito à propriedade intelectual, a esperança que o novo governo atue contra isso e o reforço da mensagem de que a propriedade intelctual continua sendo prioridade na nossa agenda bilateral”, conclui o documento.

A indústria farmacêutica americana não gostou nada da quebra da patente do medicamento anti-HIV Efavirenz, produzidos nos EUA e usado no combate à AIDS, em setembro de 2007.

Desde 2004 o embaixador John Danilovich se encontrava com diversos representantes do Itamaraty, como mostra um telegrama enviado em 10 de junho de 2005.

“No dia 10, o embaixador se reuniu com Clodoaldo Hugueney, subsecretário do Itamatary para Assuntos Econômicos e Tecnolóigicos, para discutir uma série de assuntos, principalmente a legislação que impediria a patente de medicamentos contra a AIDS, e a constante ameaça da licença compulsória contra as empresasa americanas Gilead Sciences, Abbott Laboratories, e Merck, Sharp & Dohme em relação aos seus medicamentos para AIDS”.

O telegrama revela que o embaixador estava pressionando pela mudança do projeto de lei.

“Quando perguntado pelo embaixador se um acordo entre o Ministério da Saúde e as empresas farmacêuticas poderia efetivamente matar a legislação sobre a patenteabilidade dos medicamentos contra a AIDS, Hugueney se esquivou de dar uma resposa definitiva, mas disse que via uma ligação entre os dois temas”.

Em outro telegrama, de 21 de agosto de 2009, a diplomata Lisa Kubiske avaliou que a “resistência do Itamaraty parece ser motivada pelo desejo de o Brasil assumir a liderança entre as nações em desenvolvimento e a crença política (liderada pelo Ministério da Saúde) de que as patentes farmacêuticas contrariam o interesse público, ao limitar o acesso aos medicamentos”.



Wikileaks Expõe Diplomacia dos EUA e Chamusca Jobim

Novos documentos divulgados pelo site Wikileaks mostram críticas feitas pelo ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, ao Plano Nacional de Defesa anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2008. Em telegrama enviado a Washington, Sobel critica a ênfase dada pelo governo brasileiro à "independência no controle de armamentos" e à busca de alianças e acordos militares com nações dispostas a transferir tecnologia. Em outro documento, embaixada dos EUA em Paris alerta para aproximação entre Brasil e França. Comentários do ministro da Defesa, Nelson Jobim, irritam diplomacia brasileira

1.12.2010 / Fonte: Carta Maior


O site Wikileaks divulgou novos documentos nesta quarta-feira (1°), expondo críticas feitas pelo ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, ao Plano Nacional de Defesa anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2008. Em telegrama enviado a Washington, em janeiro de 2009, Sobel critica a ênfase dada pelo governo brasileiro “à independência no controle de armamentos” e à busca de alianças e acordos militares com nações dispostas a transferir tecnologia. A correspondência manifesta desagrado com essas orientações da política de Defesa anunciada pelo presidente Lula. O ex-embaixador chega a atribuir tais problemas à “formação socialista” de Lula:

"A formação socialista do PT do presidente Lula é evidente nos esforços de engenharia social através de serviço militar obrigatório, em prejuízo de uma defesa mais eficaz."

A defesa mais eficaz, no caso, é aquela que atenda aos interesses dos EUA, conforme manifesta explicitamente o diplomata ao falar sobre a necessidade de modernização das forças armadas brasileiras. Sobel chama o projeto de construção de um submarino nuclear de “elefante branco” e resume assim a vontade dos EUA para o Brasil:

“Uma força militar mais capaz e com maior empregabilidade pode apoiar os interesses dos EUA ao exportar estabilidade à América Latina e estar disponível para operações de manutenção de paz em outros lugares."

O jornal “El País”, da Espanha, destacou outro documento publicado pelo WikiLeaks que reforça a preocupação dos EUA com os rumos da política externa brasileira. Segundo o El País, no final de 2009, a embaixada dos EUA em Paris “alertou” Washington para a frequência dos encontros entre os presidentes da França, Nicolas Sarkozy, e Lula, do Brasil (nove vezes em dois anos). O incremento das relações diplomáticas, políticas, econômicas e militares entre Brasil e França é motivo de “preocupação” para a diplomacia norte-americana. Essas preocupações são expostas em uma mensagem intitulada “França e Brasil: o começo de uma história de amor”.

França e Estados Unidos disputam, cabe lembrar, a venda de aviões caças ao Brasil. A tendência brasileira no momento aponta para o francês Rafale, em um negócio estimado em aproximadamente R$ 10 bilhões para a compra de 36 aviões. Uma das vantagens da proposta francesa, segundo a avaliação do governo brasileiro, é a possibilidade de transferência de tecnologia sem restrições, o que não ocorre no caso dos aviões dos EUA, os F/A 18 Super Nornet, fabricados pela Boeing.

Nelson Jobim, “um dos mais confiáveis líderes no Brasil”?

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, saiu chamuscado com a revelação do Wikileaks sobre os comentários as informações que teria repassado ao governo norte-americano. Os comentários negativos a respeito do Itamaraty e do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães que, segundo Jobim, odiaria os EUA, foram contornados com declarações diplomáticas das partes envolvidas dizendo que não é bem assim, veja bem, etc... Mas a transmissão de informações sigilosas irritou a diplomacia brasileira, afirma matéria do jornal Valor Econômico nesta quarta-feira. Uma informação em especial: Jobim teria confirmado a Washington o diagnóstico de câncer no presidente da Bolívia, Evo Morales. O embaixador Clifford Sobel teria enviado um telegrama a Washington em 2009, repassando a informação que teria sido dada por Jobim, após um encontro entre Lula e Evo Morales, na Bolívia. “A transmissão, a outro governo, de um suposto segredo de Estado de um aliado do Brasil é uma falta grave", disse um graduado diplomata brasileiro ao Valor.

O governo, oficialmente, pôs panos quentes no episódio dizendo que não vai abrir um conflito por conta de “telegramas de embaixador”. Mas os telegramas arranharam a imagem do ministro, ao mostrarem uma proximidade incomum com o embaixador dos EUA, considerando que ele é o ministro da Defesa do país que lidera um processo de integração em um continente historicamente subjugado aos interesses políticos e econômicos norte-americanos. Para o jornalista Leandro Fortes, “não por outra razão, Nelson Jobim é classificado pelo embaixador Clifford Sobel como talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”. Não é difícil compreender tamanha admiração, ironiza. “Resta saber se, depois da divulgação desses telegramas, a presidente eleita Dilma Rousseff ainda terá argumentos para manter Jobim na pasta da Defesa, mesmo que por indicação de Lula”, escreve Leandro Fortes.

Celso Amorim e Lula minimizam valor dos documentos

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, minimizou o valor das informações e dos documentos divulgados pelo WikiLeaks. "Devo dizer que não estou tão emocionado como a maioria de vocês" sobre os milhares de documentos diplomáticos dos EUA revelados pelo site, disse Amorim à Agência France Press durante um evento em Washington. “A maior parte do que li eu já conhecia ou é pouco relevante", acrescentou Amorim, que foi reconhecido nesta quarta-feira pela revista Foreign Policy como um dos 100 "pensadores globais" de 2010.

Na avaliação do chanceler brasileiro, as percepções privadas de diplomatas não devem ser confundidas com posições de Estado: "Não vou discutir percepções de agentes diplomáticos americanos. Sinceramente, o tom que um agente diplomático americano utiliza para fazer suas avaliações é algo que não me interessa. Você acredita em tudo o que dizem nos telegramas"? – indagou.

O presidente Lula também considerou “insignificante” o conteúdo dos documentos. "De vez em quando aparecem essas coisas. Eu acho que as coisas que vi são tão insignificantes que não merecem ser levadas a sério", disse Lula a jornalistas após visitar, terça-feira as obras de uma hidrelétrica no Maranhão. "Se fossem importantes (os documentos) não teriam sido vazados", acrescentou.

Declarações diplomáticas a parte, o fato é que a ação do Wikileaks está incomodando muita gente, em especial o governo dos EUA, que teve expostas as entranhas de sua diplomacia. A Interpol emitiu, dia 30 de novembro, um mandado de busca para a prisão de Julian Assange, o jornalista australiano criador do site. O alerta vermelho publicado no site da agência internacional de polícia atende a um pedido da Justiça da Suécia, que processa Assange por “crimes sexuais”. O jornalista e cyberativista nega as acusações, diz que são uma tentativa de acabar com o seu trabalho e vem lutando para não ser preso. O cerco contra ele está apertando.




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#Posté le mercredi 09 mars 2011 19:44

Modifié le mercredi 11 avril 2012 19:57


Amorim: A Pedra no Meio do Caminho

Os documentos vazados pelo Wikileaks revelam como o serviço diplomático americano elaborou uma estratégia para (não) lidar com o ex-chanceler e hoje ministro da Defesa Celso Amorim, que chamavam de “esquerdista”. Ao mesmo tempo, a diplomacia dos EUA tinha Nelson Jobim como fonte e recebia apoio de integrantes do governo e das forças militares

18.9.2011 / Fonte: A Pública


Aos olhos do serviço diplomático americano, em especial durante a era George W. Bush (2001-2009), a posição mais independente do Ministério das Relações Exteriores (MRE) capitaneado por Celso Amorim parecia uma constante provocação.

Nos telegramas vazados pelo parceiro da Pública, o WikiLeaks, o MRE é visto “com inclinações antiamericanas” que impedem a melhoria das relações com o governo brasileiro e que tem, além de um “acadêmico esquerdista” (Marco Aurélio Garcia) que aconselha o presidente Lula, um ministro “nacionalista” (Celso Amorim) e um secretário-geral “antiamericano virulento” (Samuel Pinheiro Guimarães).

“Manter a relação político-militar com o Brasil requer atenção permanente e, talvez, mais esforço do que qualquer outra relação bilateral no hemisfério”, desabafava em novembro de 2004, o embaixador do partido republicano John Danilovich, um dos dois diplomatas que receberam a embaixada em Brasília como “recompensa” por levantar centenas de milhares de dólares para a campanha presidencial de Bush.

Foi ele que, numa reunião em março de 2005, tentou catequizar Celso Amorim sobre a ameaça “cada vez maior” que a Venezuela representava a toda a América do Sul. A resposta foi “clara” e “seca” na descrição do americano. “Nós não vemos Chávez como uma ameaça”, respondeu Amorim. “Não queremos fazer nada que prejudique nossa relação com ele”, afirmou. O embaixador finaliza o documento em tom desapontado: o Itamaraty não “comprou” a ideia americana.

Sobel, o sucessor

Sai Danilovich entra Clifford Sobel, também republicano e ligado aos Bush. Sobel soube escolher melhor de quem se aproximar: do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, que virou interlocutor contumaz do embaixador, a ponto de confidenciar sua irritação com o MRE – compartilhada pelos EUA – em especial com o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.

Jobim tornou-se peça vital em uma estratégia diplomática americana que explorava a divisão dentro do governo em benefício próprio. Em fevereiro de 2009, com Barack Obama presidente dos Estados Unidos, Sobel enviou uma série de três telegramas com o significativo título de “Compreendendo o Ministério de Relações Exteriores do Brasil”.

Neles, pensava uma estratégia para contornar o triunvirato “esquerdista” que já incomodava os planos do seu antecessor. “Juntos com o presidente Lula, eles (Amorim, Guimarães e Garcia) têm puxado o MRE para direções inabituais e, às vezes, diferentes entre si”, pontua Sobel.

“Enquanto tentamos aprofundar nossas relações, a dinâmica ideológica faz com que o Itamaraty seja, às vezes, um parceiro frustrante”, assinala o embaixador, esperançoso com a aposentadoria próxima de Pinheiro Guimarães e com a possibilidade de influenciar os diplomatas mais jovens que ocupariam os futuros postos de comando.

O primeiro telegrama ainda trata da proximidade entre Amorim, “um esquerdista mais afeito às delicadezas diplomáticas”, e Guimarães “adepto de posições radicais como a de que o Brasil precisa de armas nucleares para se impor no cenário internacional”.

A indicação de Amorim para o cargo teria sido obra de Pinheiro Guimarães, ao contrário do que sugeriam suas posições hierárquicas. “Um diplomata aposentado contou a nossos conselheiros políticos que a influência e independência de Guimarães deve-se ao fato de ter sido o primeiro escolhido pelo PT para o MRE. Como ele achava que seu nome não seria aprovado pelo Congresso, indicou Amorim para o cargo e escolheu para si o posto de secretário-geral. Além de ligações familiares, a filha de Guimarães é casada com o filho de Amorim. Essa história explica sua autoridade desmedida e substancial autonomia”, fofocou o embaixador.

Escanteando o Itamaraty

O certo é que Sobel via o MRE como “um desafio” para os EUA. O jeito, sugeriu, seria fazer aliança com os setores privados, que têm “habilidade para conseguir aprovar iniciativas junto ao governo”, além de tentar uma aproximação direta com o presidente Lula e outros ministros que poderiam defender a causa americana.

Essa é uma “estratégia testada”, afirma Sobel, citando entre outros exemplos o caso da transferência dos agentes da Drug Enforcement Administration (DEA), a agência americana de combate às drogas, que foram expulsos da Bolívia no final de 2008.

As conversas com setores do governo brasileiro começaram em seguida do presidente boliviano Evo Morales expulsar cerca de 30 oficiais da agência, que centralizava a guerra contra as drogas, acusando-os de espionagem.

A DEA, de fato, faz parte do aparato de inteligência americano. Para realocá-los, Sobel evitou o caminho protocolar, que seria dialogar com Virginia Toniatti, diretora de crimes transnacionais do Itamaraty (COCIT), figura “geralmente resistente à cooperação com os EUA”.

Um relatório escrito pela conselheira da embaixada dos EUA, Lisa Kubiske, no final de dezembro de 2008, conta que Sobel discutiu o aumento do pessoal da DEA com Tarso Genro, então Ministro da Justiça e com o Ministro-chefe de Segurança Institucional, general Jorge Félix, além de debater de maneira “extensiva” com a Polícia Federal, que apoiou “completamente” a transferência.

“A embaixada evitou propositalmente pedir permissão formal para aumentar (o número) de escritórios (da DEA), já que (um pedido) não é estritamente necessário para aumentar a equipe em escritórios já existentes, e somente o MRE poderia garantir isso”, escreve Kubiske.

Isso porque esse tipo de requerimento teria que passar por uma nota diplomática por meio da diretora de crimes transacionais e, de novo, pelo secretário-geral do MRE e “ambos provavelmente atrasariam o pedido”.

Sobel explica que o Itamaraty, ao saber da estratégia, tentou evitar a vinda dos presumidos espiões da DEA. “Apesar da recusa do MRE de conceder vistos aos agentes americanos, conseguimos realizar a transferência com a ajuda da Polícia Federal, da Presidência da República e de nossas excelentes relações com o Ministro da Justiça”, explica, orgulhoso do feito. Segundo ele, a transferência também teve o apoio do governo boliviano.

De olho nos novatos

O segundo dos três telegramas da série sobre o MRE é dedicado à falta de recursos humanos e financeiros do Itamaraty que, diante do crescimento do papel internacional do Brasil, se expandiu entre 2003 e 2009, com a abertura, por exemplo, de 44 novas unidades administrativas em Brasília e 17 novas embaixadas brasileiras na África.

Para a diplomacia dos EUA o emprego de “trainees e terceiros-secretários” sem condições de acompanhar os movimentos de Lula no cenário internacional era vista com bons olhos. “É crucial influenciar essa nova geração de diplomatas que, embora nacionalistas, estão mais abertos a considerar que a cooperação entre EUA e Brasil pode coincidir com os interesses de seu país”, assinala o embaixador.

“Os franceses instituíram um programa de intercâmbio diplomático com o Itamaraty em 2008, semelhante ao nosso Transatlantic Diplomatic Fellowship. Acreditamos que uma proposta similar seria válida tanto para conseguir um posto que nos permita observar de dentro o funcionamento desse ministério-chave, como para fazer os diplomatas brasileiros entenderem como os EUA executam sua política externa”.

Seguindo a estratégia de contornar Amorim, o terceiro telegrama trata da “concorrência entre agências do governo”. De acordo com a análise de Sobel, embora o MRE continuasse a ser o líder da política externa brasileira, o crescimento internacional do país tendia a erodir seu controle à medida que os temas se expandissem.

A oportunidade americana seria facilitada diante da falta de hábito das instituições brasileiras em lidar diretamente com governos estrangeiros. “Muitos ministros se autocensuram, impedindo-se de estabelecer relações com outros governos sem a luz verde do Itamaraty”, lamenta, citando como exemplo o Ministério do Trabalho e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

No entanto, alguns ministérios como o do Meio-Ambiente (à época chefiado por Carlos Minc) e, principalmente, o da Defesa “estabeleceram relações diretas” com a embaixada brasileira, comenta Sobel.

Um telegrama enviado em 31 de março de 2009, depois da visita do presidente Obama ao Brasil, dá um exemplo prático. Pedindo sigilo absoluto de fonte, o embaixador conta que Jobim estava ciente da oferta de Lula a Obama de buscar caminhos para contribuir com o combate ao narcotráfico na região, possivelmente por meio do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) criado em dezembro de 2008 pela União Sul-Americana de Nações (UNASUL).

“Ele disse que o CDS poderia ser o canal perfeito para conseguir o engajamento dos militares dos outros países diretamente com a presidência do Brasil (sem passar pelo MRE) e que planejava falar com o presidente nas próximas semanas”, escreve Sobel.

Jobim também informou a disposição em envolver os militares na luta contra o tráfico de drogas nas fronteiras brasileiras. E contou que o presidente Lula teria lhe pedido que fosse ao México, a pedido do presidente Calderón, para discutir a colaboração entre os governos nesse tema.

“O Brasil hesita em empregar os militares no combate ao narcotráfico tanto por sua história como pela possibilidade de corrupção. O plano de Jobim sinaliza um grande passo, uma vez que o assunto é altamente sensível internamente, no governo, e para o público brasileiro. A intenção de Jobim de trabalhar sem o Ministério das Relações Exteriores traz uma susceptibilidade burocrática adicional a complicada tarefa de conquistar o apoio das outras nações da América do Sul”, comenta Sobel

A compra dos caças

Tudo indica que no episódio das tratativas frustradas de compra dos caças F-X, Jobim e os líderes militares agiram também bem longe dos olhos do Itamaraty.

Os informes diplomáticos sobre a negociação se iniciam em 2004 e estão entre os mais reveladores e numerosos – cerca de 50 telegramas. A comparação entre o que dizem os representantes brasileiros em público e o que cochicham em particular é gritante.

A exceção, nesse caso, foi Amorim, que se posicionou abertamente pela compra dos caças Rafale, da França, tanto pela garantia de transferência de tecnologia feita pelo presidente Nicolas Sarkozy como pelo interesse estratégico na aliança com àquele país o que, para Sobel, se configura como disposição para “desafiar os americanos”.

Jobim, por sua vez, se comportava de maneira dúbia e confundia a diplomacia estrangeira. Em um telegrama intitulado “Brasil e França: amor verdadeiro ou casamento de conveniência”, o embaixador relata a visita da comitiva presidencial à França e à Rússia cujos objetivos “cada vez com mais detalhes” haviam sido confidenciados por Jobim antes da viagem.

“O encontro entre os presidentes Lula e Sarkozy e a visita do ministro Jobim à França desencadearam uma onda de francofilia na política externa brasileira, particularmente em relação a uma parceria estratégica”, escreve Sobel em maio de 2008. “Talvez seja mais um 'marriage blanc' do que 'amour veritable'”. Numa tradução livre, um “casamento de fachada e não amor verdadeiro”.

Sobel continua: “Nos encontros privados, Jobim minimizou a relação com a França e manifestou um claro desejo de ter acesso à tecnologia americana. O obstáculo é a resistência do MRE. Ele diz que o governo brasileiro acha a aliança com a França mais conveniente politicamente e considera que o país tem mais a ganhar com a tecnologia americana”.

Em um telegrama de janeiro de 2009, pouco depois da eleição de Obama, Sobel conta ter sido convidado a ir à casa do então ministro da Defesa para um encontro privado. Jobim teria dito que as relações de defesa entre Brasil e França prosperaram por causa da relação pessoal entre os presidentes Sarkozy e Lula, mas que o presidente brasileiro estaria interessado em conversar sobre assuntos estratégicos com o novo governo americano.

Disse ainda que “Jobim acrescentou que Lula 'usa' o ministro Amorim, mas não tem uma relação forte com ele, e que o presidente não gosta de Samuel Pinheiro Guimarães”.

Sobel também se reuniu diversas vezes com os comandantes das Forças Armadas para pedir “conselhos” e ouvir sua opinião sobre as chances dos caças da Boeing vencerem a concorrência de quase 10 bilhões de reais. “Os apoiadores mais fortes do Super Hornet (o F-18 americano) são as lideranças militares, em particular o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que considera a oferta da Boeing o melhor negócio e vê as Forças Armadas americanas como a melhor escolha para uma parceria com o seu país”, escreve em telegrama de janeiro de 2009.

Durante um jantar oferecido ao comandante americano Doug Fraser, em julho do mesmo ano, o brigadeiro Saito teria puxado Sobel e seu conselheiro político de lado para discutir a aquisição dos caças. “Ele disse que não havia dúvida do ponto de vista técnico sobre a superioridade do F-18: 'Há décadas voamos em equipamentos americanos e sabemos o quanto eles são bons e fáceis de manter'”.

Saito então pediu que o governo americano enviasse uma carta ao governo brasileiro se comprometendo a transferir tecnologia além de reiterar a importância da aproximação de Lula e Obama para o negócio.

Em outro telegrama, o embaixador conta ter obtido “uma cópia não oficial” de uma Requisição de Informações da Aeronáutica (passada eletronicamente para Washington) que “permite planejar os próximos passos para os EUA vencerem a negociação”.

Além de classificar o F-18 como uma aeronave testada em combate “com incomparável segurança e durabilidade”, e de garantir que o preço não seria o principal critério da escolha da Aeronáutica, a informação mais importante obtida pelo documento é de que a Embraer, “principal beneficiária de qualquer transferência de tecnologia”, consideraria “desejável a oportunidade de estabelecer uma parceria com a Boeing”, principalmente se a companhia americana “tivesse a intenção de oferecer uma cooperação adicional na área da aviação comercial”.

Se os telegramas tivessem vazado anteriormente, seria embaraçoso para a Aeronáutica sustentar o relatório apresentado em janeiro de 2010 pela Força Área Brasileira (FAB) ao ministro Jobim que colocava o caça sueco em primeiro lugar na preferência, exatamente por causa do preço e custo de manutenção.

Naquele momento, o documento foi interpretado pela imprensa brasileira como uma “derrota” do governo, nitidamente favorável ao caça francês, classificado em terceiro lugar, atrás dos americanos.

O relatório teria sido modificado dias depois por “pressão do Planalto”, de acordo com a imprensa, para melhorar a posição do caça francês, afirmando que, apesar dos suecos serem mais baratos, o Rafale e o F-18 têm tecnologia superior.

Haiti, exceção à regra

Pouco depois do lançamento dos documentos do WikiLeaks, Amorim minimizou as revelações, dizendo que “ou são irrelevantes, ou eu já sabia, ou tem um valor às vezes de fofoca”.

Quanto às críticas ao Itamaraty, disse que a instituição sempre foi vista com reservas pelos diplomatas estrangeiros, por ser “a primeira linha de defesa da soberania”. “Eles não gostam de tratar diretamente com o Itamaraty. Não são só os americanos, não. É qualquer diplomata estrangeiro”.

Durante sua gestão, no entanto, a exceção a regra que aproximou o Itamaraty dos EUA foi o Haiti. Amorim foi favorável ao envio das tropas brasileiras – e da subsecretária para assuntos políticos do Itamaraty, Vera Pedrosa, que ajudou a assegurar à embaixada americana que o Brasil iria agir, mesmo que tivesse que “dar um jeitinho”.

Segundo um telegrama de março de 2004, Vera explicou que tradicionalmente a interpretação é de que a Constituição brasileira só permite enviar tropas em casos previstos no capítulo VI do Estatuto da ONU, ou seja, em operações de manutenção de paz – enquanto o caso do Haiti se encaixava no capítulo VII, que significa uma missão de imposição de paz. Por conta do grande interesse político do governo brasileiro em participar, Vera teria dito que a situação é “manejável”.

Um ano depois, outro comunicado diplomático indica que Amorim insistiu, pessoalmente, junto a Danilovich, para que os EUA enviassem verbas para projetos humanitários que deveriam se seguir aos ataques “robustos” da Minustah (a força de paz da ONU) contra as gangues na capital do país.

Amorim teria dito ser necessário “contrabalancear reações negativas com uma mensagem forte que focasse na assistência e estabilidade que a Minustah e a comunidade internacional estão tentando trazer ao Haiti”.

Sob forte pressão americana, que chegou a pedir a cabeça do comandante das tropas brasileiras, Augusto Heleno Pereira, o Brasil engajava-se cada vez mais em ações contra rebeldes e gangues haitianas.

Em março de 2007, em reunião com o sub-secretário de Estado norteamericano William Burns, Amotim teria dito que o Barsil estava no Haiti em um “compromisso de longo prazo” e que “a experiência no Haiti tem sido um exemplo positivo de cooperação Brasil-EUA, apesar dos dois governos terem divergido em alguns aspectos específicos da missão”.

Depois do terremoto que devastou o Haiti, em janeiro de 2010, o ex-chanceler reclamou da presença de milhares de marines americanos, enviados para conter a situação de emergência. “A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), liderada pelo Brasil, deve ser a única força estrangeira no país caribenho, assim que for superada a crise”, disse em entrevista ao diário espanhol El País.

Agora, como o novo ministro da Defesa, Amorim parece ter mudado de opinião. No dia 1 de agosto deste ano, defendeu a retirada das tropas brasileiras do Haiti. “Claro que não pode ser uma saída irresponsável”, disse, “mas não faz sentido (permanecer)”. E repetiu o discurso, já como ministro, na sua primeira reunião com os comandantes das Forças Armadas.

Atualmente, 2.160 soldados brasileiros homens trabalham em segurança interna no Haiti, atingindo um custo total de 1 bilhão de reais desde 2004.

Se o ministro Amorim cumprir seu desígnio é provável que uma das suas primeiras ações no Ministério da Defesa entre em choque com os intentos do governo americano, que sempre insistiram na permanência da ONU. Uma estreia e tanto.



A Luta de Washington para Escrever as Leis do Brasil

14.4.2011 / Fonte: Carta Capital


Foi nos Estados Unidos que surgiu a doutrina de segurança nacional, logo copiada em todo o mundo (inclusive no Brasil, pelo regime militar).

A doutrina embalou a luta anticomunista baseada no combate ao inimigo interno. Muitas vezes o “inimigo interno” queria apenas aumento de salário mas, como a gente sabe, isso é coisa de comunista. Ou o “inimigo interno” queria terra, mas como a gente sabe, isso é coisa de comunista. Ou o “inimigo interno” protestava contra a violação de direitos humanos, mas como a gente sabe, isso é coisa de comunista.

Agora a base da política externa dos Estados Unidos é a “guerra ao terror”. Medida simples para Washington ganhar essa “guerra”: deixar de tocar terror cotidianamente em árabes e/ou muçulmanos no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão, no Iêmen...

Em vez disso, os Estados Unidos trabalham para legitimar suas ações imperiais forçando outros países a adotar os princípios da guerra permanente, sem fim.

Washington cobra ações práticas: mudanças legislativas e ação policial. Ao “enquadrar” os parceiros, os Estados Unidos se tornam fornecedores de equipamentos (armas, scanners, aparelhos de raio-xis e outras invencionices) e subordinam as estruturas de segurança locais a seus objetivos políticos, policiais, econômicos e diplomáticos.

O Brasil é um país sui generis, já que dispõe de políticos e jornalistas que, diante de Washington, fazem genunflexão automática. É a síndrome da subordinação reflexiva.

A nova política dos Estados Unidos, de exportar a “guerra ao terror”, não é novidade: quando se tratava de combater comunistas, os oficiais latino-americanos aprendiam técnicas de tortura na Escola das Américas, montada e financiada pelos Estados Unidos inicialmente no Panamá.

Ao treinar futuros torturadores, os Estados Unidos automaticamente plantavam parceiros em posições importantes na hierarquia militar/policial dos países aliados.

A lógica da “guerra ao terror” é a mesma da “guerra contra as drogas”: plantar policiais americanos em lugares e situações-chave. Alguém aí acha que o pessoal da DEA (Drug Enforcement Administration) que atuou na Bolívia devia satisfações ao governo local?

Para dar aos leitores uma perspectiva sobre as tentativas de Washington de engajar o Brasil na luta antiterror, traduziremos os telegramas vazados pelo WikiLeaks que dizem respeito ao assunto, começando por este:


S E C R E T SECTION 01 OF 04 BRASILIA 000043

SIPDIS

NOFORN
SIPDIS

E.O. 12958: DECL: 01/07/2028
TAGS: PTER PGOV PREL KCRM AR PA BR
SUBJECT: COUNTERTERRORISM IN BRAZIL: LOOKING BEYOND THE TRI-BORDER AREA

REF: BRASILIA 1664

Classified By: DEPUTY CHIEF OF MISSION PHIL CHICOLA FOR REASONS 1.4 B A ND D


¶1. (S/NF) Resumo: O Governo do Brasil permanece altamente sensível a alegações públicas de que organizações terroristas ou extremistas tem uma presença ou promovem atividades no Brasil — uma sensibilidade que parece crescente e que resulta em reações mais que simbólicas. No campo operacional e longe dos holofotes públicos, no entanto, o GOB [Government of Brazil, governo do Brasil] é um parceiro que coopera no enfrentamento ao terrorismo e atividades relacionadas ao terrorismo. Muito embora a fronteira tríplice Argentina-Brasil-Paraguai (TBA) domine as manchetes, a preocupação primária de contraterrorismo de autoridades brasileiras e da Missão dos Estados Unidos no Brasil é com a presença e as atividades de indivíduos com ligações terroristas — particularmente vários extremistas sunitas suspeitos e alguns indivíduos ligados ao Hizballah — em São Paulo e outras áreas do sul do Brasil. Em menor medida, a TBA continua uma área de preocupação, primariamente pelo potencial de que terroristas possam explorar as condições lá — inclusive controle relaxado das fronteiras, contrabando, tráfico de drogas, fácil acesso a documentos falsos e armas, movimento de bens pirateados, fluxo de dinheiro descontrolado — para levantar fundos ou arranjar logística para operações [terroristas]. O Posto [diplomático] vai focalizar o próximo ano na manutenção das altas esferas do governo brasileiro engajadas política e diplomaticamente nos objetivos do CT [contraterrorismo] e na tentativa de que tais autoridades não prejudiquem a cooperação existente no campo operacional. Fim do resumo.

Policy-Level Sensitivities

¶2. (S/NF) O governo brasileiro é um parceiro que coopera no enfrentamento ao terrorismo e às atividades relacionadas ao terrorismo no Brasil — inclusive na investigação de financiamento potencial de terrorismo, em redes de falsificação de documentos e outras atividades ilícitas — que poderiam contribuir para facilitar ataques na região e fora dela. Ainda assim, os escalões mais altos do governo brasileiro, particularmente do Ministério das Relações Exteriores, são extremamente sensíveis quanto a qualquer declaração pública de que os terroristas tem uma presença no Brasil — seja para levantar fundos, arranjar logística ou mesmo usar o país para trânsito — e vão vigorosamente rejeitar qualquer declaração em sentido contrário.

Esta sensibilidade resulta, em parte, do medo de estigmatizar a grande comunidade muçulmana (estimada por algumas fontes, sem confirmação, em mais de 1 milhão de pessoas) ou prejudicar a imagem da área como destino turístico. É também uma postura desenhada para não parecer muito próxima da Guerra ao Terrorismo dos Estados Unidos, vista como muito agressiva. Esta sensibilidade se manifesta de várias formas, simbólicas e concretas.

(C) O GOB participa de forma relutante do “Mecanismo 3-1 para segurança da tríplice fronteira”, que anualmente reúne representantes diplomáticos, policiais e de inteligência dos três países da tríplice fronteira, juntamente com os Estados Unidos, para deliberar sobre estratégias para deter uma série de atividades criminosas transnacionais que poderiam ser exploradas por terroristas em potencial para facilitar ataques. Nas conferências, as delegações brasileiras frequentemente lamentam declarações feitas por autoridades dos Estados Unidos alegando que a Tríplice Fronteira é uma caldeirão para atividade terrorista e desafiam representantes dos Estados Unidos a apresentarem as provas nas quais se baseiam. Autoridades do Itamaraty frequentemente questionam o valor dessa cooperação de quatro vias [Brasil, Argentina, Paraguai e Estados Unidos], insistindo que “preocupações bilaterais devem ser tratadas de forma bilateral” (reftel).

(U) O GOB se nega a legalmente ou mesmo retoricamente rotular grupos terroristas designados pelos Estados Unidos como o HAMAS, Hizballah ou os grupos terroristas das FARC como grupos terroristas, sendo os dois primeiros considerados pelo Brasil como partidos políticos legítimos. Como resultado, o padrão para aceitação de provas de atividade de financiamento de terrorismo na região, pelo menos publicamente, é muito alto e qualquer informação de que indivíduos na TBA mandam fundos para grupos no Líbano, na visão deles [brasileiros], não constitui necessariamente uma atividade de apoio ao terrorismo.

(U) No nível diplomático, o GOB duas vezes se negou a apoiar oficialmente as alegações da Argentina de que os perpetradores do ataque terrorista de 1994 em Buenos Aires podem ter recebido apoio de indivíduos na TBA, ao se abster de votar em favor de dar à Interpol mandados de captura para os 5 iranianos e o libanês suspeitos de envolvimento no ataque.

(U) Duas iniciativas legislativas-chave para o contraterrorismo continuam dormentes. Nem a legislação antiterrorismo, nem a legislação de lavagem de dinheiro foram introduzidas no Congresso, apesar de terem ficado prontas há mais de um ano. Se aprovadas, as leis estabeleceriam o crime de terrorismo e atividades conexas e facilitariam maior acesso policial a dados bancários e financeiros durante investigações, criminalizando o enriquecimento ilícito, permitindo o congelamento de bens e facilitando processos por lavagem de dinheiro, ao mudar a definição fazendo dela um crime autônomo.

Combined with Operational Cooperation

¶3. (S/NF) Apesar da retórica negativa no Itamaraty e no alto escalão do GOB, as agências policiais e de inteligência — principalmente a Polícia Federal, a Alfândega, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e outros — estão alertas sobre a ameaça potencial de terroristas explorarem as condições favoráveis existentes no Brasil para operar e ativamente seguem e monitoram atividade suspeita de terroristas e perseguem as pistas passadas a elas. A Polícia Federal geralmente prende indivíduos com ligações com o terrorismo, mas os acusa de uma variedade de crimes não-terroristas para evitar chamar a atenção da mídia e dos altos escalões do governo. No ano passado a Polícia Federal prendeu vários indivíduos engajados em atividades suspeitas de financiamento, mas basearam as prisões em acusações relacionadas a drogas e contrabando.

¶4. (U) O Brasil é capaz de monitorar as operações financeiras domésticas e efetivamente utiliza sua unidade de inteligência financeira, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) para identificar possíveis fontes de financiamento para grupos terroristas. O GOB checou pessoas e entidades que constam das listas de financiadores das UNSCR 1267 e 1373, mas não encontrou bens, contas ou propriedade em nome de pessoas ou entidades na lista de financiamento do terror das Nações Unidas. O Brasil também estabeleceu uma Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro (ENCLA) e está criando uma base de dados chamada Declaração Eletrônica de Posse de Valores (EDPV), que vai permitir o monitoramento de indivíduos que transferem fundos para o exterior. Embora o sistema seja um protótipo e ainda esteja em teste, as autoridades policiais brasileiras estão encorajadas pelos resultados iniciais.

Primary Concern: Individuals Linked to Terrorism in Southern Brazil

¶5. (S/NF) A principal preocupação antiterrorista das autoridades brasileiras e da missão dos Estados Unidos no Brasil é a presença e as atividades de indivíduos com ligações com o terrorismo — particularmente vários suspeitos extremistas sunitas e alguns indivíduos ligados ao Hizballah — em São Paulo e outras áreas do sul do Brasil. A Polícia Federal e em menor extensão a ABIN, monitoram as atividades destes suspeitos extremistas que podem ser ligados a grupos terroristas no exterior e compartilham a informação com seus colegas dos Estados Unidos.

¶6. (S/NF) Autoridades policiais brasileiras ativamente monitoram a presença de vários suspeitos extremistas sunitas com possíveis ligações com grupos terroristas no Exterior que podem ser capazes de dar ajuda logística através de financiamento, esconderijo e documentos de viagem falsos — para ataques terroristas na região e no exterior. Em 2007 a Polícia Federal prendeu um potencial extremista sunita facilitador do terrorismo que trabalhava no estado de Santa Catarina por não declarar fundos com os quais entrou no país e está no processo para deportá-lo. Também em 2007, a Polícia Federal acabou com um grupo de falsificadores baseado no Rio de Janeiro que estava fornecendo documentos brasileiros falsificados para não-brasileiros, dentre os quais suspeitos de tráfico internacional de drogas.

Secondary Concern: Argentina-Brazil-Paraguay Tri-Border Area

¶7. (S/NF) De forma menos importante, a TBA [tri-border area, tríplice fronteira] permanece uma preocupação da missão dos Estados Unidos e seus contrapartes brasileiros, primariamente pelo potencial de que terroristas possam explorar as condições favoráveis lá — fracos controles de fronteira, contrabando, tráfico de drogas, fácil acesso a documentos e armas, movimento de bens piratas, fluxo de dinheiro descontrolado — para levantar fundos ou arranjar logística para operações [terroristas]. Embora haja alguns indivíduos suspeitos de ter ligações com o Hizballah e HAMAS, há poucas provas de que estes grupos tem presença operacional terrorista na região. De acordo com fontes nos serviços de segurança brasileiros, a presença muçulmana em Foz de Iguaçu representa uma porcentagem bem pequena da população muçulmana no Brasil, e mesmo aqueles que dão algum tipo de apoio financeiro aos grupos tem pequena ou nenhuma conexão com eles. O GOB faz investigações de contraterrorismo na TBA e compartilha os resultados de suas investigações, mas a principal preocupação deles é com outras atividades criminosas transnacionais que acontecem na região. A área é um importante ponto de entrada para traficantes de drogas no Brasil. Além disso, é um foco de preocupação do Brasil em outras áreas, como tráfico de armas, contrabando de bens pirateados e falsificados, assim como lavagem de dinheiro e financiamento de terrorismo.

¶8. (S/NF) Para cobrir esse espectro de atividades criminosas transnacionais, a polícia e os serviços de inteligência do GOB tem uma presença extensiva na região e um relacionamento com serviços de inteligência argentinos, paraguaios e outros, inclusive agencias do USG [US Government, governo dos Estados Unidos]. Além disso, o GOB tem tentado institucionalizar cooperação além-fronteiras, com sucesso relativo. Por exemplo, a alfândega brasileira completou uma nova estação de inspeção na Ponte da Amizade na TBA. Isso deveria dar ao GOB o poder de intensificar o combate ao contrabando que atravessa a ponte, embora as autoridades policiais esperam que os traficantes vão responder aos controles mais rígidos entrando com os bens clandestinamente em outros pontos da fronteira, por barco. O Brasil também conduz patrulhas marítimas em seu lado do lago de Itaipu para deter o contrabando, embora a falta de recursos e de equipamento comprometam a eficácia. O objetivo de longo prazo de conduzir patrulhas conjuntas com os paraguaios permanece não realizado. Finalmente, para combater mais eficazmente as organizações criminosas transfronteiriças com seus vizinhos, o Brasil estabeleceu um centro conjunto de inteligência (JIC) na TBA, mas a falta de pessoal complicou as operações e não parece que o GOB pressionou os outros países [Argentina e Paraguai] vigorosamente para enviar representantes.

Comment:

¶9. (S/NF) Elementos operacionais de várias agências de segurança e policiais brasileiras acreditam que o problema como um todo vai além da TBA, e é com certeza mais significativo em São Paulo e outras partes do Brasil. No entanto, a constante cobertura da mídia relacionada a terrorismo na TBA tende a aumentar a sensibilidade do GOB e particularmente daqueles funcionários do Itamaraty, aumentando a relutância deles em admitir que terroristas possam ter uma presença em qualquer parte do Brasil. Embora esta sensibilidade se manifeste em nada mais que desmentidos públicos a declarações de autoridades dos Estados Unidos e críticas durante encontros com autoridades do Itamaraty, ocasionalmente resulta em mais que reações simbólicas do GOB. A abstenção do Brasil na AMIA da Interpol, a reversão da legislação sobre contraterrorismo e a inflexibilidade nas reuniões 3-1 [Brasil, Argentina, Paraguai e Estados Unidos] representam desafios concretos para que autoridades policiais locais e parceiros regionais façam avançar a cooperação CT [contraterrorista]. O Posto vai focar o próximo ano em manter o alto escalão do governo brasileiro engajado politica e diplomaticamente na questão, e na busca de garantir que eles não prejudiquem o trabalho feito em nível operacional. End Comment.

SOBEL 2008-01-08


PS do Viomundo: Alguns pontos chamam a atenção, dentre os quais se destaca a tentativa de diplomatas americanos de jogar o Itamaraty e o alto escalão em Brasília contra o nível operacional, onde aparentemente tem muita gente querendo bancar o Rambo. Além disso, é a própria fixação dos Estados Unidos em identificar a área da tríplice fronteira, sem provas, como um caldeirão de terroristas, que causa justo ressentimento dos brasileiros. Afinal, não seria muito mais fácil se esconder em São Paulo do que em Foz do Iguaçu?



Wikileaks Revela Sabotagem contra Brasil Tecnológico

Os telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks revelaram que a Casa Branca toma ações concretas para impedi dificultar e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas: energia nuclear e tecnologia espacial. Em ambos os casos, observa-se o papel anti-nacional da grande mídia brasileira, bem como escancara-se, também sem surpresa, a função desempenhada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, colhido em uma exuberante sintonia com os interesses estratégicos fo Departamento de Estado dos EUA, ao tempo em que exibe problemática posição em relação à independência tecnológica brasileira

9.3.2011 / Fonte: Carta Maior


O primeiro dos telegramas divulgados, datado de 2009, conta que o governo dos EUA pressionou autoridades ucranianas para emperrar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes Cyclone-4 - de fabricação ucraniana - no Centro de Lançamentos de Alcântara , no Maranhão.

Veto imperial

O telegrama do diplomata americano no Brasil, Clifford Sobel, enviado aos EUA em fevereiro daquele ano, relata que os representantes ucranianos, através de sua embaixada no Brasil, fizeram gestões para que o governo americano revisse a posição de boicote ao uso de Alcântara para o lançamento de qualquer satélite fabricado nos EUA. A resposta americana foi clara. A missão em Brasília deveria comunicar ao embaixador ucraniano, Volodymyr Lakomov, que os EUA “não quer” nenhuma transferência de tecnologia espacial para o Brasil.

“Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil”, diz um trecho do telegrama.

Em outra parte do documento, o representante americano é ainda mais explícito com Lokomov: “Embora os EUA estejam preparados para apoiar o projeto conjunto ucraniano-brasileiro, uma vez que o TSA (acordo de salvaguardas Brasil-EUA) entre em vigor, não apoiamos o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil”.

Guinada na política externa

O Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA (TSA) foi firmado em 2000 por Fernando Henrique Cardoso, mas foi rejeitado pelo Senado Brasileiro após a chegada de Lula ao Planalto e a guinada registrada na política externa brasileira, a mesma que muito contribuiu para enterrar a ALCA. Na sua rejeição o parlamento brasileiro considerou que seus termos constituíam uma “afronta à Soberania Nacional”. Pelo documento, o Brasil cederia áreas de Alcântara para uso exclusivo dos EUA sem permitir nenhum acesso de brasileiros. Além da ocupação da área e da proibição de qualquer engenheiro ou técnico brasileiro nas áreas de lançamento, o tratado previa inspeções americanas à base sem aviso prévio.

Os telegramas diplomáticos divulgados pelo Wikileaks falam do veto norte-americano ao desenvolvimento de tecnologia brasileira para foguetes, bem como indicam a cândida esperança mantida ainda pela Casa Branca, de que o TSA seja ,finalmente, implementado como pretendia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, não apenas a Casa Branca e o antigo mandatário esforçaram-se pela grave limitação do Programa Espacial Brasileiro, pois neste esforço algumas ONGs, normalmente financiadas por programas internacionais dirigidos por mentalidade colonizadora, atuaram para travar o indispensável salto tecnológico brasileiro para entrar no seleto e fechadíssimo clube dos países com capacidade para a exploração econômica do espaço sideral e para o lançamento de satélites. Junte-se a eles, a mídia nacional que não destacou a gravíssima confissão de sabotagem norte-americana contra o Brasil, provavelmente porque tal atitude contraria sua linha editorial historicamente refratária aos esforços nacionais para a conquista de independência tecnológica, em qualquer área que seja. Especialmente naquelas em que mais desagradam as metrópoles.

Bomba! Bomba!

O outro telegrama da diplomacia norte-americana divulgado pelo Wikileaks recentemente e que também revela intenções de veto e ações contra o desenvolvimento tecnológico brasileiro veio a tona de forma torta pela Revista Veja, e fala da preocupação gringa sobre o trabalho de um físico brasileiro, o cearense Dalton Girão Barroso, do Instituto Militar de Engenharia, do Exército. Giráo publicou um livro com simulações por ele mesmo desenvolvidas, que teriam decifrado os mecanismos da mais potente bomba nuclear dos EUA, a W87, cuja tecnologia é guardada a 7 chaves.

A primeira suspeita revelada nos telegramas diplomáticos era de espionagem. E também, face à precisão dos cálculos de Girão, de que haveria no Brasil um programa nuclear secreto, contrariando, segundo a ótica dos EUA, endossada pela revista, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, firmado pelo Brasil em 1998, Tal como o Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA, sobre o uso da Base de Alcântara, o TNP foi firmado por Fernando Henrique. Baseado apenas em uma imperial desconfiança de que as fórmulas usadas pelo cientista brasileiro poderiam ser utilizadas por terroristas , os EUA, pressionaram a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que exigiu explicações do governo Brasil , chegando mesmo a propor o recolhimento-censura do livro “A física dos explosivos nucleares”. Exigência considerada pelas autoridades militares brasileiras como “intromissão indevida da AIEA em atividades acadêmicas de uma instituição subordinada ao Exército Brasileiro”.

Como é conhecido, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, vocalizando posição do setor militar contrária a ingerências indevidas, opõe-se a assinatura do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que daria à AIEA, controlada pelas potências nucleares, o direito de acesso irrestrito às instalações nucleares brasileiras. Acesso que não permitem às suas próprias instalações, mesmo sendo claro o descumprimento, há anos, de uma meta central do TNP, que não determina apenas a não proliferação, mas também o desarmamento nuclear dos países que estão armados, o que não está ocorrendo.

Desarmamento unilateral

A revista publica providencial declaração do físico José Goldemberg, obviamente, em sustentação à sua linha editorial de desarmamento unilateral e de renúncia ao desenvolvimento tecnológico nuclear soberano, tal como vem sendo alcançado por outros países, entre eles Israel, jamais alvo de sanções por parte da AIEA ou da ONU, como se faz contra o Irã. Segundo Goldemberg, que já foi secretário de ciência e tecnologia, é quase impossível que o Brasil não tenha em andamento algum projeto que poderia ser facilmente direcionado para a produção de uma bomba atômica. Tudo o que os EUA querem ouvir para reforçar a linha de vetos e constrangimentos tecnológicos ao Brasil, como mostram os telegramas divulgados pelo Wikileaks. Por outro lado, tudo o que os EUA querem esconder do mundo é a proposta que Mahmud Ajmadinejad , presidente do Irà, apresentou à Assembléia Geral da ONU, para que fosse levada a debate e implementação: “Energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”. Até agora, rigorosamente sonegada à opinião pública mundial.

Intervencionismo crescente

O semanário também publica franca e reveladora declaração do ex-presidente Cardoso : “Não havendo inimigos externos nuclearizados, nem o Brasil pretendendo assumir uma política regional belicosa, para que a bomba?” Com o tesouro energético que possui no fundo do mar, ou na biodiversidade, com os minerais estratégicos abundantes que possui no subsolo e diante do crescimento dos orçamentos bélicos das grandes potências, seguido do intervencionismo imperial em várias partes do mundo, desconhecendo leis ou fronteiras, a declaração do ex-presidente é, digamos, de um candura formidável.

São conhecidas as sintonias entre a política externa da década anterior e a linha editorial da grande mídia em sustentação às diretrizes emanadas pela Casa Branca. Por isso esses pólos midiáticos do unilateralismo em processo de desencanto e crise se encontram tão embaraçados diante da nova política externa brasileira que adquire, a cada dia, forte dose de justeza e razoabilidade quanto mais telegramas da diplomacia imperial como os acima mencionados são divulgados pelo Wikilieks.



Félix: Brasil Tem que Se Acostumar com
"Sacos de Corpos” Voltando da Guerra

15.12.2010 / Fonte: Natália Viana


A frase acima foi proferida pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, para explicar que o Brasil tem que “pagar um preço” se quer ser uma liderança mundial – segundo os telegramas revelados pelo WikiLeaks.

Segundo o relato do embaixador Clifford Sobel, a conversa se deu em janeiro de 2007, como ele detalhou em um telegrama enviado ao Departamento de Estado às 16:40 do dia 15 de fevereiro de 2007, que será publicado hoje pelo WikiLeaks.

O telegrama secreto descreve um jantar oferecido pelo embaixador a Félix e ao Subchefe-Executivo do GSI, o General-de-Divisão Rubem Peixoto Alexandre.

Na pauta, o pedido da diplomacia para que Félix intermediasse um encontro entre a ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff e o advogado-geral americano – além da perspectiva do Brasil colaborar com a Otan, aliança militar que inclui países da Europa e os Estados Unidos.

Preço a pagar

“Félix estava relaxado e falando francamente, enquanto Alexandre permaneceu em silêncio durante a maior parte da noite”, descreveu Sobel. Ele perguntou sobre os benefícios do Brasil colaborar militarmente com a Otan.

“Felix pareceu circunspecto e disse que os brasileiros devem encarar o fato de que 'um preço deve ser pago' para obter um papel de liderança global. O Brasil deve estar disposto a modernizar e empregar suas forças em operações internacionais e confrontar a perspectiva de 'sacos de corpos retornando ao Brasil. Félix disse que, tanto pessoalmente quanto como militar, ele acreditava que era chegada a hora do Brasil pagar o preço e assumir a posição de liderança no cenário global”, narra o telegrama.

O general diz ainda, segundo o documento, que uma cooperação próxima com a Otan seria vista positivamente pelos militares brasileiros, que compartilham a sua visão.

Venezuela

Durante o jantar o general também teria voltado a falar do seu desafeto Hugo Chávez.

Disse que o venezuelano tinha pouca influência no Brasil, recebendo sempre críticas negativas da imprensa, e que “enquanto os governos vizinhos forem democraticamente eleitos, o Brasil tentará ser compreensivo quanto às suas idiossincrasias políticas particulares”.

Felix, interlocutor frequente da embaixada, já tinha deixado clara suas diferenças com o governo em relação à Venezuela durante um almoço na residência do embaixador em 2005 – mas disse preferir se manter alinhado com a posição oficial.

Ele também teria reclamado da designação da Região da Tríplice Fronteira como alvo do Hezbollah. Desde 2006 o governo americano menciona possíveis atividades terroristas na tríplice fronteira com o Paraguai e a Argentina em seu relatório anual.



Em Telegrama, Embaixador é Favorável à Redução de Reserva Legal

14.12.2010 / Fonte: Natália Viana


O Código Florestal, cuja proposta de alteração volta à plenária da Câmara hoje, foi tema de um telegrama escrito pelo embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, em fevereiro deste ano. (CLIQUE AQUI)

Nele, Shannon transmite uma visão favorável à redução da reserva legal – uma das principais propostas do projeto de lei de de autoria de Aldo Rebelo.

O PL prevê reduzir a proporção da propriedade que deve manter a vegetação nativa (por exemplo, na Amazônia ela cairia de 80% para 50% da propriedade), além de extinguir a exigência da reserva legal para pequenas propriedades. O projeto também anistia quem não preservou e ocupou indevidamente encostas e beiras de rios.

A bancada ruralista no Congresso pressiona pela votação do projeto ainda este ano, enquanto o governo quer deixar para o próximo. O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT/SP) colocou o pedido de urgência na tramitação em votação, mas garantiu que a votação do projeto em si só sai no próximo ano.

Foco na Amazônia

O telegrama enviado por Shannon às 19:01 do dia 10 de fevereiro deste ano começa com um apanhado histórico sobre a legislação para depois entrar em detalhes sobre a questão da reserva legal. O foco é a Amazônia.

Segundo Shannon, se justifica a decisão do governo Lula de postergar a aplicação da lei – que prevê multas e sanções para os fazendeiros que não respeitarem a reserva legal. “Não é nenhuma surpresa que o governo tenha evitado transformar milhões de fazendeiros em criminosos que poderiam perder suas terras; especialmente em face das eleições de outubro de 2010″.

Ele duvida que o governo consiga efetivamente aplicar a lei – e prevê que pode haver violência se o fizer.

“Se o governo quiser com seriedade penalizar um grande número de donos de terra em violação ao Código Florestal, pode esperar uma dura oposição e possivelmente até um combate violento como aqueles que aconteceram na cidade de Tailândia no ano passado, depois que o governo fiscalizou madeireoso ilegais em Novo Progresso, onde mesmo pesquisadores brasileiros vistos como 'xeretas' foram expulsos”.

Na ocasião, protestos de madeireiros interromperam uma operação de fiscalização ralizada pelo Ibama e a Secretaria do Meio Ambiente do Pará.

Shannon se reuniu com um representante da Confederação Nacional da Agricultura, de quem não cita o nome, e comenta que as propostas para reduzir para 50% a reserva legal “possibilitariam que uma grande quantidade de fazendeiros que não conseguem se sustentar economicamente respeitando a reserva de 80% possam seguir a lei”.

Para ele é uma “infelicidade” que projetos como o Zoneamento Ecológico-Econômico, que autoriza a redução de até 50% da área para fins de recomposição de reserva legal, não possam ser adotados mais amplamente.

Ao mesmo tempo, o diplomata reconhece o progresso do governo no combate ao desmatamento e elogia ações no sentido de regularizar a situação fundiária da região norte.

“Nunca tendo sido implamentada, (a reserva legal) serviu principalmente como ponto de disputa entre os fazenderios e ambientalistas, enquanto outras políticas menos controversas têm sido eficazes em reduzir as taxas de desmatamento na Amazônia”, conclui Shannon.

“Se as taxas de desmatamento continuarem a cair, então o movimento ambientalista pode mostrar mais fexibilidade em um compromisso mais pragmático em relação ao Código Florestal quando o tema voltar à pauta em 2011″, aposta o embaixador.


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