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SOMOS TODOS SANTA MARIA - Por Memória, Verdade e Justiça


Artigos


TRAGÉDIA EM SANTA MARIA
A Grande Mídia e a Resposta dos Envolvidos

Não falta caráter a muitos, longe disso, mas talvez um pouco de consciência. Após gritante sensacionalismo com posterior esquecimento, a Rede Globo volta a Santa Maria. E estipulando aos produtos de mercado, sobreviventes da tragédia, o que se deve dizer na reportagem

16 de dezembro de 2013 / Publicado no Observatório da Imprensa


Enquanto o Memorial da América Latina de São Paulo ardeu em chamas por alvarás vencidos poucas semanas atrás, exatamente como ocorreu na boate Kiss em 27 de janeiro deste ano, ambos os casos sem a minimamente contextualizada e construtiva cobertura midiática, o programa Altas Horas de Serginho Groisman da Rede Globo estará, nesta terça-feira (17/12), na cidade gaúcha de Santa Maria para gravar uma matéria com 27 sobreviventes do incêndio mais mortal da história do Brasil, conforme determinação do programa que, imediata e alegremente acatado por ativistas santa-marienses, excluirá familiares de vítimas e seus juristas.

Que tal observarmos, desta vez, como nossa sociedade se comporta perante a mídia nos momentos mais críticos?

Poucos dias após todo o sensacionalismo midiático que envolveu, marcantemente, a tragédia na boate da morte através da qual rodaram o mundo imagens de jornalistas e políticos "abraçando" mães de jovens vítimas em prantos desesperados no velório coletivo (atração à parte na história da mídia e da própria sociedade deste país), e fortes críticas dos próprios familiares e sobreviventes por tal sensacionalismo seguido de ausência midiática no momento mais necessitado, isto é, de luta por memória, verdade e justiça, eis que ela, ela mesma, a dona Rede Globo está de volta a Santa Maria - e sob garantias de ser muito bem recebida, por sinal.

Os envolvimentos de tal receptividade que tem gerado alvoroço na cidade por um lugarzinho ao sol midiático Todo-Poderoso são, ou deveriam ser, mais um momento de reflexão e de lição para quem ainda não resolveu jogar definitivamente a toalha da esperança em um país apático, oportunista, falido sob todos os aspectos.

Nem os mais ingênuos, nem sequer uma criancinha acreditaria que a Rede Globo retorna a Santa Maria agora a fim de conhecer e divulgar consistentemente as dores e as dificuldades dos sobreviventes, para uma séria construção social da realidade. A maior clarividência disso reside na quilo que tem causado reclamações dos próprios envolvidos na tragédia, diretamente a nós: a postura midiática que, quando não é omissa, é mesmo distorcionista, cada um deles usando fortes adjetivos. Os mais "equilibrados" e "ajuizados" preferem nos falar apenas em off sobre isso, isto é, não querem ter seus nomes vinculados a críticas à mídia.

A Rede Globo, assim como a mídia em geral seja qual for a tendência e o tamanho, esqueceu-se total e repentinamente da tragédia de proporções horrendas que causa lágrimas e dificuldades das mais diversas em sobreviventes e familiares hoje. Portanto, e seguindo seus precedentes bem anteriores à tragédia de Santa Maria, desde tempos de golpe e ditadura militar, são as Organizações Globo quem determinam o que, quem, como e quando algo deve ser dito.

Disso, condição melancolicamente permitida por nossa sociedade, todo mundo sabe - e todo mundo se queixa. Não foi por acaso que em Porto Alegre e na própria Santa Maria, hoje de tantas dores sufocadas sob indiferença inclusive local, oficial e societária, parte da população protestou jogando até lixo nas dependências da emissora em questão.

Nas redes sociais, o presidente da Associação de Familiares e Vítimas da Tragédia de Santa Maria, sr. Adherbal Ferreira, tem tido que acalmar os ânimos dos que querem participar da matéria de Altas Horas, mas não poderão por indicação do programa de TV. Que ninguém se engane: os sobreviventes não irão contar suas necessidades à Rede Globo pois esta sim, como sempre faz neste país e todos os envolvidos na tragédia sabem muito bem disso, determina o que, quem, como e quando se diga algo, da mesma maneira que decide o tempo em que tudo e todos se calem.

Não podemos confundir pacifismo com passividade, com omissão, muito menos com contradição entre discurso e prática. Em nossa entrevista em 15/12 com Ione Lemos, superintendente de Assistência Social da Prefeitura de Santa Maria, foi confirmado o que sobreviventes, familiares das vítimas e seu advogado, dr. Luiz Fernando Smaniotto, além de outros moradores da cidade têm-nos dito frequentemente: "A Kiss sempre superlotava".

Sobre isso, o prefeito Cezar Schirmer nos disse em entrevista exclusiva na semana passada: "Nunca chegou nenhuma denúncia à Prefeitura, e eu nunca fui à Kiss. Mas nossos fiscais sempre cumpriram as obrigações: inspecionar a casa anualmente". Se todo mundo sempre soube que, em seus quatro anos de funcionamento, a Kiss superlotava, por que nunca ninguém denunciou? E se o prefeito tem razão ou não em afirmar que os fiscais municipais sempre cumpriram suas obrigações, é assunto para uma série de reportagens a ser publicada em janeiro, a exato um ano da tragédia, mas uma coisa é certa: falta senso de cidadania à nossa sociedade. "É muito fácil culpar aos outros, especialmente em momentos trágicos", lamenta Schirmer, ao que acrescentamos: alia-se constante, oportunisticamente neste país àqueles contra quem nos queixamos ontem, como se nada tivesse acontecido.

A Rede Globo elege quem bem entende, derruba presidentes da República, promove golpes além de manipular estilos, costumes, pensamentos e a própria vida da nossa sociedade em seu sentido mais amplo, e isso tudo pelo simples motivo que nós insistimos em rezar sua cartilha sempre trocando a moral, a indignação pelo prato de lentilhas made in porões do poder.

É isso que invalida nossas reivindicações e nos coloca em tanto descrédito quanto a própria mídia hoje. Ainda que isso venha sob o disfarce, a muleta psicológica de "espaço para a voz". Existem espaços alternativos para a voz dessas dores e dificuldades - mas quando a dona Rede Globo entra em cena, tudo é bastante diferente na prática dos patéticos figurinos da vida.

A mídia em geral lucrou com o sensacionalismo nos dias subsequentes à tragédia, e hoje lucra acobertando o caso. Pois nesta "comemoração" de um ano da tragédia, um papo global com sobreviventes renderá mais patrocinadores decorrentes de muita audiência à TV. Alguém tem alguma dúvida?

Depois, que venha Carnaval, Copa do Mundo, e não se fala mais nisso. Já assassinaram as 242 vidas da boate da morte diversas vezes pós-27 de janeiro, e nesta terça-feira elas serão intoxicadas uma vez mais, em plena Santa Maria, principalmente pela forma como se dá tudo isso. O mais triste, se não bastasse, é que a densa cortina de fumaça letal partirá de quem mais se esperava coerência e brios, neste momento.

Certamente, o argumento-chefe passará por coisas do tipo, "não é nosso papel avaliar e/ou escolher o veículo que dá espaço para falar". Mas é papel de comunicador, jornalista, escritor ou coisa que o valha criticar duramente o veículo que lhe poderia dar espaço para divulgar o trabalho? Para a sociedade, sim, na realidade é mesmo e disso todo mundo gosta - por conta e risco, unicamente, de quem faz isso.

O prefeito Schirmer possui raciocínio idêntico a esse da lavagem das mãos como Pilatos, pelo qual é duramente criticado, até execrado pelos mesmos familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia, acusado de omisso: "Não é meu papel julgar, cobrar nem avaliar quem errou, mas da Justiça". E do dr. Jader Marques, advogado de defesa de Elissandro Spohr, um dos sócios da Kiss, demonizado pelos familiares e sobreviventes em entrevista exclusiva a nós na semana retrasada: "Faço meu trabalho como qualquer faz e faria em meu lugar. Atuo no direito à defesa de meu cliente". Pois assim caminha esta nação: de Pilatos em Pilatos, cada um tratando de fazer o politicamente correto sem ultrapassar os limites do estritamente convencional.

Outra questão bastante pertinente em se tratando de sociedade brasileira, e deste caso em particular: gera a mesma atenção esse tão reivindicado espaço para a voz em veículo x e y, de acordo com a grandeza financeira de cada um ainda que a diferença envolva um íntegro e incansável defensor dessa voz, e o outro, dono das mentes, dos corações, dos suspiros e do destino do país, autor dos tão combatidos (verbalmente) "abraços de Satanás" no pior momento da dor?

São perguntas que se colocam agora e se a resposta for negativa, a sociedade deve se repensar urgentemente se a proposta for transformar-se para melhor. A realidade é que se este país fosse minimamente sério, a equipe de Serginho Groisman e de qualquer programa de sua emissora sairiam de Santa Maria, pelo menos, ignoradas mais ainda dados os meios disponíveis para comunicação.

Ou, ao menos, que a forma envolvendo isso tudo fosse diferente: no mínimo, que os envolvidos na tragédia, familiares de vítimas e sobreviventes, determinassem quem participaria da matéria de Altas Horas - cada um deles sabe do vácuo que haverá devido à ausência de familiares e juristas de sua defesa. Mas nem uma coisa nem outra: o caminhão de Groisman não sairá de Santa Maria como a Rede Globo merece por seus desserviços à sociedade nos momentos mais críticos, e tudo ainda será feito de acordo com suas determinações.

Além do mais, a dona Rede Globo é perito imbatível na conquista de mentes e corações, especialmente em momentos críticos - à sociedade e a ela mesma. Após o sumiço da emissora de Santa Maria nos primeiros dias subsequentes à tragédia, com as fortes manifestações de junho/julho contra ela por parte da sociedade, de alcance mundial que a fez publicar editorial desculpando-se de maneira tão desesperada quanto falsa pelo apoio (na verdade, promoção) ao golpe militar de 64, e sabedora que é da repugnância contra ela por parte de familiares de vítimas e sobreviventes da Kiss, nada mais oportuno que enviar agora um apresentador de programa de auditório bonzinho, que vai ao ar "de madrugada" e que não seja nada crítico - longe de ser um programa jornalístico, Altas Horas está bem mais para Chacrinha, versão moderada.

Deixou de fora familiares das vítimas os quais, especialmente os mais ativos como o próprio sr. Adherbal, têm muito mais a dizer especialmente no tocante ao que mais teme o Poder Público envolvendo a tragédia: temas jurídicos. Desta maneira, a maior emissora da América Latina e uma das maiores do mundo deixará todo mundo feliz com a ida de Groisman a Santa Maria, e cooperará sutilmente para o acobertamento da tragédia, de maneira mais pacífica. Todos se esquecerão de que a dita-cuja já se esqueceu, há muito e agora sob aplausos dos envolvidos, das 242 vítimas da Kiss, do Poder Público e do empresariado ganancioso para cujo jogo político-midiático muitos fecham os olhos - entre os tantos que realmente não enxergam, haverá os que não querem enxergá-lo por ser uma via bem mais cômoda? Eis a questão...

A Bíblia que todo mundo lembra nos perfis das redes sociais, nas missas, cultos e tem os versos na ponta da língua, mas possui enorme dificuldade em transferi-la à prática mais simples da vida cotidiana, afirma que "o pecado cega o entendimento do indivíduo". Não precisa ser grande conhecedor de mídia para perceber tudo isso, mas as pessoas andam, também neste caso, deslumbradas com o falso brilho dos donos do poder, e não percebem a óbvia realidade por trás de todo esse jogo político-midiático. Ou talvez falte coragem para que alguém se levante neste país, e diga essas obviedades. Mas se nem a tragédia de Santa Maria for suficiente para isso, é sinal de que esta nação realmente deve fechar para balanço, como diria o filósofo.

No que diz respeito a brios e engajamento, temos muito o que aprender com nossos vizinhos argentinos, nação cuja capital federal sofreu incêndio idêntico em 2004, na forma e na proporção, puniu os culpados e acabou com a carreira política do então prefeito. Mas isso é outro assunto para uma próxima vez, depois que as fotos dos presentes no Altas Horas estiverem devidamente postadas no Facebook

#Posté le lundi 06 janvier 2014 18:37

Modifié le dimanche 15 décembre 2019 02:13


DIA DE FINADOS
Comoção Local e Indiferença Nacional

3 de novembro de 2013 / Publicado no Observatório da Imprensa

Republicado por Claudemir Pereira do diário A Razão, pelo Portal Bei, ambos de Santa Maria, por Contacto Latino, e Motos e Viagens


Santa Maria, repentinamente o vigor da juventude / desvaneceu, sob a implacável olência do cianeto, / evaporadas 242 almas no auge do vicejo. / Santa Maria, até quando o amargor, da vida tal vicissitude? / Foram teus filhos! Pisoteados, queimados, asfixiados. / Ânsia por mundos mais dourados, / infortúnio, a sentença de seus pecados?

Tragédia em Santa Maria, segundo incêndio mais mortal da história do Brasil. Longos nove meses se passaram desde então, por outro lado muito curtos diante de tanto infortúnio para uma sociedade só: meses de completo esquecimento midiático, político e social além dos arquivamentos jurídicos, que não responsabilizam os criminosos. Ingredientes macabros à brasileira, tão trágicos quanto o próprio fogaréu, e as vidas queimadas e asfixiadas em si.

O Brasil não “parou” à época no sentido mais profundo, solidário, mobilizador do termo – com exceção dos índices de Ibope que representavam a inócua paralização frente às telas de TV. A desgraça alheia é famosa por, não raras vezes, servir como anestesista das próprias – a diversas massas.

Em algumas ocasiões que essas massas se dão conta, ainda que momentaneamente, de que nem só de pipoca, telenovela como o real e o real como telenovela vive o homem – geralmente, um parcial despertar advindo de tragédia que bateu à própria porta –, torna-se efêmero, facilmente manipulado todo e qualquer ativismo. O exercício da cidadania é algo a ser construído na vida cotidiana.

Estava totalmente claro, desde os primeiros momentos em 27 de janeiro de 2013 se desenhava perante todo aquele jogo político, empresarial, midiático, social que, a partir de Santa Maria, repetir-se-ia mais um tragicamente impune capítulo na história deste país.

Enquanto setores empresariais e políticos à época, amparados fielmente pela mídia, tentaram – com sucesso – inculcar que o incêndio na Boate Kiss não passara de mera fatalidade e não problema estrutural deste país, como realmente foi, fica cada vez mais evidente, inversamente proporcional ao total descaso nacional, que se tratou de retrato perfeito do Brasil no que diz respeito à tragédia em si além das implicações de corrupção política e empresarial, do sensacionalismo e posterior esquecimento midiático, da indiferença social e da impunidade advinda de corrupção também judiciária que reina soberana no Brasil – desde o início, era sabido por aqui (leia nesta seção Fantasmas em Meu Quarto: Assassinos de Corpos e de Almas, de 28 de janeiro, um dia após a tragédia de Santa Maria) que exatamente assim seria, enquanto o choro era desesperada e copiosamente dolorido, noticiado – ou “contemplado”? – pela Imprensa em séria crise financeira e moral, enquanto a sociedade via-se generalizadamente “indignada”, sempre ela manifestando o mesmo comportamento e as idênticas reações, frente às piores catástrofes – desde que acometa apenas ao vizinho –, de norte a sul do Brasil. Onde está a Primavera?

Caos na Pátria do Futebol
 
Cá, o pungente sabor de consternar. / Santa Maria, uno pulsar, / o velho Porto... Alegre não há de estar. / As ubíquas lágrimas hás de um dia enxugar. / Santa Maria, extasiante dádiva a consolar / teus filhos. Minh' alma, vem da amargura livrar. / Austrais ventos que levem seu doce afago, o de Santa Maria. / Ao repousar por sobre tuas relvas, há de livremente ruflar / cada alma, a de teus 242 filhos. / Cá, cá, Santa Maria, díspar pesar!

Andreia Fontana, editora-chefe do Diário de Santa Maria, escreveu editorial no sábado retrasado, 26/10:

Muitos empresários nos procuram para pedir que deixemos de lado essa cobertura [desdobramentos da tragédia], num entendimento de que noticiar o assunto enluta a cidade, o que [pasmem!] é ruim para o seu desenvolvimento.

Certamente, nenhum desses empresários mencionados pela editora Andreia perdeu filhos na fatídica madrugada de 27 de janeiro último. O lucro à frente do luto, sempre. Selvageria humana contemporânea. Onde está a mídia auto-declarada independente e combativa agora, para fazer denunciar isso, e ecoar a voz da justiça? Pelo contrário: “coincidentemente”, a Imprensa não aborda o caso enquanto, medíocre representante da mais patética Pátria de Chuteiras como observou brilhantemente o jornalista Luciano Martins Costa no Observatório da Imprensa em 31/10, está histericamente atenta ao caso Diego Costa, quem recusou jogar pela seleção brasileira para jogar pela espanhola. Histérica e oportunisticamente atenta mídia neste caso, é bom ressaltar em consonância com a abordagem de Luciano Costa, sempre pertinente com seu peculiar brilhantismo.

Desta maneira, a tragédia de Santa Maria tornou-se, aos interesses e medos alheios – medo de encarar a realidade que implicaria transformá-la –, exitoso passado remoto na sucessão de horrores deste país, onde um capítulo da barbaridade vai passando por sobre o outro, a mídia busca na desgraça sua graça, ninguém se lembra de absolutamente nada em um curtíssimo espaço de tempo, e tudo segue como sempre esteve. Pois que venha o próximo Carnaval, sobremaneira colorido pela Copa do Mundo de 2014.

Samba no pé, uma mão na taça do ano que vem e o diário pão na barriga com o assistencialismo político nacional, o brasileiro já tem. Portanto, se os sagrados e milenares Pão e Circo já estão garantidos, preocupar-se com o quê? Mudar o status quo por quê?

Finados e Descaso

Neste 2 de novembro, Dia de Finados, mais de nove meses após a tragédia de Santa Maria, suas 242 vítimas, tão vítimas do silêncio quanto do cianeto, passaram desapercebidas enquanto a dor de familiares e amigos das vítimas apenas cresce e prestaram, isolados, suas homenagens ilhados pela terra da indiferença.

Nos dias subsequentes ao incêndio, somavam-se mortos paralelamente às mais patéticas aulas de anijornalismo e da total atenção da sociedade a qual, desde 27 de janeiro, já sequer fazia suas refeições sem estar focada em chamas, no choro mais doído e em rostos de cadáveres em pleno caixão, focados pelas câmeras do lucro descomedido, prontos para descerem as profundezas da terra.

Poucos meses depois, em pleno Dia dos Mortos ninguém mais se lembra, com a devida consciência, que aquilo que acabou sendo impossível de não se noticiar, e noticiado com a mesma precariedade de sempre especialmente quando interesses políticos e empresariais estão em questão: que aquele incêndio fora fruto de corrupção e profundo descaso contra a vida alheia. Mas passou...

Confundiu-se, em seu sentido mais amplo, em meio ao excesso de informações carente de contextualização e de pleno entendimento.
Matéria da TV RBS, afiliada à Rede Globo no Rio Grande do Sul, lembrou-se melancolicamente das 242 almas e de seus entes queridos no Dia de Finados. O Jornal do Almoço tratou das questões técnicas e estatísticas do Cemitério Ecumênico de Santa Maria, principal da cidade (medíocre reportagem, aqui).

O jornal O Globo não lembrou Santa Maria no Dia de Finados com a mínima consciência, mas em seu sítio na Internet o que se podia ver de mais destacado foi o 5º dia da badalada e bilionária São Paulo Fashion Week. Uma reportagem do impresso tratando do feriado em Santa Maria, manteve o tom da TV Globo: o túmulo mais visitado, no caso do cantor Teixeirinha, além de outras questões funerais, geográficas e estatísticas envolvendo o cemitério. Do jeito que o brasileiro merece?

A triste realidade é que as “reportagens” da RBS no Rio Grande do Sul, das poucas que ainda veiculam o caso, são extremamente reduzidas, no tamanho e na qualidade jornalística, e sempre passam bem distante de seus editoriais. Que esperar das Organizações Globo que, em sua versão impressa, no dia seguinte à tragédia, publicou uma charge, o macabro humor jornalístico? (veja a charge de  péssimo gosto Chico Caruso no Globo).

No dia 28 de janeiro, o jornal O Estado de S. Paulo propôs em seu sítio na Internet receber reclamações de casas noturnas que, de alguma maneira, desrespeitavam leis de segurança, prometendo investigar cada uma delas.

A primeira impressão, dado o histórico do jornal e da Imprensa brasileira em geral, foi realmente que tal proposta fora elaborada no Departamento de Marketing da empresa jornalística, ao invés de movida por sensibilidade editorial e por consciência cidadã.

Vários e vários leitores, na maioria jovens, passaram imediatamente a atacar no espaço de comentários a empreitada justiceira de O Estado de S.Paulo, acusando-o de hipócrita, sensacionalista, oportunista entre outras coisas, evidenciando-se assim, uma vez mais, o quase total descrédito dos grandes veículos de comunicação do país.

Mesmo diante disso, enquanto levantamos a suspeita de jogada de marketing sobre o jornalismo, enaltecemos a iniciativa alegando que o tempo diria de que lado estava o jornalão.

O tempo passou, e a resposta veio a cavalo, desferiu-se precisamente, sem a menor piedade na cara da sociedade: os leitores furiosos tinham razão...

País do Jeitinho Fatal
 
Povo que esquece seu passado, é obrigado a vivê-lo novamente
(Nicolás Avellaneda)

Em 1º de novembro, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) prestara homenagem ao Hospital da Guarnição de Santa Maria (HGU). “O intuito era complementar os agradecimentos a todos os hospitais e pronto atendimentos de Santa Maria pelos serviços prestados no dia da tragédia”, afirmou a Associação. Ao longo de todo esse tempo de lá para cá, inúmeras homenagens de entes queridos, vigílias, comoventes declarações e valente luta por justiça não ecoa no Brasil: limita-se à Santa Maria, e com o velho e indispensável “q” do jeitinho brasileiro.

No restante do Brasil, é como se tais acontecimentos se dessem em outra dimensão dada a falta de informações e de interesse, na era da informação global e em tempo real.

Sobre a luta por justiça, dia 30/10 os familiares das vítimas, através da AVTSM juntamente com o Movimento do Luto à Luta e às Mães de Janeiro, deixaram a vigília em frente ao Ministério Público da cidade por considerar satisfatórias as explicações do subprocurador geral da Justiça para Assuntos Jurídicos, Ivory Coelho Neto, de que, em reunião com os próprios familiares, a solicitação feita ao Conselho Superior do MP para que “o inquérito civil da tragédia não fosse arquivado em relação a integrantes da prefeitura. No dia 16 de setembro, ele havia entregado novas informações ao Ministério Público (MP), a partir de dois novos inquéritos em andamento na Polícia Civil” (em A Razão, diário de Santa Maria).

“Os familiares alegam que há novos indícios de irregularidades na liberação de alvarás para a casa noturna. Junto ao mesmo pedido, eles juntaram uma investigação da Policia Civil que apontou fraude na coleta de vizinhos da danceteria. De acordo com a Polícia, das 60 assinaturas coletadas, apenas 21 eram moradores da região, e outros declararam morar próximo à boate, mas na verdade residiam em outros bairros da cidade. A prefeitura nega tais irregularidades na liberação dos alvarás”, segundo informou o sítio na Internet da AVTSM em 27/10.

Em meados de outubro, familiares haviam coletado milhares de assinaturas de moradores da cidade central do estado gaúcho, a fim de pressionar o MP a reabrir as investigações.

Isso tudo, grande novidade à nação geral, parece um mundo à parte ao velho Patropi de tantos carnavais, e de fatos como este de Santa Maria que se acumulam, desfilam pela passarela do crime organizado estatal, empresarial e midiático sem nenhuma perspectiva de solução.

Em 2/11, o Jornal do Sbt – Rio Grande noticiou que no dia anterior fora reaberto o inquérito civil que investiga participação de servidores da Prefeitura de Santa Maria na tragédia, incluindo o prefeito da cidade, Cezar Schirmer PMDB. A entrega de novos documentos feita por familiares das vítimas foi essencial para a reabertura do processo até hoje não concluído pela polícia, que inclui a liberação de alvarás para funcionamento da Boate Kiss, por parte do prefeito de Santa Maria. Notícia curta, sem contextualização. Foi o que de “melhor” apresentou a mídia sobre o assunto.

“Para ver se houve alguma responsabilização, se houve alguma pessoa culpada, que seja responsabilizada”, afirmou Luiz Fernando Smaniotto à reportagem do Jornal do Sbt, advogado da AVTSM quem também alegou ter plena convicção de que existem provas neste sentido, o que é evidente desde os primeiros dias pós-tragédia. Nove meses depois, perante todas as evidências ainda estamos no “para ver se houve...”. Terror à brasileira.

Mas já estamos acostumados, devidamente amestrados, vivemos alegremente acomodados com as diversas anestesias da consciência que nos são aplicadas todos os dias. Portanto, nem nos apercebemos desse festival do terror, ou quando é impossível negá-lo, já não incomoda.

A análise dos novos documentos apresentados pelos familiares se dará após a conclusão de dois outros inquéritos, em fase de finalização. Caso abafado. Em um de nossos contatos telefônicos com a tia de uma das vítimas dias atrás, afirmamos que “a luta por justiça deve continuar, embora saibamos onde dará isso...”. Em nada, com cuja ideia a familiar da vítima concordou de imediato. Otimistas nas atitudes, pessimistas quanto ao futuro: até quando Brasil?

Cezar Schirmer - Em 2010, o prefeito de Santa Maria estendeu o contrato de empresas de transporte público da cidade, sem licitação. Posteriormente, garantiu comparecer a uma Audiência Pública, sem jamais ter comparecido a ela, maior da história da cidade. Atualmente, Schirmer é investigado por improbidade administrativa envolvendo a ausência de licitação para o transporte público.
No país da pizza, este “mal menor” envolvendo transporte santa-mariense, sem sombra de dúvidas, redundará em outro arquivamento. Se fosse feita justiça em relação à Boate Kiss, já estaria bom, e até demais.

Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria
 
Ninguém está mais desesperadamente escravizado, que aquele que falsamente acredita ser livre
(Johann Wolfgang von Goethe)

Adherbal Alves Ferreira, pai de uma das vítimas fatais, Jennefer Mendes Ferreira, estudante de Psicologia de 22 anos, é presidente da AVTSM, criada pouco menos de um mês da tragédia, em 23 de fevereiro deste ano.

Em uma das missas de 7º dia em favor das vítimas, o sr. Adherbal recebeu forte impulso para falar publicamente, o que não era comum em sua vida, discreta. “Abracei outros pais, usando o som”. Foi naquela ocasião que o pai de Jennefer deu a ideia da criação de uma associação.

AVTSM possui o Espaço do Sobrevivente em seu sítio na Internet, cuja finalidade é proporcionar amparo à saúde daqueles que sobreviveram ao incêndio, sobretudo devido à imensa dificuldade que muitos encontram na busca por remédios no sistema público de saúde. Horror à brasileira sem fim.

Em outubro, o sr. Adherbal fez uma viagem aos Estados Unidos, à cidade de Providence no estado de Rhode Island, onde participou do Congresso Mundial de Queimados, do dia 9 a 12 que reuniu centenas de sobreviventes de incêndios, médicos, bombeiros e profissionais ligados ao tema, inclusive sobreviventes da tragédia da boate The Station Nightclub na cidade norte-americana de West Warwick, exatamente em Rhode Island, em 20/2/2003, matando 100 pessoas – bem menos da metade, quase 1/3 das vítimas da Boate Kiss.

O fórum, anual, visa incentivar o compartilhamento de histórias, dar apoio e promover a recuperação das vítimas de incêndios, além de discutir questões jurídicas e de saúde. Naqueles dias houve testes de segurança, de prevenção de incêndios, vendavais, explosões, entre outros, na empresa FM Global, onde os presentes puderam registrar alguns deles.

O sr. Adherbal também participou intensamente das homenagens, palestras e demais programações do evento, conhecendo inúmeras pessoas, entre organizadores, sobreviventes, empresários.

“Lá, aconteceu do mesmo jeito de Santa Maria, por ganância e falhas do sistema, vistoria com vários erros. Porém, soube-se que dois proprietários, após algum tempo, entregaram-se à polícia. Neste evento aprendi muito. Apesar da nossa dor ser muito forte, conheci, vi e ouvi relatos que me tocaram muito”, afirmou o pai de Jennefer (leia reportagem completa no sítio da AVTSM).

Quando o presidente da AVTSM será oferecida a oportunidade de viajar a algum estado brasileiro, a fim de compartilhar suas experiências, dores e sede de justiça? Nunca?

Assassinos de Corpos e de Almas
 
Hoje, 30 de outubro, o céu está em festa. É aniversário do jovem Rodrigo Dellinghausen Bairros Costa.
Recebemos uma foto e uma mensagem, enviada por sua mãe, Medianeira Costa.

Filho,

Hoje em nosso tempo tu estarias completando 21 anos. É um aniversário diferente sem o aniversariante, mas como essa contagem de tempo é diferente onde tu estás , pedimos ao bondoso Deus e aos amigos do plano espiritual que te ampare , conduza e ilumine nesta tua nova caminhada junto com teus "novos amigos" ou "velhos conhecidos" de outras oportunidades, todos unidos em prol de um objetivo maior, o Amor.

Soldado, cumpre tua missão da melhor maneira possível, teu sonho aqui era "voar", aprender cada vez mais e progredir sempre,
agora livre do corpo tem a oportunidade e o livre arbítrio de usufruir com disciplina o que te é oferecido.

Que nós, aqui, possamos ter a tranquilidade e o entendimento mesmo sentindo uma falta enorme de vocês, que estão bem.

Aos que ficam, resta a saudade que aumenta a cada dia, mas passageira e a certeza de um reencontro.

Com amor, tua família. (Postado na página da AVTSM no Facebook)

Na página da AVTSM no Facebook, entre várias mensagens de se emocionar e se entristecer com vozes sofridamente caladas, pede-se a opinião aos familiares a amigos: se no próximo Natal, que segundo a Associação perdeu o encanto de sempre, deverá haver enfeites ou não.

Assim seguem os que ficaram, vozes no deserto tão unidas quanto sufocadas, buscando dentro de si mesmas o consolo, à procura de um novo significado para a vida. Brasil, país assassino de corpos e de almas. Até quando?

Recentemente, após falarmos com uma das familiares das vítimas de Santa Maria, dois conhecidos, universitários tanto quanto a maioria dos 242 jovens vítimas do cianeto e do silêncio, disseram-nos coisas horrendas conforme noticiamos em Memórias de um Escritor no País da Mediocridade role a tela: uma garota disse que aquelas vítimas eram culpadas por não estarem em casa estudando, mas dançando – detalhe: se não bastasse o próprio absurdo do “raciocínio” em si, a própria autora de tal excrecência verbal, parece piada mas não é, já havia combinado com amigas universitárias ir a uma casa noturna da cidade de Florianópolis dias depois, embora não seja seu costume, e mais adiante iria à famosa e badalada Oktoberfest, festa da cerveja anual da cidade de Blumenau.

Fezes intelectuais e morais idênticas às que ouvimos de jovens “religiosos” no dia da tragédia a fim de nos consolar entre lágrimas em frente à TV no dia 27 de janeiro, relatados à época por nós no artigo Assassinos de Corpos e de Almas, mais abaixo. Detalhe hipócrita da vez: uma das “religiosas” que optara por escolher o caminho mais confortável, o de condenar às vítimas de Santa Maria, possuía dois namorados então.

Vale ainda recordar que, em janeiro de 2009, desabou 40% do teto do suntuoso "templo" da Igreja Renascer em Cristo de São Paulo, de cunho protestante, por negligência de seus líderes, especialmente do apóstolo formado em Marketing, o estelionatário Estevam Hernandes que meses antes fora condenado por ter sido pego com sua esposa-bispa em aeroporto, deixando o território norte-americano, com dezenas de milhões de dólares escondidos em uma Bíblia Sagrada - o dito-cujo é ligado a Paulo Maluf, o que explica a total desconsideração midiática sobre este grave caso.

Naquela ocasião nove pessoas morreram, e 106 ficaram feridas: qual a explicação religiosa para tal "fatalidade"? Ao menos por questões de coerência, imbecilidades à parte, a tragédia da Igreja Renascer teria sido, então, consequência das más escolhas dos religiosos ali presentes? Eis que a Grande Intentona do Senhor contra os pecadores atinge Sua própria Casa, também? Pois é... Na selvageria contemporânea do "salve-se quem puder", pimenta nos olhos alheios é colírio, dir-nos-ia o filósofo.

Outro comentarista de uma das ligações telefônicas a familiares das vítimas da Boate Kiss, contou que morria de rir durante a conversa com Santa Maria em prol de justiça – criticamos, naquela ligação, a passividade conivente de nossa individualista sociedade, evidente na indiferença, afirmações estas que que podem, muito bem, explicar a agressividade disfarçada de gracejo e descaso do “futuro do Brasil”.

País assassino de corpos e de almas!

O Brasil precisa rever seus conceitos, passar por uma inevitável e dolorosa auto-análise seguida de muita prática que venha de seu interior e não de estereótipos, se realmente quiser deixar de ser o país do descaso, do “nada funciona”, das catástrofes, o vice-campeão mundial de mortes violentas anuais em números proporcionais, há décadas – atrás apenas da Colômbia, e a frente de países como Iraque, Síria e Afeganistão. A próxima vítima pode não ser seu vizinho, mas você mesmo. Então, será tarde demais...

Vale reforçar aqui a conclusão de nosso já mencionado artigo logo após a catástrofe em terras gaúchas: Enfim, até o próximo capítulo do nosso espetáculo do horror, gente. E salve-se quem puder...

Vai, sutileza incomparável - a tua, Santa Maria: / dá a cada um teu cálido manto, / fiel ombro fagueiro. / Pôr do sol, o Guaíba é todo pranto. / Suas vicejantes margens já não mais espetacularizam, / excruciantes: choram almas, clamam copiosamente; / a teus filhos que se foram, o resplendor do Pegureiro, / da chalana compassivamente / a acenar, para neles eternamente raiar.

#Posté le lundi 06 janvier 2014 18:38

Modifié le dimanche 15 décembre 2019 02:15


TRAGÉDIA EM SANTA MARIA
Soltos 4 Presos Acusados de Homicídio Doloso

30 de maio de 2013

Os quatro acusados de homicídio com dolo eventual pela morte de 242 pessoas no incêndio da boate Kiss em Santa Maria (RS) em 27 de janeiro, foram liberados na noite desta quarta-feira (29) por decisão da Justiça do Rio Grande do Sul, gerando mais revolta nos familiares das vítimas, a maioria ex-estudantes da Universidade Federal da cidade.

Os proprietários da boate, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, acusados de ter instalado espuma inadequada na casa, e o vocalista Marcelo dos Santos e o produtor Luciano Leão da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava naquela noite, por terem usado o artefato pirotécnico, causador do incêndio, deixaram a Penitenciária Estadual de Santa Maria por volta das 21h30 deste 29 de maio.

Presos no dia seguinte ao segundo incêndio mais mortal da história do Brasil - enquanto a audiência das emissoras de rádio e sobretudo de TV viviam dias de bonança que parecia inesgotável, e a mídia impressa, que atravessa profunda crise econômica, vendia como poucas vezes nos últimos anos -, o quarteto assassino condenado por dolo eventual (em que se assumiu os riscos do crime) foi finalmente solto nesta quarta, por decisão unânime da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça-RS, a qual avaliou que os dois sócios da boate e os dois integrantes da banda não oferecem perigo à sociedade, "por serem réus primários" (velho Brasil!) e "não terem traço excepcional de maldade".

O desembargador Manoel Lucas disse não vislumbrar na conduta deles "elementos de crueldade, hediondez e desprezo pela vida humana que se encontram [...] em outros casos de homicídios". É comovente a sensibilidade jurídica neste caso?

Neste dia 30, nos três maiores jornais brasileiros o espaço dado à questão é mínimo, confirmando que todo o imediato e estrondoso alarde pós-desgraça, mostrando repetidas vezes fogo e muita dor, não passou de mais uma hipocrisia comercial-jornalística (para quem ainda tinha alguma dúvida): O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo apresentam nada mais que pequenas notas, completamente diferentes do sensacionalismo que os marcou nos dias subsequentes em que eram entrevistados e amplamente fotografados os familiares das vítimas, em profundo estado de choque, e até rostos das vítimas nos velórios foram trazidos à público, dentro dos caixões. E como o caso já não vende mais hoje, não há espaço nos editoriais nos jornalões, ninguém emite opinião sobre a libertinagem à la brasileira.

Suas principais dedicatórias do dia são o baixíssimo crescimento econômico do país sob um governo ao qual se opõem seus financiadores (grandes banqueiros, Indústria Farmacêutica, mega-empresários em geral e juristas grandões com seus favores, o famoso toma-lá-dá-cá).

Na ante-sala da indiferença, a apatia excessivamente hipócrita que marca não apenas nossa mídia, mas a sociedade brasileira em geral, eles, os jornalecos, autodenominados "mídia alternativa" que de alternativa possui apenas a tendência antijornalística e o tamanho nanico: neste dia seguinte a mais uma vergonha nacional, na ressaca de mais um patético espetáculo jurídico, não há nenhuma, é isto mesmo, nenhuma nota a esse respeito.

Justo os jornalecos, escondidos detrás de forte discurso moralista, sempre acusando (com razão) o monopólio da informação pelos desserviços à sociedade e excessivo gosto pelo jornalismo mercantil: os nanojornais apenas se esquecem que são a outra face de uma mesma moeda, portanto não devem trazer os holofotes a si mesmos, mas deveriam cobrir o vácuo da informação e opinião isentas.

A Carta Maior "Portal da Esquerda", página muito mais ideológica que jornalística, traz entre suas manchetes Por Que Neymar Foi Embora?; contudo, as 242 vítimas de um sistema endemicamente corrupto onde reina a impunidade, sob governo (apoiado por ele) que se elegeu três vezes apoiado no lema Quero um Brasil Decente, passam completamente desapercebidos por ali; ao sítio na Internet do semanário paulista Brasil de Fato e ao diário carioca Correio do Brasil, ambos porta-vozes oficiais do partido governista, a tragédia de Santa Maria também já se tornou passado remoto, e nada dizem sobre a liberação dos quatro criminosos.

O primeiro traz como grande manchete isto: O Esquema Globo de Publicidade. O segundo traz logo no início: Protógenes Acusa Mulher de Gurgel de Levar Propina do Banqueiro Daniel Dantas, referindo-se ao escândalo da vez, a Operação Satiagraha que envolve alto jurista, banqueiros e políticos paulistas.

Quando o diário O Estado de S. Paulo lançou, no dia seguinte à tragédia, a "campanha" para que fossem denunciadas diretamente pelos jovens ao jornalão casas noturnas que estivessem fora dos padrões legais, questionamos, no sítio do programa Observatório da Imprensa (TV Brasil), e aqui mesmo ecoando a voz de centenas de leitores naquele jornal, quanto havia seriedade jornalística naquela conclamação, considerando que fora sido elaborada no eficiente departamento de Marketing da referida empresa de mídia a "corrente em favor da vida".

Pois aí está mais uma resposta... Enquanto as amargas, justificadamente revoltadas lágrimas dos familiares das vítimas representam a voz no deserto de uma nação falida, tampouco surpreende o velho e mortal individualismo e insensibilidade de cidadãos, muito mais que sem memória: sem compaixão e, como consequência disso tudo, sem a menor capacidade de mobilização e de gestos de solidariedade, eficazes e duradouros.

É sempre assim, todos se indignam frente à TV por algum tempo, de desgraça em desgraça, uma passa por cima da outra fazendo com que se esqueça de tudo. O mesmo filme, de novo.

#Posté le lundi 06 janvier 2014 18:39

Modifié le vendredi 10 janvier 2014 20:11


TRAGÉDIA EM SANTA MARIA
Morre 242ª Vítima - do Cianeto e do Silêncio

19 de maio de 2013 / Publicado no Observatório da Imprensa

Faleceu às 5h15 deste domingo (19) a estudante Mariane Wallau Vielmo de 24 anos, no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, onde esteve internada com graves queimaduras logo após o incêndio na boate Kiss na cidade de Santa Maria (RS), onde ela esteve na madrugada de 27 de janeiro.

Mariane, estudante de Sistemas de Informação no Centro Universitário Franciscano (Unifra), em Santa Maria, é a 242ª vítima fatal daquele que foi o segundo pior incêndio da história do país. enquanto outras quatro vítimas seguem internadas com quadro estável.

A pedido da família, o Hospital de Clínicas e a Secretaria de Saúde de Porto Alegre não informaram a causa do óbito, mas fontes extraoficiais do Departamento Médico Legal revelaram que Mariane teria desenvolvido uma pneumonia em consequência das queimaduras.

"Esses pacientes de Santa Maria têm uma lesão pulmonar muito severa em função da fumaça tóxica. Se houve pneumonia, pode ser em função da lesão pulmonar causada pela fumaça ou pelo grande tempo de internação. Ou ainda uma soma dos dois", afirmou neste domingo Antonio Fernandes, cirurgião plástico do Centro de Queimados do Hospital Cristo Redentor e que também monitora em ambulatório 15 vítimas que sobreviveram ao incêndio na boate Kiss.

Os meios de comunicação sensacionalistas que buscam na desgraça sua graça, já se esqueceram (como era de se esperar e previmos exatamente na semana do incêndio), há muito, de mais este caso que, de fatalidade, não teve nada: tratou-se de mais uma tragédia como fruto da corrupção entre o alto empresariado e a política brasileira.

Outras desgraças deram lugar a esta que, por sinal, geraram muito Ibope e nenhuma mobilização popular, enquanto o país deveria ter, literalmente, parado. Para a Imprensa, estas mortes nos meses subsequentes à tragédia são apenas números dignos, nada mais, que de pequenas notas. Uma ressaca da forra editorial há quase 4 meses.

Eis o "Quarto Poder" brasileiro em coro com governantes e legisladores irresponsáveis, e empresários exploradores, todos assassinos de mais esta vítima. Assim seguimos, Brasil, de horror em horror em que cada tragédia é substituída por outra, em nossa dura novela do dia a dia.

Assim Mariane, vítima desta estrutura perversa profundamente enraizada na sociedade e na política brasileira, morre amargurando o silêncio, a omissão, sufocada pela indiferença, pela total apatia da nação tanto quanto pelo cianeto. Isso tudo também é mortal.



Vá à Somos Todos Santa Maria,
Série de Reportagens Por Memória, Verdade e Justiça

#Posté le lundi 06 janvier 2014 18:46

Modifié le vendredi 10 janvier 2014 20:11

TRAGÉDIA EM SANTA MARIA
Fantasmas em Meu Quarto, Assassinos de Corpos e de Almas

Publicado no Observatório da Imprensa

Republicado pelo Portal Inter-Jornal Notícias

29 de janeiro de 2013


27 de janeiro de 2013 amanhece no Brasil, país assassino de corpos e de almas cujo atoleiro sistêmico é generalizado: vai muito além da política e da mídia.

Na TV, o espetáculo do fogo, do sufoco, da mutilação, do pranto desesperado tentando de tudo para matar minha alma, que busca resposta ao que vê. Parece que vai conseguir matar... Às vezes, tudo indica que conseguirá.

Abro o jornal, a charge do profissional do humor, a ala divertida dos vendedores de informação a diversos consumidores sedentos pela desgraça alheia, como que anestesista dos próprios infortúnios. A resposta que busco traduzida em um desenho humorístico, gracejo macabro de uma organização sem nenhuma credibilidade desde seu nascimento.

A indignação já sufoca minha alma - tanto quanto o tenebroso Beijo (ou Kiss) do cianeto?

Saio da sala quando as lágrimas se intensificam com o que meus olhos veem a mídia comercial apresentar, a ponto de as atenções de amigos estarem se voltando inevitavelmente a mim: peço licença, meio que tentando disfarçar, vou bruscamente ao banheiro; não sei se a fim de esconder meus sentimentos, ou de esconder-me a mim mesmo daquele festival do horror. Apenas sei que minha alma precisa de uma saída emergencial, o que os, até o presente, 237 desafortunados jovens não tiveram horas antes em Santa Maria.

Retorno do banheiro: recebo então o “consolo em Cristo” dos amigos, fervorosos religiosos: “Aqueles jovens pagaram pela escolha [pecaminosa] de estar ali [se divertindo (!)]”. Alguém mais diz que uma vítima havia brigado sério com a mãe naquela noite, “portanto, aí está o salário do pecado”. Em outras palavras: "Morreu? Morreu!". Em outras palavras: "Cada um com seus problemas". Em outras palavras: "Que se danem todos!".

Moral da história I: não conheço a Cristo! Assim, tudo o que me resta agora é comprar, em suas lojinhas gospel, um manual de como conhecer Deus para, aí sim, não sofrer mais com tanto pesar e poder ser como eles: olhar a criação de cima para baixo, frio e calculista como manda o figurino dos mais sábios, viver com a devida indiferença dos mais fortes e espiritualizados de acordo com a torrente de doutrinas religiosas que simplesmente congela a alma humana, que forma os insuportáveis e desacreditados técnicos na fé.

Moral da história II: determinados seres vivem em uma bolha, dentro da qual se assentam sobre um improdutivo, arrogante e inquisidor trono que sonda mentes e corações, molda-os de maneira excessivamente reducionista. As insuportáveis e impiedosas vozes oficiais de Deus que não convencem a ninguém - nem a eles mesmos em um mundo injusto (inclusive dentro do conceito bíblico) e que, portanto, não pode ser considerado sistematicamente.

Em um mundo complexo onde diversas vezes aparências e até atitudes (equivocadas ou acertadas) de muitos não retratam a essência deles, nem menos o que a religião sistemática e morta julga aos quatro ventos. Irracionalmente racional. Estupidamente pensante. A pérola no focinho da Besta.

Cada vez mais tal enfermidade religiosa, sectária em sua essência, contamina o país, fragmenta a sociedade e em casos como este tal realidade se torna ainda mais evidente. Tristemente inegável. O abismo da sociedade - paradoxalmente, em nome de Deus. Crescem vertiginosamente no Brasil; junto, curiosamente. aumenta a corrupção, a própria insensibilidade e a passividade perante o caos.

Seres de quem se esperaria maior sensibilidade – em determinados casos, vítimas dos donos dos templos, da morta religião dominante e dominadora. Seres à estatura intelectual exata dos líderes religiosos de grandes massas que colocaram a presidente da minha República como apóstolo Paulo do século XXI na campanha eleitoral, hoje recebendo, em orgíaco toma-lá-dá-cá, injustificáveis ”passaportes diplomáticos“, enquanto se enriquecem rapidamente como poucos, não prestam conta e, em vários casos, cometem crimes atrás de crimes.

Imbecilização alheia é a alma do negócio deles, autopreservação: não podem cair na armadilha de produzir seres que pensem, que tenham valores produtivos, sentimentos profundos e questionem nesta terra de ninguém.

Tudo isso, o mais perfeito retrato da indiferença e do excesso do racionalismo justamente de quem (ainda) se espera (ingenuamente) maior compaixão e menos teoria (tudo isso lamentavelmente generalizado no meio gospel-evangélico, do qual lamentavelmente fiz parte).

Meu silêncio agora, durante as lições de como enfrentar religiosamente a dor alheia, não se dá por concordância, por ser consolado nem por aprender os “sistemas da vida e de seu Criador”, sermões dados por seres que cometem seus enormes desatinos de maneira mais oculta, até descarada mas que, diferentemente de outros mortais, apenas por “crerem na verdade” estão à caminho dos céus.

Como assimilar tudo isso? Minha alma agoniza, estarrecida, sem saber onde mais buscar refúgio a essa altura.

O governo de meu estado garante, cheio de autoridade, moral e “preocupação” com as causas públicas e com a corrupção, vistoriar daqui em diante todas as casas noturnas, passaportes automáticos para o Inferno segundo as vozes oficiais de Deus e do coração alheio, e segundo a própria realidade nacional: se não fosse em Santa Maria a tragédia, seria inevitavelmente aqui, mais dia menos dia, então?! É claro que sim!

Definitivamente, o Hades tem sido meu companheiro, muito mais íntimo do que jamais pude imaginar.

Em meio a todo esse espetáculo do terror, rotineiro, pouco se menciona o perfil dos donos da boate Kiss, em Santa Maria (RS). Em algum lugar, através de algum meio fico sabendo que os dois sócios, diretamente culpados pelo incêndio letal a 237 pessoas, possuem problemas litigiosos: processados por danos morais, e um deles também por sérias lesões corporais.

Mas o terror social – seres humanos queimando vivos e seus entes queridos chorando copiosamente – vale muito mais atenção que as intermináveis traquinagens dos usurpadores do poder deste país. É assim... Sempre foi assim, e pelo andar da carruagem sempre será desta maneira. Pouca saída de emergência há à alma do cidadão comum brasileiro.

Determinado conhecido chega à casa de um amigo em que estou, comentando que há pouco duas motos se chocaram de frente, muito fortemente. Acidente horroroso, mais um subproduto da calamidade nacional. Tão cruel quanto o fato, é a frieza do relato e das reações ao meu redor.

O mesmo anfitrião que, dias antes, comentara o recente assassinato na rua detrás dali. Tudo dentro do normal segundo a realidade brasileira. Já nem parece mais real – até que aconteça conosco.

Uma sociedade adaptada a assistir telenovela como se fosse real, e o real como se fosse telenovela nas palavras do jornalista José Arbex, em seu livro O Poder da TV. Com índices de assassinatos anuais sempre em torno dos 50 mil, três vezes superior ao do considerado estado de guerra civil pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil é um país projetado para matar corpos e almas. Semana após semana.

O terror já está batendo à minha porta, não resta dúvidas.

A Mídia e a Marca de Batom, ou de Kiss na Cueca

O jornal O Estado de S.Paulo propôs aos leitores, semana passada, receber reclamações de casas noturnas que, de alguma maneira, desrespeitem leis de segurança, prometendo investigar cada uma delas.

A primeira impressão, dado o histórico do jornal e da Imprensa brasileira em geral, foi realmente que tal proposta fora elaborada no Departamento de Marketing da empresa jornalística, ao invés de movida por sensibilidade editorial e por consciência cidadã. Mas vale, ou deveria valer o voto de confiança apesar de todos os pesares jornalísticos em geral, e especificamente os pesares do referido diário.

Contudo, não foi o que ocorreu: vários leitores, na maioria jovens, têm atacado – e até enraivecidamente – a empreitada justiceira de O Estado de S.Paulo, acusando-o de hipócrita, sensacionalista, oportunista entre outras coisas, evidenciando-se assim, uma vez mais, o quase total descrédito dos grandes veículos de comunicação do país.

Pois a confirmação do real espírito do jornal paulista nesta manifestação de preocupação com a causa pública, especialmente a partir do que acometeu Santa Maria no fatídico dia 28 passado, causa a séria impressão de ter vindo a cavalo pouco depois, no dia 31:

“No 1º dia de vistoria, bombeiros de SP reprovam 2 em cada 3 casas da cidade. Das 330 boates vistoriadas anteontem no Estado, 177 não tinham o auto de vistoria ou apresentaram documento com irregularidades”, são a manchete e a linha-fina da matéria. Na primeira metade da reportagem, foi afirmado que ”em alguns casos, os problemas apontados são de fácil solução, como luzes de emergência apagadas e extintores vencidos”.

Pois tais problemas “de fácil solução” – com este termo dando a conotação de que não se trata de nada grave eximindo os responsáveis de responsabilidade – referem-se, por coincidência e obra do acaso, aos mesmos que causaram o segundo incêndio mais mortal da história do Brasil, em Santa Maria, e que tem valido toda a energia midiática dos últimos dias inclusive a própria proposta justiceira do jornalão. Pouca incoerência é bobagem. Pouca desgraça também? Absolutamente tudo indica que sim no Brasil.

Se a proposta messiânica de O Estado de S. Paulo não tivesse sido (injustamente) rechaçada logo de imediato pelo público, o jornal trataria com tal leniência a incompetência e corrupção dos administradores privados e públicos? É uma séria questão a ser colocada agora, e respondida nas próximas reportagens pelo Estado, o que não pode, por outro lado, desmerecer todo o trabalho do jornal na questão.

“Em casa que não tem pão, todo mundo grita e ninguém tem razão”, diria o profeta. Por outro lado, os comentários contra a investida do jornal paulista foram, predominantemente, de mau gosto, vazios e precipitados.

Se O Estado de S. Paulo comete equívocos e se sua estrutura é corrupta, o que é evidente, se o jornal é hipócrita, sensacionalista, oportunista entre outras coisas como sem dúvidas é, ele também acerta, tem o direito de acertar e deve ser apoiado quando faz isso, por maior que seja a desconfiança, por maior que seja o descrédito da mídia ou, do contrário, cairemos mais fundo na irracionalidade das críticas. Mesmo nossa argumentação mais acima, vale ressaltar, não tem a pretensão de ser uma resposta definitiva à iniciativa do jornal.

A charge de Chico Caruso publicada por O Globo, por sua vez, é mais um golpe contra a sociedade por parte desta organização cujo tamanho é inversamente proporcional aos benefícios que produz ao país, que diversos golpes, sabotagens e horrores já patrocinou em nossa história.

A charge de péssimo gosto nada mais é que a revelação, em forma de humor, do caráter das classes dirigentes deste país, de como encaram e tratam o cidadão brasileiro.

Enfim, é de se questionar uma vez mais a seriedade com que o jornalismo brasileiro tem tratado a tragédia de Santa Maria e os problemas estruturais deste país, tanto quanto a lucidez de grande parte de leitores, ouvintes e telespectadores, por mais politicamente incorreta que seja esta observação. Se fosse criado um Observatório do Leitor, não muitos se salvariam.

Mais uma vez, a sociedade está, em geral, meio perdida entre tanta informação. O caso mais recente e famoso em que ocorreu isso foi o julgamento do Mensalão: ocupou a maior parte dos noticiários e da vida diária do brasileiro, em que até juristas não souberam bem o que estava acontecendo e hoje, pouco mais de um mês depois, o caso já é praticamente uma página virada e logo cairá no total esquecimento.

Incompetência Midiática, Inércia Social, Corrupção Governamental e Empresarial

A imprensa brasileira em geral tem apresentado neste caso do incêndio da boate Kiss, como em todos, dificuldade ímpar de discutir a questão em um contexto mais amplo, discutindo-o isoladamente enquanto diversas pessoas colocam-no como “fatalidade”, basta passear pelos comentários de leitores nos mais diversos veículos de comunicação (para nem mencionar os que, histericamente, combatem nervosamente qualquer ligação da referida tragédia com o poder político, isentando-os de qualquer responsabilidade em seus interesses político-partidários, sempre eles fortemente, desgraçadamente presentes nos problemas mais graves da nação, a fim de poupar das maneiras mais desconexas seus políticos de estimação o que acaba gerando até em determinados leitores-militantes a “esquizofrenia democrática” de ver “fantasmas políticos” em artigos que jamais colocaram o que enxergam seus delírios). A incapacidade organizacional e a corrupção são endêmicas, enraizadas em nossa sociedade. O fator cultural também desempenha seu papel no incêndio.

O desastre de Santa Maria é emblemático neste sentido: tenta-se encontrar soluções para este fato isolado ou, quando muito, envolvendo as casas noturnas do Brasil. Mas os problemas vão muito além das danceterias e de seus alvarás. Na realidade, este não é o desastre de Santa Maria, mas o desastre brasileiro de cada dia seja onde e em que aspecto for – no caso específico das boates, em algum momento atingiria alguma outra do país, se é que não vai atingir novamente.

A tragédia de Santa Maria tem ligação à ganância empresarial em parceria com a política, à corrupção estatal, à barbárie cultural que assola crescentemente este país (responsabilidade da mídia e também do governo, este por não regular aquela nem investir o minimamente aceitável em cultura e educação), ao moroso e corrupto sistema Judiciário, às hipocrisias sociais e religiosas e tudo isso tem perfeita conexão também com os passaportes diplomáticos da presidente Dilma Rousseff a pastores evangélicos (muito pouco divulgados pela imprensa), estes idiotizadores sociais, alienação que é matéria-prima da manipulação e da acumulação de riquezas as quais, historicamente, apoiam-se também na aliança corrupta entre lideranças religiosas e políticas.

A questão cultural tem relação com o incêndio não apenas no fato de que, conforme abordou muito bem o professor Ivo Lucchesi no Observatório da Imprensa, músicos cada vez mais sem conteúdo precisam de artifícios para promover suas apresentações, como também no caráter excessivamente submisso do brasileiro que permite a usurpação do poder, causadora da grande maioria das catástrofes.

É esse conjunto de catástrofes que levou à tragédia de Santa Maria, e que faz do Brasil um dos países mais violentos e inseguros do mundo, sob os mais diversos aspectos.

Quanto ao caráter indiferente, a baixa autoestima do brasileiro que levam à passividade, inércia e ao esquecimento rápido de fatos cruciais (em grande parte, características promovidas historicamente pelo Estado a fim de seguir corrompendo o poder) como causa dessas tragédias, basta observar que as relações patrões-empregados, comerciantes/prestadores de serviço-consumidores, produtores de notícias e de cultura-”consumidores” das mesmas, seguem imutáveis após cada crime chocantemente letal como o de Santa Maria, assim como segue sempre igual a própria relação da sociedade entre si, baseada na corrupção, no jeitinho, no achado não é roubado, na vantagem acima de tudo.

A cada espetáculo do terror neste país, tudo segue como sempre esteve e, como cegos, ninguém entende porque o que parece surreal ocorreu. A estrutura não se altera, apenas se agrava.

A presente corrida desesperadamente oportunista de governos e prefeituras por alvarás e vistorias nas casas noturnas Brasil afora, é o autocertificado da incompetência e da corrupção que tratam de se outorgar nossas autoridades. A contradição inevitável dos usurpadores do poder. O tropeço no próprio calcanhar. A clarividência de que o desastre de Santa Maria não é apenas o desastre de Santa Maria, nem se limita à criminosa irresponsabilidade dos proprietários da Kiss e dos órgãos competentes: é de novo o Brasil no espelho, uma sucessão de horrores que está muito longe de terminar aqui.

E a necessária indignação de uns perante o que ocorreu na boate do Rio Grande do Sul (suposta indignação de outros que se apressam frente às telas de TV a fim de conferir as repetitivas cenas do horror), depois de tudo terá fôlego para ecoar efetivamente rumo à justiça em Santa Maria e muito além dela, em direção à mudança das estruturas do podre Estado brasileiro? Os veículos de comunicação darão continuação à investigação e cobrança por justiça?

Não é o que mostra a (praticamente inexistente) história de “mobilizações populares” e da prática jornalística, nem o que indicam as atuais circunstâncias do nosso país.

Brasil, Mostra a Tua Cara
 
Brasil! Mostra a tua cara/ Quero ver quem paga pra gente ficar assim/ Brasil! Qual o teu negócio?/ O nome do teu sócio?/ Confia em mim/ Será que é o meu fim?/ Ver TV a cores/ Na taba de um índio/ Programada pra só dizer “sim, sim” (Cazuza)

Logo, de Santa Maria os vendedores de informação – que se assemelham mais a publicitários e até a artistas, especialmente no caso dos telejornalistas que claramente consideram os telespectadores consumidores ao invés de cidadãos – obcecados por audiência sobre o que for, venha como vier, não terão mais de onde atrair atenção de sua plateia que, em grande medida, não pensa, mas por eles é pensada (sobre isto, leia ”Jornal Nacional – Laurindo Lalo Leal Filho“, reproduzido no Observatório da Imprensa).

Tudo isso descumprindo a Constituição que afirma que os veículos de comunicação, concessão pública, devem educar e não simplesmente vender, ainda que a audiência seja avassaladora. Tal prática ética seria garantida pelo marco regulatório sobre a Imprensa, o que ela mais teme classificando-o de cerceamento à liberdade de expressão.

Assim, em breve seu interesse comercial mais nada terá a ver com os 237 corpos sufocados pela ganância e pela corrupção que assolam dia a dia este país, de maneira que a tragédia do Sul do Brasil será esquecida e substituída pelo próximo capítulo do festival do terror, outra anestesista social na essência desta nação que insiste no autoengano de sua realidade social, política e econômica, “indignada” por aquilo que nem ela sabe bem o quê...

O atoleiro sistêmico brasileiro abordado recentemente no artigo Atoleiro Brasileiro, Mais que Ideológico, É Sistêmico (mais abaixo), vai muito além dos espetáculos políticos e midiáticos conforme argumentado no início deste texto: trata-se de um atoleiro social em seu contexto mais amplo, tanto quanto a tragédia do último dia 27 não se resume à casa noturna de Santa Maria nem às demais do país. Passou da hora de se repensar seriamente o Brasil, e cada desgraça adverte, com todas as suas vítimas, para isso. Será agora que o sangue e o pranto das vítimas, e as lágrimas e os traumas de seus entes queridos ecoarão de verdade neste país?

Particularmente em meio ao terror de todos os lados contra minha alma, resta a dúvida se comemoro não estar delirando de vez como consequência de tudo o que acomete o país, ou se lamento a sábia voz da minha intuição: o mesmo espírito ganancioso e corrupto dos grandes empresários que matou nossos 237 concidadãos nos Pampas, mantém a escrita na Grande São Paulo contra um povo que vive em um tabuleiro cujo resultado já está decidido há seculos, sociedade que joga um jogo totalmente perdido.

Agressões sobre agressões contra o cidadão. Pobre sangue, pobre alma brasileira roubada, aterrorizada, massacrada de todos os lados. Clamam no deserto, e tudo faz parte do mesmo show mudando apenas o cenário. Até quando?

Enfim, até o próximo capítulo do nosso espetáculo do horror, gente. E salve-se quem puder...



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Documentos


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Conteúdo (com ligações)

PÁGINA INICIAL


l. MATEANDO COM EDU - Perfil, Comentários e Literatura

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Página 2


lI. TERCEIRA PÁGINA - Crônicas / Questões Internacionais


III. NO PIQUE DA VIDA - Reflexões


IV. ARQUIVO - Os Noticiários Mundiais

Página 1

Página 2



V. TERRORISMO DE ESTADO - A Invasão Norte-Americana ao Iraque



VI. O 11 DE SETEMBRO DE CADA DIA DO AFEGANISTÃO

Página 1

Página 2

Página 3



VII. SANEAMENTO PÚBLICO - ONDE JOGAR TANTO LIXO HUMANO?


VIII. ANISTIA INTERNACIONAL - Uma Questão de Liberdade


IX. ÉTICA NA TV - Uma Questão de Liberdade


X. HUMAN RIGHTS WATCH - Uma Questão de Liberdade


XI. GOLPES MILITARES NA AMÉRICA LATINA


XII. HISTÓRIAS MUNDIAIS


XIII. ENAS NAFFAR: OLHAR SOBRE O ORIENTE MÉDIO - Visão Palestina no Blog

Página 1

Página 2



XIV. CULTURA & ARTE AFEGÃ

Página 1

Página 2


XV. O BRASIL NO ESPELHO - Crônicas


XVI. Especial: TERRORISMO

Grupos

Estados


Mídia

Religiões

Polícia

Trabalho



XVII. IDIOMAS

Inglês

Espanhol

Alemão

Italiano

Francês

Sueco

Português



XVIII. WIKILEAKS

Brasil (Página 1)

Brasil (página 2)

América Latina

Estados Unidos, Europa, África e Ásia

Oriente Médio



XIX. MALALAÏ JOYA - A Mulher Mais Corajosa do Afeganistão

Página 1

Página 2

Página 3

Página 4


XX. PÁTRIA GRANDE PORTENTOSA - Paisagem & Cultura Latina

Página 1

Página 2

Página 3



XXI. AVÓS DA PRAÇA DE MAIO - Uma Voz por Liberdade na Argentina

Página 1

Página 2



XXII. MISSÃO CUMPRIDA, POR EDU MONTESANTI


XXIII. POEMAS - Uma Questão de Liberdade


XXIV. MEIO AMBIENTE, ESPORTE & SAÚDE


XXV. CONTRACAPA: CURTINHAS - Notícias Nacionais


XXVI. CONTRACAPA: CURTINHAS - Notícias Internacionais


XXVII. MENTIRAS E CRIMES DA "GUERRA AO TERROR", E O JORNALISMO BRASILEIRO MANCHADO DE SANGUE



XXIX. ARQUIVO: CONTRACAPA - Nacional

Página 1

Página 2


XXX. ARQUIVO - CONTRACAPA - Internacional

Página 1

Página 2


XXXI. EDU MONTESANTI IN ENGLISH: A MATTER OF FREEDOM

News & Opinion

News & Opinion - Archive 1

News & Opinion - Archive 2

Special Story: The Biggest Lie in History



XXXII. EDU MONTESANTI EN ESPAÑOL - UNA CUESTIÓN DE LIBERTAD

Noticias & Opinión

Serie Especial de Reportajes: Mayor Mentira de la Historia

Derechos Humanos

Opinión y Noticias - Archivo



XXXIII. DIAS PARA MUDAR O BRASIL - Onda de Manifestações ou Primavera Brasileira?

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Página 2



XXXIV. SOMOS TODOS SANTA MARIA - Por Memória, Verdade e Justiça

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XXXV.
ANÁLISES DA MÍDIA


XXXVI. REVOLUÇÃO BOLIVARIANA NA VENEZUELA

#Posté le lundi 06 janvier 2014 18:53

Modifié le jeudi 28 août 2014 21:46

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