


PRIMAVERA BRASILEIRA
A Força das Ruas
A Força das Ruas
20 de junho de 2013
Finalmente, não haverá aumento dos preços das passagens dos transportes públicos nas mais diversas cidades brasileiras: os políticos recuaram. Foram treze dias surpreendentes a todos os setores da sociedade brasileira, grata surpresa inclusive a quem saiu às ruas: dias em cerca de 80 cidades do país, de norte a sul, onde a alma de milhões de brasileiros, geração distinta de todas as outras, expressou-se profundamente, em uníssono e pacificamente como jamais antes na história do Brasil.
Contra forças que atacaram através de várias frentes, muitas vezes parecendo invencíveis: manipulação total das informações por parte das empresas de mídia irresponsavelmente politiqueiras; velho rancor de amplos setores da sociedade, sentimento intrínseco no espírito reacionário ainda fortemente atado ao senso escravista, apático, individualista e excessivamente discriminatório que marca o país, justamente o que nos trouxe a esta situação; muita demagogia política; e com tudo isso, nem poderia ser diferente, extrema truculência policial, legado dos 21 anos ditadura militar proporcionando nestas quase duas semanas cenas que dificilmente sairão da nossa mente.
Agressão física, verbal, mentiras midiáticas, certa pressão dos "mais éticos" de sempre: não houve desistência, pelo contrário, essa nova geração encontrava forças suficientes, um contagiava o outro a fim de prosseguir e acreditar que se ultrapassaria os limites dos 20 centavos tacanhos, os quais era acusada de "meramente" defender (o aumento em si já justificaria os protestos) sob rótulo de "vagabundos", "baderneiros", "vândalos".
Veja neste videoclip agressões covardes da polícia contra a maioria pacifica, além de agredir a ela mesma: um policial quebrando o vidro de seu carro a fim de culpar um público majoritariamente jovem, a fim de ser pacificamente ouvido.
"Estou com o Saco Cheio!"
O regime militar tratou de vender à sociedade uma imagem muito distorcida do Brasil, fazendo-a crer que a situação do país era melhor que a real, usando em grande parte a Rede Globo para isso, eficiente como poucas em controlar o pensamento dos cidadãos através da desinformação, ou da manipulação dos fatos.
Hoje, em época de informação global em tempo real, as gerações mais recentes estão despertando, não se enganando tão facilmente influenciada ainda pela onda de reivindicações mundiais, inclusive pelos processos de transformação democrática nos vizinhos e países próximos da América do Sul.
As crianças, os idosos, as classes menos favorecidas estão morrendo nas ruas e nos hospitais: gastos com saúde pública têm diminuído no Brasil, para um serviço historicamente sofrível;
Os povos originários continuam sendo dizimados Brasil afora, com conivência e muitas vezes até a mando estatal;
O saneamento básico segue catastroficamente idêntico em relação aos anos de 1990, assim como o deficit habitacional;
O Brasil segue último em todo o mundo em gastos proporcionais em educação;
Carga tributária entre as mais altas do mundo, com retorno irrisório em todos os setores;
A insegurança apenas se acentua: para a ONU, 15 mil mortes violentas anuais caracterizam guerra civil, enquanto no Brasil cerca de 50 mil são assassinados todos os anos;
A corrupção, segundo todos os indicadores internacionais, tem piorado nos últimos anos, levando a um descrédito vertiginoso da classe política, historicamente distante da sociedade;
Descrédito vertiginoso dos principais meios de comunicação, não representando a voz e os anseios da sociedade;
E, por fim, a gota d'água que levou o país às ruas para dar um basta em uma sociedade que não tem nenhum motivo para ser conservadora, a não ser conservar as mordomias das classes dominantes, justamente as que incentivam repressão e mentiras durantes aqueles seis dias: a péssima qualidade dos transportes públicos os quais, se ainda não bastasse isso, tiveram valores acrescidos acima da inflação: segundo o IBGE, configura-se no terceiro maior gasto do brasileiro. Em São Paulo, considerando que de 1994 a 2013 a inflação acumulou-se em 332%, o valor do ônibus deveria ser R$ 2,16, e o do metrô, R$ 2,59. Bem abaixo dos atuais R$3. Muito abaixo dos R$ 3,20 a que fora estabelecido pelo governo local.
Os povos originários continuam sendo dizimados Brasil afora, com conivência e muitas vezes até a mando estatal;
O saneamento básico segue catastroficamente idêntico em relação aos anos de 1990, assim como o deficit habitacional;
O Brasil segue último em todo o mundo em gastos proporcionais em educação;
Carga tributária entre as mais altas do mundo, com retorno irrisório em todos os setores;
A insegurança apenas se acentua: para a ONU, 15 mil mortes violentas anuais caracterizam guerra civil, enquanto no Brasil cerca de 50 mil são assassinados todos os anos;
A corrupção, segundo todos os indicadores internacionais, tem piorado nos últimos anos, levando a um descrédito vertiginoso da classe política, historicamente distante da sociedade;
Descrédito vertiginoso dos principais meios de comunicação, não representando a voz e os anseios da sociedade;
E, por fim, a gota d'água que levou o país às ruas para dar um basta em uma sociedade que não tem nenhum motivo para ser conservadora, a não ser conservar as mordomias das classes dominantes, justamente as que incentivam repressão e mentiras durantes aqueles seis dias: a péssima qualidade dos transportes públicos os quais, se ainda não bastasse isso, tiveram valores acrescidos acima da inflação: segundo o IBGE, configura-se no terceiro maior gasto do brasileiro. Em São Paulo, considerando que de 1994 a 2013 a inflação acumulou-se em 332%, o valor do ônibus deveria ser R$ 2,16, e o do metrô, R$ 2,59. Bem abaixo dos atuais R$3. Muito abaixo dos R$ 3,20 a que fora estabelecido pelo governo local.
Tudo isso com o agravante dos bilionários - e superfaturados, como sempre previmos que ocorreria - gastos com a tal Copa do Mundo, e logo se iniciarão os com a Olimpíada. A realização de tais eventos ainda está levando milhares de famílias a serem despejadas de suas casas, a fim de tornar possível novas construções.
Desde o início, muitos não quiseram entender nada disso, assim como o Brasil em geral jamais teve disposição cuja ausência de consciência cidadã sempre foi incentivada pelos poderes políticos e pela mídia gorda, um a serviço e se apoiando no outro, sempre preferiu fechar os olhos para essa realidade nitidamente calamitosa.
O espírito reacionário também cega, tira a capacidade racional do indivíduo. Ou se requer estudos aprofundados em Ciências Sociais para enxergar tal realidade brasileira? Eles não querem que se enxergue isso tudo, mas para a surpresa deles e de todos, está-se vendo com nitidez e, agora, havendo mobilizações.
Espalharam-se dentro das metrópoles e foram contagiando diversas outras, ganharam ânimo novo cada dia, entusiasmo solidário jamais visto, impossível de acontecer entre usurpadores do poder e discriminadores em geral, seres servidos com as mordomias de um sistema impiedosamente explorador. Ou em mutos casos, simplesmente por se possuir ideias pré-concebidas, enquanto escravo propriamente da paupérrima conjuntura histórica deste país.
Os grandes jornais paulistas incitavam constante e abertamente a polícia a reprimir os manifestantes, ignorando os ataques lamentáveis por parte da polícia, e fatos isolados por parte de uma ínfima minoria infiltrada: os relatos da grande mídia foram, do início ao fim, completamente diversos da realidade nas ruas: as imagens e as mais diversas declarações, citando nomes, confirmam isso.
Outra grande evidência de que o Estado policialesco foi o único responsável pela violência, além das próprias imagens do vídeo acima e das mais diversas que meios de comunicação têm publicado, é o fato de que quando a polícia parou de reprimir não houve mais nenhum tipo de problema, e isso em todo o país.

Policial atacando jornalista
com spray de pimenta
com spray de pimenta
O jornal Folha de S. Paulo, em coro com O Estado de S. Paulo, manteve a postura agressiva até que na quinta-feira (13) sete de seus jornalistas foram feridos, com lamentável destaque para Giuliana Vallone, seriamente ferida no olho por bala de borracha atirada covardemente por um policial, o qual mirou em seu rosto sabendo que se tratava de uma profissional da comunicação segundo testemunhas, e de acordo com relatos da própria Giuliana, que levou 15 pontos no rosto, em oposição às inconsistentes e desencontradas alegações do policial. A partir de então, o tom da Folha baixou razoavelmente.
Sim, tais jornais são os mesmos que apoiaram o golpe militar em 1964, e a ditadura que o seguiu até 1985, com a qual lucraram e a cujos crimes governamentais forneceram apoio logístico, ocultaram fatos da sociedade, manipularam de todas as maneiras que puderam.
"Fuck the Cup"
As manifestações ultrapassaram as fronteiras, foram até a Europa: cidadãos brasileiros e estrangeiros se solidarizaram à causa da sociedade aqui, e contra a repressão policial da qual era vítima: saíram às ruas também.

The New York Times: Jovem brasileira, desarmada,
atacada pela polícia com spray de pimenta/SP
atacada pela polícia com spray de pimenta/SP

Nos jornais deste dia 20, é a vez dos jornais de praticamente todo o globo reportarem o que seria motivo de grande orgulho, sim, aos brasileiros, não a honra efêmera do futebol ou a alegria do Carnaval. O gigante está deixando de ser bobo, um fantoche dos velhos oligarcas, donos deste país. TVs da América Latina saúdam "o gigante acordou". O jornal El País da Espanha, velho conservador que exerce influência imperialista, até o fim desqualifica as manifestações e desconsidera suas conquistas: "Tudo por 20 centavos".
Eles estão assustados, surpresos com o fato de não serem mais donos de nossa alma. Justamente por isso, tendem a aumentar a agressividade daqui em diante. A voz das ruas vem evidenciar que o tamanho da economia não tem se refletido em benefício pleno à sociedade, de maneira que a Primavera, dentro de cada um e no dia a dia onde se exercita a verdadeira e melhor cidadania, não pode retroceder à cinzenta época outono/inverno de opressão e muita mentira, que pareciam infindáveis.